#1215
Mensagem
por EDSON » Sex Out 02, 2009 1:14 pm
01/10/2009
"Nós apreciamos as novas sanções", diz negociador chefe nuclear do Irã
Der Spiegel
Dieter Bednarz e Erich Follath
Em Teerã (Irã)
Saeed Jalili, o secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã e negociador chefe nuclear do país, conversa com a "Spiegel" sobre o programa nuclear iraniano, as perspectivas para as negociações desta semana em Genebra e por que o Irã não teme novas sanções.
* BEHROUZ MEHRI/AFP - 17.dez.2007
Saeed Jalili é o secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã
Spiegel: Senhor Jalili, o Ocidente está esperando uma concessão de Teerã na questão nuclear. Que ofertas de concessão o senhor levará às negociações com os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha, que terão início na Suíça em 1º de outubro?
Saeed Jalili: Em nome de Deus, o Misericordioso, me permita esclarecer isso - o problema das armas nucleares é uma preocupação compartilhada por toda a humanidade. Nós elaboramos um documento de posicionamento para as negociações, que também trata da questão nuclear.
Spiegel: Mas apenas de passagem, em apenas parte de uma sentença dentre um total de cinco páginas.
Jalili: Mas, para obtenção de verdadeiro progresso, entretanto, nós precisamos concordar nos princípios de Justiça, democracia e multilateralismo. Eu acredito que temos mais em comum em assuntos internacionais do que algumas pessoas imaginam, por exemplo, na luta contra o terrorismo, no Afeganistão. Certamente faria mais sentido se a Otan tivesse enviado tratores para lá em vez de tanques. Os terroristas não podem ser derrotados apenas por meio de um uso cada vez maior de força. A melhor chance de vencer a guerra contra o terror é por meio de ajuda para reconstrução civil.
Spiegel: O Irã e o Ocidente podem concordar no fato de que o Taleban é um inimigo comum. Mas enquanto vocês veem o grupo palestino Hamas como um movimento legítimo de libertação, os Estados Unidos e a Europa o consideram uma organização terrorista.
Jalili: Está vendo, é precisamente por isso que precisamos nos sentar e acertar definições comuns.
Spiegel: Como isso funcionaria?
Jalili: Em alguns pontos de atrito, nós conseguiremos chegar a um acordo ou aproximarmos nossas posições. Em outros, provavelmente não será possível.
Spiegel: Em seu documento de posicionamento vocês pedem uma "reorganização da Organização das Nações Unidas" e uma "gestão coletiva para os assuntos ambientais". Com o devido respeito, a negociação não trata desses assuntos - trata da bomba nuclear potencial do Irã.
Jalili: Você está estabelecendo as prioridades erradas. Não somos nós que somos o perigo, mas sim as outras potências que já possuem armas nucleares há muito tempo. Nós queremos que todas as potências nucleares se desarmem, como pede o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Nós estamos pedindo por um "Eixo de Negociações"...
Spiegel: ...uma clara alusão ao "Eixo do Mal" do ex-presidente americano, George W. Bush, que considerava o Irã como sendo parte dele, juntamente com a Coreia do Norte e o Iraque de Saddam Hussein. Mas, me perdoe por dizer, você está falando a respeito de tudo exceto o programa nuclear do Irã.
Jalili: Mas de onde vêm os temores em relação ao programa? Quem cria esse clima? A imprensa nos Estados Unidos e na Europa é irresponsável ao explorar os temores das pessoas. Pegue a suposta ameaça dos mísseis iranianos, por exemplo. Por anos, Washington queria montar um escudo de mísseis no Leste Europeu. Agora, o presidente Barack Obama determinou que a ameaça não existe e abandonou o plano do escudo antimísseis...
Spiegel: ...mas em seu lugar anunciou um sistema de defesa antimísseis móvel como alternativa.
Jalili: De qualquer forma, os europeus viram um problema desaparecer no ar da noite para o dia.
Spiegel: O presidente Obama demonstrou disposição em fazer concessões, com seu discurso para marcar o Ano Novo iraniano e ao oferecer uma negociação sem pré-condições. Vocês não veem uma diferença entre Bush e Obama?
Jalili: Nós vemos uma mudança, mas nenhuma melhoria na posição americana.
Spiegel: O lado iraniano, por sua vez, não fez nem mesmo gestos simbólicos. O fato é que o Conselho de Segurança da ONU impôs múltiplas sanções contra Teerã. A Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), em Viena, se queixou de falta de cooperação por parte de vocês e continua tendo dúvidas consideráveis sobre se seu programa nuclear é realmente apenas para fins civis. Vocês pretendem ignorar tudo isso?
Jalili: Mahamed ElBaradei, o diretor-geral de saída da Aiea, expressou em seu mais recente relatório, pela enésima vez, que não há prova da existência de um programa nuclear militar iraniano. Como signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, nós temos não apenas responsabilidades, mas também direitos. E isso inclui enriquecimento de urânio.
Spiegel: Grande parte da comunidade internacional acredita que o Irã perdeu esse direito ao manter sigilo sobre a existência do complexo nuclear de Natanz e ao comprar centrífugas no mercado negro.
Jalili: O que você quer dizer com comunidade internacional? Os 120 países do Movimento Não-Alinhado, que defendem os direitos do Irã, não pertencem à comunidade internacional?
Spiegel: Mas vocês não podem alegar que a Aiea está satisfeita com a cooperação do Irã. ElBaradei acabou de lembrar de novo que Teerã precisa intensificar seus esforços no sentido de uma maior transparência. Estas são suas responsabilidades.
Jalili: O que é correto é que possuímos o direito de enriquecer urânio, e nunca abriremos mão desse direito. O uso da energia nuclear deve ser garantido a todos. Ninguém deve possuir armas nucleares. O mundo precisa se mover na direção desse tipo de desarmamento, inclusive Washington. A Europa não deve ser um depósito de ogivas nucleares. Eu não entendo por que a Europa está preocupada com algumas poucas centrífugas no Irã e não a respeito das armas nucleares armazenadas na Europa.
"Nós não precisamos de uma bomba"
Spiegel: Agora o Irã conta com mais de 1.400 quilos de urânio pouco enriquecido e mais de 8.000 centrífugas. Os especialistas dizem que vocês já atingiram a "capacidade de avanço", em outras palavras, a capacidade de começar a produzir uma bomba.
Jalili: Nós não precisamos de uma bomba. Não seria legítimo e nem nos proporcionaria segurança adicional. Me permita dizer de novo: nós somos a favor do desarmamento global. Mas continuaremos a enriquecer urânio.
Spiegel: Uma suspensão do enriquecimento de urânio como um gesto de boa-vontade também está fora de questão?
Jalili: Você está familiarizado com a história e sabe as experiências ruins que tivemos. Nós já suspendemos o enriquecimento de urânio por dois anos e meio. Depois, a exigência passou a ser que a suspendêssemos para sempre.
Spiegel: Se Teerã não mudar sua posição durante as negociações na Suíça, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, ameaçou impor sanções muito dolorosas.
Jalili: O que há de novo nisso? E você realmente acredita que existam sanções que possam nos atingir assim duramente? Nós vivemos com sanções há 30 anos e elas não são capazes de deixar uma nação como o Irã de joelhos. Elas não nos assustam. Pelo contrário - nós apreciamos as novas sanções.
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Spiegel: O que há de tão grande em experiências dolorosas?
Jalili: Não estou dizendo isso nem um pouco ironicamente. Nós declaramos este ano como sendo um ano de economia de energia. Nós queremos usar nossos recursos de forma cuidadosa. Qualquer coisa que reduza o consumo e promova o desenvolvimento de nossa autossuficiência é útil para nós. E, além disso, sanções não têm mais lugar neste mundo. Elas mais prejudicam aqueles que as impõem contra nós. O Oeste sempre nos aborda com uma cenoura e um porrete, mas esse é o método errado e um que é degradante para nós iranianos. Nós contamos com o forte apoio de nosso povo, como foi demonstrado na última eleição.
Spiegel: Como é? E quanto às milhões de pessoas que tomaram as ruas, pessoas que gritavam e ainda gritam "Onde está meu voto?"
Jalili: Diferenças de opinião fazem parte da democracia. Somos uma sociedade livre. Nós experimentamos uma campanha entre políticos diferentes, na qual 25 milhões votaram pela reeleição do presidente e 14 milhões votaram em seu oponente.
Spiegel: Mas é um fato que suas prisões estão cheias de simpatizantes da oposição, que estão sendo submetidos a julgamentos de exibição.
Jalili: Isso não é verdade. Quarenta milhões votaram, mas apenas centenas foram presos.
Spiegel: Isso significa que todas as pessoas no Ocidente que veem o Irã como um Estado opressor e temem uma bomba nuclear iraniana são apenas paranóicas?
Jalili: Eu não disse isso. Também há muitos observadores no Ocidente que têm uma visão diferente do Irã e que chegaram a outras conclusões que são mais justas e mais equilibradas.
Spiegel: Importantes políticos israelenses falam sobre a possibilidade de um ataque militar contra suas instalações nucleares. Como vocês reagem a isso?
Jalili: Israel repetidamente faz ameaças deste tipo. Por que ninguém no Ocidente condena isso?
Spiegel: Israel não tem motivo para ficar preocupado quando se trata do Irã? O presidente Mahmoud Ahmadinejad quer Israel eliminado do mapa e nega o Holocausto.
Jalili: Israel não possui armas nucleares? O mundo não deveria ter medo disso? Todas as potências nucleares devem se desarmar. Isso precisa ser monitorado pela Aiea, cujas decisões todos devem aceitar.
Spiegel: Vocês desejam conceder poder adicional aos inspetores de armas da ONU. Mas se recusam a atender as exigências da Aiea e ratificar o protocolo adicional que permitiria inspeções mais amplas, não anunciadas.
Jalili: Há muitos outros países que também não assinaram o protocolo adicional. É uma questão voluntária. Todavia, no passado nós, além da suspensão do enriquecimento de urânio, aceitamos as inspeções mais rígidas do protocolo adicional da Aiea - sem que isso fosse reconhecido.
Spiegel: O senhor poderia imaginar uma ratificação do protocolo adicional, caso as negociações na Suíça transcorram bem?
Jalili: Nós já promovemos medidas para desenvolvimento da confiança e não obtivemos nenhum resultado. Agora é a vez do Ocidente adotar essas medidas.
Spiegel: Vocês não estão lendo a situação corretamente. Nas negociações de 1º de outubro, as pessoas esperam concessões da parte de vocês, ou pelo menos um gesto. Vocês não estão deixando passar uma grande oportunidade?
Jalili: Nós iremos às negociações com otimismo, mas também somos realistas. Três condições precisam ser cumpridas para que um verdadeiro progresso ocorra. Primeiro, os erros do passado não podem ser repetidos. Segundo, ambos os lados precisam negociar em boa fé e precisam parar de promover um diálogo à sombra de ameaças. E terceiro, nós esperamos uma cooperação de longo prazo, voltada ao futuro. A cultura do diálogo é uma pré-condição para o sucesso. Ameaças nos distanciam da cultura do diálogo.
Spiegel: Quando o senhor fala de erros do passado, o senhor fala apenas dos erros europeus e americanos, ou de seus também?
Jalili: Nós podemos justificar logicamente nosso comportamento em todos os casos. Mesmo onde vocês gostariam de fazer acusações.
Spiegel: Esta é a forma iraniana de admitir erros?
Jalili: Você insiste em seu ponto de vista, eu defendo o meu.
Spiegel: Senhor Jalili, obrigado por esta entrevista.