pt escreveu:Relativamente à minha afirmação de que o programa nuclear não tem utilidade militar, Ela tem que ser entendida no contexto.
Acredito que há programas mais urgentes e efectivamente mais necessários que o programa nuclear. Esse programa só faria sentido se a marinha tivesse atingido um nível de operacionalidade, qualidade e capacidade que permitisse fazer uma transição.
Ou seja: Quando um país tiver garantido um força convencional respeitável, então poderá analisar as vantagens e desvantagens de desenvolver sistemas caros e de utilidade duvidosa.
Países muito mais ricos que o Brasil, com super-potências nucleares à porta como o Japão, têm marinhas que não precisam de submarinos nucleares.
Mas eles fizeram o trabalho de casa…
No fim da História voltamos sempre ao mesmo.
Há aqueles que acham que o Brasil não é respeitado internacionalmente, que são os mesmos que correm a comprar produtos importados nas lojas e que têm do seu próprio país uma imagem negativa.
Esses, vão achar que o Brasil precisa ser respeitado, inventam mapas disparatados sobre a Amazónia e acabam no fundo confundindo respeitado com temido.
Outros acham que o Brasil precisa ser respeitado e não temido. Um país responsável que quer garantir o seu lugar no mundo, deve agir de forma responsável. E para isso tem que seguir etapas, umas na sequência das outras.
É a diferença entre um Brasil Paquistão e um Brasil Japão.
Eu peço desculpa, mas sou partidário do segundo, e não abro !
Olá Pt,
Parece que as idéias estão finalmente se aclarando, e acho que dá para colocar esta discursão no seu contexto mais correto.
O que parece estar preocupando você (no bom sentido, de quem até gostaria de ver uma MB e um Brasil mais fortes) é o aparente desbalanceamento que poderia ocorrer entre os componentes do poder naval brasileiro com os grandes gastos que realmente serão necessários para a construção de nossa frota (e não apenas de uma unidade) de SNB's. Com relação a isso, existem pelo menos dois fatores a considerar:
1- O valor absoluto apresentado para o programa com a França sem dúvida não é pequeno, 17 bilhões (ou algo assim) de reais é muito dinheiro, por qualquer ângulo que se observe. Mas este valor será dispendido em grande parte no próprio Brasil (lembre-se que todos os sub's serão construídos aqui e que a empresa que construirá o estaleiro e a nova base será brasileira, por exigência contratual), e ao longo de 10 anos e não tudo no mesmo dia. Isto dá 1,7 bilhões por ano, o que para o Brasil, que tem nos últimos anos gasto somente com o pagamento de juros da dívida interna mais de R$10 bilhões POR MÊS, não é nenhum absurdo. Com a queda dos juros internos ocorrida nos últimos meses e que se espera continue nos próximos anos, e o aumento da arrecadação do governo nestes próximos dez anos (lembre-se que apesar da crise a previsão é que o Brasil já cresça 4% no próximo ano), o valor é perfeitamente absorvível, não será necessário penalizar nenhum outro programa. É claro que pode acontecer algum percalço no caminho e forçar atrasos, não seria a primeira vez, mas não dá para deixar de começar alguma coisa só por medo de que o pior aconteça.
2- Ao contrário dos países que você citou, a estratégia naval brasileira não precisa se preocupar tanto em manter o equilíbrio entre os três pilares; a projeção de poder, a garantia de uso do mar, e a negação do uso do mar ao inimigo. Isto é fácil de entender, diferentemente de EUA e China que precisam garantir acesso à fontes de recursos naturais internacionais, ou de Japão, Inglaterra e Alemanha que além disso precisam também garantir a continuidade de seu comércio internacional em qualquer circunstância, o Brasil é praticamente auto-suficiente em tudo e tem muito pouco de sua produção e consumo internos ligados a outros países. Em caso de conflito uma paralização de meses ou mesmo de anos no nosso comércio internacional não arrasaria o país, nossas indústrias ainda produziriam, ainda teríamos combustíveis, energia, alimentos os mais variados, matérias primas, mercado para as indústrias (nosso mercado interno é enorme fora o resto da AS), etc... . É claro que não seria confortável (afinal, é a guerra!), mas não seria uma catástrofe como para os países citados. Então, antes de termos meios para garantir o comércio ou projetar poder sobre outros países, precisamos é de meios de impedir o comércio e a projeção de poder dos eventuais inimigos contra nós. Assim fica claro a nossa prioridade para os sub's, convencionais e nucleares.
Quanto à proteção de nossa costa, além dos sub's convencionais ela ficará a cargo de nossos barcos de patrulha (cujo programa começou ANTES do de submarinos e segue a todo vapor), e da FAB, que por isso adquiriu seus Órions e vai integrar o mísseis anti-navio (MAR-1 ou outro/s) ao seus novos vetores do programa FX-2 (se tem dúvidas espere e verá). Todos estes programas já estão em andamento, o dos SNB's não irão afetá-los.
Os demais elementos do poder naval brasileiro também virão, mas sua prioridade não é tão alta neste momento, até porque serão programas mais curtos que o dos SNA, com certeza os primeiros navios ficarão prontos até antes!
Se você levar estes pontos em consideração verá que para o Brasil o programa de sub's, convencionais E NUCLEARES, é sim uma decisão lógica e racional e não apenas um arroubo de políticos e militares com mania de grandeza.
Abraços,
Leandro G. Card