A Atech/Atmos são empresas nacionais. É com elas que a Selex quer desenvolver parceria para ToT.
A Thales quer fazer parceria de ToT com a Omnisys. A Omnisys pertence a Thales. Muito esperto esses franceses. Vão transferir tecnologias para eles próprios. Me engana que eu gosto! Modelo Helibrás/Dassault de ToT!
Atmos
Receptor digital para dados de radar meteorológico é aposta
nova de pequena empresa inovadora que já opera dois equipamentos
http://www.inovacao.unicamp.br/pipe/rep ... -atmos.php
Evanildo da Silveira
Projetar e construir radares meteorológicos é tarefa complexa, do ponto de vista tecnológico. Mas não intimida a Atmos — ar, em grego —, pequena empresa fundada em 2004 só para isso. Na sede, que ocupa duas salas na Vila Mariana, bairro do centro de São Paulo, trabalham as sete pessoas que fazem a empresa funcionar. Sob a liderança do engenheiro Fabio Fukuda,
a Atmos está envolvida desde junho de 2005 no desenvolvimento de dois radares meteorológicos: um, encomendado pela Aeronáutica, será instalado no início de 2008 no aeroporto de São Luís, no Maranhão; o outro, que ocupa a maior parte do tempo da empresa, fará parte do Sistema Integrado de Hidrometeorologia do Estado de São Paulo (Sihesp) quando entrar definitivamente em operação. Com o Mobmet — como foi chamado, para enfatizar o fato de ser um radar móvel —, o Estado ampliará a capacidade de observação e previsão de chuvas e tempestades na Região Metropolitana de São Paulo, que engloba 39 municípios.
"Toda nossa experiência e nosso conhecimento no desenvolvimento e na oferta de serviços de radar estão nesse equipamento", diz Fukuda.
"O Mobmet é o primeiro radar meteorológico Doppler de dupla polarização montado sobre plataforma móvel do Brasil." Entender o que é um radar com essas especificações é difícil. O engenheiro prefere explicar para que serve a "dupla polarização". "As gotas de chuva têm formato alongado com relação à horizontal", diz. Quer dizer: gotas de água não são redondas. "Essa distorção é tanto maior quanto maior o tamanho da gota", continua. Aí está a primeira vantagem do radar da Atmos: pode detectar o tamanho da gota — e, assim, a intensidade da chuva — por meio dessa distorção, que um radar de polarização simples não percebe. Mas não é só. "Já o granizo, ou o gelo, não têm esse formato. Também não caem em uma direção definida, como a chuva." Essa é a vantagem dois: o Mobmet distingue se o que está caindo é água ou gelo. Tudo somado, o resultado é maior precisão na previsão.
O PIPE e a Fapesp
A história do desenvolvimento de radares em São Paulo, e da Atmos, está muito ligada ao PIPE — o programa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que financia atividades de pesquisa e desenvolvimento na pequena empresa. Isso porque o primeiro radar desenvolvido pela Atmos teve financiamento do programa. Naquela época — 2004 —, a Atmos tinha como sócias a Atech, uma fundação sem fins lucrativos especializada em engenharia de integração e em softwares, e a Omnisys, pequena empresa com sede em São Caetano (SP). As parceiras queriam desenvolver um radar meteorológico e dividiram o trabalho: grosseiramente falando, a Atech ficou encarregada do software e a Omnisys, do hardware. Para cumprir sua parte, a Omnisys pediu e obteve financiamento do PIPE — com o qual desenvolveu o transmissor de sinais do radar, o receptor de sinais e a antena. O investimento do PIPE foi de R$ 700 mil. A Atech desenvolveu o software de controle do radar, o software de processamento dos dados e o equipamento interno de teste (Bite, "built-in test equipment"). "O projeto custou cerca de R$ 4 milhões, entre equipamentos, mão-de-obra, instalações e outros", conta Fukuda. "A Atech investiu 60% e a Omnisys, 40%."
Esse radar, um protótipo — o primeiro de um radar meteorológico nacional —, concretizou a parceria das duas empresas na Atmos, mas também acabou por separá-las. A capacidade demonstrada com sua construção chamou a atenção de uma multinacional da defesa sobre a parceira Omnisys. Em 2006, a Thales, francesa, comprou o controle do capital da ex-pequena do PIPE.
Como a Atech atua no mesmo setor que a Thales, não quis mais ter a Omnisys como sócia. Resultado: a Atmos passou a ser 94% da empresa de participações ligada à Atech, e 6% de Fukuda.
Receptores digitais importados
Mas a história da participação do PIPE na vida da Atmos ainda não acabou. Em 2006, a empresa resolveu apresentar um pedido de financiamento para desenvolver um receptor digital para radares como o Mobmet. Em setembro do ano passado, recebeu R$ 250 mil. "Usamos esse dinheiro para comprar equipamentos, principalmente hardwares, além de softwares", conta Fukuda.
A Atmos também vai investir R$ 250 mil de seu caixa no desenvolvimento do receptor digital.
Segundo Fukuda, existem hoje no Brasil 24 radares meteorológicos instalados; desses apenas três tem receptores digitais, todos importados: o próprio Mobmet e dois radares operados pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). O presidente da Atmos compara a situação do Brasil com a dos EUA: lá, já há 150 radares meteorológicos com receptores digitais. Mais cedo ou mais tarde, os radares em uso no Brasil terão de ser atualizados, com a troca dos receptores analógicos por digitais.
O mercado para o equipamento que o próprio pessoal da Atmos está desenvolvendo inclui também radares novos, a ser construídos daqui para frente. Mais: a Aeronáutica pretende modernizar o controle aéreo do País. O receptor digital da Atmos vai servir também para radares que controlam o trafego aéreo.
Positivo e operante
O radar que a Atmos desenvolveu quando ainda tinha a Omnisys como sócia é diferente do Mobmet. A primeira diferença: é fixo, e está instalado em Mogi das Cruzes (SP). A segunda diferença: o alcance. O radar da Atmos em Mogi tem alcance de 400 quilômetros e mede, em tempo real, as condições meteorológicas de toda a porção leste e sul de São Paulo, sul do Rio de Janeiro, parte do sul de Minas Gerais e norte e litoral do Paraná. Ele está em operação; e gera receitas para a Atmos, pois a empresa de previsão meteorológica Climatempo usa os dados coletados pelo equipamento.
A diferença de alcance entre os radares tem a ver com outra especificidade técnica: a banda em que operam. O Mobmet opera na banda X e o de Mogi, na S. "A freqüência mais elevada da banda X permite maior sensibilidade, e as dimensões dos equipamentos são menores", explica Fukuda. "A desvantagem é que radares que operam nessa banda têm um alcance menor. A banda S, usada pelo radar de Mogi, tem maior alcance — por isso chega a até 400 quilômetros. A desvantagem é que os equipamentos são maiores e mais pesados."
Avanço científico
Assim como ocorreu com o radar fixo de Mogi, a Atmos não fez sozinha todo o Mobmet (o radar móvel). As peças e os softwares que o compõem são importados. O novo radar também não é de última geração. Há radares mais modernos, que têm seus giros controlados eletronicamente, o que lhes dá mais precisão no monitoramento. Isso não tira, no entanto, os méritos da empresa brasileira. "A Atmos fez a montagem e integração de todas as peças e sistemas, o que não é um trabalho pequeno e fácil", diz o meteorologista Augusto Pereira Filho, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) e coordenador do projeto do Mobmet. "Além disso, desenvolveu a plataforma onde o radar se assenta e o caminhão, que carrega ambos. Por isso, pode-se dizer que o radar desenvolvido pela empresa é um equipamento sofisticado, que para ser feito exige domínio de alta tecnologia. A Atmos fez um serviço muito bom."
Modernização de radares antigos
A Atmos também trabalha na modernização e atualização técnica de radares mais antigos. Foi o que ela fez com dois pertencentes ao Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), instalados nos campi de Bauru e Presidente Prudente da Unesp. Esse trabalho terminou em fevereiro de 2006. A empresa substituiu os receptores analógicos por digitais (que importou, enquanto não termina o desenvolvimento de seu próprio produto) e os processadores dos radares, que agora têm um moderno sistema de tratamento e apresentação de dados.
Essas melhorias poderão ser observadas na prática. Segundo o diretor do IPMet, Roberto Vicente Calheiros, a modernização trouxe aumento da capacidade de detecção dos radares, tornando possível observar chuvas mais fracas. "Com isso se pode, por exemplo, determinar a presença de chuva fraca a distâncias maiores do radar e ver a estrutura interna da precipitação com maior detalhamento (maior resolução espacial)", explica o cliente.
Confiança no futuro
A vida na Atmos não está fácil. A venda de serviços — como os contratos com a Climatempo e a Unesp — ajuda a tocar o dia a dia da empresa. O faturamento, no entanto, é irregular. Em 2006, foi de R$ 1,2 milhão. Em 2007, deverá ser a metade disso. Há outras dificuldades: "As condições neste país são ingratas", reclama Fukuda. "Nossos clientes são na maior parte governamentais. Eles comparam nossos preços no Brasil, com todos os impostos incidentes, com preços de fornecedores estrangeiros que vendem ao nosso país com incentivos do país de origem. Além disso, a paridade com o dólar agravou o quadro." Apesar das dificuldades, Fukuda tenta ir adiante. "Apostamos na diversificação de nossas atividades, sem esquecer nossa base tecnológica e aplicando nossos conhecimentos de radar em outras áreas. Tenho certeza que seremos bem-sucedidos." Entre seus trunfos, a empresa conta com a conclusão, bem-sucedida, do projeto do receptor digital financiado pelo PIPE.