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Mensagem
por Reginaldo Bacchi » Ter Ago 18, 2009 10:56 am
[quote="FCarvalho"]
Desculpe a demora Bacchi, mais o que quis dizer é relativo apenas ao tamanho fisico de ambos os carros. O Osório, pelas caracteristicas físicas (peso, largura, altura, comprimento, massa, ...) que possuia era um "monstro de aço" para os padrões aos quais a cavalaria do EB estava acostumada, e também pela questão da infraestrutura de transporte/logistica nacional. Ao contrário dele, o Tamayo fora concebido a partir da experiência do M-41 e com componentes e configuração físicas coerentes com a realidade da industria nacional e com os recursos materiais do EB. Era um CC mais adaptado ao TO nacional tanto em termos fisicos como operacionais. Não quis em momento algum desqualificar o Osório, pelo contrário, apenas apontar que umas das dificuldades concretas de sua não adoção, também, pelo EB, foi o fato de ele estar muito além das nossas competências (EB) para a época. Assim, mesmo que o tivessemos adotado, dificilmente teriamos condições no curto/médio prazo em termos de infra-estrutura para sustentá-lo. Ao contrário do Tamoyo.
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Uma dos melhores frutos desta discussão sobre o Osório e o Tamoyo foi eu descobrir que eu (e acredito que a maioria dos colisteiros) conhecia muito pouco - talvez quase nada - sobre o Tamoyo.
Sobre o Osório eu escrevi em 2000 o primeiro artigo sobre o mesmo: “Osório – A chance perdida” na Tecnologia & Defesa Ano 17 nº 84, no qual eu contava a história desde a idéia de projetá-lo até o fim do programa
[Obs.: Este artigo foi plagiadíssimo por inúmeras pessoas, que não deram o devido reconhecimento à minha autoria.]
Tendo em vista isto, resolvi entrar em contato com Flavio Bernardini que foi a pessoa na Bernardini que dirigiu todos os projetos de veículos blindados.
Eu conheci Flavio em meados dos anos 80, quando estivemos na França a convite da antiga Thomson-CSF (hoje Thales) para acompanhar os testes de uma torre anti aérea de 30 mm.
Mantivemos contato desde então.
Em função das discussões sobre Osório versus Tamoyo telefonei para o mesmo pedindo que me contasse a história do Tamoyo.
Em função do que ele falou, escrevi um resumo e enviei ao mesmo pedindo que revisasse e ampliasse.
O mesmo o fez e para conhecimento, coloco a seguir. Espero que seja do agrado e interesse de todos.
Bacchi
TAMOYO
Por: Flavio M. Bernardini
Após os trabalhos realizados com as várias versões do M3A1, X1 A2, e o desenvolvimento do M41B, a Bernardini resolveu desenvolver um carro de combate completo, para o Exército Brasileiro e para futuras exportações.
Foram feitos entendimentos com o CTEx sob direção do então Gen Argus Moreira, que aprovou a idéia e procurou buscar fundos para o projeto.
O Gen. Argus inicialmente pediu um carro com motor dianteiro, cujo chassi seria de uso geral a semelhança do TAM,
Esta idéia esta foi discutida pela área técnica da Bernardini, apresentado argumentos de balanceamento de pesos e distribuição de blindagem principalmente nas áreas frontais de um veículo de combate de qualquer categoria. Os momentos e produtos de inércia com as cargas melhor distribuídas possibilitam melhor desempenho em QT. Os argumentos não foram suficientes e um contrato para criação e desenvolvimento de 7 chassis foi celebrado entre a empresa e o CTEx.
As pesquisas de componente principais e arranjo geral se iniciaram e após algum tempo houve cortes de valores contratuais, bem como a mudança para a concepção de motor e transmissão na parte traseira do veiculo de combate, surgindo uma nova concepção de veiculo com motor frontal, mais leve, a ser desenvolvida pela Motopeças que realizava trabalhos nos M-113.
A primeira ação da Bernardini foi a de escolher a transmissão. Por indicação do EB e seus técnicos eles colocaram como opção a transmissão Allison CD 500-3 a mesma utilizada nos M-41. Esta transmissão já estava fora de produção, uma vez que veículos leves de combate blindados nos EUA deixaram de ser fabricados. O argumento era que seria possível obter os desenhos da CD-500 e fabricar suas peças que serviriam tanto para o Tamoyo, Charrua e M-41B.
A Bernardini achou necessário a busca de uma transmissão em uso corrente e mais moderna e iniciou tratativas com a GE, em vista das transmissões utilizadas nas viaturas blindadas da família Bradley. Esta família de transmissões adotada pelos EUA na ocasião, se denominava HMTP 500 fabricada integralmente pela GE e que tinha como características ser automática, hidromecanica e com freios internos incorporados.
Dentro da idéia inicial que norteou o projeto do Tamoyo, que seria a opção por componentes fabricados no Brasil ou com possibilidade de fabricação, entendimentos com a GE foram finalizados e ficou decidido que a empresa geraria uma versão do Tamoyo com a transmissão HMTP agora -3, uma evolução da original. Acertos de compatibilização com o motor brasileiro Scania DSI-14 de 550HP forma feitos e decidiu-se enviar uma amostra para construção de um chassis com este power pack.
O canhão da versão brasileira vinha sendo trabalhado há algum tempo sobre o desenvolvimento do canhão do M-41 numa versão que permitiria atirar as munições da família F4 francesa de 90mm. Os canhões seriam fabricados no Brasil pela Bernardini que já contava com capacidade instalada para tanto, podendo fabricar tubos, culatras e mecanismos de recuo. Centros de usinagem CNC de grande porte foram instalados na companhia para tanto.
Ficou assim definido o Tamoyo I para o EB: canhão 90 F4 – motor Scania DSI 14 – transmissão Allison CD 500-3;
E o Tamoyo II também para o EB: idem ao T I, com caixa de transmissão GE HMTP 500-3.
Ao ter estes dois produtos definidos a Bernardini pensou na possibilidade de um Tamoyo para a exportação.
O motor Scania apresentava algumas restrições tanto de potencia, quanto de mercado militar e então a empresa, na busca de melhoria de desempenho e compatibilidade com mercado mundial resolveu criar a opção de um motor com ainda mais potencia e uso difundido no mundo.
Vou escolhido o motor DD 8V92TA com duas turbinas e 750 HP na ocasião, com possibilidade futura de atingir 900HP.
Na mesma ocasião a GM estava desativando sua linha de fabricação das CD-850 na Allison, mas com um mercado garantido ainda por alguns anos de pelo menos US$ 60 milhões em peças. Ofereceu a opção a Bernardini, que resolveu adotar uma transmissão CD-850-6A no sua terceira versão, chamada Tamoyo III, com foco no mercado externo.
Nesta versão o canhão 90mm F4 seria muito acanhado e então buscou um parceiro para o canhão 105mm NATO da família L7. Como resultado ficou a Royal Ordnance, com um canhão modelo L7 de menor força de recuo que tinha sido desenvolvida para repotencialização de carros de combate T-55 e que poderia tirar todas as munições 105 NATO de qualquer fabricante.
Ficou assim definida a versão do Tamoyo III: canhão L7 BFR, motor DD 8V92TA, e duas possibilidades de transmissão: Allison CD 850 ou GE HMTP 500-3.
A Bernardini contratou um general combatente, com larga experiência de emprego real de blindados, que veio ao Brasil e trabalhou como consultor no projeto do Tamoyo III por mais de 6 meses, nas concepções de blindagem, mobilidade e equipamentos. Foram adotadas concepções de blindagem espaçada e composta, proteção na torre contra explosões, compartimentação da munição, proteção contra minas e outras idéias mais.
Em relação à torre e controle de pontaria o EB definiu que queria um sistema bastante simples com possibilidade futura de expansão. Um sistema de giro e elevação totalmente elétrico, foi desenvolvido em cooperação com a empresa Themag. Este sistema era totalmente nacional exceto seus componentes eletrônicos.
Com periscópios de tiro foram escolhidas duas opções: Kolmorgen e Rank (Variante do periscópio montado nos Cascaveis do Iraque), ambos com visão noturna por intensificação de imagem e telêmetro laser.
Na torre de exportação o sistema de controle foi desenvolvido em trabalho com a MOOG/AEG, e adotado sistema de estabilização e computador de tiro.
O trabalho da Bernardini infelizmente não teve o apoio que merecia do exército. A proposta de RETEX do produto em uma campanha de teste de três meses foi sendo empurrada com a barriga até que os protótipos foram desmontados e seus componentes devolvidos aos parceiros.