Bem, prometi pra mim mesmo que não postaria o que penso até o anúncio definitivo do FX-2, mas não consigo deixar o benefício da dúvida quando apenas aguço os colegas e amigos.
O que estamos vendo é apenas um jogo político, motivado, apenas e tão somente, pelas campanhas à Presidência. O acordo firmado entre os governos dos EUA e Brasil tem ligação clara com o FX-2 sim, porém não se resume apenas a este ponto. A questão central é o distanciamento que está ocorrendo, por parte do Brasil, em relação à política americana, em particular, para AL. Todos estão vendo o novo papel e importância do Brasil no cenário internacional, os americanos também estão vendo, só que eles estão prestes a sentir na pele os reflexos de sua má política em relação ao Brasil. É bom que se diga que o único país, entre os BRICs, que sempre manteve relações umbilicais com os EUA é o Brasil, tal distanciamento crescente vai totalmente em desencontro com o desejado pela política americana, isto significa deixar os BRICs mais fortes, com um política global tal, que pode, inclusive, contrapor vários dos interesses americanos. Insisto, a "saída" americana ainda está na manutenção da estreita ligação com o Brasil, não há outras soluções, muito menos mágicas.
Este distanciamento já se iniciou faz tempo, não começou neste e com este governo, mas se intensificou recentemente, onde pode-se percebê-lo através das crises envolvendo bases militares na Colômbia, questão de Honduras, questão no Haiti, e como se fosse pouco, o "atrevimento" brasileiro de aproximação com o Irã, inclusive com forte e ampla defesa do direito deste país poder ter sua independência nuclear; mas deixando claro (Brasil) que se opõe veementemente à construção de artefatos bélicos nucleares, seja de nossa parte, seja da parte dos iranianos. O sinal de alerta ecoou por todo os EUA, algo precisava ser feito, visto o estrago já estar configurado.
O acordo travado entre Brasil e EUA tem a intenção primeira, atenuar o mal-estar gerado por várias décadas e intensificado nos últimos meses; tem a intenção de dar garantias, isto é, passar a credibilidade que já se perdeu (a tal desconfiança) e tem a intenção de dar algum espaço ao Brasil em questões internacionais. Só que americanos (e outros) não dão nada sem pedir algo em troca, então, por exemplo, a questão da aproximação com o Irã deve ter sido um dos pontos exigidos, como também deve ter sido "pedido" que assinássemos o protocolo adicional ao TNP.
Exigir que compremos F-18 SH não faz sentido, mesmo sendo muito ingênuo para acreditar nisso; pode-se fazer pressão das grandes, como a tal "contrapartida" (não vejo como uma) dos 200 ST e parceria nos KC-390. Isto, por si só, já é uma pressão das grandes, pois deixamos de vender os ST para a Venezuela, dizer que não venderia o mesmo produto e em quantidade 10 vezes maior é ter que possuir muita saliva para dar explicações, ainda mais em vésperas de eleições presidenciais.
Pressão é pressão e a Boeing e o governo americano estão fazendo seus papéis muito bem, não há nada de errado nisso; estão sabendo usar do momento (campanhas presidenciais) adequado; erro é do governo, que demorou muito para anunciar o vencedor, pelo menos que apareça com o contrato nas mãos e não apenas com o nome do escolhido, caso contrário este assunto ficará, em definitivo, nas pautas dos debates acalorados das campanhas, e quem perderá muito será o próprio governo, que já começará arranhando o próprio candidato que irá apoiar.
A SAAB segue a mesma linha, de incutir o desgaste político no governo, mas de forma distinta daquela adotada pela Boeing e governo americano. Se o jogo americano é oferecer algo como contrapartida, de forma tal que o não aceitamento por parte do governo brasileiro implicaria em tamanho desgaste político na campanha eleitoral, então o jogo sueco se reduz, apenas, à técnicas de partidos formais, desgastando o governo sem oferecer nenhuma contrapartida de forma explícita. Ela não tem escolhas; não faz diferença se é homicídio ou suicídio, o certo é que ela morrerá.
Sempre pensei que a short list nasceu para não permitir a vitória do Gripen NG, este não passa de um anão (sem trocadilhos) entre os gigantes americano e francês. Não pelos caças em si (F-18 e Rafale), mas pela enormidade das gigantes potências contra a qual lutava.
Vejo uma clara "política" internacional para impedir a venda dos Rafales, não apenas ao Brasil, mas a todos os possíveis e impossíveis interessados, uma espécie de enquadramento aos franceses. A tentativa não é de vender seus produtos, mas inviabilizar todo o projeto francês de ter seu próprio caça. Assim sendo, o "anão" sueco poderia vencer o processo de seleção do FX-2, não necessariamente pelos méritos (que são enormes), mas como solução "política" paliativa. Se eu fosse ligado a SAAB e o Gripen NG vencesse, não comemoraria de coração aberto, pois sempre haveria a sensação de ter sido escolhido porque o Rafale perdeu; isto caracterizaria um estigma. Gostem ou não, isto é fato. O mesmo não se aplica ao F/A-18 SH, se vencer, mereceu, ao menos de alguma forma.
Da short list pra cá fica claro que a disputa não foi feita para o Rafale vencer, como muitos imaginam e até dizem por aí. Parecer, parece sim, mas não da forma que se fala, ou seja, argumentando que as falas de alguns ministros e até do presidente sempre convergiram para o Rafale, sugerindo (que vergonha!!!) que há indícios de corrupção, etc. (mas sempre sem provas, apenas por excesso de contragosto mesmo). A partir da short list o que vejo (apenas opinião) é um movimento político (no melhor sentido da expressão), muito bem articulado, para garantir ao país a necessária segurança e soberania. É justamente este o ponto da discórdia, pois o gigante sempre esteve desprotegido, o leão nunca rugiu, enquanto em berço esplêndido nunca incomodava.
O que vejo o Brasil buscando é justamente o que a França construiu depois da 2ªGM, as ideias preconizadas pelo general Charles André Joseph Marie de Gaulle: procurar a independência das
influências norte-americana e britânica. Independência das influências (insisto neste último verbete) em sentido lato, ou seja, em tudo. Observem que independência das influências não significa rompimento, ruptura, opor a tudo, nada disso, isto significa a busca da própria soberania; não há nenhum mal nisto, não é ofensa, não é afronta, é crer que é possível conseguir tal coisa. Pois bem, diante do falado, vejo o Rafale como o símbolo de tudo isso.
Se tivesse que olhar apenas um novo caça pra FAB, minha ordem de preferência seria F/A-18 SH, Rafale e por fim o Gripen NG. Se fosse tomar como parâmetro as limitações orçamentárias das FFAA (e não necessariamente do país), a ordem seria F-16 Blc 50/52 ou Gripen C/D. Se o parâmetro fosse apenas opinião deste entusiasta sobre o que mais gostaria de ver nas cores da FAB a ordem seria: SU-35 BM. Mas como estou olhando o parâmetro "independência das influências", então a minha ordem de preferência é: Rafale!!!
Saudações a todos!
PS: para quem não entendeu: "distanciamento" = "independência das influências".