Crise Econômica Mundial

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Bourne
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Re: Crise Econômica Mundial

#1111 Mensagem por Bourne » Qui Set 17, 2009 8:10 pm

Quando se fala em matérias-primas russas se pensa, principalmente, em gás natural e petróleo. Na verdade, a Rússia é ou era o maior produtor de petróleo do mundo, mas de 10 milhões de barris por dia em 2008.

Sobre a previsão de Lula sobre a tsunami não passar de uma marolinha foi uma analogia para acalmar o mercado e a população, pois boa parte dos integrantes do governo pareciam estar se borrando todos.




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soultrain
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Re: Crise Econômica Mundial

#1112 Mensagem por soultrain » Seg Set 21, 2009 2:30 pm

Publicado 21 Setembro 2009 16:14
Comentário de Bolsa
David Rosenberg
"Acções norte-americanas estão sobreavaliadas"
As acções norte-americanas estão sobreavaliadas e negoceiam actualmente num nível que corresponde ao terceiro ano pós recessão, considera o antigo economista-chefe do Merrill Lynch, David Rosenberg.
Nuno Carregueiro
nc@negocios.pt



As acções norte-americanas estão sobreavaliadas e negoceiam actualmente num nível que corresponde ao terceiro ano pós recessão, considera o antigo economista-chefe do Merrill Lynch, David Rosenberg.

Em entrevista à Bloomberg, o responsável refere que o “PER - price earning ratio” (rácio que mede a relação entre os lucros e a cotação das acções) das empresas dos estados Unidos deveria estar actualmente em 12 ou 13. Mas de acordo com os dados da Bloomberg, o S&P 500 apresenta um PER perto de 20, o mais elevado desde 2004.

O índice que agrupa as 500 maiores empresas norte-americanas está em alta há seis meses – período em que acumula um ganho de 58% - devido ao optimismo dos investidores de que a recuperação económica e dos resultados das empresas vai ser rápida.

Os lucros das companhias norte-americanas desceram nos últimos oito trimestres – o maior período de sempre – e deverão recuar mais 22% no actual trimestre, antes de dispararem 62% nos últimos três meses deste ano.

“O mercado está a ter um ‘rally’ derivado por motivos técnicos e ‘momentum”, refere Rosenberg, agora economista chefe da Gluskin Sheff & Associates. Acrescenta que “estou um pouco nervoso, sobretudo no curto prazo”, uma vez que a subida das acções supera “os fundamentais” do mercado.

Rosenberg considera que é muito cedo para saber se economia vai continuar a crescer quando os programas de estímulo dos Governos chegarem ao fim. “O que podemos apenas dizer é que a economia nesta altura está tão medicada com estímulos governamentais, que não temos maneira de realmente saber, com um exame médico completo”, como está nesta altura.

Estes receios justificam o comportamento de hoje dos mercados accionistas, que negoceiam em terreno negativo, com os investidores a temerem que as últimas subidas foram exageradas, face às perspectivas de resultados das empresas.





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Re: Crise Econômica Mundial

#1113 Mensagem por P44 » Sex Out 02, 2009 7:34 am

Alertas
Mundo irá voltar a crescer puxado pela China, Índia e EUA

Como as economias vão evoluir


Hoje

Espanha, primeiro cliente das exportações nacionais, continuará, em 2010, em recessão económica. Retoma mundial será lenta

PIB Inflação DESEMPREGO

2009 2010 2009 2010 2009 2010

Mundo -1,1 3,1 - - - -

Zona Euro -4,2 0,3 0,3 0,8 9,9 11,7

Alemanha -5,3 0,3 0,1 0,2 8 10,7

França -2,4 0,9 0,3 1,1 9,5 10,3

Itália -5,1 0,2 0,7 0,9 9,1 10,5

Espanha -3,8 -0,7 -0,3 0,9 18,2 20,2

Grécia -0,8 -0,1 1,1 1,7 9,5 10,5

Holanda -4,2 0,7 0,9 1 3,8 6,6

Portugal -3 0,4 -0,6 1 9,5 11

Reino Unido -4,4 0,9 1,9 1,5 7,6 9,3

Estados Unidos -2,7 1,5 -0,4 1,7 9,3 10,1

A economia mundial deverá cair 1,1% em 2009, com o comércio mundial - exportações e importações - a retroceder cerca de 12%. Para o próximo ano, a recuperação será lenta, diz o relatório do Fundo Monetário Internacional, ontem divulgado, mas espera-se já uma expansão de 3,1%.

O crescimento económico foi revisto em alta, mas o FMI enfatiza que a retoma será lenta, devendo atingir uma subida de 4% em 2014. A suportar esta retoma estão os apoios públicos às economias. Estas, afirma o FMI, acabaram por estimular a procura e injectaram confiança nos mercados financeiros, reduzindo riscos sistémicos.

A retoma foi sustentada pela Ásia, com a China e a Índia - que nunca entraram em recessão - a promoverem impulsos nas trocas comerciais. A primeira economia mundial, os EUA, foi contagiada e deverá registar no próximo ano uma expansão de 1,5%, depois de uma queda de 2,7% em 2009. A retoma americana, com o andamento dos preços controlados, é suportada por maior confiança dos consumidores, após uma forte desaceleração no desemprego.

Na Zona Euro, o FMI antevê um aumento do desemprego, o que prejudicará a retoma em 2010. Os 16 países do euro deverão expandir-se apenas 0,3%, após uma contracção de 4,2% este ano. O primeiro cliente das exportações de Portugal, a Espanha, deverá agravar a crise, ao registar uma nova queda da economia de 0,7%, após um recuo de 3,8% este ano. O desemprego espanhol atingira os 20,2%, de longe a maior taxa entre as economias avançadas.

Grécia, Irlanda e Luxemburgo são outras das nações que terão as respectivas economias em depressão. Alemanha e a França, na lista dos maiores importadores de Portugal, registam crescimentos apenas marginais.


http://dn.sapo.pt/inicio/economia/inter ... id=1378384




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Re: Crise Econômica Mundial

#1114 Mensagem por soultrain » Qua Out 07, 2009 10:48 am

"Chairman" do HSBC admite
"Bancos devem um pedido de desculpas ao mundo"
Todos os intervenientes no sector financeiro têm culpas na crise que deflagrou em Wall Street e que acabou por arrastar a economia global para a mais severa recessão desde a Segunda Grande Guerra. E, por isso, "a indústria financeira deve colectivamente um pedido de desculpas ao mundo real". Quem o afirma é o Stephen Green, presidente não-executivo do HSBC.
Eva Gaspar
egaspar@negocios.pt

Todos os intervenientes no sector financeiro têm culpas na crise que deflagrou em Wall Street e que acabou por arrastar a economia global para a mais severa recessão desde a Segunda Grande Guerra. E, por isso, “ a indústria financeira deve colectivamente um pedido de desculpas ao mundo real”. Quem o afirma é o Stephen Green, presidente não-executivo do HSBC.

Em entrevista à BBC, concedida em Istambul à margem do encontro anual do FMI e Banco Mundial, Green diz ainda que são precisas mudanças “na governação, na ética e na cultura” do sector financeiro para evitar novos colapsos, e que parte desta mudança deve ser acelerada pela intervenção dos Estados. Contudo, adverte, “não podemos fazer tudo isto apenas com novas regras e regulamentação”.

Acrónimo de Hong Kong and Shanghai Banking Corporation, o HSBC, fundado em 1865 e sedeado em Londres, é a maior organização de serviços financeiros e bancários do mundo, com quase dez mil agências espalhadas por oito dezenas de países.





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Re: Crise Econômica Mundial

#1115 Mensagem por manuel.liste » Qua Out 07, 2009 11:51 am

P44 escreveu: Na Zona Euro, o FMI antevê um aumento do desemprego, o que prejudicará a retoma em 2010. Os 16 países do euro deverão expandir-se apenas 0,3%, após uma contracção de 4,2% este ano. O primeiro cliente das exportações de Portugal, a Espanha, deverá agravar a crise, ao registar uma nova queda da economia de 0,7%, após um recuo de 3,8% este ano. O desemprego espanhol atingira os 20,2%, de longe a maior taxa entre as economias avançadas.

Grécia, Irlanda e Luxemburgo são outras das nações que terão as respectivas economias em depressão. Alemanha e a França, na lista dos maiores importadores de Portugal, registam crescimentos apenas marginais.


http://dn.sapo.pt/inicio/economia/inter ... id=1378384
Está claro que el PIB español caerá menos que el de la Zona Euro este año. En 2010 ya se verá...




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Re: Crise Econômica Mundial

#1116 Mensagem por Enlil » Qui Out 08, 2009 3:20 pm

Atualizado em 7 de outubro, 2009 - 20:33 (Brasília) 23:33 GMT

EUA: Governo prevê déficit de US$ 1,4 tri no orçamento

O déficit no orçamento dos Estados Unidos no ano fiscal de 2009 será de US$1,4 trilhões – um aumento significativo com relação ao ano passado, segundo estimativas divulgadas nesta quarta-feira pelo Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês).

Os dados indicam que o déficit de 2009 será US$ 950 bilhões mais alto do que o registrado no ano anterior, de US$ 459 bi.

O déficit equivale a 9,9% do Produto Interno Bruto (PIB) americano – o maior nível desde 1945 e um salto com relação ao ano passado, quando o déficit representou apenas 3,2% do PIB do país.

“O aumento substancial no valor foi resultado de queda nos lucros e aumento nos gastos”, diz o relatório mensal do CBO.

Segundo o documento, a receita em 2009 foi cerca US$420 bilhões mais baixa do que no ano anterior e representa aproximadamente 15% do PIB – o menor nível em quase 50 anos.

O relatório destaca ainda que, ao mesmo tempo, os gastos aumentaram em mais de US$530 billhões (ou 18% do PIB) e foram os mais altos também em mais de 50 anos.

O Departamento do Tesouro americano ainda precisa confirmar as estimativas sobre o déficit nos EUA no ano fiscal de 2008-2009, encerrado em setembro. O anúncio deve ser feito até o final de outubro.

Patamar

Em julho, o Departamento do Tesouro já havia anunciado que, apenas nos primeiros nove meses do ano fiscal 2008-2009, o déficit orçamentário dos EUA tinha ultrapassou US$ 1 trilhão.

Foi a primeira vez na história que a diferença entre os gastos e a receita do governo americano atingiu este patamar.

Na ocasião, Andrew Walker, analista econômico da BBC, afirmou que a recessão econômica e as ações tomadas pelo governo do presidente Barack Obama para combater os efeitos da crise no país contribuíram para aprofundar ainda mais o déficit orçamentário.

Segundo ele, o aumento do desemprego também comprometeu a receita obtida com impostos e que os gastos do governo com benefícios a desempregados aumentaram desde o início da crise. Além disso, os programas do governo americano para estimular a economia e os pacotes de ajuda ao sistema financeiro e a empresas também contribuíram para o aumento do déficit.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... a_np.shtml




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Re: Crise Econômica Mundial

#1117 Mensagem por Túlio » Qui Out 08, 2009 9:23 pm

Já repararam que o dólar aqui não pára de cair? 8-]




“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”

P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Crise Econômica Mundial

#1118 Mensagem por Bourne » Qui Out 08, 2009 9:52 pm

Túlio escreveu:Já repararam que o dólar aqui não pára de cair? 8-]
Vou te contar um segredinho: isso é esperado e faz parte da evolução global capitalista. :wink:




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Re: Crise Econômica Mundial

#1119 Mensagem por Túlio » Qui Out 08, 2009 9:54 pm

Conta o resto, POWS!!! :evil: :evil: :evil: :evil:

O definitivo bankrupt é para quando??? :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:




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Re: Crise Econômica Mundial

#1120 Mensagem por Bourne » Qui Out 08, 2009 10:25 pm

Diziam que seria na década de 1970 quando o dólar perdia cada vez mais espaço para o marco alemão e iene japonês como moeda para lastrear as transações globais. E a estória virou para o outro lado. Portanto, prefiro não arriscar nada, mas é lago de longuíssimo prazo.




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Re: Crise Econômica Mundial

#1121 Mensagem por Túlio » Qui Out 08, 2009 11:44 pm

Crise sistémica global:
Em busca da retomada impossível

por GEAB [*]

Antes do Verão, a equipe do LEAP/E2020 anunciara que não haveria retomada mundial na entrada de 2009; e que não a previa daqui até o Verão de 2010. Neste mês de Setembro de 2009, ao contrário do discurso que hoje domina os media e os meios financeiros e políticos, mantemos a nossa previsão.

O actual enfraquecimento da velocidade de afundamento da economia mundial, que "cria" as "boas notícias" [1] , só foi tornado possível pelo imenso esforço de sustentação financeira pública mundial dos últimos doze meses [2] . Mas o "tempo ganho" graças ao dinheiro dos contribuintes do mundo inteiro teria devido ser consagrado à reforma do sistema monetário internacional uma vez que ele está no cerne da crise sistémica actual [3] . Entretanto, para além de considerações cosméticas [4] e dos enormes presentes dados aos bancos americanos e europeus, nada de sério foi empreendido para o futuro, o cada um por si impõe-se doravante [5] .

Neste fim de Verão de 2009, com as três vagas monstruosas do Verão a golpearem com toda a força a economia mundial (desemprego [6] , falências [7] e choques monetários [8] ), o tempo de reparação do sistema, ou mais exactamente da sua transição suave para uma novo sistema global, está ultrapassado [9] . Os primeiros efeitos da grande desconexão [10] concretizam-se nos factos: o resto do mundo afasta-se rapidamente da zona dólar.

As estatísticas incoerentes reflectem uma economia mundial caótica

Caminhamos portanto directamente para a fase de deslocação geopolítica com começo previsto no 4º trimestre de 2008 [11] . Este GEAB nº 37 analisa as tendências em curso (inflação ou deflação, mercados imobiliários, bancos, geopolítica, ...) no interior do caos actual criado pela avalanche de fundos públicos não dominados e a persistência de um sistema financeiro descontrolado, sobre um fundo de incoerências estatísticas crescentes. Paradoxalmente, esta deslocação tornou-se, segundo nossos investigadores, a única via praticável para uma retomada económica, mas que se fará conforme uma arquitectura global e modalidades de interacção entre as esferas económicas, sociais e financeiras profundamente diferentes daquelas que experimentámos ao longo das últimas décadas. A nossa equipe estima que daqui até ao Verão de 2010 surgirão claramente as primeiras características do "mundo após a crise". Vamos certamente nos dedicar a identificá-las nos próximos meses.

Mas na expectativa, como antecipado nos GEAB anteriores, doravante já ninguém pode reconstruir imagens coerentes da realidade económica mundial actual com a ajuda das estatísticas macroeconómicas — cada vez mais contraditórias ou muito simplesmente aberrantes [12] . À força de manipular os dados e os instrumentos de medida [13] e de se limitar ao US dólar como padrão de valor quando as suas variações são cada vez mais caóticas [14] , nem os governos, nem as instituições internacionais, nem os bancos [15] sabem mais em que direcção evolui o sistema mundial. A leitura dos media também reflecte este caos que mergulha seus leitores e ouvintes nos abismos da perplexidade: conforme os dias, até mesmo na mesma jornada, sucedem-se informações contraditórias sobre as finanças, a economia ou a moeda. Governantes, chefes de empresa, assalariados, ... economistas ou analistas ... estão reduzidos à aposta de Pascal para avaliar os próximos meses.




Para o LEAP/E2020, há uma realidade incontornável: a deriva do sistema económico, financeiro e monetário global acelera-se, sua fraqueza atinge níveis, nunca igualados na história moderna, que doravante o tornam susceptível de ruptura ao menor choque importante: financeiro, geopolítico ou mesmo natural [16] . O mergulho vertiginoso dos Estados nos défices públicos incontroláveis [17] (uma vez que os governos sentem que sem os seus planos de sustentação pública as economias mundiais vão reiniciar a sua queda brutal) cria uma situação literalmente explosiva, com uma formidável alta das arrecadações fiscais do Japão à Europa passando pelos Estados Unidos. Se há alguma retomada à vista, esta é certamente a das altas de impostos. Igualmente, os eleitores japoneses, face a uma taxa de desemprego histórica e a uma economia sempre em queda livre, decidiram afastar os dirigentes do país que ali estavam há décadas: eles não são senão os primeiros a encetar o grande descalabro político da próxima fase da crise [18] . Assim, com surpresa a administração Obama descobriu neste Verão a profundidade da cólera popular que se concentrou no seu programa de reforma do sistema de saúde (muito necessário).

Para representar a crise hoje, a nossa equipe tentou encontrar uma imagem simples. Eis a analogia que se impôs aos nossos investigadores: uma bola de borracha a saltar de degrau em degrau numa escada: se ela parece subir a cada degrau devido ao efeito do salto (dando por um momento a impressão de que a sua queda cessou), é para cair ainda mais baixo no degrau seguinte, para efectuar uma "retomada" da sua queda.

Actores económicos e dirigentes políticos "sem bússola"

Naturalmente nada disto cria um ambiente muito propício ao investimento das empresas. As capacidades de produção estão subutilizadas por toda a parte em proporções históricas. Os stocks não são mais renovados senão a conta-gotas (o que elimina toda esperança de retomada devido à sua reconstituição). Os consumidores tornaram-se actores económicos racionais: não há dinheiro, não há compra. Os seus salários diminuem quando não são muito simplesmente perdidos devido à falta de emprego, os bancos não emprestam mais porque sabem que eles próprios continuam insolventes (apesar da poeira "dourada" lançada sobre os olhos da opinião pública nestes últimos meses) [19] . E o estado por si só não pode substituir o frenesim de consumo do passado. O estímulo de Barack Obama, com seus menos de 400 mil milhões por ano durante dois anos está bastante longe dessa quantia se for para aliviar em simultâneo a deserção das famílias e das empresas. Infelizmente, isto é exactamente a situação actual da economia dos EUA.

Mas nesta matéria os americanos não estão sós. A Ásia e a Europa também experimentam uma terrível subida do desemprego que as manipulações estatísticas [20] não podem esconder para além do período estival: desempregados erradicados das listas de subsidiados, jovens postos em colocações de espera ou desempregados recrutados para trabalhos públicos de curta duração, licenciamentos retardados através de medidas de indemnização de desemprego parcial, fábricas mantidas artificialmente em actividades por subvenções públicas, ... de Pequim a Paris, passando por Washington, Berlim, Londres ou Tóquio, todas as medidas são boas para tentar esconder a realidade o tempo mais longo possível ... à espera da retomada. Mas, infelizmente, a retomada não virá a tempo. É Blücher no lugar de Grouchy [21] . Ao invés da retomada, o que surgem são as consequências das três vagas monstruosas do Verão de 2009:


:arrow: a evidência do desemprego em massa, nomeadamente em fim de indemnização e suas consequências desastrosas sobre a estabilidade política e social dos países


:arrow: a explosão do número de falências de empresas, de colectividades, ... e dos défices públicos de toda espécie


:arrow: e naturalmente as consequências do conjunto sobre o dólar, os títulos do Tesouro dos EUA (e o Reino Unido como dano colateral) [22] .

A primeira vaga já atingiu plenamente a margem no fim do Verão de 2009. A segunda está em curso. E a terceira começa a ser bem visível.

Se bem que a zona Euro e a Ásia em geral estejam melhor colocados para enfrentar o impacto destas vagas (como analisado em Outubro último no GEAB nº 28 ), elas não estão mais em condições de recuperar-se. Entretanto, é certamente nos Estados Unidos, no dólar e nos Títulos do Tesouro dos EUA, por um lado, e no Reino Unido e na libra por outro, que as consequências destas três vagas se vão exercer brutalmente. O sonho estival também tem um fim!

Em contrapartida, para aqueles que ainda têm meios para viajar, as férias podem continuar pois hotéis, companhias aéreas, clubes de férias ... apregoam preços em níveis jamais vistos. Um outro sinal evidente de "retomada".

Notas:

1- Por exemplo: falar em percentagem faz parte da "euforia" do Verão de 2009. Assim, certo número de bancos cujo valor em bolsa caiu próximo do 0 puderam afirmar nestes últimos meses "retomadas" de +200%, +300% ou +500%. Basta por exemplo examinar a evolução das cotações do Natixis , Citi ou Royal Bank of Scotland , para compreender a armadilha: recuperar 500% quando a acção caiu a 1, isso vos dá 5 ... o que vos deixa sempre uma perda de 40 se a tiver comprado há dois anos (ou se tomou emprestado contra esta garantia).

2- O anúncio pela França de que o estado prolonga até o fim de 2010 o seu apoio aos bancos é uma perfeita ilustração. Fonte: Reuters , 13/09/2009

3- Ver o comunicado publicado pelo LEAP no Financial Times na véspera da Cimeira do G20 de Londres em Abril último.

4- A "caça aos bónus dos traders" é uma acção moralmente saudável, mas ela não deve fazer esquecer que eles são apenas os "corsários" dos bancos que os empregam e das praças financeiras que abrigam estes últimos. São os seus patrões e os que os abrigam que lhes concedem as suas "comissões" (ou dever-se-ia dizer bónus?) e que os autorizam a esquadrinhar os oceanos das finanças mundiais. Limitar o bónus ao montante do seu salário obrigaria os bancos a empregá-los como capitães de longo curso, ao invés de piratas.

5- Fonte: Times, 02/09/2009

6- Nos Estados Unidos, o ritmo real de aumento do desemprego continua a estabelecer-se entre 600.000 e um milhão de pessoas por mês se forem considerados todos aqueles que cessam de procurar um emprego (fonte: CNBC/New York Times, 07/09/2009). E, para ter um esboço da vaga socialmente explosiva que atinge a economia dos EUA, na Califórnia, desde 1º de Setembro, são 143.000 desempregados que esgotaram seus direitos (com as suas famílias, isto dá quase um milhão de pessoas na miséria ... no mês em curso) – fonte: MyBudget360 , 02/09/2009. Na Europa, na Ásia, ... por toda a parte as taxas de desemprego orientam-se para uma ultrapassagem dos picos históricos modernos daqui até ao fim de 2009 (com 5,7%, o Japão já superou seu patamar histórico em Julho – fonte: Japan Times, 08/09/2009) ... e isto apesar das manipulações de toda espécie para reduzir os números.

7- A título anedótico, há mais falências bancárias nos Estados Unidos entre a saída do GEAB nº 36 (15/Junho/2009) e a do GEAB nº 37 (15/Setembro/2009) do que em todo o ano de 2008, incluindo-se aí duas das quatro mais importantes do ano. Mas, evidentemente, os media não podem fazer manchetes sobre a gripe A e sobre as falências ao mesmo tempo. Passa-se o mesmo quanto às taxas de falência das empresas americanas que atingiram o seu mais alto nível histórico com 12,2% (fonte: Yahoo , 09/09/2009). Na Espanha, o número de falências no primeiro semestre de 2009 é equivalente a três vezes o número de todo o ano de 2008 (fonte: Spanish News, 0 6/08/200). Em França, o patronato espera 70.000 falências de empresas daqui até o fim do ano (fonte: Capital , 02/09/2009).

8- O enfraquecimento acelerado do US dólar cria um novo stress monetário mundial e o próximo pedido, pela administração Obama, de aumento de US$1. 500 mil milhões do tecto autorizado de endividamento federal dos EUA não acalma a fuga para longe da divisa estado-unidense. O tecto de US$12.000 mil milhões de endividamento está com efeito em vias de ser atingido. Fontes: Wall Street Journal, 12/09/09; Bloomberg , 08/09/2009; Wall Street Journal, 12/09/09.

9- Havíamos indicado que uma tal "janela de oportunidade" existia entre a Primavera e o Verão de 2009. Esta janela doravante está fechada.

10- Ver GEAB N°22 , 02/2008

11- Ver GEAB N°32 , 02/2009.

12- Como as baixas do desemprego americano e francês do começo do Verão ou as taxas de crescimento da produção chinesa. Fontes: New York Times, 10/08/2009; Expansion, 27/07/2009; Wall Street Journal, 25/05/2009.

13- Verifica-se muito útil ler o artigo de Marion Selz intitulado "Les statistiques, un service public détourné". Trata-se de uma obra colectiva recente realizada no anonimato por estatísticos franceses com um título evocativo: Le grand truquage : Comment le gouvernement manipule les statistiques . Não há dúvida de que neste período de crise global as informações reveladas aplicam-se a todos os governos do planeta. Fonte: La vie des idées, 02/09/2009

14- Quando a 15 de Fevereiro de 2008, no GEAB nº 22 , anunciámos que tudo se orientava para um "Dollar carry-trade", muitos foram aqueles que consideraram impensável uma tal evolução. Contudo, hoje é exactamente o que se passa nos mercados monetários. Fonte: Le Monde, 12/09/2009. [Carry-trade: Prá de tomar emprestado dinheiro numa moeda em que as taxas são mais baixas e a seguir substituir este capital por outra moeda que o remunere melhor. NT]

15- Que em Abril de 2009 se apressaram a obter (fonte: Bloomberg , 02/04/2009) o direito de retornar ao sistema de "valor justo" (estimo que o meu activo valha 100) ao invés de manter a valorização dos seus activos ao "preço do mercado" (no mercado, teu activo vale 10)... e portanto persistem em manter nos seus balanços que já não sabem mais de todo o que realmente vale, nomeadamente porque suspeitam muito justamente que estes activos já não valem senão 10% ou 20% do seu "valor justo". Os campos e as cidades dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Espanha, da Letónia, do Japão, da China, ... estão assim cheios de casas, apartamentos e imóveis que ninguém compra pois os seus preços são mantidos artificialmente pelos bancos muito acima dos preços de mercado, a fim de que os seus balanços não mostrem que eles estão de facto insolventes pois os seus activos estão quase todos "apodrecidos". Os banqueiros também tentam ganhar tempo, esperando um retorno ao mundo anterior. Serão eles crianças grandes nostálgicas da sua idade de ouro? Ou antes graves delinquentes que põem em perigo a sociedade? O futuro vai proximamente determinar no decorrer da fase de deslocação geopolítica global.

16- No próximo GEAB, o nº 38, que aparecerá em Outubro, faremos uma actualização das nossas antecipações por país e grandes regiões do mundo, incluindo naturalmente um balanço referente às cessações de pagamentos dos Estados Unidos e do Reino Unido.

17- Com um recorde de emissões obrigacionistas na Europa (€1.100 mil milhões para a zona Euro em 2008 e mais de €250 mil milhões para o Reino Unido), e um défice federal de US$9.000 mil milhões nos dez próximos anos, não há qualquer dúvida sobre o aspecto incontrolável do caso. Fonte: Yahoo/Reuters, 04/09/2009 CBS , 25/08/2009

18- Nos Estados Unidos, na Europa ou igualmente na China. Fontes: Reuters , 08/09/2009; Financial Times, 06/09/2009; BBC , 26/07/2009.

19- A respeito dos bancos, a nossa equipe recomenda calorosamente a leitura do notável artigo de Matt Taibbi, "No interior da grande máquina a bolha americana" aparecido no Rollingstones a 02/07/2009. Ele pormenoriza a história da Goldman Sachs e traz um esclarecimento essencial sobre as práticas financeiras e o papel central deste estabelecimento financeiro na crise financeira actual. Do mesmo modo como as defuntas Companhias das Índias, ou das ordens templárias, é provável que daqui a cinco a dez anos no máximo o poder político americano, face ao afundamento sócio-económico do país e sob a pressão popular, será obrigado a desmantelar esta instituição que doravante parasita a acção pública a todos os níveis.

20- Em última análise, todos estes indicadores repousam sobre a medida do valor que é o dólar dos EUA. Ora, se se transferisse a variação da sua taxa de câmbio para um écran semelhante ao de uma bússola, ver-se-ia a agulha oscilar a cada mês entre o Norte, o Sul, o Leste ou o Oeste. Não é de espantar que o conjunto dos actores políticos, económicos e financeiros mundiais estejam portanto "desbussolados".

21- Napoleão também acreditava com firmeza, aquando a batalha de Waterloo , que a sorte lhe iria sorrir mais uma vez e que ia receber um reforço amigo (Grouchy) no momento decisivo do combate. Infelizmente, a tropa tão esperada, cuja poeira mostrava a progressão rápida, revelou-se ser a de um reforço inimigo (Blücher). Todo o mundo sabe a sequência; e não estamos certos de que os dirigentes do G20 sejam estrategas tão experimentados quanto Napoleão.

22- Neste domínio por vezes a crise faz prova de um "humor muito britânico", provando ao mesmo tempo que se está longe de ter visto todas as suas consequências, uma vez que doravante Londres deve esperar a obrigação de pagar uma conta pesada para salvar do afundamento toda a sua pequena rede de paraísos fiscais. As ilhas Caimans por exemplo, já não podem sequer pagar os seus funcionários. Não há dúvida de que esta perspectiva vai maravilhar os contribuintes britânicos! De qualquer forma, estas ilhas poderão sempre recorrer a uma ideia simples: cobrar impostos. Fonte: Guardian, 13/09/2009


15/Setembro/2009

[*] Global Europe Anticipation Bulletin.

O original encontra-se em www.leap2020.eu




“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”

P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Crise Econômica Mundial

#1122 Mensagem por Enlil » Dom Out 11, 2009 4:01 am

Atualizado em 09 de outubro de 2009 às 21:44

Trabalho morto: Marx e Lênin reconsiderados

por Paul Craig Roberts [*], por sugestão do Milton Hayek, no Counterpunch

"O capital é trabalho morto, o qual, como um vampiro, vive apenas para sugar o trabalho vivo, e quanto mais sobreviver, mais trabalho sugará".
--Karl Marx

Se Karl Marx e V. I. Lênin hoje estivessem vivos, seriam os principais candidatos ao Prêmio Nobel de Economia.

Marx previu a miséria crescente dos trabalhadores e Lênin previu a subordinação da produção de bens à acumulação de lucros do capital financeiro com a compra e venda de títulos de papel. As suas previsões são de longe superiores aos "modelos de risco" aos quais tem sido atribuído o Prêmio Nobel e estão mais próximos da realidade que as previsões do presidente do Banco Central americano, de secretários do Tesouro dos EUA e de economistas nobelizados tais como Paul Krugman, que acredita que mais crédito e mais dívida são a solução para a crise econômica.

Na primeira década do século 21 não houve qualquer aumento no rendimento real dos trabalhadores americanos. Houve sim um declínio agudo na sua riqueza. No século 21 os americanos sofreram dois grandes crashes no mercado de ações e a destruição da sua riqueza imobiliária.

Alguns estudos concluíram que os rendimentos reais dos americanos, exceto para a oligarquia financeira dos super-ricos, são menores hoje que na década de 80 e mesmo que na de 70. Não examinei esses estudos de rendimento familiar para determinar se eles foram distorcidos pelo aumento nos divórcios ou pela percentagem de famílias monoparentais. Contudo, durante a última década é claro que o salário líquido real declinou.

A causa principal deste declínio é o deslocamento (offshoring) de empregos americanos de alto valor agregado para fora do país. Tanto empregos na manufatura como em serviços profissionais, tais como engenharia de software e trabalho com tecnologia de informação, foram relocalizados em países com forças de trabalho grandes e baratas.

A aniquilação de empregos de classe média foi disfarçada pelo crescimento na dívida do consumidor. Quando os rendimentos dos americanos deixaram de crescer, a dívida do consumidor expandiu-se para substituí-lo e manter o consumo em ascensão. Ao contrário de aumento nos rendimentos do consumidor devido ao crescimento da produtividade, há um limite para a expansão do endividamento. Quando aquele limite é atingido, a economia deixa de crescer.

A pauperização dos trabalhadores não resultou do agravamento de crises de superprodução de bens e serviços, mas sim do poder do capital financeiro de forçar o deslocamento da produção para terras estrangeiras. As pressões de Wall Street, incluindo pressões de tomadas de controle (takeovers), forçaram firmas manufatureiras americanas a "aumentar os rendimentos dos acionistas". Isso foi feito com a substituição de trabalho americano por trabalho barato estrangeiro.

Corporações deslocalizadas ou que passam a encomendar fora a sua produção manufatureira, causaram o divórcio entre os rendimentos dos americanos e a produção dos bens que eles consomem. O passo seguinte no processo aproveitou-se da alta velocidade da internet para transferir empregos em serviços profissionais, tais como engenharia, para fora. O terceiro passo foi substituir o resto da força de trabalho interna por estrangeiros trazidos para cá a um terço do salário com o H-1B [1] , L-1 [2] e outros vistos de trabalho.

Esse processo pelo qual o capital financeiro destruiu as perspectivas de emprego de americanos foi endossado pelo economistas do "livre mercado", os quais receberam privilégios em troca da propaganda de que os americanos beneficiar-se-iam com uma "Nova Economia" baseada em serviços financeiros, e pelos seus sócios no negócio da educação, os quais justificavam vistos de trabalho para estrangeiros com base na mentira de que os Estados Unidos produzem poucos engenheiros e cientistas.

Nos dias de Marx, a religião era o ópio das massas. Hoje, é a mídia. Basta ver como a informação propagada pela mídia facilita a capacidade da oligarquia financeira de iludir o povo.

A oligarquia financeira está anunciando uma recuperação enquanto o desemprego americano e os sequestros de imóveis estão em alta. Este anúncio deve sua credibilidade à sua origem [no alto escalão da economia], às pesquisas baseadas em folhas de pagamento que exageram o número de empregados e à eliminação, para dentro do buraco da memória, de qualquer americano desempregado por mais de um ano.

Em 2 de outubro o estatístico John William, do http://www.shadowstats.com, informou que o Bureau of Labor Statistics havia anunciado uma revisão da sua estimativa preliminar do indicador anual do emprego em 2009. O BLS descobriu que o emprego em 2009 fora exagerado em cerca de um 1 milhão de postos de trabalho. John Williams acredita que a diferença foi realmente de dois milhões de postos de trabalho. Ele informa que "o modelo usado acrescenta [um ilusório] ganho líquido de cerca de 900 mil empregos por ano à informação sobre emprego".

O número de empregos nas folhas de pagamentos não agrícolas é sempre a manchete. Contudo, Williams acredita que as pesquisas feitos junto às famílias de desempregados é estatisticamente mais correta que a consulta às folhas de pagamento. O BLS nunca foi capaz de reconciliar a diferença nos números dos dois levantamentos de emprego. Na sexta-feira passada o número de empregos perdidos apresentado nas manchetes era de 263 mil para o mês de setembro. Contudo, o número na pesquisa feita com as famílias era de 785 mil empregos perdidos no mês de setembro.

A manchete da taxa de desemprego de 9,8% em grande medida subdeclara o desemprego. As agências de informação do governo sabem disso e relatam outro número de desempregados, conhecido como U-6. Esta medida do desemprego nos EUA fixava-se nos 17% em setembro de 2009.

Quando aos trabalhadores desencorajados pelo desemprego de longo prazo [que deixam de procurar emprego] são acrescentados ao total dos desempregados, a taxa de desemprego em setembro de 2009 eleva-se a 21,4%.

O desemprego de cidadãos americanos pode ser ainda mais alto. Quando a Microsoft ou alguma outra firma substitui milhares de trabalhadores americanos por estrangeiros com vistos H-1B, a Microsoft não relata um declínio de empregados na folha de pagamento. No entanto, vários milhares de americanos ficam sem empregos. Multiplique isso pelo número de firmas dos EUA que se apóiam em companhias estrangeiras fornecedoras de mão-de-obra para tecnologia de informação ("body shops") para substituir a força de trabalho americana com trabalho barato estrangeiro ano após ano e o resultado são centenas de milhares de desempregados americanos não contabilizados.

Obviamente, com mais de um quinto da força de trabalho americana desempregada e os remanescentes enterrados em hipotecas e dívidas de cartões de crédito, a recuperação econômica não está à vista.

O que acontece é que as centenas de bilhões de dólares de dinheiro do TARP [plano de apoio do governo ao sistema financeiro] dados aos grandes bancos e os bilhões de dólares que foram acrescentados ao balanço do Banco Central americano foram despejados no mercado de ações, produzindo uma outra bolha, e na aquisição de bancos menores por bancos "demasiado grandes para falir". O resultado é mais concentração financeira.

A expansão da dívida subjacente a esta bolha corroeu a credibilidade do dólar como moeda de reserva. Quando o dólar começar a despencar, banqueiros em pânico elevarão as taxas de juros a fim de proteger a capacidade de contração de empréstimos do Tesouro. Quando as taxas de juros ascenderem, o que resta da economia dos Estados Unidos afundará.

Se o governo não puder contrair empréstimos [vendendo títulos do Tesouro], ele imprimirá dinheiro para pagar as suas contas. A hiperinflação atingirá a população americana. O desemprego maciço e a inflação maciça infligirão ao povo americano uma miséria que nem mesmo Marx e Lênin poderiam conceber.

Enquanto isso, economistas dos Estados Unidos continuam a pretender que estão lidando com uma recessão normal do pós-guerra, que requer meramente uma expansão da moeda e do crédito com o objetivo de restaurar o crescimento econômico.

[1] H-1B: categoria de visto para não imigrantes que permite ao patronato dos EUA procurar ajuda temporária de estrangeiros qualificados que tenham bacharelato.
[2] L-1: documento de visto para entrar nos EUA como não imigrante e válido por períodos de tempo de até três anos. São geralmente concedidos para empregados de companhias internacionais com escritórios nos EUA.

[*] Ex-secretário assistente do Tesouro na administração Reagan, co-autor de The Tyranny of Good Intentions. [/color]

PaulCraigRoberts@yahoo.com

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... -economia/




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Re: Crise Econômica Mundial

#1123 Mensagem por Vitor » Dom Out 11, 2009 12:49 pm

Gostei como o artigo começa citando uma das previsões mais erradas de Marx. :lol:




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Re: Crise Econômica Mundial

#1124 Mensagem por P44 » Dom Out 11, 2009 2:22 pm

Joseph Stiglitz
"A recessão não acabou"
"A situação económica dos Estados Unidos está melhor que do que há um ano atrás, mas a recessão ainda não acabou". A análise é de Joseph Stiglitz, economista, vencedor do Prémio Nobel em 2007, e foi realizada hoje, num econtro com jornalistas no âmbito do Forum Global de Editores, em Copenhaga, evento organizado pelo Project Syndicate.

João Cândido da Silva


“A situação económica dos Estados Unidos está melhor que do que há um ano atrás, mas a recessão ainda não acabou”. A análise é de Joseph Stiglitz, economista, vencedor do Prémio Nobel em 2007, e foi realizada hoje, num econtro com jornalistas no âmbito do Forum Global de Editores, em Copenhaga, evento organizado pelo Project Syndicate.

Stiglitz afirmou que os economistas costumam dizer que a recessão corresponde a “um certo número de trimestres de evolução negativa na actividade económica” e reconheceu que, de Julho a Dezembro, a economia norte-americana apresentará um desempenho mais positivo. Mas adiantou que isto não significará que a recessão não irá prosseguir nalgumas áreas concretas e que o crescimento registado nos dois últimos trimestres de 2009 não será “sustentável”.

O desemprego vai aumentar antes de começar a baixar e enquanto a economia dos Estados Unidos não estiver a crescer 3% a 3,5% não haverá criação de postos de trabalho capazes de compensar a destruição de empregos, previu Joseph Stiglitz. Para o economista, a situação que surge nas estatísticas laborais é agravada por duas circunstâncias.

“Há pessoas que simplesmente desistiram de produrar emprego e, por isto, não são tidas como desempregadas” para efeitos oficiais. E existem muitos casos de empregos em “part-time” que não surgem nas estatísticas do desemprego, mas também não são emprego a tempo inteiro, como seria o desejo de quem não teve outra solução senão a de optar por esta via., acresccentou o economista.

A queda do mercado imobiliário e a descida nas vendas a retalho são dois outros sinais de que a recessão não terminou, de acordo com a pewrspecftiva transmitida por Stiglitz. “Existe uma situação de excesso de oferta” e esta não será corrigida enquanto o mercado de trabalho não recuperar uma dinâmica mais intensa, referiu o professor da Universidade de Columkbia, em Nova Iorque.

Joseph Stiglitz revelou-se crítico da abordagem à crise assumida pelo Grupo dos 20 principais países desenvolvidos e emergentes. “Foi dito que os Estados Unidos precisam de poupar mais e que a China precisa de gastar mais. Isto é um erro, é estar a dizer aos chineses que imitar os norte-americanos, isto é, fazerem aquilo que os levou à situação em que estão”, disse o Prémio Nobel.

Do seu ponto de vista, do que a economia mundial precisa é de “investimento em educação, infra-estruturas e tecnologia”, afirmou Stiglitz, nomeadamente no âmbito do combate às alterações climáticas e ao aquecimento global, que o economista associa, também, à luta contra a pobreza.

O Forum Global de Editores, que terminou hoje, teve como tema “De Quioto a Copenhaga” e visou fazer um ponto de situação sobre o estado da economia e do combate às alterações climáticas antes da cimeira que se realizará em Dezembro próximo na capital dinamarquesa. O encontro pretende estabelecer novos objectivos e limites para as emissões de dióxido de carbono a nível global mas as negociações mais recentes, realizadas em Bangkok, revelaram um impasse entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os debates vão prosseguir em Novembro, em Barcelona.

* em Copenhaga




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Re: Crise Econômica Mundial

#1125 Mensagem por Enlil » Seg Out 12, 2009 12:27 am

Vitor escreveu:Gostei como o artigo começa citando uma das previsões mais erradas de Marx. :lol:
Dois autores q tu nunca leu, muito menos prestou atenção o sentido q subjaz o artigo... O autor não é marxista, e não precisa ser para se dar conta do óbvio... Assim como o autor, discordo pontualmente do marxismo como filosofia política mas tem q se admitir q ninguém como ele e Lênin souberam sintetizar com tanta coesão as contradições do capitalismo de sua época e muitos axiomas ainda são válidos pelo simples fato q o cerne do sistema capitalista é imutável... Uma coisa não excluí a outra...




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