ENTREVISTA FREDERICO FLEURY CURADO - PRESIDENTE DA EMBRAER
“A Embraer espera ter duas fábricas em operação em Portugal até
2011”
Segundo previsões da companhia, os dois investimentos, no valor de € 150 milhões, devem gerar
450 empregos
Mafalda de Avelar, de Lisboa
mafalda.avelar@economico.pt
A Embraer terá duas novas operações em Portugal até o final de 2011. É o que conta Frederico
Curado, presidente da empresa, que esteve ontem em Lisboa para receber um prêmio. Em entrevista ao
Diário Económico, o presidente da empresa — que será responsável por um investimento de € 150
milhões em território português —, afirma que a decisão de apostar em Portugal foi um trabalho de
equipe “sob a firme liderança” do primeiro-ministro do país, José Sócrates.
Sobre novos investimentos, Frederico Curado afirma que nada está em estudo e que a TAP não
está na mira de negócios da companhia por enquanto. Já quanto “a tirar proveito da precária situação da
Japan Airlines, nada há de concreto nesse sentido”, mas assegura que a Embraer tem “um produto
bastante competitivo”.
Qual o ponto da situação do investimento em Évora?
A infraestrutura municipal já está muito avançada e estamos em fase adiantada do projeto das
instalações industriais, inclusive em negociação com os principais fornecedores da maquinaria a ser
instalada. Esperamos ter as duas fábricas operando até o final do próximo ano.
De que números falamos?
A soma dos dois investimentos (centro de excelência de componentes e centro de excelência de
metálicos) é de cerca de € 150 milhões, com previsão de geração de 450 empregos.
Este negócio resultou de muitas negociações. Quem destaca como o grande negociador
português em todo este processo?
Foi um trabalho de equipe, com forte participação do Ministério da Economia, do Ministério de
Defesa e da Câmara de Évora, sempre sob a liderança do primeiro-ministro José Sócrates.
Por que Portugal e Évora?
Além da afinidade cultural, temos uma presença importante em Portugal, através das Ogma,
empresa na qual a Embraer detém a maioria do capital. Diante da visão estratégica do Estado português
de criação de um ‘cluster’ aeronáutico no país, julgamos que deveríamos procurar exercer um papel
central nessa estratégia. Entre as opções no território português, Évora reúne uma ótima combinação de
acesso logístico, disponibilidade de mão de obra especializada e moderna infraestrutura para a
instalação de indústrias, inclusive fornecedores para nossos centros de excelência.
Sente-se mais confortável em investir em Portugal ou na França?
Não acho que seja uma comparação simples, pois depende da finalidade e característica do
investimento. A nossa decisão de investir em Évora, de certa forma, responde a essa pergunta no que
tange a unidades industriais voltadas para alta produtividade e tecnologia de ponta. Por outro lado,
também temos operações logísticas na França, como por exemplo o armazenamento e distribuição de
peças sobressalentes, que nos beneficia com a conectividade do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris.
A TAP é um bom investimento para a Embraer?
A Embraer não tem nenhum plano de investir em empresas de transporte aéreo. A nossa visão e
desejo é poder expandir a parceria com a TAP, com a introdução de aeronaves E-Jets no planejamento
de evolução da sua frota.
A situação da Japan Airlines (JAL) poderá beneficiá-los?
Ainda estamos aguardando o plano de reestruturação da JAL. A empresa não deixou de cumprir
nenhuma obrigação conosco e os pedidos em carteira seguem conforme o acertado. Caso a empresa
procure readequar a sua frota com aeronaves de médio porte, temos um produto bastante competitivo, testado e aprovado pelo mercado que pode ser disponibilizado em um curto espaço de tempo. Mas nada
há de concreto nesse sentido.
A Embraer tem uma golden share. Isso condiciona a sua atuação de alguma forma?
O modelo de golden share na Embraer é bem-sucedido. Não há, por parte do governo brasileiro,
ingerência alguma nas decisões operacionais e estratégicas da empresa e posso dizer que, nesses mais
de 15 anos de experiência pós-privatização, os poderes de veto do Estado jamais foram utilizados, visto
que nunca houve situação de discórdia ou litígio entre os acionistas.