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Mensagem
por Al Zarqawi » Dom Set 27, 2009 11:50 pm
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Política de defesa - A viragem
António José Telo
Portugal entra relutantemente para a NATO, numa altura em que ainda pensa que a Europa se tem de unir estreitamente com a África e regressar aos valores tradicionais, como forma de recuperar parte do seu peso anterior. Lisboa compreende já que a Inglaterra perdeu grande parte do seu poder, o que obriga a tentar algum tipo de aproximação com os EUA, mas acha que o secular aliado é ainda a principal referência no que diz respeito à manutenção do império. Em termos da Europa, Portugal aproximou-se da Espanha no pós-guerra e tem uma série de acordos com o país vizinho que consideram várias hipóteses, incluindo a defesa mútua dos regimes em caso de golpe de Estado num dos países.
A entrada na NATO é encarada com fortes reservas pelo país, pois teme-se a maior dependência em relação aos EUA que ela representa e as consequências em relação a África. É, no entanto, entendida como mal necessário, pois assegura a aproximação possível com os EUA numa altura em que a Inglaterra já não garante as funções tradicionais da aliança. É ainda a única forma de conseguir a modernização das Forças Armadas.
Portugal pressiona em vão para que a NATO prepare planos de defesa da Península que incluam a Espanha e para que alargue a sua esfera de acção a África. Os EUA não permitem a inclusão dos impérios europeus, abrindo só uma excepção relativamente a alguns departamentos da Argélia francesa. Washington deixa claro que a NATO se baseia numa espécie de acordo de cavalheiros em relação a África, nunca escrito mas real: os EUA não se envolvem na defesa activa dos impérios europeus, mas não fazem igualmente oposição agressiva à sua manutenção e asseguram mesmo apoio indirecto, pelo menos até 1959.
Os EUA aproveitam a NATO para levar o nosso país a assinar o acordo de defesa de 1951 e remodelar as Forças Armadas. A ajuda militar americana chega desde 1951 e, com ela, vêm as principais tecnologias importantes do pós-guerra. Os seus efeitos nas Forças Armadas são imensos e a todos os níveis. É preciso recordar que as tecnologias não existem em abstracto: ligadas a elas estão formas organizativas que não podem ser afastadas, estão níveis de formação e de educação específicos, assim como novas formas de motivar, enquadrar e comandar homens, ou seja, estão mentalidades.
As mudanças nas Forças Armadas e na política de defesa com a entrada na NATO são multifacetadas.
Em primeiro lugar, muda a própria articulação com o poder político, reduzindo-se o grau de autonomia dos militares e das duas armas tradicionais (Exército e Marinha), com a criação de organismos de coordenação da política de defesa, do estado-maior conjunto, do ministro da Defesa e do subsecretário de Estado da Aeronáutica e da Força Aérea.
Em segundo lugar, muda por completo o conceito de política militar do país. Antes, pensava-se em Forças Armadas que tinham a tónica num exército de massas (15 divisões), virado para a actuação na Península. Depois da NATO, passa a vigorar o conceito de uma força armada moderna e menor, onde a tónica é colocada na componente aeronaval. A participação de forças nacionais no teatro de operações europeu passa para segundo plano. As forças do ultramar são concentradas nas capitais de província, de modo a poder reforçar o continente em caso de guerra, ou seja, o contrário do esquema usual.
Em terceiro lugar, ascende rapidamente aos postos mais elevados uma geração de oficiais que passa, em larga medida, por cursos e estágios no estrangeiro. São oficiais com conhecimento técnico muito superior aos do passado, com clara admiração pela eficácia dos métodos de comando e de organização dos americanos e, o que é muito mais perigoso para o Estado Novo, com a noção de que as técnicas e métodos que admiram estão ligados a uma forma de motivação e educação dos homens associada ao funcionamento normal das democracias ocidentais. Desta geração NATO, que sobe muito rapidamente, saem os grandes críticos do imobilismo político do Estado Novo, em ligação directa com o presidente Craveiro Lopes. É uma geração nova que pressiona para aplicar reformas graduais no sentido de aproximar o pais do modelo político e económico das democracias ocidentais. Em relação a África, a geração NATO defende, numa primeira fase, um esquema de evolução gradual e controlada, que vá no sentido de maior autonomia e desenvolvimento do ultramar, sem a perda completa dos laços políticos.
É esta geração NATO que está por detrás dos abalos que acompanham a fase inicial do mandato de Craveiro Lopes, a campanha presidencial de 1958 e, finalmente, do golpe de Botelho Moniz, em 1961, onde é já a alta hierarquia que intervém.
A NATO funciona assim como verdadeiro aprendiz de feiticeiro em termos de forças armadas. Introduz em Portugal as tecnologias do pós-guerra e, com isso, cria nova organização e nova mentalidade. Sem essas mudanças, nunca as forças armadas teriam a eficácia necessária para manter a longa guerra de 13 anos em três frentes. Mas, ao mesmo tempo, cria uma geração de oficiais que encara criticamente, e com fortes reservas, o imobilismo do regime, nomeadamente em relação a África.
É essa geração que intervém em força em 1961, não tanto para impedir a guerra, mas para alterar os pressupostos políticos básicos que a orientaram quando ela começa. Recordamos que os chefes do golpe de Botelho Moniz são os oficiais que mais amplos contactos estabeleceram com a NATO nos anos anteriores.
Quando o golpe falha - não nos interessam as razões -, será ainda a geração NATO que faz as guerras em África, marcadas desde o primeiro momento pelos métodos, organização e técnicas que foram introduzidas nas Forças Armadas Portuguesas desde 1951.
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Comentário
Coloquei este texto,uma vez que Portugal sai do pós-guerra com um cenário geo-político estratégico totalmente novo,não só para Portugal mas para todo o Continente europeu.A hegemonia mundial muda de Continente,a Inglaterra perde a influência e assume-se uma nova potência mundial os EUA.
Portugal que outrora e como aliado da Inglaterra secularmente,tem de estreitar relações com essa nova potência e com outros conceitos e mentalidades.
A Europa,toda desarrumada políticamente e a peninsula ibérica com ditaduras que sairam fortalecidas do pós-guerra (Salazar e Franco).Por exemplo,em antes da II Guerra Mundial,não se davam nada bem,ambos pessoalmente nunca gostaram um do outro,pós-guerra modifica-se essa opinião,é curioso isto.
A Alemanha,perde suas colónias em África e alguns países pretendem reforçar sua presença como a Bélgica e Itália (Norte de África).
Neste contexto de descolonização por parte das potências europeias (Inglaterra e França),aparecem os legitimos nacionalismos africanos e para enumerar aqueles que mais interferiram em Portugal,podemos citar o Amilcar Cabral (Guiné e Cabo Verde)e Agostinho Neto (Angola).Podemos também citar um personagem neste puzzle o Leopold Senghor (Senegal) com quem o Estado Salazarista teve inúmeros e inpublicáveis episódios.Vale lembrar que em 1961,Portugal tinha perdido Goa,Damão e Diu (na Índia),também por esse nacionalismo desta vez de Nehru.
Quanto a Salazar era um prodigioso académico,saído de um mundo rural e interiorâneo tinha um conceito de Portugal e do mundo algo peculiares.
Para ele,Portugal deveria ser um país tipicamente rural e que se projectasse no mundo através das colónias Ultramarinas.E,é nesse contexto entre outras que se deve abordar tal tema.
Isto é muito básico o tema é diverso e por demais complexo.O mundo pós-guerra é completamente distinto do anterior,os cenários imprevisiveis com novos protagonistas e interesses comuns entre todos.
Mas essas disputas territoriais não se passam só em África,Portugal mesmo sofreu o interesse dos EUA pelos Açores (aliás gostaria que alguém desenvolvesse o tema,por ser demais interessante).
Do ponto de vista interno dá-se a forte migração portuguesa para principalmente o Brasil (inicio dos anos 50,por motivos económicos)e a partir dos anos 60 para a França e Alemanha,nesta década e inicio da 70,muita emigrava em virtude da Guerra Colonial,já não só por motivos económicos.E,convém dizer que essa forte emigração até hoje é visivel por todo o país principalmente na desertificação do interior.
É nessa conflitualidade de interesses que as situações se passam.
Enfim há tanto que dizer,isto abrange os anos de 1945 a 1974(Revolução dos Cravos).
Isto apenas é uma opinião e vale pelo que vale.
Abs,
Al Zarqawi - O Dragão!
"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.