Crise Econômica Mundial

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Re: Crise Econômica Mundial

#1201 Mensagem por delmar » Sex Nov 27, 2009 4:11 pm

As informações que recebemos são quase coincidentes companheiro Pafuncio. Ambos viajantes não gostaram de Dubai. Os administradores de lá são os verdadeiros "camelos sedentos de sangue", especialmente ávidos pelo sangue dos pobres trabalhadores vindos do Paquistão, etc...

saudações




Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
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Re: Crise Econômica Mundial

#1202 Mensagem por Bourne » Sex Nov 27, 2009 11:56 pm

É.... Dubai World acabou. :cry:

Agora onde passarei as minhas férias de inverno???




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Re: Crise Econômica Mundial

#1203 Mensagem por P44 » Sáb Nov 28, 2009 9:00 am

Crise financeira
E um dia o Dubai desceu à terra

por CARLA AGUIARHoje


Depois de anos a alimentar projectos imobiliários faraónicos, o Dubai sentiu na pele o estouro da bolha imobiliária. Os activos imobiliários desvalorizaram 50% e o emirado está incapaz de pagar as suas dívidas, pedindo moratória de seis meses. A esperança para não cair na falência vem de Abu Dhabi. Mas há um preço a pagar.

A inesperada crise financeira no Dubai faz juz ao adágio popular "quanto maior é a subida, maior a queda" . O principal grupo empresarial público, o Dubai World - envolvido em projectos imobiliários faraónicos -, admitu sérios problemas de liquidez, depois de anos a limentar uma bolha de projectos megalómanos - de que são exemplo as três ilhas artificias em forma de palmeira -, que acabou por explodir, com a desvalorização de 50% dos seus activos imobiliários e um endividamento brutal.

A esperança para salvar o emirado da falência vem agora de Abu Dhabi, o vizinho rico. Este emirado petrolífero, capital da federação dos Emirados Árabes Unidos, deverá ajudar o Dubai a pagar uma dívida de 80 mil milhões de dólares (59 dos quais do Dubai World), para a qual o país, conhecido pelos seus faustosos arranha--céus, pediu uma moratória de seis meses. É também em Abu Dhabi que o Ocidente confia para acalmar os mercados, ainda mal refeitos da maior crise financeira das últimas décadas.

Depois de na quinta e na sexta-feira as bolsas internacionais, em especial em Wall Street, terem caído abruptamente perante o susto de uma nova crise financeira a fazer lembrar o pesadelo do sub-prime, ontem ao fim do dia, as praças europeias davam sinais de recuperação. Todavia, os danos faziam-se ainda sentir em Wall Street e o receio mantém-se no Reino Unido, onde o mercado financeiro tem forte exposição aos investidores do Dubai, ao contrário de Portugal, segundo os banqueiros nacionais.

"Abu Dhabi nunca deixará cair o seu filho pródigo, mesmo se a capital da federação não deixar de criticar os excessos e a exuberância do Dubai", disse um especialista em mercados islâmicos, citado pela AFP.

Entre os exemplos de exuberância no país que se tornou o paraíso dos construtores e que muda de imagem a cada dia está o projecto das três ilhas artificiais em forma de palmeira. Até agora só uma foi construída, a Palm Jumeirah, que alberga milhares de apartamentos e hotéis de luxo. Uma verdadeira atracção turística, onde pontifica o Burj-Al-Arab, o único hotel de sete estrelas.

Mas as excentricidades do emirado que atrai um número cada vez maior de portugueses não fica por aqui. O último projecto da Dubai World é a torre mais alta do mundo, com mais de 800 metros de altura, com inauguração agendada para Janeiro. A torre situa-se num novo bairro com um custo estimado em mais de 13 mil milhões de euros, onde fica também o maior centro comercial do mundo. Projectos não faltam, desde um conjunto de 300 ilhas artificiais em forma de planisfério até à Dubailândia, uma Disneylândia em grande escala, estimado em mais de 40 mil milhões de euros.Estes dois foram, entretanto, adiados.

Mas mantêm-se outros, como o segundo aeroporto da cidade, a abrir em 2010, com capacidade para 120 milhões de passageiros/ano, ou a abertura, em 2016, do maior centro comercial do mundo.

Em troca do apoio de Abu Dhabi para recuperar a sua solvabilidade, o emirado deverá ceder parte dos seus activos. Porque neste mundo não há almoços grátis.

http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?c ... id=1433065




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Re: Crise Econômica Mundial

#1204 Mensagem por Penguin » Dom Nov 29, 2009 12:45 am

A simbiose entre China e Estados Unidos é tão grande, que, recentemente, o economista Paul Krugman fez uma provocação: "Eles nos vendem produtos ruins e nós vendemos a eles títulos podres", afirmou. Sair dos papéis americanos, no entanto, não é tão simples.




Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
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Re: Crise Econômica Mundial

#1205 Mensagem por Bourne » Dom Nov 29, 2009 12:48 am

Santiago escreveu:
A simbiose entre China e Estados Unidos é tão grande, que, recentemente, o economista Paul Krugman fez uma provocação: "Eles nos vendem produtos ruins e nós vendemos a eles títulos podres", afirmou. Sair dos papéis americanos, no entanto, não é tão simples.
O Krugman é um chato. :mrgreen: [000]

Porém tem certa razão visto por outros :roll:




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Re: Crise Econômica Mundial

#1206 Mensagem por LeandroGCard » Dom Nov 29, 2009 11:51 am

Bourne escreveu:Para quem estiver interessada apresento os slides de uma apresentação sobre estrutura produtiva. Existem coisas interessantes sobre vários aspectos abordados relacionado a crise do fim do mundo, especialmente os desequilíbrios globais e estratégias de industrialização. Serve em parte para pensar em transferência de tecnologia. :roll:

http://www.megaupload.com/?d=RYIK7X6V
Olá Bourne,

Se for do seu interesse, seguem abaixo minhas próprias idéias sobre os itens relativos às estratégias de desenvolvimento dos países de industrialização recente. São minhas opiniões próprias, baseadas em observações ao longo de minha carreira como engenheiro e consultor e na leitura de dezenas de livros ao longo dos mais de trinta anos, desde que antes de entrar na faculdade.

Lido diariamente tanto com empresas nacionais (em geral utilizadoras de tecnologia) quanto com multinacionais de vários países (em geral geradoras de tecnologia), e sempre me interessei por observar como são feitas a geração, absorção e uso do conhecimento técnico. Integrar novas tecnologias nos processos da indústria é hoje meu trabalho diário, e eu tenho que prestar muita atenção nos processos envolvidos em todas as etapas, da decisão à implementação e avaliação dos resultados.

Por serem minhas opiniões pessoais não vou listar referências, se as idéias te interessarem caberá a você ir buscá-las por si mesmo. Confesso que alguns aspectos do mundo acadêmico para mim são muito estranhos, observo que muitas vezes em um trabalho a ser apresentado é mais importante o conceito ter boas referências do que estar correto ou se atual. Mas deixemos este assunto pra lá, pode ser que eu escreva um livro sobre o assunto e aí eu mesmo passo a ser uma “referência citável”.


Ponto-1 (Slides 22 a 25)- Estratégias dos países asiáticos:
O ponto principal aqui é que a busca pela industrialização foi uma decisão estratégica da nação (governo + elites). Estes países tinham consciência, vinda de uma perspectiva histórica muito mais ampla (milenar), de que a superioridade político-econômica mostrada pelas potências ocidentais nos séculos 18, 19 e 20 era devido à sua superioridade tecnológica e base industrial, e decidiram racionalmente construir uma base similar ( os primeiro exemplo na verdade é o do Japão, depois de Mathew Perry em 1853).

Foi esta decisão deliberada que levou às características citadas nos slides 22 e 23, as quais não foram derivadas apenas de circunstâncias históricas e/ou sociais fortuitas. O objetivo desde o princípio não era apenas “produzir o que a população precisava” para melhorar seu padrão de vida ou aproveitar as oportunidades de negócios oferecidas pelo mercado consumidor local, mas sim criar uma base tecnológica/industrial (empresas, universidades, centros de pesquisa, etc..) semelhante à que caracterizava as potências ocidentais. O posterior desenvolvimento do bem estar da população local seria decorrência disso.

Neste cenário fica claro o porquê de investimentos diretos não serem bem vindos (eles competiriam pelo mercado local e inibiriam as iniciativas nacionais), a preocupação com a absorção de tecnologia estrangeira e posterior criação de tecnologias próprias (este era o objetivo principal desde o início ) e a ênfase nas exportações (os mercados locais não eram suficientes para criar a demanda necessária para sustentar uma base industrial/tecnológica forte).

Os resultados deste modelo são conhecidos, e foram potencializados em muito pelo arranjo financeiro/produtivo mundial descritos nos slides 14 a 20, mas o modelo de desenvolvimento destes países já havia sido adotado antes deste arranjo se consolidar. Um exemplo bem atual de nação que aplica o mesmo modelo é a Índia. Na Coréia do Sul o ciclo já está completo, e ela já pode sem dúvidas ser listada entre os países desenvolvidos.


Ponto-2 (Slides 26 a 28)- Estratégias dos países latino-americanos (vou me ater ao Brasil):
A industrialização é mais antiga que nos países asiáticos, mas ocorreu de forma fortuita e não planejada. Governo, elites e população em geral não vislumbram a posse de uma base tecnológica/industrial nacional forte como um diferencial estratégico importante. Fora poucas exceções sem continuidade (p.ex. a construção da frota de guerra brasileira na Guerra do Paraguai), o impulso inicial veio dos imigrantes europeus que eram trabalhadores de indústrias em seus países de origem, e embora tenham vindo trabalhar na lavoura trouxeram o conhecimento de como produzir bens (Know How), que originalmente eram importados pelo país. Logo formou-se uma “elite industrial” que produzia bens de consumo para o mercado interno, visando aproveitar a oportunidade econômica da proximidade do mercado local. Não havia interesse em competir nos mercados globais, até porque sem coordenação superior (como nos países asiáticos mais tarde) não haveria nem capacidade de financiamento para a ampliação da produção nem capacidade tecnológica de manter a produção e os produtos competitivos (Know Why).

Todos os esforços de industrialização posteriores tiveram este foco, fornecer para o mercado local bens similares aos que ficavam disponíveis às populações dos países mais desenvolvidos. Fora casos esporádicos não houve preocupação estratégica com a criação de uma base industrial/tecnológica nacional, era no máximo desejável que os bens fossem produzidos aqui (principalmente para redução de custos e geração de empregos, mesmo que de baixa qualificação). Neste cenário tanto fazia montar indústrias locais ou trazer fábricas de empresas estrangeiras, e em muitos casos as empresas locais eram preteridas em favor de filiais de multinacionais com maior capacidade financeira/tecnológica (FNM, CAP, estaleiros nacionais, etc...).

Como não havia a preocupação nem de reforçar as indústrias nacionais nem de gerar produtos competitivos a nível internacional para exportação, as capacidades de absorção de tecnologia/pesquisa/engenharia nunca se desenvolveram além do ponto necessário para a implantação de linhas de produção locais de produtos estrangeiros (com as poucas e notáveis exceções conhecidas, como a Embraer). Como consequência a real absorção de tecnologias além deste nível (simples produção – Know How sem Know Why) é muito difícil, pela falta tanto de uma base de instituições que possam absorvê-la quanto de capacidade gerencial para organizar esta absorção e gerar reais benefícios com ela.

O resultado é a situação observada atualmente, onde qualquer projeto de importância a ser desenvolvido (novamente com as poucas e notáveis exceções conhecidas) precisa necessariamente contar com apoio estrangeiro para ter chances de sucesso em prazos razoáveis (Urutu-III, SNA, etc...), e projetos totalmente locais simplesmente não decolam, ou demoram tempos excessivos em desenvolvimento, ou geram produtos de qualidade/eficiência duvidosos (programa espacial, míssil piranha, etc...).

Não conheço exemplos em que este modelo tenha levado ao desenvolvimento de algum país no longo prazo. Os casos que conheço de sua adoção levaram à recorrente perda por obsolescência da base industrial adquirida a custos elevados, até que o país não tivesse mais capacidade de renovar as aquisições e ficasse definitivamente defasado em termos industriais e de desenvolvimento (Argentina, Polônia, Iraque, etc...).


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Re: Crise Econômica Mundial

#1207 Mensagem por LeandroGCard » Dom Nov 29, 2009 3:28 pm

Já agora duas vezes você menciona a escolha americana pela concentração da indústria nos setores de tecnologia intensiva de uma forma que faz parecer que você considera isto uma estratégia de competitividade.

Isto é um engano, primeiro porque não é uma estratégia industrial americana, mas uma consequência da estratégia econômica/comercial que eles adotaram desde que as considerações financeiras tornaram–se dominantes na definição das políticas daquele país. Os americanos não escolheram como decisão consciente abandonar suas indústrias tecnologicamente menos intensivas, elas simplesmente não conseguiram sobreviver dadas as condições criadas pela política de integração econômica e abertura comercial que seus governos defenderam e praticaram desde o final da década de 70. Eles não descobriram que seria “mais lucrativo” transferir tecnologias e conhecimentos para os países asiáticos, aqueles é que se recusaram a adquirir apenas produtos acabados, forçando a transferência da tecnologia sob pena da perda de mercados.

Do ponto de vista puramente econômico pode-se realmente demonstrar que esta política de transferir o desenvolvimento e produção de bens e conteúdo tecnológico baixo e médio para outros países e se concentrar apenas nos bens de alta tecnologia é uma estratégia de sucesso. Basta contabilizar em termos financeiros a produtividade das empresas e mesmo dos trabalhadores que produzem bens com maior e menor conteúdo tecnológico (e consequentemente maior valor agregado) e as vantagens ficam claras. Se um determinado número de funcionários trabalha uma certa quantidade de horas para produzir um caça de quinta geração que será vendido por 180 milhões, e um número idêntico de pessoas em outro país trabalha a mesma quantidade de horas para produzir uma quantidade de brinquedos, eletrodomésticos e rádios de pilha que serão vendidos por um valor total de 18 milhões de dólares, o primeiro grupo tem uma produtividade 10 vezes maior, e é lógico imaginar que o caminho que seu país está seguindo é mesmo o melhor. Mas este raciocínio ignora dois pontos que são fundamentais: A escala de produção e o ambiente tecnológico de base.

A escala de produção é um fator conhecido nas análises econômicas, e não preciso me estender muito sobre o assunto. Basta lembrar que se todos os trabalhadores americanos pudessem produzir apenas F-22’s e F-35’s para o resto da vida esta seria realmente uma solução maravilhosa, mas é óbvio que isto não funcionaria. Em primeiro lugar porque não haveria mercado para absorver esta produção, na prática a maior parte da economia do planeta é movimentada pela demanda de produtos de valor agregado baixo e médio, e o capital total que sobra para movimentar este mercado altamente produtivo de alta tecnologia é relativamente pequeno. E em segundo lugar porque produção de bens de alto conteúdo tecnológico tem baixa taxa de geração de empregos (por definição agrega pouca mão de obra) e a menos que se permita que uma parcela cada vez maior da população caia no sub-emprego ou na miséria, a produção de bens que agregam maior quantidade de mão de obra não pode ser simplesmente abandonada (novamente, a menos que a demanda de produtos altamente tecnológicos suprisse a demanda por vagas de trabalho, o que não acontece). Claro que os liberais diriam “que se danem os desempregados, são apenas um sub-produto do maravilhoso trabalho do deus livre-mercado”, mas uma sociedade que agir assim na prática não vai durar muito tempo para se vangloriar dos milagres do seu “deus”.

Já o outro fator é mais técnico e geralmente não é levado em consideração nas análises econômicas. O que acontece é que o desenvolvimento tecnológico, a própria base da indústria de alto valor agregado, é sustentado pela inovação, e a inovação não pode ser eficientemente contratada ou gerida. A alta taxa de inovação requerida para se manter a competitividade de uma indústria de alta tecnologia provém de uma enorme massa-crítica de pessoas trabalhando para resolver problemas pontuais de engenharia do dia-à-dia, não necessariamente ligados ao desenvolvimento e fabricação dos produos do mais alto nível tecnologico. Um exemplo não absolutamente real mas bem didático talvez ajude a esclarecer este ponto:

A uma certa altura surgiram problemas como restrições normativas quanto ao uso de resinas de colagem em brinquedos, devido aos riscos de contaminação, ou a necessidade de fixar peças de iscas artificiais de plástico (anteriormente eram feitas de madeira) sem usar resinas que deixassem cheiro residual, para não espantar os peixes. Estes e outros problemas correlatos, todos nas indústrias de baixa-média tecnologia, levaram ao desenvolvimento de sistemas de solda de peças plásticas por ultra-som. Uma década depois estes aparelhos de soldagem por ultra-som tornaram possível montar peças de resinas transparentes ao radar, moldando componentes de geometria complexa impossíveis de serem produzidos de outro modo. Tais componentes eram importantes na produção das estruturas de caças furtivos de quinta geração. Se a tecnologia da solda por ultra-som não tivesse surgido, impulsionada pelas necessidades de simples indústrias de brinquedos e iscas artificiais, os custos e prazos do desenvolvimento e fabricação de caças de última geração seriam ainda maiores do que já o foram.

E em cada produto de tecnologia avançada são centenas, milhares ou mesmo dezenas de milhares de itens que passam pelo mesmo processo, tecnologias existentes e desenvolvidas para atender ao mercado enorme e altamente variado de produtos de consumo de baixo/médio conteúdo tecnológico são fundamentais para viabilizar os produtos de alto conteúdo tecnológico, e se não estiverem já disponíveis só serão desenvolvidas a custos altíssimos e em prazos extremamente longos, afetando todo o projeto. Este fenômeno já ocorre, a demora e o aumento dos custos de desenvolvimento das últimas gerações de sistemas militares americanos já sofre este efeito, e não é por outra razão que mesmo produtos de altíssima tecnologia, como motores de foguetes espaciais, em alguns casos hoje têm que ser adquiridos pelos americanos em outros países (Rússia).

Esta “estratégia” de concentração na indústria de alta tecnologia não é uma escolha consciente dos EUA, e é recente demais para se dizer que foi bem sucedida. Pelo que se observa os problemas já estão se avolumando (e isso muito antes da crise), e só o futuro dirá se foi mesmo uma grande sacada para manter am nível de competitividade diferenciado ou um suicídio tecnológico involuntário feito pela maior economia do planeta, em função de seu enfoque excessivamente financeiro/comercial.


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Re: Crise Econômica Mundial

#1208 Mensagem por Túlio » Dom Nov 29, 2009 4:44 pm

POWS!!! :shock:

Que aula!!! :shock: :shock:

CONGRATZ AÍ, CUPINCHA!!! :shock: :shock: :shock:




“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”

P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Crise Econômica Mundial

#1209 Mensagem por Bourne » Dom Nov 29, 2009 5:16 pm

Túlio escreveu:POWS!!! :shock:

Que aula!!! :shock: :shock:

CONGRATZ AÍ, CUPINCHA!!! :shock: :shock: :shock:
Assim que se faz :wink:




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Re: Crise Econômica Mundial

#1210 Mensagem por LeandroGCard » Dom Nov 29, 2009 5:50 pm

Este é um assunto (os aspectos tecnológicos do desenvolvimento) que me interessa muito, em parte pelo fato de eu ser engenheiro e profissional da área de tecnologia, em parte pelo meu fascínio por história e em parte porque me envolvo com o uso comercial da tecnologia no meu dia-à-dia.

Como comentei, acho que um dia vou escrever um livro sobre o assunto, pois encontro pouquíssima bibliografia a respeito. É fácil encontrar estudos econômicos gerais e específicos sobre o desenvolvimento das nações, mas muito difícil achar análises que foquem especificamente o papel do desenvolvimento tecnológico. Lendo-se os textos disponíveis normalmente tem-se a impressão que primeiro os países se tornam desenvolvidos (ou dominantes) e depois, por consequência disso, sua base tecnológica/industrial se tornou importante. Mas toda a pesquisa histórica que já fiz mostra exatamente o contrário. (*)

Contudo, não sou um pesquisador que possa contar com verbas acadêmicas para sustentar meu trabalho, e tenho mulher e filho para sustentar, então não me sobra muito tempo para realizar pesquisas realmente profundas e com embasamento adequado para que possam ser apresentadas na forma rigorosa dos pesquisadores profissionais. Por isso eu por enquanto vou escrevendo ficção mesmo, e aproveito estas oportunidades de debate como aqui no DB para ensaiar um pouco a organização das informações que vou colhendo pelo caminho (já vi e descobri cada coisa que é difícil até acreditar).

Quem sabe quando eu me aposentar (se isso for possível um dia) eu possa produzir um trabalho realmente adequado nesta área. Até lá, muito obrigado pelo apoio dos colegas.

Um grande abraço,


Leandro G. Card


(*) Um comentário que me ocorreu à posteriori mas que eu não poderia deixar passar. Desde este ponto de vista (de que o desenvolvimento tecnológico e industrial autônomo é pré-requisito para o verdadeiro desenvolvimento) não consigo deixar de achar ridículas as ações dos governos brasileiros que querem que o país seja reconhecido como um ator mundial importante sem possuir a capacidade técnico/industrial mínima para tocar sozinho nem mesmo os projetos de maior visibilidade, como o programa espacial, o dos submarinos nucleares ou o dos caças para a FAB. Talvez se eu escrever logo meu livro e mandar cópias para as bibliotecas do Itamarati, do palácio do planalto, etc..., paremos de passar tanta vergonha.




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Re: Crise Econômica Mundial

#1211 Mensagem por Bourne » Dom Nov 29, 2009 6:19 pm

É claro que existe e se chama abordagem evolucionária ou neo-schumpeteriana. Porém não é a visão dominante nos países ocidentais. Apesar de normalmente a maioria dos autores importantes ser norte-americano ou europeu. E, recentemente, ter grupos de estudo a respeito estourando em todo o lugar dando abordagens recentemente ignoradas.

A visão dominante no mainstream é que o progresso técnico é conseqüência do aumento de capital físico e humano, sendo relegada ao segundo plano. Por exemplo, o Krugman acredita nisso

Um livro legal que reúne vários artigos a respeito é o abaixo. Na referências se acha muita coisa para encontrar novos trabalhos. Essa versão que tenho é que a Unicamp publicou. Já deve conhecer.
KIM, L.; NELSON, R. R. (2005). Tecnologia, Aprendizado e Inovação: as experiências das economias de industrialização recente. . Campinas: Editora Unicamp. p. 25 – 99.
Outros autores que lembro de cabeça são: coreano Linsu Kim; norueguês "Jan Fagerberg" que tem um artigo interessante que tenta explicar por que a Noruega se deu bem com as reservas de petróleo e gás e a Holanda não; e uns italianos em que o principal é "Giovanni Dosi". Cada um deles é o mais famoso de um bando de pesquisadores que tratam do assunto. Em uma perspectiva mais história o alemão List que falava isso no século XIX.

Esse seu comentário é interessante:
(*) Um comentário que me ocorreu à posteriori mas que eu não poderia deixar passar. Desde este ponto de vista (de que o desenvolvimento tecnológico e industrial autônomo é pré-requisito para o verdadeiro desenvolvimento) não consigo deixar de achar ridículas as ações dos governos brasileiros que querem que o país seja reconhecido como um ator mundial importante sem possuir a capacidade técnico/industrial mínima para tocar sozinho nem mesmo os projetos de maior visibilidade, como o programa espacial, o dos submarinos nucleares ou o dos caças para a FAB. Talvez se eu escrever logo meu livro e mandar cópias para as bibliotecas do Itamarati, do palácio do planalto, etc..., paremos de passar tanta vergonha.
Não se sinta solitário. Os caras que comentei pensam o mesmo que você. Eu também. Só que o governo e outros órgãos do Estados brasileiro parecem ignorar. Ou, na verdade, não sabe nem que existe. Não vêem que é necessário criar uma base industrial e tecnológica para alavancar esses tipos de projetos e mesmo os mais simples.

Por exemplo, achei que a forma que foi tocado e selecionada as empresas para participar do projeto do Urutu III foi terrível. Excluiu as empresas nacionais que poderiam fazer parte do consórcio e deu a vitória a uma multinacional com hnow-how e tamanho para tocar o projeto sozinha. Quando o melhor seria formar um consórcio de empresa nacionais, distribuir as tarefas e, finalmente, buscar um parceiro externo para auxiliar no desenvolvimento e ajudar a criar cada companhia fazer a sua parte e criar uma base tecnológica. Como foi feito ignoraram uma estratégia maior, olhando apenas para o produto final. Assim, seria mais vantajoso comprar sob licença e abrasileirar, pois sairia mais rápido, barato e o resultado seria o mesmo. Agora, será que da forma que foi feito o processo do Urutu III cria condições para empresas nacionais desenvolveram um chassis militar para caminhões ou plataforma para um obseiro auto-propulsado? Para mim não.

Depois da metade de dezembro retorno ao DB com força e veremos o que podemos discutir a respeito.




Editado pela última vez por Bourne em Dom Nov 29, 2009 7:06 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Crise Econômica Mundial

#1212 Mensagem por LeandroGCard » Dom Nov 29, 2009 6:35 pm

Bourne escreveu: Por exemplo, achei que a forma que foi tocado e selecionada as empresas para participar do projeto do Urutu III foi terrível. Excluiu as empresas nacionais que poderiam fazer parte do consórcio e deu a vitória a uma multinacional com Know-how e tamanho para tocar o projeto. Quando acharia melhor fazer o consórcio de empresa nacionais capacitadas antes, distribuir as tarefas e, finalmente, buscar um parceiro externo para auxiliar no desenvolvimento e ajudar a criar conhecimento dessas empresas. Ignoraram um pensamento maior. Da forma que foi feita era melhor comprar sob licença, sairia mais rápido, barato e o resultado seria o mesmo.
Pois é, isto para mim também parece óbvio, mas me surpreendo ao ver que não é assim que a maioria pensa. E vários outros projetos importantes estão seguindo pelo mesmo caminho (FX-2, FX-Naval, etc...).

Valeu muito pelas dicas Bourne, vou começar procurando na Internet o que é "abordagem evolucionária ou neo-schumpeteriana" e tentando comprar o "Tecnologia, Aprendizado e Inovação" para ler nos feriados do fim do ano. Sou pós-graduado em engenharia, mas nesta área de teoria econômica tenho que começar desde o princípio de cada assunto :oops: .

Quando voltar dê um toque, e vamos manter o assunto animado. Quem sabe envolvendo também aspectos de teoria social.


Um grande abraço,


Leandro G. Card




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Re: Crise Econômica Mundial

#1213 Mensagem por Bourne » Dom Nov 29, 2009 8:56 pm

Lembrei de um fato interessante. O atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que gosta muito dessa visão schumpeteriana e tenta aplicá-las nas ações do BNDES. Portanto, não ignora essa idéias e nem tem nenhuma aversão a elas. Acho que o Companheiro Lula deveria bater um papo com ele a respeito do Uruveco , FX e outros projetos que certamente explicaria muitos aspectos nebulosos de transferência de tecnologia, inovação e política industrial.

P. S. Leandro G. Card o livro que citei está disponível para venda na editora da Unicamp. Faz parte da coleção "Clássicos da Inovação". São oito livros que dão um panorama geral da relação entre avanço tecnológico e crescimento econômico.




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Re: Crise Econômica Mundial

#1214 Mensagem por LeandroGCard » Dom Nov 29, 2009 9:21 pm

Bourne escreveu:Lembrei de um fato interessante. O atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que gosta muito dessa visão schumpeteriana e tenta aplicá-las nas ações do BNDES. Portanto, não ignora essa idéias e nem tem nenhuma aversão a elas. Acho que o Companheiro Lula deveria bater um papo com ele a respeito do Uruveco , FX e outros projetos que certamente explicaria muitos aspectos nebulosos de transferência de tecnologia, inovação e política industrial.
Pois é, bem que o Lula precisava conversar com alguém que lhe esclareça estes pontos.
P. S. Leandro G. Card o livro que citei está disponível para venda na editora da Unicamp. Faz parte da coleção "Clássicos da Inovação". São oito livros que dão um panorama geral da relação entre avanço tecnológico e crescimento econômico.
Vou ver como adquirir. Já baixei um longo artigo sobre teoria econômica Neo-Schumpeteriana e comecei a ler. Até aqui estou bem de acordo com o que estou lendo, embora tenha a impressão que esta escola minimiza um pouco outros fatores também importantes. Mas deixa eu ler mais para ver se minhas impressões iniciais são confirmadas ou desmentidas, e depois voltamos a conversar.

Um grande abraço (e feliz aniversário :D ).


Leandro G. Card




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Re: Crise Econômica Mundial

#1215 Mensagem por soultrain » Seg Nov 30, 2009 4:09 pm

Leandro,

Muitos bons seus textos. Eu me identifico consigo, também tenho dificuldade em compreender a adivinhação dos economistas, como o meu sogro que é economista licenciado, doutor, professar universitário e etc diz, a economia está mais perto da cartomancia, que de uma ciência. Era interessante ler algo que viesse de alguém com formação em ciência, talvez conseguisse compreender melhor. Mas mais uma vez como ele diz, se fosse algo perto do exacto contratavam-se os prémio "Nobel" para governar, parece que quando foi feito foi a desgraça.

O toque que me deram sobre sexta feira, era mesmo o problema do Dubai.

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"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento" :!:


NJ
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