Portugal - Um século de República!

Área para discussão de Assuntos Gerais e off-topics.

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
tflash
Sênior
Sênior
Mensagens: 5426
Registrado em: Sáb Jul 25, 2009 6:02 pm
Localização: Portugal
Agradeceu: 11 vezes
Agradeceram: 31 vezes

Re: Portugal - Um século de República!

#31 Mensagem por tflash » Sex Fev 05, 2010 10:40 am

O grande problema em Portugal, se se quisesse restaurar a monarquia é que quase ninguém se identifica com os herdeiros ao trono. Estou dividido quanto a apoiar a Républica ou a Monarquia. Em teoria a Républica é mais justa visto que qualquer pessoa, por mérito próprio pode aceder ao cargo de lider da nação. ou seja, Eu e qualquer português podemos vir a ser lideres da nação.
na prática é mais complexo, para eu hipotéticamente chegar a presidente da Républica tenho que militar num partido e ter grandes recursos financeiros para me lançar numa campanha política e ser eleito. escusado será dizer que é virtualmente impossivel eu aceder a esse cargo mas em teoria posso.
Por outro lado os ex-presidentes da Républica Portuguesa auferem uma pensão vitalicia igual ao ordenado além de protecção policial, motorista, etc. tudo á conta dos contribuintes, portanto, sobrecarregam o estado. Outro risco é de ser eleito um presidente estilo George Bush, onde não seria tão grave visto o regime português ser semi-presidêncial mas de qualquer modo é uma situação potencialmente embaraçosa com possiveis consequências para a credibilidade do País.

No caso da Monarquia, a vantagem é ter-se uma pessoa que desde criança que recebe educação com vista a tornar-se lider de uma nação, muda-se de Rei uma vez em 50 anos, mais ou menos. poupa-se em pensões e eleições. Existe um verdadeiro terceiro poder, visto o Rei não vir de um partido. O contra é existir um Português com mais direitos que eu e por mais mérito que eu possa vir a ter, não poderei nunca aceder a cargo de chefe de estado.

Também não há a garantia que o Rei venha a ser alguém competente e inteligente (veja-se o principe Carlos da Inglaterra) ou mesmo honesto.

Concluo portanto que se não tivesse existido a revolução de 1910, não se tinha perdido nada.




Kids - there is no Santa. Those gifts were from your parents. Happy New Year from Wikileaks
Avatar do usuário
Al Zarqawi
Sênior
Sênior
Mensagens: 1828
Registrado em: Ter Jul 03, 2007 8:07 pm
Localização: Rio de Janeiro

Re: Portugal - Um século de República!

#32 Mensagem por Al Zarqawi » Sex Fev 05, 2010 10:48 am

U-27 escreveu:aqui no Brasil até que os movimentos são grandes e organizados

a grande maioria apoia a linha dos orleans bragança de vassouras.

assim como eu
Não queria me alongar muito,mas a única pretendente ao trono que tenho simpatia é a Duquesa do Cadaval,família empreendedora no ramo hoteleiro,vinicola e de puro sangue lusitano(cavalos).
A D.Diana Álvares Pereira "Duquesa do Cadaval",e é extremente simpática.Casada com o Principe de Anjou presumível herdeiro do trono francês.Esta até apoiaria com algum entusismo os outros caquéticos não.
Concordo consigo tflash.

Imagem




Al Zarqawi - O Dragão!

"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.
Imagem
Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 62923
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceu: 6819 vezes
Agradeceram: 7111 vezes
Contato:

Re: Portugal - Um século de República!

#33 Mensagem por Túlio » Sex Fev 05, 2010 11:43 am

Não sei não, aqui no Brasil nada funciona como deveria funcionar. A monarquia, então. Vejam o que fizeram aqui logo de saída, a nobreza hereditária simplesmente deixou de existir, o Imperador fazia seus próprios nobres que não podiam legar seus títulos, como seria o usual. Era um sistema que o Morcego chamaria de MERITOCRÁCIA (sic). Isso determinou - não isoladamente mas foi um dos fatores - a resistência zero quando se resolveu dar aquele golpe militar. E mesmo golpes militares aqui - aquele foi o nosso primeiro - também não rezam pela cartilha do resto do mundo, os caras tinham apenas ido apresentar um protesto ao Imperador e meio que a contragosto ainda por cima, instigados pelas véias 'vivandeiras de quartel', que existem até hoje. À época eram chamadas de "intelectuais positivistas", hoje de "empresários da mídia". Daí uma série de mal-entendidos e passamos a República. Estados Unidos do Brasil. Estávamos tão 'preparados' para sermos República que nem nome para isso tínhamos...

Mas sei lá, somos o Brasil, nem nós mesmos nos entendemos. Poucos anos atrás éramos os pobres coitados cidadãos do gigante grandalhão e bobalhão terceiro-mundista, deitado eternamenrte em berço esplêndido. Daí elegemos um comuna para ver se ser comuna nos melhoraria a vida e ele, como bom Brasileiro, o COMUNA LULA, chefe do Foro de São Paulo & quetales, foi lá e nos criou o primeiro caminho decente para o Capitalismo, o qual estamos aí trilhando, sempre algo desconfiados porque pode ser uma nova arapuca...

Eu fico é pensando em como teria sido se os COMUNAZZZZZZ DE VERDADE dos anos 60/70 tivessem VENCIDO: teriam implantado seu comunismo de revistinha e manual, daí eles próprios, como Brasileiros dos buenos, teriam esculhambado com as charlas do Marx e do Lênin (até porque gostar de leitura e cultura NÃO É hábito corriqueiro por aqui) e hoje poderíamos ter uma sólida economia e tradição capitalista, embora nunca fosse faltar um Túlio da vida para vir a um Fórum e escrever: AQUELE PREMIER VÊ DIFFEU É COMUUUUUUUUUUNA, O BRASIL NÃO TEM JEITO MESMO!!!




“You have to understand, most of these people are not ready to be unplugged. And many of them are so inured, so hopelessly dependent on the system, that they will fight to protect it.”

Morpheus
Avatar do usuário
tflash
Sênior
Sênior
Mensagens: 5426
Registrado em: Sáb Jul 25, 2009 6:02 pm
Localização: Portugal
Agradeceu: 11 vezes
Agradeceram: 31 vezes

Re: Portugal - Um século de República!

#34 Mensagem por tflash » Sex Fev 05, 2010 11:54 am

txii. se o comunismo internacional se instala-se no Brasil nessa altura, não haveria de faltar conselheiros russos a mandar cortar cana de açucar para plantar trigo e outras pataquadas.

Continuo a achar que o sistema político tem que ser feito á medida de uma nação e não importado em Kit do estrangeiro.

Para mim o comunismo de Marx só funcionaria na Alemanha do sec. XIX quie foi onde foi idealizado.




Kids - there is no Santa. Those gifts were from your parents. Happy New Year from Wikileaks
Avatar do usuário
Al Zarqawi
Sênior
Sênior
Mensagens: 1828
Registrado em: Ter Jul 03, 2007 8:07 pm
Localização: Rio de Janeiro

Re: Portugal - Um século de República!

#35 Mensagem por Al Zarqawi » Qui Fev 11, 2010 6:59 pm

Do visconde de esgrima, as armas que mataram o rei...Por António Simões

Em 1900, torneio de esgrima na Sociedade de Geografia. Ganhou-o Sebastião de Herédia. Recebeu o prémio das mãos de D. Amélia. Foi com o dinheiro do Visconde da Ribeira Brava, pai de Sebastião, que se compraram as armas que, oito anos depois, deixaram a rainha viúva. Mas até lá, um rodopio de histórias e conjuras, atentados e revoluções falhadas. E para Francisco de Herédia, fim trágico – degolado.

Em 1900, na Sala Portugal da Sociedade de Geografia, António Martins organizou um torneio de esgrima, com a colaboração da Real Academia dos Amadores de Música. O «programa da festa» foi desenhado pelo pintor Carlos Reis. Trabalhara ao balcão da Tabacaria Nunes, ao Rossio, de um parente seu, que ao aperceber-se do jeito para o traço juntou empenhos para o matricular na Escola de Belas Artes. D. Carlos, ainda príncipe real, ofereceu-se para o ajudar – estabelecendo-lhe pensão de cinco libras para garantia de estudos e foi assim que Reis se tornou num dos maiores pintores naturalistas da história, deslumbrante pelas suas cenas de quotidiano muito mais do que pelas suas imagens da realeza e da nobreza.

Com os reis e os príncipes empolgados com os combates – não se fizeram provas só para jovens, como um ano antes – essa foi, pois, assim, a primeira vez que em Portugal «os esgrimistas mais conhecidos concordaram em submeter-se ao veredicto dos toques», a vitória na «poule principal» foi para o «distinto amador» Sebastião de Herédia. A quem coube «estojo com cigarreira e fosforeira de prata lavrada e oxidada oferecida pela Rainha». Das mãos de D. Amélia recebeu o prémio. Sebastião era filho de Francisco Correia de Herédia, Visconde da Ribeira Brava, que ganhara fama de atirador também quando, anos antes, a esgrima ainda só exercício de animação de salões, forma de glamour, preparação para o ritual dos duelos – em que a honra se limpava a pingos de sangue e toques de audácia.


«No governo, um rábula»
O título de Visconde da Ribeira Brava fora criado em 1871 pelo rei D. Luís para agraciar António Correia de Herédia, par do reino, presidente da câmara e governador civil do Funchal, pelo seu trabalho humanitário na ilha da Madeira. Sugeriu que o atribuísse ao filho varão – e foi o que aconteceu. Francisco Correia de Herédia tornou-se figura notável do Partido Progressista de José Luciano de Castro, ele e José Maria de Alpoim. Deixaram-no – quando se lançaram ambos na Dissidência Progressista e se encostaram ao Partido Republicano, por não concordarem com o modo como o seu próprio governo resolvera a Questão dos Tabacos, renovando contrato de monopólio à empresa de Henry de Burnay. Ficou outra vez o país – em tumultos e contestações.
Nos primeiros meses de 1906 houve jornais apreendidos, marinheiros amotinados e estudantes em manifestações, os do Liceu do Carmo em Lisboa, por exemplo, queimaram charuto gigante de cartão onde se lia: Abaixo o Governo - e a 19 de Março o governo de José Luciano caiu mesmo. A 19 de Maio, D. Carlos acabou com o rotativismo entre regeneradores e progressistas que vinha de 1893, pôs João Franco a primeiro-ministro e ele prometeu: «tolerância e liberdade para o país compreender a monarquia». Não cumpriu - e em Outubro, Afonso Costa voltou ao ataque no parlamento: «à frente do governo está um rábula».

Em Abril de 1907, João Franco promulgou nova Lei de Imprensa. Que logo se percebeu que era Lei Contra a Imprensa. D. Carlos fechou as cortes, abriu a ditadura. Franco foi em viagem ao Porto – apedrejaram-lhe o comboio, houve tumultos e tiros. No regresso, apanhou manifestação de republicanos e dissidentes monárquicos no Rossio, houve feridos e mortos. Foi o ano do primeiro Campeonato de Lisboa de futebol. Ganhou-o o Carcavelos FC, dos empregados ingleses da Telegraph Company, a empresa que em Carcavelos tratava do Cabo Submarino Telegráfico – que permitia contactos de voz entre a América e a Grã-Bretanha. Em segundo lugar ficou o Sport Lisboa que alguns meses depois passaria a Sport Lisboa e Benfica...

Para salvar criança, salvou-se Franco...
Numa reunião de Herédia e Alpoim com Afonso Costa e Alexandre Braga, a 11 de Julho de 1907, na casa de Ribeira Brava, à Avenida da Liberdade, lançaram-se as primeiras ideias de movimento que «atentasse contra Franco, o ditador» - como única forma de «resgatar Portugal à ditadura». Eram precisas armas – e foram encomendas a Gonçalo Heitor Ferreira, carbonário com loja à beira da estação do Rossio: nove carabinas Winchester calibre 351 e um lote de pistolas FN-Browning. Pagou-as Francisco de Herédia. Levantou o material na primeira semana de Janeiro de 1908, escondeu-o nos Armazéns Leal, na Rua de Santo Antão. Desconfiado, o comandante da polícia marcou fazer busca à loja, mas antes dos seus agentes lá chegarem, da esquadra saiu aviso a Afonso Costa. Telefonou a Alfredo Leal que, enroladas em tapetes e alcatifas, as levou no automóvel de Ribeira Brava, para a casa de Luís Grandela, irmão de Francisco, o dono dos Armazéns do Grandela. Aos 12 anos chegou a Lisboa para trabalhar como marçano – e em 1881 fundou, inspirado no Printemps de Paris, os Armazéns Grandella. Revolucionou o comércio – vendendo o mais possível ao menor preço possível – e por causa disso os seus rivais acusaram-no de usar produtos de contrabando. Não usava – e utilizou o remoque para fazer campanha de publicidade, como nunca antes se vira. Enriqueceu, tornou-se mecena de artistas, fundou o Teatro da Rua dos Condes e o célebre Club dos Makavenkos – e depressa ganhou reputação de «patrão solidário», construiu bairro de habitação para os seus empregados, um sanatório para ajudar a luta contra a tuberculose – e, amigo íntimo de Afonso Costa, aderiu ao Partido Republicano, através dele chegou a vereador da Câmara de Lisboa...
.A ideia estava, pois, determinada: liquidar Franco. E fixaram-na mais do que uma brigada da Carbonária. Por exemplo, ainda em Janeiro, salvou-se por pouco, vinha de dormir, em segredo, na casa da cunhada, a Condessa de Carnide – e José Relvas contou nas suas Memórias: «Um grupo postado na Estrada de Carnide, ficou à espera da passagem do carro de Franco. Um dos conjurados devia lançar uma bomba sobre o automóvel, cuja identificação seria feita por outros, colocados à distância, encarregados de a garantir por sinais convencionais. Em certo momento, e à passagem dum auto, foi dado o sinal; logo o conspirador acendeu a mecha da bomba, mas como no momento de se aproximar o auto de uma criança, que seria irremediavelmente vítima da explosão, se interpusesse entre o carro e o comjurado, este, não tendo outro meio de extinguir a mecha, apagou-a metendo-a na boca, com o risco iminente da própria vida».


28 de Janeiro ou o golpe do Elevador...
A 23 de Janeiro de 1908, um guarda que se julgava envolvido com os revolucionários denunciou o local onde se guardavam as armas que Herédia pagara – e na sequência disso António José de Almeida e João Chagas foram presos. Afonso Costa tomou as rédeas da conspiração, marcou-a para 28 de Janeiro. A ideia continuava a ser «o assassínio de Franco». Comandos carbonários procuraram-no em casa, junto à Avenida da Liberdade – não o encontraram. Continuava no «jogo do escondidinho», nessa noite dormira na casa de Maria Luísa Schindler, a sogra, à Junqueira.

Combinado ficara também que os líderes revolucionários aguardariam os acontecimentos no Elevador da Biblioteca, a São Julião, de onde sairiam para a Câmara Municipal mal recebessem a informação de que a rebelião triunfara. A notícia não chegava, caiu a noite, entretanto. Polícia achou estranho tanta a gente a entrar e a sair do elevador que já não estava em funcionamento – e avisou o chefe da Esquadra da Câmara. Pouco depois quem lá estava, estava na prisão. Eram mais de 100, entre eles, Afonso Costa – que fora disfarçado, de cara rapada... -, Francisco de Herédia – que tentara a desculpa de que era um simples passageiro apenas... -, Egas Moniz – que encontraram escondido na casa de banho. E José Maria Alpoim? Esse conseguiu escapar de automóvel para Espanha – contou-se que com a complacência de D. Carlos. Júlio de Vilhena, que após a morte de Hintze ficara à frente dos regeneradores, aventou: « Isto ou acaba numa revolução ou num crime». Não se enganou...

Atentado, doença de... Rei
Entretanto, Guerra Junqueiro atirara a D. Carlos como nunca antes ninguém o fizera: rude, brutal, numa crónica no jornal A Voz Pública: «Nós somos escravos de um tirano de engorda e vista baixa. É inaudito que o ventre de um porco esmague uma nação e dez arrobas de sebo achatem quatro milhões de almas. Que ignomínia! Basta!» - e em Abril de 1907 foi condenado a 50 dias de prisão pelas injúrias que lançara.

É, o Rei já sabia os riscos que corria – mas não lhes ligava. «D. Carlos saía todos os dias, de carruagem aberta, sem escolta, acompanhado unicamente pelo seu camarista ou ajudante de campo. Descia vagarosamente o Chiado, subia a Avenida e regressava às Necessidades, sem que ninguém se lembrasse de atentar contra ele», revelou o Marquês do Lavradio. D. Luís Filipe, o Príncipe Real, parecia mais preocupado: «Quando vou com o meu pai, levo sempre na mão o revólver. Se alguém atentar contra ele, atiro-lhe; mas, se por fatalidade não chegar a tempo, mato-o». Mas, de súbito, D. Carlos começou a achar que talvez fossem melhor outras cautelas: «Costumava dizer por graça, que os Reis, além das doenças a que estavam sujeitos, como qualquer mortal, tinham mais uma: o atentado»...

Quando a 31 de Janeiro de 1908, D. Carlos promulgou em Vila Viçosa o decreto que permitia a deportação para as colónias dos presos políticos e a quebra de imunidade parlamentar a todos os opositores do regime e murmurou: «Estou a assinar a minha sentença de morte». Acertou. Nos meses anteriores fora algumas vezes ver futebol às Salésias – sentado em cadeirão real que se colocava à beira da linha de meio-campo. Foi nessa época que o CIF ganhou em Espanha 2-0 ao Madrid FC, que pouco tempo depois ficou Real Madrid FC – e o FC Porto também se estreou no estrangeiro contra o Fortuna de Vigo, o resultado é que nunca se soube...

No Terreiro do Paço, o Regicídio
No dia 1 e Fevereiro, deu-se, então, o regresso da família real de Vila Viçosa. João Franco, para não dar «sinal público de preocupação», mandou que fossem destacados apenas 16 polícias à paisana para o Terreiro do Paço e não os habituais 40. «Estava convencido de que todo o ódio que existia era somente contra ele e só ele corria perigo», revelaria o Marquês do Lavradio...

Quando o vapor D. Luís atracou, apontando para o landau descoberto, puxado por uma parelha, o tenente-coronel Alfredo de Albuquerque, explicou:
- Foi el-rei que quis assim. Eu tencionava mandar automóveis para os levar para as Necessidades. Mas el-rei telegrafou-me a mandar o contrário. Por ordem de Sua Majestade é que a família real vai em carruagem aberta...

Por ali, à espera, acotovelavam-se duas dúzias de famílias nobres, as marquesas do Faial e do Lavradio, a condessa das Alcáçovas e a de Figueiró, os condes de Sabugosa, um herói das campanhas de África, o capitão Roçadas, oficiais do Exército. Em redor da duquesa de Palmela alguém falou falou da estreia da noite: «a é primeira vez se vai cantar no São Carlos o Tristão e Isolda».

A um canto parece que o general Malaquias de Lemos deitou água para a fervura, que ninguém se preocupasse com os boatos que fogacharam pela cidade: que a deportação de chefes revolucionários presos no Elevador da Biblioteca provocaria vários atentados bombistas.

D. Carlos, de uniforme de generalíssimo, boné agaloado a oiro e capote de gola carmesim, D. Amélia, de grande chapéu enfeitado de flores, o casaco negro de marta com a gola soerguida, e luvas brancas, D. Luís Filipe, chapéu alto e sobretudo negro – aconchegaram-se no landau guiado pelo cocheiro Bento Caparica. O rei levava um revólver Smith & Wesson calibre 32, no bolso do capote. De súbito, do lado da praça, quase em frente do Ministério da Fazenda, escutou-se o estalido seco de uma primeira detonação. Homem de longo varino e barbas, vindo da placa central do Terreiro do Paço, tirou uma carabina da capa, assentou o joelho em terra e desatou a disparar. Era Manuel Buíça, 32 anos, professor de um colégio privado, filho de um padre, com a sua Winchester. O primeiro tiro acertou no pescoço de D. Carlos, quebrando-lhe a coluna vertebral, matando-o instantaneamente. Há mais tiros...

Repentinamente, um vulto franzino de rapaz, de Browning FN, de calibre 7,65 em punho, cortou o cordão de curiosos e polícias, põs o pé no estribo da carruagem real e disparou duas vezes sobre D. Carlos, já sem vida. Era Alfredo Costa, 21 anos, sindicalista, ex-caixeiro dos Grandes Armazéns do Chiado – e apavorada D. Amélia fustigou a cabeça do homicida com o ramo de flores que uma afilhada lhe dera na gare. Antes do príncipe D. Luís Filipe se levantar e apontar o seu Colt calibre 38, Costa atingiu-o. E foi Buíça quem, depois, lhe atingiu a cabeça...

«Olha, já morreu o canalha»
Acabou ele também, e como ele Costa, liquidado ali mesmo, a tiro e à espadeirada. Tinham assumido a acção - por não suportarem a ideia de ter Afonso Costa e outros ilustres republicanos na cadeia e em vias de serem deportado para Timor. As armas que usaram - tinham sido as que vieram de Hamburgo, as que Ribeira Brava pagara. E Miguel de Unamuno contaria que, no dia seguinte, ao passear com José Maria Alpoim, na Plaza Mayor de Salamanca – ele, vendo passar outro português, lhe gritou: «Olha, já morreu o canalha!»

De Buíça se ficou a saber que três dias antes fizera testamento – que dizia assim:
Manuel dos Reis da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais, concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes); fui casado com D.Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D.Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, número… rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, número quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comércio e Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigo e com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4º andar, esquerdo. Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça. Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa...»

64 contos para os orfãos de Buiça...
O jornal O Mundo abriu subscrição em favor da viúva e órfãos de Buiça que rendeu 64 contos de réis. O seu coval e o de Alfredo Costa, sempre cobertos de flores, no Alto de S. João viraram espaço de culto. Jornais ingleses fizeram manchetes com imagens disso – e uma palavra a legendá-las: «Vergonha». E Guerra Junqueiro escreveu: «O Partido Republicano nem organizou, nem aconselhou o atentado. O atentado foi obra única de dois homens. E, contudo, as balas da morte partiram da alma da nação. E diante do cadáver dos homicidas, descubro-me, ajoelhando, com frémitos de terror, lágrimas de piedade e de admiração e de carinho. Mataram? É certo. Ferozes? Sem dúvida. Mas cruéis por amor, ferozes por bondade».

Três dias antes de o matarem, andara D. Carlos em mais uma caçada com D. Luís Filipe por Vila Viçosa. Abateram-se 90 coelhos, sete perdizes, cinco raposas e um tordo. Ao sabê-lo morto, D. Maria Pia, a mãe, descarregou a ira em João Franco: «Diziam que o senhor era o coveiro da monarquia. Foi pior. Foi o assassino de meu filho e de meu neto.» E logo D. Manuel II o atirou para o exílio – criando gobernó que anunciou ser de «acalmação», com amnistia aos presos políticos, regresso à liberdade de expressão, perdão aos jornais fechados...


Degolado na «Leva da Morte»
Governador da Madeira após a implantação da República, Francisco Correia de Herédia passou, num ápice de herói a mártir, vítima da própria República que ajudara a criar. Sidónio Pais atirou-o para a lista dos seus «proscritos» - para os ferros de um calabouço. Mataram-no a 12 de Outubro de 1918 - na Leva da Morte, nome com que entrou para a história a chacina da Rua Victor Córdon. Era então deputado republicano. De manhã houvera em Coimbra rebelião contra o governo de Sidónio Pais. Em Lisboa e no Porto não - mas apesar disso encheram-se as prisões de presos políticos, gente do Partido Republicano sobretudo. Não cabendo mais nos calabouços do Governo Civil, decidiram transferir 153 deles para os fortes do Campo Entricheirado: São Julião da Barra, Alto do Duque e Caxias, num comboio especial do Cais do Sodré. 253 guardas abriram o cortejo com corneteiros e tambores – era uma cilada. Na Rua Victor Córdon soou um tiro - e a polícia ripostou. A Herédia descobriram-no depois numa valeta, degolado por golpe de baioneta. No dia seguinte, o Governo emitiu comunicado afirmando que tudo começara porque o ex-Visconde da Ribeira Brava disparara sobre os guardas da escolta, tentando evadir-se, com uma pistola que «entrara na prisão dentro de um tacho de açorda»! Era mentira, a pistola nunca a encontraram...


Sebastião, herói olímpico
Muitos anos passados, Isabel de Herédia, sua trineta, casou-se com D. Duarte, Duque de Bragança. E Sebastião de Herédia, o filho, que recebera o seu primeiro grande prémio das mãos da rainha D. Amélia, tornou-se figura incontornável no desporto nacional: com o ciclismo a dar os primeiros passos ganhou várias corridas em Paris, os franceses chegaram a colocar hipótese de o levar em 1896 a Atenas à primeira edição dos Jogos Olímpicos, deixaram-na cair por ser português, foi dos primeiros sócios do CIF, do Sporting e do Carcavelinhos,jogou futebol, hóquei em campo e ténis – e já engenheiro químico pelo IS Técnico, representou Portugal no pentatlo moderno dos Jogos Olímpicos de 1928 e 1932.
20:01 - 11-02-2010
PARTILHAR


PublicidadeSugestõesTotolotariasProgramação TVBota de ouro ESMRSSPDADefinir como Home Page © A BOLA Sociedade Vicra Desportiva




Al Zarqawi - O Dragão!

"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.
Imagem
Responder