Guerra das Malvinas / Falkland

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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Re: Guerra das Malvinas

#706 Mensagem por WalterGaudério » Sex Fev 26, 2010 8:58 pm

PRick escreveu:
rodrigo escreveu:Será inteligente apoiar a Argentina em uma reinvindicação territorial em que já até empregaram a força? Enquanto isso, restam esquecidas reinvindicações territorias contra o Brasil. Podem virar protagonistas.
Sim, é inteligente porque é o oposto do que você está pregando, quer dizer, existem leis internacionais, tratados que foram assinados e desrespeitados pela Lei da Selva, porém, como o Leão, o mais forte hoje, pode não ser amanhã, ninguém gosta de um império decadente, quem vive somente da força, uma vez sem ela, não tem mais nada.

Por isso, nossas aumentos territóriais sempre foram feitos consolidado por tratados e acordos, a melhor e mais duradoura forma de convívio entre as nações. Talvez por isso, os EUA sejam o maior motivo de ódio pelo mundo. Quem anda dando socos e murros em todos, não pode esperar nada além disso de volta.

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Re: Guerra das Malvinas

#707 Mensagem por Penguin » Sex Fev 26, 2010 9:47 pm

WalterGaudério escreveu:
PRick escreveu: Sim, é inteligente porque é o oposto do que você está pregando, quer dizer, existem leis internacionais, tratados que foram assinados e desrespeitados pela Lei da Selva, porém, como o Leão, o mais forte hoje, pode não ser amanhã, ninguém gosta de um império decadente, quem vive somente da força, uma vez sem ela, não tem mais nada.

Por isso, nossas aumentos territóriais sempre foram feitos consolidado por tratados e acordos, a melhor e mais duradoura forma de convívio entre as nações. Talvez por isso, os EUA sejam o maior motivo de ódio pelo mundo. Quem anda dando socos e murros em todos, não pode esperar nada além disso de volta.

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Re: Guerra das Malvinas

#708 Mensagem por P44 » Sáb Fev 27, 2010 9:10 am

descobri isto no mp.net, não sei se já foi aqui postado...
Brazil attacks UN over Falklands stand-off
Philippe Naughton and Francis Elliott

(Jeremy Cresswell)

The Ocean Guardian oil rig has started drilling

President Lula da Silva of Brazil today attacked the UN for failing to act on the sovereignty of the Falkland Islands and claimed its reticence was down to Britain's seat on the Security Council.

Speaking at the end of a regional summit in Mexico Mr Lula criticised the UN for not pushing more forcefully to reopen the debate.

His intervention came ahead of a meeting later today between Ban Ki Moon, the UN Secretary-General, and the Argentine Foreign Minister Jorge Taiana.

"Our attitude is one of solidarity with Argentina," Mr Lula said. "What is the geographical, political and economic explanation for England to be in the Malvinas? What is the explanation for the United Nations never having that decision?
Related Links
Oil exploration opens up old wounds
Escalating Falklands oil dispute goes to UN

“Could it be because the UK is a permanent member of the UN’s Security Council where they can do everything and the others nothing? It is not possible that Argentina is not the owner while England is, despite being 14,000km away."

At the Rio Group summit in Mexico yesterday, Buenos Aires won unprecedented support from other Latin American states for its demand that the UK stop drilling for oil in waters near the islands.

The row was sparked by the arrival of the offshore oil rig Ocean Guardian, which began drilling 60 miles north of the islands after Argentina announced new shipping controls. Britain and Argentina fought a two-month war over the islands in 1982.

David Miliband, the Foreign Secretary, insisted yesterday that the exploration was fully within international law although ministers admit privately that the UK has been preparing for a diplomatic confrontation with Argentina for months.

Argentina scored a diplomatic coup at the Rio Group summit in Cancun when 32 Latin American and Caribbean leaders backed their "legitimate rights" in the sovereignty row with Great Britain.

Hugo Chávez, the Venezuelan President, used a television address to reiterate his support, bellowing: “Give the Falkland Islands back to Argentina, Queen of England.”

But it was the backing of countries such as Chile and Brazil — which is itself pressing for permanent Security Council membership — that will be of most concern.

Cristina Fernández de Kirchner, Argentina’s President, said that Britain had broken a UN resolution forbidding unilateral development in disputed waters. She accused Britain of double standards in its pursuit of the islands’ natural resources but ruled out any military engagement or attempt to block shipping.

British officials said that Gordon Brown and Mr Miliband would wait for the outcome of events at the UN before deciding how to respond. Diplomats in Latin America believe that President Kirchner is using the issue for domestic purposes. “This is principally a PR campaign, not a serious legal or diplomatic effort,” said one.

The US offered Britain only tepid support. The State Department said that it took no position on the sovereignty claims of either country.

White House officials contacted by The Times would not be quoted on the dispute — not for fear of being drawn into a diplomatic showdown but because, as one admitted, it had barely registered as a concern for the Administration. A generation ago President Reagan was slow to back publicly Britain’s efforts to recapture the islands, but US intelligence proved critical to British military success.
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/w ... 039257.ece




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Re: Guerra das Malvinas

#709 Mensagem por joao fernando » Sáb Fev 27, 2010 10:23 am

Voltando a guerra de 1982 (e não na nova de 2010) mas lá atras, o que o Brasil tinha preparado, para revidar, em caso de agravamento do conflito?

Poderia o Brasil intervir do lado Argentino? Poderia o Brasil sofrer um ataque Britanico, de antecipação? Poderia o Brasil atacar a Argentina?

O que se sabe, de real, sobre os possiveis cenarios da epoca?




Obrigado Lulinha por melar o Gripen-NG
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Re: Guerra das Malvinas

#710 Mensagem por WalterGaudério » Sáb Fev 27, 2010 10:55 am

joao fernando escreveu:Voltando a guerra de 1982 (e não na nova de 2010) mas lá atras, o que o Brasil tinha preparado, para revidar, em caso de agravamento do conflito?

Poderia o Brasil intervir do lado Argentino? Poderia o Brasil sofrer um ataque Britanico, de antecipação? Poderia o Brasil atacar a Argentina?

O que se sabe, de real, sobre os possiveis cenarios da epoca?

A Força de Submarinos foi posta no mais elevado grau de apronto, com cerca de metade das unidades navegando no fim de maio de 82, e com outras duas unidades de sobre-aviso para rende-las em revezamento no início de junho.




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Re: Guerra das Malvinas

#711 Mensagem por joao fernando » Sáb Fev 27, 2010 11:05 am

Em caso de graça britanica, a frota deles iria para o fundo do mar? Meios tinhamos?

E hoje, nossa capacidade é igual, maior ou menor? Poderiamos, com esforço, fechar o Atlantico ou pelo menos, oferecer dificuldade prum trafego do Norte ao Sul?




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Re: Guerra das Malvinas

#712 Mensagem por Claude » Sáb Fev 27, 2010 11:07 am

nveras escreveu:Não que eu seja contra os hermanos, e longe de mim os ingleses,mas, mas, pelo que vi na Wiki, os argentinos só tiveram domínio sobre a ilha, de 1820 a 1833. Os ingleses também já estavam lá e teriam sido expulsos pelos espanhóis. Há fronteiras estabelecidas na Europa que são de 1945, ou seja, reivindicação do século IX é meio complicado de apoiar.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_Malvinas

No século XVIII, em 1764, Louis Antoine de Bougainville fundou uma base naval em Port Louis (Malvinas Oriental). O francês chamou-a de Îles Malouines. Ignorando a presença francesa na ilha, em 1765, John Byron (Britânico) estabeleceu uma base em Egmont (Malvina Ocidental). Em 1766 a França vendeu sua base para a Espanha, que declara guerra à presença inglesa nas ilhas, mas a disputa se acalmou no ano seguinte, decidindo-se que a parte oriental seria controlada pela Espanha e a parte ocidental pelos britânicos.
A ilha permaneceu praticamente instável até o século XIX. A Argentina montou uma colônia penal nas ilhas em 1820, e em 1829 nomeou Luis Vernet governador da ilha para colonizá-la. O Reino Unido invadiu as ilhas em 1833, mas a Argentina manteve sua reivindicação. Essas tensões levaram a uma invasão argentina em 1982. O conflito ficou conhecido como a Guerra das Malvinas. Mais tarde as ilhas foram retomadas pelos britânicos.
Excelente a participação do amigo. Parece que muito poucos aqui questionam a validade das reivindicações argentinas. Tomam elas como se fossem inquestionáveis. A posse das ilhas é assunto altamente controverso. Agravado pelo fato de que os ingleses efetivamente colonizaram a ilha invocando o princípio de Direito Internacional do uti possidetis iuris. Ou seja, a terra é daquele que efetivamente ocupa. Foi com base nele que o Brasil conseguiu agregar mais de um milhão de quilômetros quadrados ao Brasil, como no caso da anexação do Acre.




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Re: Guerra das Malvinas

#713 Mensagem por Marino » Sáb Fev 27, 2010 11:48 am

WalterGaudério escreveu:
joao fernando escreveu:Voltando a guerra de 1982 (e não na nova de 2010) mas lá atras, o que o Brasil tinha preparado, para revidar, em caso de agravamento do conflito?

Poderia o Brasil intervir do lado Argentino? Poderia o Brasil sofrer um ataque Britanico, de antecipação? Poderia o Brasil atacar a Argentina?

O que se sabe, de real, sobre os possiveis cenarios da epoca?

A Força de Submarinos foi posta no mais elevado grau de apronto, com cerca de metade das unidades navegando no fim de maio de 82, e com outras duas unidades de sobre-aviso para rende-las em revezamento no início de junho.
Toda Esquadra foi para o sul do Brasil.
Graças a Deus o conflito não saiu da área das Malvinas.




"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
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Re: Guerra das Malvinas

#714 Mensagem por kurgan » Sáb Fev 27, 2010 12:11 pm

O posicionamento do governo brasileiro na Guerra das Malvinas (1982)


por: Rafael Macedo da Rocha Santos *

O principal objetivo deste artigo é demonstrar como o apoio do Brasil aos direitos argentinos durante a crise das ilhas Malvinas contribuiu decisivamente para consolidar uma aproximação permanente entre as duas nações, fortalecendo a formação de alianças regionais e ampliação da cooperação sul-sul ao longo dos anos 80.


1 – A crise da dívida externa e o esfacelamento do sistema interamericano:

A guerra das Malvinas pode ser considerada como a reprodução, no plano militar, do crescente choque de interesses entre as nações subdesenvolvidas do sul e as grandes potências desenvolvidas do norte no início dos anos 80. O conflito entre Argentina e Grã-Bretanha expôs uma nova correlação nas tradicionais forças geopolíticas, decorrentes de uma crescente instabilidade e incertezas nos campos políticos e econômicos internacionais.
A guerra das Malvinas demonstrou como a política nociva dos Estados Unidos, sob o governo do ortodoxo Ronald Reagan, contribuiu para incrementar ainda mais as relações entre os países do continente nos anos 80. Diversos autores relacionam a guerra das Malvinas à percepção de um perfil próprio e à aspiração por autonomia ideológica e política da América Latina frente aos alinhamentos automáticos com os Estados Unidos.
A guerra das Malvinas introduziu um complicador inesperado para os planos da administração Reagan: seu esforço em reativar a guerra fria e seus mecanismos de defesa coletivos típicos como o TIAR, no caso da defesa interamericana, esbarrava no seu posicionamento pró-Grã Bretanha no conflito, ou seja, os Estados Unidos estavam claramente atuando a favor de uma potência extracontinental (AYERBE, 2002: p.209).
A crise do capitalismo no final dos anos 70, decorrência dos sucessivos aumentos nos preços do petróleo e das grandes taxas de juros cobradas pelos países ricos, prejudicava a capacidade de pagamento da dívida externa pelas nações emergentes como Argentina e Brasil. As economias latino-americanas promoveram um ajuste recessivo em suas contas externas para pagar os encargos de suas crescentes dívidas externas.
A crise da hegemonia norte-americana obrigou as nações dependentes do continente a buscarem outras oportunidades de inserção nas relações internacionais dos anos 80. A redefinição da idéia de alinhamento automático provinha do esgotamento do modelo político autoritário e dos excessos do “desenvolvimentismo” promovido pelos militares no continente nas décadas anteriores.
A mudança de postura das nações latino-americanas no que diz respeito ao fortalecimento das alianças sul-sul provém do enfraquecimento das premissas ideológicas contidas no contraponto leste-oeste oriundo da guerra fria. Nesse sentido, a guerra das Malvinas representou um momento de transição entre a ordem mundial polarizada e a ordem neoliberal oriunda do esfacelamento do “Estado do Bem Estar Social”.
A crise da dívida externa abriu para os países latino-americanos a possibilidade de novas parcerias políticas e econômicas que superassem a influência do dólar valorizado em suas contas externas. Com os mercados do norte “fechados” para as exportações do continente, os países latino-americanos trataram de buscar divisas dentro da própria América Latina para que pudessem fazer frente às necessidades da dívida.
A penúria econômica do Brasil, conseqüência da segunda crise do petróleo (1979) e do aumento das taxas de juros pelos países ricos, foi responsável pelo pedido de moratória brasileira no final de 1982. Para o Brasil, redobraram-se os esforços para aumentar as exportações, diversificaram-se as pautas e ampliaram-se os mercados. Afrontou-se o protecionismo e usou-se o “terceiro-mundismo” para penetrar no Sul (CERVO, 1998).
Com a crise da dívida, evidenciava-se a vulnerabilidade das nações mais dependentes do sistema internacional e a inflexibilidade dos credores internacionais. Se antes, os empréstimos financiavam a indústria e grandes empreendimentos, a partir do final dos anos 70, eles seguirão somente uma lógica urgente de rolagem dos compromissos externos.
Nesse sentido, desde a assinatura do tratado de Itaipú-Corpus em outubro de 1979 que havia sepultado uma hipótese de conflito, o Brasil havia promovido uma aproximação sem precedentes com a Argentina. Em visita a Buenos Aires em maio de 1980 (a primeira de um chefe de Estado brasileiro à capital Argentina desde 1935), João Figueiredo assinou diversos acordos de cooperação econômica com o general Videla, entre eles, um tratado de cooperação nuclear, inaugurando uma era de prosperidade nas relações entre os países.
Em 1982, a Argentina era o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos. As vendas do Brasil para a Argentina aumentaram abruptamente de 340 milhões de dólares em 1978 para 1 bilhão em 1981. Ao priorizar a América Latina como prioridade de sua política externa, o governo Figueiredo procurou expandir mercados para o Brasil e fugir dos alinhamentos automáticos com as superpotências sob uma lógica universalista.

2 - O Brasil na Guerra das Malvinas:

A invasão das Malvinas pela Junta Militar Argentina encabeçada pelo general Galtieri pegou de surpresa o governo brasileiro, segundo o chanceler Saraiva Guerreiro (1992). O conflito era nocivo para os interesses brasileiros, pois envolvia dois parceiros comerciais importantes do país: a Argentina, seu maior vizinho e parceiro estratégico importante e a Grã-Bretanha, grande responsável pelos créditos de rolagem da dívida.
O governo brasileiro tinha em mente que um conflito atrapalharia, de alguma forma, o comércio com as duas nações beligerantes. As instabilidades no sistema internacional, oriundas de um choque entre nações norte-sul poderiam provocar uma grande turbulência no famigerado mercado financeiro. Com a inevitabilidade da guerra, o Brasil demonstrara que dava preferência ao seu sistema interamericano e às suas “obrigações” hemisféricas.
O chanceler Saraiva Guerreiro (1992), em seu livro de memórias, lembra que a primeira posição do governo brasileiro em relação à crise nas Malvinas era uma forma de se solidarizar com a Argentina, pois em sua declaração inicial não se mencionava à ação militar de 2 de abril de 1982 que havia retirado apoio internacional aos argentinos:

Quando a Grã-Bretanha ocupou as ilhas em 1833, a Argentina protestou. Em 1833, nosso Ministro Plenipotenciário em Londres foi instruído a apoiar a gestão de protesto da Argentina. A Argentina nunca aceitou a presença britânica nas ilhas. Para a Argentina, sempre houve uma ocupação de facto. O Brasil sempre apoiou o direito argentino. (...) A única coisa que podemos fazer agora é esperar que as relações não se deteriorem ainda mais entre as duas nações amigas.


Embora adotasse uma postura de neutralidade, condenasse o uso da força e pedisse moderação para ambas as partes, o último governo militar brasileiro nutria certa simpatia pela Argentina na medida em que não escondia suas preferências em suas comunicações. Quando comparamos as mensagens de moderação enviadas pelo presidente Figueiredo ao líder argentino Leopoldo Galtieri e à Primeira-Ministra britânica Margareth Thatcher, ambos em 10 de abril, percebemos uma clara inclinação brasileira em favor dos argentinos:

Dirijo-me com grande emoção meus pensamentos ao povo irmão da Argentina, ao qual a Nação brasileira se sente para sempre ligada pelos laços da mais profunda e indestrutível amizade. Renovo o compromisso do Brasil para fazer de tudo para contribuir com uma solução que preserve os melhores interesses dos povos da Argentina e das Américas (...). Faço um apelo em favor da conciliação e da busca de uma solução através de negociações. Recordando os grandes e históricos momentos da amizade brasileiro-argentina, desejo aos argentinos paz, concórdia e fraternidade.

Com profunda preocupação pelos graves riscos que pesam sobre a paz, renovo o apelo feito ao governo do Reino Unido no sentido de que encontre solução para a presente crise. Tendo em vista os esforços ora em curso e a disposição do governo brasileiro já manifestou fazer o que estiver a seu alcance para a busca de uma solução satisfatória. Assinalo ser particularmente importante a efetiva moderação das partes envolvidas a fim de assegurar tempo suficiente para que se explorem os caminhos da conciliação.


O Brasil também forneceu armamentos aos argentinos como aviões de patrulha EMB-111, foguetes balísticos e caças Xavantes. Tais armamentos já estavam incorporados às Forças Armadas brasileiras e foram adaptados às pressas para servir à Armada Argentina na missão de espionar a força tarefa britânica (BANDEIRA, 1995: p.266).
Em 1º de maio, o governo brasileiro emitira uma dura nota condenando o ataque britânico ao aeroporto de Stanley sem mandato expedido pela ONU para tal ação e em descumprimento à Resolução 502 do Conselho de Segurança. Na mesma data, em resposta à declaração, a Embaixada britânica em Brasília lembrava que o Brasil perdera a oportunidade de condenar a invasão Argentina de 2 de abril.
O azedamento das relações Brasil e Estados Unidos se reflete no quase cancelamento na visita de João Figueiredo a Washington em Maio de 1982. Na ocasião, Figueiredo alertara ao presidente Ronald Reagan que um ataque militar britânico ao continente americano (às bases militares argentinas em “terra”) desencadearia uma reação direta e conjunta dos países latino-americanos em favor dos argentinos (BANDEIRA, 1995).
A insatisfação causada pelo apoio norte-americano aos britânicos na crise das Malvinas estava explícita no duro discurso feito pelo presidente brasileiro em Washington. Em sabatina realizada no Senado brasileiro no final de Maio, o ministro Saraiva Guerreiro se referia à destruição do sistema interamericano, “que nunca mais seria o mesmo” após a guerra das Malvinas.
O posicionamento do Brasil nas duas reuniões de consultas do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) realizadas a pedido da Argentina em Abril e Maio de 1982 votou favoravelmente às proposições que defendiam a soberania dos argentinos sobre as ilhas Malvinas e condenavam o boicote promovido pela CEE. Segundo Guerreiro: “Em nenhum momento nos últimos 149 anos, houve qualquer laudo arbitral ou sentença judicial que tenha conferido validade à ocupação das Malvinas pelo Reino Unido”.
Na prática, entretanto, evidenciava-se o caráter retórico que as decisões da OEA adquiriam quando não eram respaldadas pelos norte-americanos. Apesar da maioria dos países latino-americanos ter apoiado às pretensões Argentinas na crise, Chile e Colômbia se abstiveram de votar em uma demonstração de alinhamento com os Estados Unidos.
O documento 011650 do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão oficial de espionagem do governo militar desde 1964, traz a posição oficial do Brasil com relação ao episódio em que um bombardeiro inglês Vulcán invadiu o espaço aéreo brasileiro em 4 de Junho de 1982: os ingleses reclamavam que, ao mesmo tempo em que retinha o avião, o governo brasileiro fazia vista grossa para a passagem por aeroportos brasileiros de aviões com armamentos vindos da Líbia rumo à Argentina.
No dia 5 de junho de 1982, a embaixada britânica entregou um duro texto para as autoridades brasileiras. A conclusão da mensagem, incluída no documento 011650 do SNI, não poderia ser mais objetiva: “O governo de Sua Majestade Britânica lamenta ter que deixar claro ao governo brasileiro que a reversão da decisão anunciada em 3 de junho, se mantida, acarretaria sérias conseqüências para as amistosas relações de que a Grã-Bretanha e o Brasil têm desfrutado ininterruptamente há tanto tempo e às quais atribui grande valor”.
A compreensão de que o Brasil não deveria aproveitar-se das dificuldades argentinas provêm das limitadas capacidades de barganha econômica da América Latina em relação a outros blocos mais sólidos como Comunidade Econômica Européia. O boicote comercial adotado pela CEE à Argentina, no início da crise, gerou protestos conforme reportagem do Jornal do Brasil de 12 de abril de 1982 de autoria de Hélio Jaguaribe:

Os países latino-americanos – notadamente o Brasil, por sua condição de grande nação e de grande vizinho da Argentina – não poderão aceitar o arrasamento econômico do país irmão. Senão for prontamente interrompida a escalada do conflito (...), não poderá se deter à escalada de apoio da América Latina a um país irmão ameaçado na sua própria sobrevivência por uma grande potência extra-regional (...). Nenhum país pode aceitar a destruição de um país com quem mantém vínculos de solidariedade e que com ele faz parte de um sistema geopolítico.


3 – Conclusão:

Entre os militares brasileiros, novas concepções estratégicas surgiram depois da guerra das Malvinas. Desconsideraram-se possíveis cenários envolvendo a Argentina enquanto os Estados Unidos não eram mais considerados aliados tradicionais e incondicionais. Se antes do conflito, o Brasil não vendia armamento aos argentinos, após a derrota Argentina, passaria a ser um importante fornecedor de aviões aos argentinos.
Os militares brasileiros buscavam consolidar uma tendência de dentro das Forças Armadas: uma renovação de concepções e orientações doutrinárias e uma aproximação com os países do Cone Sul: “a conduta diplomática brasileira solidária à Argentina e dirigida à busca de uma solução pacífica do conflito nas Malvinas, ajudou a dissipar antigos receios e esvaziar uma rivalidade histórica”.
A “traição de Washington”, expressão utilizada com freqüência por Galtieri, significou a entrada da Argentina no hall dos países de Terceiro Mundo e contribuiu decisivamente para incrementar as relações Brasil e Argentina durante os governos civis dos anos 80. O alinhamento do Brasil a favor de uma causa nacional Argentina criou sólidos vínculos que influenciaram diretamente os acordos de integração assinados posteriormente.
Para finalizar, transcrevemos uma nota enviada pela cancelaria brasileira ao Palácio San Martín em 16 de Junho de 1982 (dois dias após a rendição Argentina nas Malvinas), que expressa a solidariedade dos brasileiros com a derrota militar do “país irmão”:

Neste momento, o Brasil não pode deixar de expressar ao país-irmão sua solidariedade e convicção de que, assim como povo argentino tem o direito e o dever de honrar-se com o patriotismo e a coragem de seus filhos, saberá igualmente, unido e fortalecido, superar dificuldades ocasionais e dar fundamental contribuição à paz e ao progresso próprios e de toda a região. Desde 1833, a Argentina jamais cessou de reivindicar sua soberania sobre as Malvinas. O Brasil sempre reconheceu o justo título dessa reivindicação.


Terminado a guerra e o “embaraço” causado pela escolha entre 2 países amigos, o Brasil se posicionaria favoravelmente à soberania Argentina nas Malvinas em discursos na 37ª Assembléia Geral da ONU e na visita do presidente Bignone à Foz do Iguaçu em Janeiro de 1983. A guerra das Malvinas teve um papel decisivo na construção das boas relações Brasil e Argentina, fundamentais para a consolidação do Mercosul nos anos 90.

4 - Referências Bibliográficas:

AYERBE, Luís Fernando. Estados Unidos e América Latina. São Paulo: Unesp, 2002.
BANDEIRA, Luiz Alberto Viana Moniz. Estado Nacional e Política Internacional na América Latina. São Paulo: Ensaio, 1995.
BOSOER. Fabián. Generales e Embajadores: una historia de las diplomacias paralelas en Argentina. Buenos Aires: Vergara, 2005.
CERVO, Amado Luiz (org.). O Desafio Internacional. Brasília: UnB, 1994.
CHESNAIS, François (org.). A Finança Mundializada: raízes sociais e políticas, configuração e conseqüências. Rio de Janeiro: Bomtempo, 2000.
DUARTE, Paulo de Queiroz. O Conflito nas Malvinas. Rio de Janeiro: Bibliex, 1986.
GUERREIRO, Ramiro Saraiva. Lembranças de um empregado do Itamaraty. Rio de Janeiro: Siciliano, 1992.
JAGUARIBE, Hélio. Novo Cenário Internacional. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
LANUS, Juan. De Chapueltec al Beagle. Buenos Aires: Hyspamerica, 1986.
LUNA. Félix. Golpes Militares: De la dictadura de Uriburu al terrorismo de Estado. Buenos Aires: Planeta, 2001.
MARTINS FILHO, José Roberto. “As Forças Armadas Brasileiras no pós Guerra Fria”. Fortaleza: Revista Tensões Mundiais, Volume 03, pp.78-89, 2006.
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. Argentina e Brasil: a balança de poder no Cone Sul. São Paulo: Annablume, 1996.
NYE JÚNIOR, Joseph. O paradoxo do poder americano. São Paulo: Unesp, 2002.
NOVARO, Marcos e PALERMO, Vicente. A ditadura militar Argentina 1976-1983: do golpe de Estado à restauração democrática. São Paulo: USP, 2007.
RAPOPORT, Mário. A guerra das Malvinas e a política exterior argentina. Buenos Aires: Ediciones Macchi, 1997.
ROMERO, Luis Alberto. Breve Historia Contemporánea de la Argentina. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2004.


5 - Notas

* Mestrando do PPGHC/ UFRJ

http://www.tempopresente.org/index.php? ... Itemid=147




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Re: Guerra das Malvinas

#715 Mensagem por Rock n Roll » Sáb Fev 27, 2010 6:06 pm

Marino escreveu:
WalterGaudério escreveu:
A Força de Submarinos foi posta no mais elevado grau de apronto, com cerca de metade das unidades navegando no fim de maio de 82, e com outras duas unidades de sobre-aviso para rende-las em revezamento no início de junho.
Toda Esquadra foi para o sul do Brasil.
Graças a Deus o conflito não saiu da área das Malvinas.

Na Bda Pqdt tivemos, segundo muitos veteranos, um dos anos de ralação mais puxado para a Inf. O Btl Santos Dumont ficou todo este período com revezamento das Cias em alerta.




Santa é a guerra, e sagradas são as armas para aqueles que somente nelas podem confiar.
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Re: Guerra das Malvinas

#716 Mensagem por WalterGaudério » Sáb Fev 27, 2010 9:32 pm

Rogério Lima escreveu:

Na Bda Pqdt tivemos, segundo muitos veteranos, um dos anos de ralação mais puxado para a Inf. O Btl Santos Dumont ficou todo este período com revezamento das Cias em alerta.

E até onde lembro, havia um sub em dique seco, Acho que era o Goiás ou o Bahia, e a tripulação bem como operários do arsenal receberam ordens de retira-lo do dique(após completados os reparos) o mais depressa possível. E o fizeram.




Só há 2 tipos de navios: os submarinos e os alvos...

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Re: Guerra das Malvinas

#717 Mensagem por PRick » Sáb Fev 27, 2010 11:33 pm

Não é interessante que o posicionamento do Governo LULA e do Governo Militar, tanto em relação as Malvinas como sobre o Tratado das Armas Nucleares, são quase idênticos. E vejam que lá nos idos dos anos 1980, o Brasil deu apoio total ao Iraque, outra coisa que era vista com receio pelo EUA.

[]´s




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Re: Guerra das Malvinas

#718 Mensagem por Rock n Roll » Dom Fev 28, 2010 12:42 am

Um dos livros que tenho sobre o assunto afirma que o custo total para a Inglaterra foi de 2 bilhões de Libras na época...
Os sucessivos governos argentinos nunca se deram ao trabalho de tratar as ilhas com responsabilidade; Os ingleses o fizeram. A não ser quando a Casa Rosada quer melhorar o cheiro dos seus atos para o público interno, tanto nos dois séculos anteriores como agora.
Na edição do Timesonline de sábado 27/02. um articulista se manifesta no sentido da coroa agir como no caso de Hong Kong. Só que agora há óleo e gás na história como acabei postando nas aéreas 1 mês e meio atrá +/-. Quero ganhar na Mega Sena !!!!!!
O máximo que pode ocorrer e trocarmos o nome para Malklands ou Falvinas.
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Re: Guerra das Malvinas

#719 Mensagem por WalterGaudério » Dom Fev 28, 2010 12:33 pm

Rogério Lima escreveu:Um dos livros que tenho sobre o assunto afirma que o custo total para a Inglaterra foi de 2 bilhões de Libras na época...
Os sucessivos governos argentinos nunca se deram ao trabalho de tratar as ilhas com responsabilidade; Os ingleses o fizeram. A não ser quando a Casa Rosada quer melhorar o cheiro dos seus atos para o público interno, tanto nos dois séculos anteriores como agora.
Na edição do Timesonline de sábado 27/02. um articulista se manifesta no sentido da coroa agir como no caso de Hong Kong. Só que agora há óleo e gás na história como acabei postando nas aéreas 1 mês e meio atrá +/-. Quero ganhar na Mega Sena !!!!!!
O máximo que pode ocorrer e trocarmos o nome para Malklands ou Falvinas.
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A minha opinião na época(e ainda hoje) era de que os argentinos qdo. verificaram a a impossibilidade de vitória e constado a derrota iminente, deveriam ter exigido como pré-condição para um cessar-fogo a metade das Falklands, ou seja, West Falkland, ou Malvina ocidental, enquanto se preparava um tratado do tipo Hong Kong.

Não teriam tudo o que queriam, mas tb não ficariam sem nada.




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Re: Guerra das Malvinas

#720 Mensagem por kurgan » Dom Fev 28, 2010 4:11 pm

WalterGaudério escreveu:
Rogério Lima escreveu:Um dos livros que tenho sobre o assunto afirma que o custo total para a Inglaterra foi de 2 bilhões de Libras na época...
Os sucessivos governos argentinos nunca se deram ao trabalho de tratar as ilhas com responsabilidade; Os ingleses o fizeram. A não ser quando a Casa Rosada quer melhorar o cheiro dos seus atos para o público interno, tanto nos dois séculos anteriores como agora.
Na edição do Timesonline de sábado 27/02. um articulista se manifesta no sentido da coroa agir como no caso de Hong Kong. Só que agora há óleo e gás na história como acabei postando nas aéreas 1 mês e meio atrá +/-. Quero ganhar na Mega Sena !!!!!!
O máximo que pode ocorrer e trocarmos o nome para Malklands ou Falvinas.
E segue a milonga e o chororô. Nada vai mudar.
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A minha opinião na época(e ainda hoje) era de que os argentinos qdo. verificaram a a impossibilidade de vitória e constado a derrota iminente, deveriam ter exigido como pré-condição para um cessar-fogo a metade das Falklands, ou seja, West Falkland, ou Malvina ocidental, enquanto se preparava um tratado do tipo Hong Kong.

Não teriam tudo o que queriam, mas tb não ficariam sem nada.
Walter, não acho isso possível.Os argetinos não contaram com a determinação inglesa.Foi uma jogada arriscada mas que poderia dar certo.A junta militar argentina, acho eu, que tinha essa noção.




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