Santiago escreveu:Prezado Orestes,
Muito bom seu texto! Parabéns!
Compreendo muito bem o que quer dizer.
Gostaria de comentar apenas o trecho abaixo...
Diante deste cenário abstrato, pergunto: qual a importância da Suécia diante dos interesses brasileiros? Qual a importância dos EUA? Qual a importância da França? Qual o significado em escolher um caça destas distintas origens? A importância reside no fato de fazer, simbolicamente ao menos, do Brasil um país muito diferente do que é no cenário geopolítico internacional. O Brasil busca sua independência nos equipamentos militares, sua autonomia para fazer o que bem entender, fortalecimento e independência de sua indústria bélica, autonomia tecnológica e um sinal claro que veio para ficar e delimitar seu território sem invadir o de terceiros. Qual dos três países (caças) melhor representa este momento?
Nenhum dos 3 e qualquer um dos três.
Para se obter independência nos equipamentos militares, autonomia para fazer o que bem entender deve-se dominar as tecnologias envolvidas. Para se dominar as tecnologias envolvidas, obrigatoriamente as entidades - empresas e centros de P&D - necessitam dominá-las efetivamente. Isso parece óbvio, mas incrivelmente não é. O saber tecnológico e as inovações não brotam do nada.
Para garantir isso deve-se manter fluxos de investimentos adequados para o setor (indústria e centros de P&D) e garantir o desenvolvimento tecnológico nacional. O submarino nuclear confirma isso em partes. Digo em partes, pois se tivesse havido um fluxo de investimentos mais forte poderia-se ter atingido os objetivos em menor tempo. Se a MB não tivesse investido ao longo de muitos anos em propulsão nuclear, mesmo sem os adequados apoios governamentais, de pouco adiantaria adquirir tecnologias para o casco do submarino nuclear. O mesmo pode ser dito do VLS. Sem os investimentos internos necessários em sistemas inerciais por exemplo, talvez de pouco adiantará consultorias especializadas estrangeiras. Ou dos mísseis ar-ar. Sem a base de conhecimento nacional dificilmente os sul-africanos topariam desenvolver projetos conjuntos.
Certamente as aquisições externas podem gerar contrapartidas tecnológicas que por sua vez podem completar elos da cadeia de conhecimento nacional e queimar certas etapas. Mas nunca substituirão a base sobre a qual ela necessita para se assentar. Sempre serão necessários os receptores/desenvolvedores/aplicadores das tecnologias estrangeiras.
Na minha opinião, das 3 propostas, aquela que mais contribuir para que as empresas e centros de P&D nacionais dominem as tecnologias relevantes para se atingir os objetivos militares e estratégicos (independência nos equipamentos militares, autonomia para fazer o que bem entender), seria a que melhor representaria o momento pelo qual o país passa. Pouco importar se essas tecnologias que o país decida como estratégicas para a sua independência militar venham da Suécia, da França e dos EUA, ou da China ou da Russia ou alienígena. O resultado a ser alcançado será a autonomia tecnológica militar e suas conseqüências.
Mas se o objetivo é outro, utilizar as aquisições militares para fomentar os fluxos de comércio e investimento ou atuações internacionais conjuntas (forças de paz, atuações conjuntas, por exemplo), então o país faz muita diferença. Nessa caso, a Suécia estaria claramente em desvantagem. Pelo próprio tamanho de sua economia, os EUA estariam em situação mais vantajosa, seguidos da França.
[]s
Santiago
O Jacques, obrigado pelas palavras, porém a recíproca é mais do que verdadeira, como comprova este seu belíssimo post. Aliás, concordo em gênero, número e grau com o que você escreveu.
Ainda acredito (sinônimo de ingenuidade; minha) que este assunto (equipamentos bélicos e TdT´s) deveria estar apoiado no "tripé" FFAA, setor industrial e universidades públicas. Porém existe um ranço ideológico, dois a dois, entre estes três vetores citados, dificultando as coisas deslanchem por estas terras. É preciso que as diferenças se dissipem, que os esforços se somem, mas... Como "ideólogo" só apanho por dizer estas coisas, deixemos assim.
O Brasil precisa queimar algumas etapas no setor de P&D, não tem como exaurir tal coisa, mas é possível "agilizar" sim. Como você disse, a origem destas "ajudas" não importa, porém é preciso saber se buscamos apenas ajudas ou algo acima deste patamar.
O Brasil busca sua independência nos equipamentos militares, sua autonomia para fazer o que bem entender, fortalecimento e independência de sua indústria bélica, autonomia tecnológica. Isto é pouco, não passa de um desejo que transcende os olhos menos atentos (de tão óbvio), mas não me referi a parte técnica da coisa, falava (entrelinhas) na mudança de atitude, nas ações que estamos vendo, no recado internacional. Querer limitar este "querer" à questão técnica é tornar o "ver" muito bicolor. Não vejo assim as coisas, vejo algo maior sendo colocado em prática, onde as ações e retóricas políticas sobre TdT´s e mudanças no que tange ao tecnicismo uma limitação intencional para maquiar o porvir que é muito maior.
Bem, ingenuidades a parte, digo, se não for assim, que seja qualquer coisa, pois padrão por padrão fiquemos com qualquer um, visto que não faz diferença a origem, apenas as conveniências.
Grande abraço,
Orestes