YAMAHA FJR 1300
CONCILIAR O INCONCILIÁVEL
Conceber uma moto capaz de aliar um comportamento desportivo digno de nota com o conforto e as capacidades de utilização de um modelo turístico parece mais um devaneio saído de uma mente quimerista.
Após algumas tentativas não muito bem sucedidas, a Yamaha arrisca–se, ao lançar a FJR 1300, a atingir aquilo por que muitos, há muito, anseiam: uma turística capaz de proporcionar o prazer de condução apenas ao alcance das desportivas!
O mercado europeu das motos com mais de 750 cc registou, entre 1997 e 2000, um crescimento de 36%, sendo de registar o aumento da quota dos modelos de turismo, que subiu dos 20% registados em 1997 para os 26% registados no ano passado, o que correspondeu a um impressionante aumento de 78% apenas para esta faixa do mercado. Perante estes números, a Yamaha não poderia ficar indiferente, ainda para mais recordando o sucesso alcançado com as saudosas FJ 1100 e FJ 1200 e face aos amargos de boca causados pela GTS 1000 - claramente uma moto demasiado avançada para a sua época - o que precipitou o lançamento da muito tradicional XJ 900 S Diversion.
Há muito que se esperava uma moto como a FJR 1300, uma moto que combinasse o conforto e as capacidades de deslocação (autonomia, baixa manutenção, capacidade de carga e protecção aerodinâmica) de uma moto de turismo com as sensações e o prazer de condução de uma moto desportiva. «Simplesmente tentámos criar uma moto que proporcionasse o divertimento de uma verdadeira desportiva num modelo de turismo», disse Hiroshi Kumatsubaka, o director do projecto FJR 1300. «Desenvolvemos alguns elementos desportivos, como uma maneabilidade ligeira e um elevado binário do motor, por forma a que o condutor possa gozar a condução, mesmo com passageiro e bagagem». Digamos que é mais fácil resumir um objectivo nada fácil de alcançar, já que combinar estabilidade a 250 km/h, com malas laterais, bagagem e passageiro, juntamente com uma elevada maneabilidade para estradas secundárias não é, pelo que temos experimentado, nada fácil.
Digamos que o alvo preferencial de clientes deste modelo - viajantes muito experientes, clientes das motos de turismo e novos clientes provenientes de modelos mais desportivos à procura de algo mais confortável, mas simultaneamente maneável e com boas prestações - há muito desejava uma moto deste tipo, sobretudo depois de se saber que a nova Yamaha teria um pára–brisas regulável electricamente, malas laterais, um motor de 1.298 cc repleto de potência e binário, árvore de transmissão (praticamente sem manutenção) e um peso a seco resumido a 237 kg. O ‘Santo Graal’ dos viajantes havia finalmente sido alcançado?
CAÇA AO PESO
É sabido que as motos de turismo e mesmo muitas ‘sport touring’ exibem um generoso valor quando levadas à balança. Além disso, esse peso é também sentido pelo condutor, através de alguma inércia de movimentos, o que retira uma boa parte do gozo que é conduzir um veículo de duas rodas. Ao registar 237 kg, a seco, declarados pela marca dos três diapasões, a FJR 1300 surge com um valor não muito longe de algumas desportivas produzidas há não muito tempo. É certo que poderão afirmar tratar–se de apenas menos dois quilograma que a XJ 900 S, mas o potencial ao alcance desta nova ‘sport touring’ é abissal quando comparado com um conceito mais conservador como o da Diversion. Para conter o ‘disparo’ do ponteiro da balança, a Yamaha recorreu em abundância ao alumínio, material que utilizou para a construção do quadro - um nada habitual para este segmento dupla trave que utiliza o motor como elemento esforçado - da secção traseira do quadro (que suporta o assento e as malas) e do braço oscilante. Digamos que em termos de rigidez estrutural estamos garantidos. Depois, recorrendo a pneus de nova geração, como os Metzeler Z4 B/ Z4 J - especialmente desenhados pela marca alemã para esta moto - os homens da Yamaha foram mais incisivos com a geometria de direcção, optando por um reduzido trail (para o segmento!) de 109 mm e um ângulo de coluna de direcção de 26º. A desportividade (maneabilidade e precisão direccional) surge, desta forma, associada à estabilidade a alta velocidade, mesmo com sensíveis variações de carga. Depois, uma forquilha com baínhas de 48 mm de diâmetro e o sistema de travagem retirado da R1 falam por sí no que respeita ao nível de prestações ao alcance desta moto.
MOTOR PODEROSO
Indubitavelmente, a FJR 1300 marca uma nova referência no que aos motores das ‘sport touring’ diz respeito. O quatro em linha de 1.298 cc não permite quaisquer veleidades ao anunciar 145 cavalos às 8.500 r.p.m e um binário máximo de 134,4 Nm (13,7 kgm) entre as 6.000 e as 7.000 r.p.m. Isto é simplesmente um novo mundo para esta categoria! Como podem imaginar, muito do que os engenheiros da marca aprenderam no desenvolvimento do quatro em linha que equipa a R1 foi de novo aplicado na concepção desta unidade, que se torna no motor de maior capacidade (1.298 cc) desta faixa de mercado. «Chegámos a considerar um motor de seis cilindros», disse Sven Armstrong, o planificador de produção, mas no final a opção recaiu na maior compacidade e suavidade de funcionamento proporcionada por um quatro em linha, fundamentais para o desenho de um conjunto ciclístico também compacto e mais ligeiro. Com o cárter e os cilindros realizados numa só peça, este motor de quatro válvulas por cilindro e arrefecimento liquido recorre a um sistema de injecção electrónica, cuja unidade de comando utiliza sensores de abertura do acelerador, regime de rotação, pressão de admissão - os quais permitem calcular a massa de ar admitida para os cilindros - temperatura do líquido de arrefecimento, temperatura do ar de admissão, pressão atmosférica e nível de oxigénio no escape - os quais permitem definir o tempo ideal para a injecção. O processamento destes dados permite processar, depois de analisado o sensor de posição da cambota, o tempo e a duração da injecção de combustível, o momento de ignição e o tempo de passagem de corrente eléctrica pela bóbine de ignição.
No motor há ainda que destacar o sistema de admissão - de apenas 350 grama - cuja caixa fornece ar para a cabeça do motor através de lamelas, e directamente para o escape - através de uma válvula regulada pelo sistema de injecção electrónica, que permite realizar uma pó–combustão dos hidrocarbonetos não queimados e oxidar o monóxido de carbono, tornando-o no menos nocivo dióxido de carbono. O sistema de escape, do tipo 4-2-1-2, com panelas realizadas em aço inox, possui dois catalizadores de três vias realizados em ninho de abelha que lhe permitem cumprir já as normas Euro-2, que entram em vigor em 2003.
LUGAR AO TURISMO
Obviamente, o conforto e os aspectos práticos não foram esquecidos, começando pelo pára–brisas ajustável electricamente (120 mm de curso), as malas laterais na cor da moto, a árvore de transmissão sem manutenção, o reservatório de combustível de 25 litros de capacidade realizado em aço - para permitir a utilização de sacos de depósito magnéticos - o painel de comando com um ecrã de cristais líquidos multinfuncional, os piscas de emergência, o espaço para um cadeado em U, o suporte de bagagem com as pegas do passageiro incorporadas, a suspensão traseira de regulação de pré–carga expedita (através de comando hidráulico) e uma série de acessórios que incluem punhos aquecidos, saco de depósito, sistema de alarme, extensões de carenagem, sacos para as malas entre outros.
PELO SUL DE ESPANHA
Com partida do turístico aldeamento de Santi Petri, a sul de Chiclana de la Frontera, o trajecto escolhido pela Yamaha Motor Europe levava–nos até Vejer de la Frontera, Tarifa e Algeciras, de onde penetrávamos para o interior, bordejando o Parque Natural de Los Alcornocales, até antingirmos Gaucin e voltarmos até à beira–mar, para realizar algumas das fotos que podem ver neste contacto, tiradas no espectacular Puerto Sotogrande. Foram cerca de 400 quilómetros, que permitiram conhecer a FJR 1300 em diversos tipos de traçados e pisos.
Com uma estética agressiva de decoração monocromática - azul, negro ou prateado - apenas o desenho da traseira merece algumas reservas, em particular do farolim - mas isso é uma questão de gosto pessoal. A posição de condução resulta plenamente. O guiador possui dois braços elevados e é facil (fundamental numa moto deste género) apoiar ambos os pés no chão. A instrumentação é perfeitamente legível, havendo que destacar o painel digital de multifunções que incorpora o relógio, temperatura do líquido de refrigeração, nível de combustível, totalizador e dois contadores parciais. O assento do condutor é separado do do passageiro, possuindo os dois valores distintos de densidade de espuma, sendo simultaneamente espaçoso e confortável.
Em andamento, o motor revela toda a sua versatilidade. Tal como nas FJ 1200, este quatro em linha consegue fazer tudo em quinta. Desde um passeio tranquilo, a uma ultrapassagem, até a uma viagem em auto–estrada. Há potência e binário para tudo, até para volatilizar qualquer moto de turismo e aqui, acredito que só a K 1200 RS, da BMW, poderá responder - em estrada aberta - à FJR 1300. Depois, em utilização mais desportiva, os 145 cavalos estão lá! Até aos 200 km/h, chega–se num abrir e fechar de olhos. Depois, a progressão é um pouco mais lenta até aos 240 km/h e, finalmente, atingem–se os 250 km/h de velocidade máxima, quando o motor roda nas 9.000 r.p.m. É claro que o nível de aceleração e de retomada é verdadeiramente estonteante para o segmento e ímpar entre as motos com malas. Acresce ainda a ausência de vibrações e comportamento neutro da transmissão, que nem nos leva a suspeitar tratar–se de uma moto equipada com árvore e cardã.
Muito bem conseguido foi o compromisso atingido entre desportividade e conforto. Nas reviradas estradas do sul de Espanha, a FJR 1300 demonstrou uma espantosa maneabilidade. Mais do que ser leve, interessa que a moto dê a sensação de leveza, e esta Yamaha entra com toda a ligeireza para uma curva e facilmente se ergue para a curva seguinte, cumprindo sem problemas qualquer encadeamento mais serrado. Depois, com uma aceleração tão forte e um poder de travagem notável, dá vontade de atacar estradas sinuosas de bom asfalto, já que em zonas de piso mais escorregadio o ME Z4 traseiro pode perder aderência sob os fortes valores de binário e potência ao dispor do quatro em linha. O comportamento das suspensões revelou–se muito eficaz nas más estradas andaluzes - repletas de lombas e depressões - com ambas as rodas a ‘lerem’ bem todas as irregularidades. Em zonas mais rápidas - como a estrada da bom piso que liga Algeciras a Tarifa - será necessário um endurecimento dos hidráulicos, mas falamos já de ritmos de condução muito vivos e já dentro do campo das desportivas, havendo que salientar que em ângulos mais pronunciados a FJR 1300 começa a raspar no asfalto. O mais interessante é o facto dos pormenores que lhe permitem ser uma moto de turismo e desportiva não interferferirem negativamente entre si, tendo sido alcançado um excelente compromisso.
No aspecto turístico, há que salientar que quase sempre se anda com o pára–brisas na posição mais vertical, precisamente a que proporciona melhor protecção aerodinâmica a qual é suficiente para percorrer vários quilómetros a velocidade elevada, apesar de alguns turbilhões sentidos no capacete e ombros. As malas permitem transportar um capacete integral mas ficam aquém do que a concorrência já faz - em termos de espaço e volumetria - e será este o preço a pagar para uma moto que consegue ser estável a 250 km/h? A ausência de compartimentos laterais é um ponto negativo e a sua justificação advém da presença da bateria (no lado direito) e do bocal do circuito de refrigeração (lado esquerdo) que não deixaram livre um espaço tão importante para quem viaja. A regulação da pré–carga de mola do amortecedor traseiro é bem vinda, mas não pode ser corrigida em andamento, como nalgumas BMW e Honda.
Na pequena distância que efectuei como passageiro, deu para perceber o espaço e a boa posição adoptada por este elemento, o qual segue perfeitamente ‘colado’ ao condutor, faltando constatar o conforto proporcionado pelo assento e a eficácia aerodinâmica do pára–brisas regulável.
SUCESSO À VISTA
Disponíveis no nosso mercado a partir de Abril, e nas três cores, a nova Yamaha FJR 1300 é claramente um caso de sucesso garantido à partida, dependendo apenas do preço de comercialização (desconhecido à hora do fecho desta edição) dada a conciliação que consegue obter entre dois mundos tão distintos. Cumprindo as elevadas expectativas geradas junto de uma franja de utilizadores muito exigentes e conhecedores (sobretudo os ‘pápa–léguas’ que não deixam de apreciar todo o prazer da condução em duas rodas): nunca uma desportiva foi tão turística e nunca uma turística foi tão desportiva!
Fonte:
www.motojornal.pt