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Para onde vai a Toyota?
A Toyota atravessa uma das piores crises da sua história. O fabricante japonês já foi obrigado a recolher 10 milhões de veículos e outros 8,7 milhões tiveram que passar pela revisão. A empresa demorou a reagir a um problema que começou em Agosto de 2009. O presidente deu a cara pela primeira vez no início de Fevereiro e aceitou agora testemunhar perante o Congresso norte-americano.
AnaLuísa Marques
anamarques@negocios.pt
A Toyota atravessa uma das piores crises da sua história. O fabricante japonês já foi obrigado a recolher 10 milhões de veículos e outros 8,7 milhões tiveram que passar pela revisão. A empresa demorou a reagir a um problema que começou em Agosto de 2009. O presidente deu a cara pela primeira vez no início de Fevereiro e aceitou agora testemunhar perante o Congresso norte-americano.
"Peço perdão, de forma sincera, por causar problemas a muitos dos nossos clientes". Foi desta forma que Akio Toyoda (na foto ligeiramente inclinado, um sinal de pedido de desculpa), presidente da Toyota e neto do fundador da empresa, pediu desculpa pelos problemas detectados em diversos modelos da marca e que obrigaram a recolher milhões de veículos.
Esta foi a primeira vez que Toyoda falou publicamente desde que foram conhecidos os primeiros problemas em veículos da marca. O primeiro problema aconteceu a 28 de Agosto de 2009 nos Estados Unidos quando um Lexus ES 350 perdeu o controlo depois do pedal de acelerador ter bloqueado. O acidente provocou a morte de quatro pessoas.
Esta tragédia levou a Toyota – que na altura já tinha recebido mais de duas mil queixas por aceleração involuntária – a agilizar as suas pesquisas, escreveu o jornal "El País" no passado dia 7 de Fevereiro.
Mas só no final de Janeiro, mais precisamente no dia 21, é que a Toyota parece ter tomado verdadeira consciência da gravidade do problema, começando a retirar do mercado milhões de veículos (só nesse dia chamou à revisão 2,3 milhões de veículos).
Nessa altura, a empresa reconheceu também que o seu modelo híbrido Prius – o modelo mais vendido no Japão em 2009 - tinha problemas no pedal de travão.
Toyoda admitiu que a Toyota está em "crise" mas não apresentou medidas concretas para a superar. A verdade é que a empresa já perdeu, em bolsa, um quinto do seu valor desde o dia 21 de Janeiro.
Presidente da Toyota no Congresso norte-americano
Uma semana e meia após a conferência de imprensa onde pediu desculpa pela primeira vez, Toyoda anunciou que vai prestar esclarecimentos perante o Congresso norte-americano, uma hipótese rejeitada por Toyoda durante muito tempo.
Até aqui, o presidente da Toyota defendeu que devia ser o presidente da Toyota nos Estados Unidos, Kim Lentz, a testemunhar perante o Congresso. Agora, Toyoda decidiu aceitar o "convite do congressista [Edolphus] Towns para testemunhar perante a Câmara de Representantes de Supervisão e Reforma Governamental no dia 24 de Fevereiro". "Espero falar directamente ao Congresso e ao público norte-americano", afirmou Toyoda.
A Câmara dos Representantes considera que existe "uma confusão crescente" entre os norte-americanos sobre os veículos afectados, a segurança dos veículos e o que pode ser feito se existir algum problema. "Acreditamos que o seu testemunho vai ajudar a perceber as acções levadas a cabo pela Toyota para salvaguardar a segurança dos condutores norte-americanos", explicou a Câmara dos Representantes.
Fundada em 1933 por Kiichiro Toyoda, a Toyota é a maior fabricante de automóveis do mundo, tendo superado a General Motors em 2007. A marca – que em conjunto com a Nissan e a Honda forma o grupo dos três grandes fabricantes japoneses – vende cerca de 10 milhões de automóveis por ano.
Má gestão da crise
A Toyota tem sido um exemplo de fiabilidade e inovação, pioneiro no segmento dos híbridos. Agora que enfrenta uma das maiores crises de sempre, alguns especialistas consideram que a empresa tem sido o exemplo de "má gestão de uma crise".
"No mundo empresarial há dois tipos de crise. Por um lado, há as que surgem devido a acontecimentos imprevistos e, por outro, as que surgem devido à má gestão dos administradores. Estas são mais difíceis de sanar", explica um director de uma consultora de comunicação ouvido pelo jornal "El País".
"Situações como a da Toyota são previsíveis. De facto, tinham conhecimentos dos problemas através das queixas dos seus clientes. Deveriam ter estudado o problema e comunicá-lo. A tentação de guardar a informação a ver se passa é muito grande", continua o mesmo responsável.