#1724
Mensagem
por Clermont » Ter Set 22, 2009 8:22 am
GUERRAS DO MAR NEGRO.
Por Patrick J. Buchanan – 22 de setembro de 2009.
Em agosto, a marinha georgiana apresou um petroleiro turco, transportando combustível para a Abkhazia, antiga província da Geórgia cuja declaração de independência, um ano atrás, é reconhecida pela Rússia, mas não pelo Ocidente.
O capitão turco foi sentenciado a 24 anos de prisão. Quando Ancara protestou, ele foi libertado. A Abkhazia, agora, ameaça afundar qualquer navio georgiano interferindo em suas “águas territoriais”, mas sem ter marinha nenhuma.
A Rússia, entretanto, tem a Frota do Mar Negro e um tratado de amizade com a Abkhazia, e já notificou Tbilisi de que a guarda costeira russa assegurará, pacificamente, o comércio marítimo da Abkhazia.
Sem recuar, o presidente georgiano Mikheil Saakashvili – que desfechou e perdeu uma guerra pela Ossétia do Sul, em 48 horas, em agosto de 2008 – declarou que o bloqueio da Abkhazia, que ele proclama como território nacional georgiano, irá continuar em força. E ele acabou de nomear como ministro da defesa, um ex-chefe de penitenciária, de 29 anos de idade, com um registro questionável de direitos humanos, que deseja reforçar os laços com a OTAN.
Estamos vendo aqui, os preparativos para um choque naval que a Geórgia, dadas as forças navais, aéreas e terrestres russas, no Mar Negro oriental, irá perder.
Qual é a do Saakashvili? Ele parece ter a intenção de provocar uma nova crise para obrigar a OTAN e os Estados Unidos a ficarem do seu lado – contra a Rússia. Objetivo final: trazer de volta a questão das províncias perdidas da Abkhazia e da Ossétia do Sul para a atenção do mundo.
Embora uma tal crise possa ser do interesse de Saakashvili e de seus russofóbicos seguidores neoconservadores americanos, é a coisa mais distante dos interesses nacionais dos Estados Unidos. O presidente Obama devia mandar Joe Biden, colega de Saakashvili, telefonar para este e informá-lo assim:
“Mikheil, se você se meter com o comércio marítimo da Abkhazia e provocar a Rússia a uma guerra no Mar Negro, vai ter de travá-la sozinho. A 6ª Esquadra não vai navegar para o Mar Negro e tirar suas castanhas do fogo, velhinho. Vai ser a sua guerra, não a nossa.”
Nem é a crise abkhazia, a única fervendo no Mar Negro.
Mês passado, tropas navais russas bloquearam bailios ucranianos de tomarem equipamento de navegação de um farol, fora de Sebastopol, a base crimeana da Frota do Mar Negro da Rússia, há dois séculos.
O aluguel de Sebastopol, entretando, acaba em 2017. E Kiev já informou a Moscou que não haverá renovação. A frota da Rússia será despejada de Sebastopol e a Criméia, que pertencia à Rússia, antes de Nikita Khruschev ceder a península inteira à Ucrânia, em 1954, num “gesto fraternal”, enquanto a Ucrânia ainda era parte da União Soviética.
A Rússia também sustenta uma profunda animosidade para com o presidente ucraniano Victor Yushchenko, por tentar levar seu país para a OTAN. Yushchenko, cujo índice de aprovação está na casa do um dígito, tem sido visto, desde que a Revolução Laranja, apoiada pelos Estados Unidos, o levou ao poder, como um homem da América em Kiev.
E mais, como os laços religiosos, culturais, étnicos e históricos, entre Kiev e Moscou, recuam séculos, os russos permanecem irreconciliados com a perda daquilo que eles consideram como o berço de seu país.
Qual o interesse vital da América em todas estas querelas? Zero.
A idéia, mencionada em círculos falcões, de mandar a 6ª Esquadra assumir a base naval vaga, em Sebastopol, seria uma atitude tão insensata e provocativa, como navios de guerra chineses se mudarem para Guantánamo, caso Havana expulse os Estados Unidos.
Mas isto é improvável de acontecer. Pois Obama parece estar descartando a política de George W. Bush de expandir a OTAN para as antigas repúblicas da União Soviética.
A Lituânia, Letônia e Estônia já são membros, e Bush e John McCain estavam ansiosos para trazer a Ucrânia e a Geórgia. Mas, como a inação de Bush durante a guerra Rússia-Geórgia revelou, a América não irá enfrentar a Rússia para saber quem controla a Abkhazia, Ossétia do Norte e do Sul, Dagestão, Ingushétia, Chechênia ou Geórgia. Todas além de qualquer interesse vital ou legítima esfera de influência dos Estados Unidos.
Com seu cancelamento do escudo de mísseis na Polônia e na República Tcheca – um escudo desenhado para a defesa contra um inexistente ICBM iraniano – Obama enviou duas mensagens para Moscou.
Primeiro, Obama acredita que a entente com a Rússia é uma garantia mais certa da paz e segurança da Europa Oriental do que qualquer sistema de armas americano. Segundo, Obama coloca os laços Washington-Moscou acima de quaisquer laços militares americanos com os aliados da OTAN na Europa Oriental.
O que significa que a OTAN está se aproximando de uma crise existencial.
Quase todas as tropas da OTAN, exceto as americanas, já saíram do Iraque, e o empenho mínimo da aliança no Afeganistão, está terminando sem nenhuma vitória à vista. A expansão da OTAN para o leste acabou. A Ucrânia e a Geórgia não estão vindo. E os Estados Unidos não irão colocar soldados, navios de guerra ou mísseis mais perto do que já estão agora das fronteiras da Rússia.
“A OTAN precisa sair de área, ou sair do negócio,” disse o senador Richard Lugar no fim da Guerra Fria. A OTAN saiu de área, e está voltando com o rabo entre as pernas. A alternativa está aparecendo.