Vinicius Pimenta escreveu:
Outra pergunta: quais seriam os indícios que indicariam que a FAB não tem aceitado, digamos, as novas condições?
Abraço!
Vinícius, os indícios são muitos, digamos que um reforça o outro. O primeiro que me incomodou bastante foi justamente o anúncio da vitória do Rafale. Houve grande debate na mídia, inclusive aqui no fórum, sobre as palavras do presidente Lula, se estaria confirmavam a vitória do Rafale ou apenas sugeria que este teria maiores chances. Bem, algo maior foi pouco debatido: o motivo do governo ter voltado atrás. Divulgou-se este fato e apenas explorou-se as contradições e/ou acusações de mais uma gafe de nosso presidente. O importante é saber porque o governo recuou.
A resposta é óbvia: recuou por causa da FAB, isto está na cara, acho que ninguém tem dúvida. Só que as explicações complementares não convencem. Falou-se sobre problemas legais, que não houve tempo para comunicar aos derrotados, que ainda não havia sido terminado as análises técnicas, etc. Tudo bem, isto tem algum sentido, mas não satisfaz aos mais críticos. Não satisfaz porque os prazos para o BAFO já haviam se encerrado, portanto as análises técnicas já haviam terminado. Não satisfaz porque problemas legais poderiam ter sido ajustados naquele mesmo instante e não falta este tipo de apoio técnico dentro do governo. Não satisfaz porque o comunicado aos derrotados pode ser feito depois do anúncio do vencedor. E por aí vai.
A verdade é que na equipe que discutia com os franceses os acertos finais, tinha a FAB o seu representante maior, o comandante Saito. Claramente ele aceitou os argumentos do NJ e Lula, mas teve que tomar uma decisão sem consultar sua base, esta foi "informada" pela imprensa no dia seguinte, ficaram putos, não resta dúvida. Não resta dúvida que foi uma enxurrada de pressão sobre o Saito e talvez sobre o próprio NJ. Acredito que foi neste momento que veio a especulação sobre a saída do comandante e que não saiu justamente porque o Lula não quis, seria péssimo para ambos.
Agora, que pressão foi esta? Esta pressão só pode ser uma: queremos um caça e nos vimos obrigados a ficar com outro e mais, sendo informados pela imprensa deste final do jogo. Configurou-se uma crise interna, mas bem conduzida pelo governo, visto que a própria imprensa não conseguiu assimilar este problema e, portanto, não o explorou bem.
Passado este tempo, anunciou-se que todos os concorrentes teriam até dia 21 (hoje) para reajustarem suas propostas. Se é verdade ou não, informaram que a Dassault entregou sua proposta. Porém se informa no mesmo dia que o prazo foi dilatado para 2 de outubro.
Por que adiar tudo isso? Só se faz isso quando se tenta favorecer alguém, isto está na cara. Quem eu não sei, mas que é para se ganhar tempo para resolver pendências, não tenho dúvida. E aí eu pergunto: qual o interesse do governo em adiar estas coisas? Nenhuma, a menos que seja para a própria Dassault colocar no papel o que o presidente francês disse ser possível. Se a dilatação do prazo não foi feita pelo governo para favorecer o Rafale, então só resta a FAB e neste caso não é pelo caça francês.
A FAB está correta em se preocupar com a manutenção/operação de seu novo caça, não basta ter dinheiro para comprar, é preciso fluxo contínuo de dinheiro para o "resto". Porém o próprio NJ disse no Senado que eles, os senadores, deveriam analisar e aprovar um projeto do governo para impedir novos contingenciamentos de verbas, para que isto não dependa mais do humor dos próprios políticos e governantes (palavras dele, vi ao vivo; parece até as minhas no fórum.
). Então ou a FAB não acredita nisso (projetos do governo) ou ela está tentando impor suas vontades para demonstrar o seu poder (ou seja, ainda não perdido).
Veja, qualquer caça que não seja o Rafale não se encaixa naquela ideia do meu post lá de trás. De duas uma, ou estou errado (provável) ou estou certo (e aí tenta-se desmoronar todo um projeto de Estado). Mas veja bem, não estou dizendo que a FAB estaria por trás de desmoronar o projeto de Estado, não mesmo, jamais, estou dizendo que tudo isso fere aos interesses daqueles que seriam os atingidos com tudo isso, muito particularmente, os próprios americanos, mas não apenas este país (sobre isso pouco se fala, mas tem europeus pé da vida com tudo isso e os motivos são bem óbvios). Então é razoável seduzir a FAB com propostas interessantes, pra ela, mas não para o governo.
Uma coisa é certa, se a FAB quisesse o Rafale, este já teria sido confirmado por ela no dia 7 de setembro último, mas não foi porque ela não quis. A FAB aceita o Rafale, todos sabem disso, mas não é o que ela quer. Porque eu não sei, espero que não seja por problemas realmente técnicos no caça francês.
A MB entendeu perfeitamente todo este jogo, mas não foi submissa a nada, fez suas escolhas de maneira planejada, mas sem entrar em choque com as novas medidas do governo. A FAB não entendeu ou não que entender? Será que a FAB não quer que a MB opere o mesmo caça que ela? Veja, isto não é absurdo, é mais real do que se imagina, mas sozinho tem pouco peso, então tem que existir algo a mais. A FAB não gostou da perda de poder e passa a ideia de gerar uma crise para constranger este governo justamente em vésperas de eleição presidencial? Com toda certeza é o melhor momento para usar deste expediente, não interessa ao governo impor certas coisas neste momento, nem mesmo ter que indicar outro comandante logo agora.
Os americanos já praticamente aceitam que dificilmente emplacam o F-18 por estas bandas, logo precisam focar em algo específico, o Gripen NG, mais para impedir a vitória do Rafale (os tais símbolos do outro post) do que por outra coisa. O Gripen NG continua sendo, de forma indireta, a presença marcante dos americanos em nossas FFAA. Assim, parte dos interesses do Brasil se perderão.
O problema do Gripen NG é que está em desenvolvimento, de duas, uma: ou teremos que bancar o desenvolvimento deste caça ou a SAAB (Suécia) terá que bancá-lo. Se acontecer a primeira coisa (nós bancarmos), então o valor do mesmo será muito maior do que se anuncia. Se a SAAB tiver que bancar, aí piora e muito, visto que, não havendo mais aportes de recursos ou mesmo se reduzindo, então o caça não fica pronto, ao menos para a data anunciada. Que garantias teremos neste caso? Nenhuma!
Em suma, tenho a forte sensação que a FAB deseja o NG justamente porque ele está em desenvolvimento, dá espaços para muita coisa. Mas insistir neste caça é ir contra a direção dada pelo Governo, portanto mais um indicativo que a FAB não está aceitando as novas condições desejadas/impostas pelo Governo.
Abração,
Orestes