Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/inte ... 82,00.html
O palácio presidencial de La Moneda, obra do arquiteto italiano Joaquín Toesca, destaca-se no centro de Santiago. Hoje, branco e restaurado, não ostenta mais as marcas do bombardeio dos aviões Hawker Hunter que, há 30 anos, fizeram do prédio a imagem da destruição da democracia no Chile.
No dia 11 de setembro de 1973, o presidente socialista Salvador Allende apareceu pela última vez na varanda do segundo andar. Com um capacete de batalha e uma metralhadora em punho ele observou o cerco dos militares ao redor da casa, em estilo colonial. O político, eleito três anos antes, voltou a seu escritório, de onde escreveu a última mensagem transmitida ao país através da Rádio Magallanes, antes de se suicidar com tiro do fuzil presenteado pelo líder cubano Fidel Castro. Enquanto isto as chamas e a fumaça invadiam o prédio.
O general da reserva Mario López Tobar, então chefe da esquadrilha de quatro aviões britânicos que atacaram a sede do governo e residência do presidente com mísseis, garante num livro-depoimento que só dois aviões atacaram o La Moneda. Ao lembrar da incursão dos Hawker Hunter, Tobar reflete sobre o confronto que via nas ruas de Santiago, onde focos isolados de franco-atiradores resistiam ao golpe que colocou no poder o general Augusto Pinochet por quase 17 anos, até março de 1990. "Preferiria ter enfrentado adversários no ar" - afirma - "Lá ninguém tem tempo de se assustar ou fugir, ou derrubamos o adversário ou ele nos derruba".
Em terra, os tanques cercavam o palácio. Mensagens militares se repetiam nas emissoras de rádio controladas pelos militares, enquanto grupos de operários tentavam resistir ao golpe nos cordões industriais de Vicuña Mackenna e Cerrillos, e surgiam franco-atiradores em alguns edifícios do centro da capital. No assalto final, um destacamento militar sob o comando do general Javier Palacios tomou o palácio, capturou os últimos partidários de Allende e os obrigou a se deitar na calçada com as mãos na nuca, a pouca distância de um dos tanques que estava a ponto de avançar sobre eles.
Num caminhão militar, foram transportados para o Regimento Tacna, comandado pelo general Luis Ramírez Pineda, detido em 13 de setembro de 2002 na Argentina e cuja extradição para o Chile foi pedida pela Suprema Corte. No Chile, o juiz Juan Carlos Urrutia tenta submetê-lo a um processo pelo desaparecimento de 11 prisioneiros levados do La Moneda para um recinto militar sem que, até agora, se conheça seu destino. Entre estes prisioneiros está o médico francês Georges Klein Pipper, assessor da Secretaria Geral do Governo sob a presidência de Allende (1970-1973).
Hoje, 30 anos depois do golpe, a casa dos presidentes do Chile recebe diariamente visitantes e turistas que visitam o Pátio dos Canhões ou o Pátio dos Laranjais, desde que em março de 2000 o presidente Ricardo Lagos ordenou sua reabertura à visitação pública. Um sinal dos novos tempos vividos no país.