#1678
Mensagem
por Marino » Seg Jan 18, 2010 11:55 am
O novo papel do Brasil no Haiti
TÃO LOGO A CATÁSTROFE do terremoto no Haiti requisitou uma ação coletiva mundial, com inúmeros atores envolvidos na ajuda humanitária – países, organizações não governamentais (ONGs), empresas e os milhares de anônimos e famosos, como o casal de atores hollywoodianos, Brad Pitt e Angelina Jolie, que doaram US$ 1 milhão –, a situação caótica do país devastado impôs um desafio: a quem caberá a organização das próximas etapas de reconstrução do país mais pobre do Ocidente? Como coordenar a ajuda que vem de todos os cantos do planeta? Como estabelecer um plano viável de recuperação da infraestrutura e das instituições haitianas? O Haiti, que já vivia uma situação fragilíssima, de extrema miséria – 80% da sua população está abaixo da linha da pobreza e sobrevive com menos de US$ 2 diários (por volta de R$ 108 ao mês) – entrou em colapso. Como era de se esperar, com porto, aeroporto e estradas arruinados ou semidestruídos, com a escassez de água, alimentos e remédios, iniciaram-se ondas de saques, e o próprio governo local transferiu a administração da crise para outros países e instituições. Até a ONU, principal agente com o qual os haitianos contavam para se reerguer já antes do terremoto, teve sua capacidade de comando afetada.
O edifício no qual ficava sua sede na capital Porto Príncipe desabou e centenas de funcionários, de baixo a alto escalão, morreram no terremoto.
Nesta conjuntura, o pós-tragédia passou a representar uma nova situação para o Brasil. Desde 2004, o Exército brasileiro comanda militarmente a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), tendo a maior tropa, de 1.300 homens, num total de 7 mil soldados enviados por 17 países. Era a principal referência da comunidade internacional no Haiti, antes do terremoto. Agora, contudo, devido às proporções da catástrofe, inúmeras nações participam do esforço para ajudar os haitianos. Ao Brasil fica a pergunta: qual será o seu papel daqui para frente? Sua importância será diminuída, com tantos atores em mobilização pelo Haiti, ou, pelo contrário, será aumentada, caso tenha uma função de liderança nesse esforço internacional? Há um risco e ao mesmo tempo uma oportunidade para a diplomacia e o governo brasileiros mostrarem seu peso diante da comunidade internacional. O Itamaraty deve ter consciência de que terá um trabalho pesado pela frente. Neste primeiro momento, ocorre concomitantemente um vácuo de poder, a falta de coordenação na ajuda internacional, e a tentativa unilateral dos americanos de tomarem conta do pedaço.
Hoje, como se sabe, as missões internacionais não se concentram mais na questão da manutenção da ordem. A intervenção feita em Timor Leste é um exemplo. O cenário de destruição, porém, nos faz pensar que o Haiti precisará de um verdadeiro Plano Marshall, tal qual o destinado aos europeus após o fim da Segunda Guerra Mundial. A diferença é que, além de muito dinheiro, os haitianos necessitam de instituições, algo muito mais difícil, devido às condições socioeconômicas do país do Caribe. Sem elas, nada frutificará.
A atuação do Brasil nestes quase seis anos o credencia a um papel de liderança, pela afinidade criada com o povo haitiano que vê o país como um aliado e entendedor de suas misérias.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco