ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
JORNAL DA CÂMARA
Pinga-Fogo - Alcântara
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) pediu que a Câmara rejeite os termos do acordo sobre a utilização do Centro de Lançamento de Alcântara pelos Estados Unidos. Na opinião do deputado, não se trata de um simples acordo comercial para lançar satélites, mas de um acordo que fere a soberania brasileira. Segundo Rollemberg, o acordo prevê, entre outros pontos, que o Brasil não poderá usar os recursos obtidos com os lançamentos em seu programa espacial. O parlamentar ressaltou ainda que o acordo proíbe as autoridades brasileiras de circularem em determinadas áreas sem autorização americana.
http://www.fab.mil.br/portal/capa/index ... a_notimpol
Pinga-Fogo - Alcântara
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) pediu que a Câmara rejeite os termos do acordo sobre a utilização do Centro de Lançamento de Alcântara pelos Estados Unidos. Na opinião do deputado, não se trata de um simples acordo comercial para lançar satélites, mas de um acordo que fere a soberania brasileira. Segundo Rollemberg, o acordo prevê, entre outros pontos, que o Brasil não poderá usar os recursos obtidos com os lançamentos em seu programa espacial. O parlamentar ressaltou ainda que o acordo proíbe as autoridades brasileiras de circularem em determinadas áreas sem autorização americana.
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
By Talharim:
abraços]
INSTITUTO DE AERONÁUTICA E ESPAÇO
EXTRATO DE CONVÊNIO
Termo de Convênio nº 003/IAE/2009 1) Partícipes: Instituto de Aeronáutica
e Espaço - IAE e a Orbital Engenharia Ltda./2) Objeto:
Constitui objeto do presente Convênio a cooperação tecnológica e
científica entre os partícipes, com vistas à realização do projeto "Desenvolvimento
de sistema pressurizado de alimentação de motor foguete
a propelente liquido"./3) Recursos Financeiros: a execução deste
Convênio não implicará no repasse de recursos financeiros de um
partícipe ao outro nem acarretará aumento de despesas com o desenvolvimento
do "Plano de Trabalho" previsto na Cláusula 3ª, devendo
cada partícipe arcar com as despesas incorridas na sua execução./
4) Execução: as atividades que se sucederão por força do
presente convênio serão executados de acordo com o Plano de Trabalho
específico, prévia e expressamente aprovado pelos partícipes./5) Data de Assinatura: 05 jun. 2009./6) Vigência: 60 (sessenta) meses./7)
Assinaturas: pelo IAE: Francisco Carlos Melo Pantoja Cel Eng -
Diretor/Pela ORBITAL: Sr. Célio Costa Vaz - Diretor-Técnico.
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amor fati
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
Como sabem, houve aquela proposta de se instalar um L5, de 5 kN no quarto estágio do VLS-1, aumentando a payload em cerca de 100 kg para todas as órbitas.
Não seria mais vantajoso, se ao invés disso, colocarem aquele motor de 15 kN (L15) no lugar do S-44 e passar aquela instrumentação (baías de controle, etc) para a parte de cima do motor?
Isso, além de aumentar a capacidade do lançador, ainda iria dar maior controle e precisão na inserção na órbita, além de simplificar a operação de satelitização, aumentando a segurança.
abraços]
Não seria mais vantajoso, se ao invés disso, colocarem aquele motor de 15 kN (L15) no lugar do S-44 e passar aquela instrumentação (baías de controle, etc) para a parte de cima do motor?
Isso, além de aumentar a capacidade do lançador, ainda iria dar maior controle e precisão na inserção na órbita, além de simplificar a operação de satelitização, aumentando a segurança.
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- LeandroGCard
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
O motor S-44 pesa mais de uma tonelada e tem 33 kN de empuxo. A relação de massa dele é de 5,4 o que não é tão ruim para um motor de combustível sólido deste porte. Veja os dados do VLS-1 no link abaixo:Brasileiro escreveu:Como sabem, houve aquela proposta de se instalar um L5, de 5 kN no quarto estágio do VLS-1, aumentando a payload em cerca de 100 kg para todas as órbitas.
Não seria mais vantajoso, se ao invés disso, colocarem aquele motor de 15 kN (L15) no lugar do S-44 e passar aquela instrumentação (baías de controle, etc) para a parte de cima do motor?
Isso, além de aumentar a capacidade do lançador, ainda iria dar maior controle e precisão na inserção na órbita, além de simplificar a operação de satelitização, aumentando a segurança.
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http://www.astronautix.com/lvs/vls.htm
Sinceramente acho difícil imaginar um 4 estágio para o VLS com um motor de apenas 5 kN (cerca de 500 kg), pois o empuxo seria praticamente 1/3 da massa total do conjunto motor+satélite (supondo um satélite de 450Kg, 100 a mais que o previsto conforme mencionado). Como o L5 prevê alimentação por pressurização dos tanques não dá para esperar uma relação de massa muito melhor que a do S-44. Assim, a aceleração seria muito lenta e o tempo de queima teria que ser muito maior, levando a um aumento do risco de desvios de trajetória (lembre-se que o último estágio do VLS não é guiado). Se colocássemos um sistema de guiagem com tudo que ele implica (plataforma inercial, computadores, etc...) a relação de massa seria prejudicada e o peso do satélite teria que ser menor, perdendo-se a vantagem.
Já uma proposta com um motor de 15 kN seria um pouco mais interessante (principalmente se fossem utilizados 2), se o impulso específico for substancialmente maior que os 275 seg do S-44, ou a relação de massa for substancialmente melhor, o que acho difícil já que o L15 ainda usará pressurização dos tanques. Senão também não vejo vantagem. De qualquer forma ainda é um motor fraco até para o VLS, qualquer vantagem seria marginal.
Talvez para o VLM este motor L15 pudesse ter alguma aplicação, pois como o 4 estágio de combustível sólido deste lançador não chegou a ser desenvolvido se o L15 estiver disponível pode ser utilizado no lugar dele.
A proposta com o L-75 de 50 kN para o VLS-1B é para substituir os dois últimos estágios do VLS, aí já fica mais interessante.
Leandro G. Card
- Marino
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
REVISTA ROLING STONE BRASIL
CONEXÃO BRASILIS
Carlos Juliano Barros
A FRONTEIRA FINAL
ALCÂNTARA, NO MARANHÃO, É UM ESPELHO DOS PARADOXOS DO BRASIL. DE UM LADO, POVOADOS QUILOMBOLAS LUTAM POR SUAS TERRAS DE UM DIREITO; DE OUTRO, O PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO PREGA O DESENVOLVIMENTO E A EXPANSÃO
UMA HORA DE BARCO SEPARA SÃO LUÍS, A CAPITAL do Maranhão, do modesto cais de Alcântara. Principal meio de transporte entre as duas cidades, é mais rápido e barato do que o trajeto por via terrestre, que se desenrola ao longo de 400 quilômetros de rodovias maltrapilhas. É preciso ficar atento ao movimento da maré para saber a hora exata da saída do barco. Geralmente, ele parte de manhã cedo de São Luís, e volta entre o meio e o final da tarde.
Situado no litoral de um dos estados mais pobres do Brasil, o acanhado município de Alcântara, fundado em 1648, bem que poderia ser apenas outra parte do Nordeste castigada pela inclemência do sol e pela rapina dos homens, como escreveu João Cabral de Melo Neto. O triste retrato do abandono pode ser percebido tão logo se desce do barco, ao se caminhar pelas ruas calçadas com pedras: ruínas de edificações seculares e casarões de arquitetura colonial caindo pelas tabelas compõem a agonizante, porém, incrivelmente linda paisagem do centro de Alcântara, tombado pelo patrimônio histórico nacional. Mas quis o destino – e os militares, no apagar das luzes da ditadura, assim fizeram acontecer – que a poucos quilômetros das mais antigas construções erguidas pelos portugueses em território maranhense fosse instalada a mais bem localizada base do planeta para mandar foguetes em direção ao espaço sideral. Batizada como Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), ocupa uma área de aproximadamente 9 mil campos de futebol e é controlada pela Aeronáutica.
É desse município no mínimo improvável, onde menos de um quarto da população tem água encanada em casa, que o Brasil pretende embarcar de vez rumo à era espacial. Até dezembro de 2010, a empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), formada por somas iguais de capital dos governos ucraniano e brasileiro, deve entrar no bilionário negócio de lançamentos de satélites, um clube restritíssimo a que menos de dez países têm acesso hoje. Pelo menos assim sonha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de se despedir do Palácio do Planalto. “O principal objetivo desse acordo é comercial: introduzir no mercado internacional uma alternativa segura e barata”, define José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Para 2012, quando a empresa estiver funcionando a pleno vapor, a previsão de faturamento é da ordem de R$ 300 milhões, com a realização de ao menos seis lançamentos por ano. “Esperamos disputar uma faixa de até 20% desse mercado por causa das nossas vantagens comparativas”, aposta Roberto Amaral, que já foi o titular do MCT e atualmente preside a ACS. No futuro, a parceria ainda permitirá que o governo economize uma verba considerável para colocar em órbita os satélites desenvolvidos principalmente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que têm entre outras funções o papel de monitorar o desmatamento da Amazônia.
A lógica das responsabilidades do acordo que criou a empresa binacional é bem simples. Os ucranianos entrarão com o foguete Cyclone-4, um gigante de 40 metros e de 200 toneladas que transportará satélites de meteorologia, telecomunicações e quaisquer outros fabricados por países e empresas que se interessarem pelas pechinchas oferecidas pela ACS. A família Cyclone tem no currículo mais de 200 lançamentos bem-sucedidos, e esse tipo de tecnologia é dominado pelos ucranianos desde os tempos da Guerra Fria, quando eles ainda faziam parte da superpotente União Soviética. O acordo também tem outro efeito inegavelmente interessante: o compartilhamento de conhecimentos científicos. A previsão é de que o Cyclone-5 seja fabricado em conjunto por técnicos de ambos os países.
Por enquanto, a missão do Brasil é construir um sítio de lançamento, utilizando menos de uma dezena dos tais 9 mil campos de futebol que formam o CLA. Por quê? Simplesmente por causa da localização geográfica de Alcântara. Por caprichos que só a física explica, a proximidade com a linha do equador permite uma economia de até 30% do combustível necessário para a arrancada de um foguete. Caso ele se desvie da rota prevista e resolva cair em lugar não planejado, a vizinhança com o Oceano Atlântico é outro diferencial, barateando significativamente os custos com seguro. E, mesmo que se dirija ao interior do município, a baixa densidade demográfica reduz as chances de uma catástrofe. Alcântara tem praticamente o mesmo tamanho da cidade de São Paulo, mas conta com apenas 22 mil habitantes.
A vocação natural dessa porção do litoral maranhense para o lançamento de foguetes já despertou até mesmo o olho gordo dos norte-americanos. No começo da década, a Casa Branca chegou a propor um acordo de cláusulas questionáveis, para usar um eufemismo. Na prática, tratava- se do aluguel de um pedaço de chão em Alcântara, uma espécie de enclave yankee em território tupiniquim, onde só entrariam pessoas com expressa autorização das autoridades norte-americanas. Além disso, não haveria transferência de tecnologia e o governo federal sequer poderia aplicar o dinheiro do aluguel no nosso próprio programa espacial. Tantas vantagens assim fizeram com que o Congresso barrasse a idéia, tachada até de afronta à soberania nacional.
Também há episódios tristes na odisséia brasileira rumo ao espaço ocorridos no CLA. O mais trágico ocorreu em agosto de 2003, dois dias antes do lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS) – um foguete made in Brasil concebido pelo Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), ligado à Aeronáutica. Um incêndio causado pela ignição antecipada de um dos propulsores do VLS provocou a morte de 21 técnicos e engenheiros que faziam parte da linha de frente do nosso programa espacial. Prejuízo financeiro, científico e, sobretudo, humano, de dimensões incalculáveis. Essa foi a última de três tentativas frustradas. Apesar dos percalços, Carlos Ganem, atual presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), órgão vinculado ao MCT, acredita que nos próximos anos o VLS ainda possa vingar. “É um foguete sob medida para determinadas cargas úteis de menor peso e já interessa a alguns gigantes da atividade espacial.”
Enquanto a oscilação do barco rumo a Alcântara ofendia meu estômago, organizava na cabeça a minha agenda. A visita à base da Aeronáutica aconteceria dali a poucos dias, o que me daria tempo suficiente para ir a alguns dos mais de 100 pequenos povoados do interior do município. Cerca de dois terços da população vivem no campo, em comunidades de nomes sonoros e curiosos, como Mamuna e Baracatatiua, formadas basicamente por diversas gerações de descendentes de escravos que passaram por lá nos séculos passados. Negros cativos de fazendas de algodão e de cana-de-açúcar, abandonados à própria sorte com o declínio da economia dessa porção do litoral maranhense, ainda na era colonial.
Desde então, a população sobrevive à indiferença dos governantes basicamente por meio da pesca e da agricultura. A luz elétrica chegou somente há dois ou três anos, com um programa do governo federal chamado “Luz para Todos”. Mas ainda há comunidades que esperam pela boa vontade dos gabinetes de Brasília para aposentar os lampiões. Grande parte das famílias também dribla as necessidades do dia-a-dia com os trocados oferecidos pelo “Bolsa Família”. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, publicação da Organização das Nações Unidas (ONU) que leva em conta indicadores de renda, educação e expectativa de vida, só 15% dos 5.507 municípios analisados oferecem condições de vida ainda mais sofríveis a seus habitantes. Existe outra questão grave: os camponeses não são donos das terras onde vivem e trabalham. O artigo 68 da Constituição garante que as comunidades remanescentes de quilombos, onde negros tocavam terras coletivamente em nome da utopia da liberdade, têm direito de propriedade sobre os territórios historicamente ocupados por elas. Por isso, há pelos menos duas décadas, os descendentes de escravos de Alcântara reivindicam para si as áreas onde residem.
Mas qual é a relação entre o lançamento de foguetes e essas populações tradicionais? Há muitos anos, o município aparece nas manchetes dos jornais por conta de um conflito territorial envolvendo justamente a base espacial e as comunidades quilombolas. A história começou nos anos 80, quando centenas de famílias foram removidas de seus locais de origem para a instalação do CLA. Sintomaticamente, os militares confiaram a um veterinário a responsabilidade de lidar com os quilombolas. Um processo traumático que deixou feridas abertas até hoje, e que motivou inclusive a criação do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial. Por tudo isso, Alcântara é um espelho exemplar dos paradoxos que singularizam nosso país. Lugar onde o Brasil precisa inevitavelmente acertar as contas com o passado para abrir as portas ao futuro. Porém, existem nessa parte do Maranhão duas visões de mundo que colidem. De um lado do ringue, tendo em vista as cicatrizes do passado, estão os que enxergam como medida prioritária para garantir os direitos fundamentais das populações tradicionais a titulação definitiva do chamado “território étnico”, assim reconhecido em 2000 pela Fundação Palmares do Ministério da Cultura. No outro canto, estão os defensores da expansão do programa espacial e da construção de mais sítios de lançamentos de foguetes sobre parte da área pleiteada pelos quilombolas, como forma de trazer riqueza para o país e também melhorar a qualidade de vida em Alcântara.
O assunto é tão controverso que, desde o final do ano passado, vem provocando um racha em Brasília. Tudo porque o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) produziu um relatório recomendando a titulação contínua de um território de 78 mil hectares para as comunidades quilombolas, quase metade do município de Alcântara. O texto não altera em um centímetro sequer o perímetro resguardado à base sob comando da Aeronáutica. Porém, deixa de fora outras três áreas não contíguas, ao norte do CLA, que na avaliação de setores do governo são indispensáveis à construção de novas plataformas de foguetes. Esses três lotes seriam como “ilhas” encravadas entre as diversas comunidades que formam o território étnico quilombola.
A proposta do Incra contou com o apoio da Secretaria Especial de Políticas para Promoção da Igualdade Racial (Seppir), vinculada diretamente ao gabinete da presidência da República. “O estágio a que chegamos nos leva a crer que a titulação contínua da área de Alcântara é a que melhor atende à realidade das comunidades”, afirma o ministro da Seppir, Édson Santos. No entanto, o relatório foi bombardeado por outros braços do executivo. O Ministério da Defesa reagiu por considerar que o reconhecimento da área quilombola nos moldes indicados pelo Incra compromete o futuro do programa espacial brasileiro, assim como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também ligado à presidência da República. “Esse acréscimo, ao norte do Centro de Lançamento de Alcântara, possui relevância estratégica para o país, que busca hoje maior projeção internacional, bem como para a economia do Município de Alcântara com reflexos para o bem-estar de sua população”, afirmou a direção do GSI em nota oficial. O complexo debate deverá ser resolvido por mediação do próprio presidente Lula.
Na verdade, A MENINA DOS OLHOS DOS GESTORES DO NOSSO PROGRAMA ESPACIAL É A CONSTRUÇÃO DO CENTRO ESPACIAL DE ALCÂNTARA (CEA), do qual a base da Aeronáutica seria apenas uma parte, transformando o município maranhense em um pólo industrial, tecnológico e turístico, com diversas plataformas de lançamento comercial de foguetes e satélites – investimento avaliado em torno de meio bilhão de reais.
A realidade de pouco diálogo e muito conflito pode ser ilustrada por um episódio exemplar. Acordei cedo em um domingo de céu aberto e de sol de rachar para me abalar rumo a Mamuna, localizada a uma hora de moto do centro de Alcântara – isso quando as crateras no barro da estrada não metem medo no motociclista, como era o caso do jovem e arisco mototaxista que me conduzia. Eu estava à procura de Militina, uma senhora de olhar sereno e fala compassada que trabalha como professora lá mesmo na escolinha de Mamuna. Ela também é conhecida como uma das principais lideranças dos quilombolas de Alcântara. Tanto que, em outubro do ano passado, viajou até Washington, nos Estados Unidos, para prestar um depoimento na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em que o estado brasileiro responde a uma espécie de processo pelo tratamento pouco carinhoso dispensado aos cidadãos de Alcântara. Na prática, caso ocorra uma condenação, não haverá qualquer tipo de punição, com exceção de um constrangimento moral.
Quando cheguei à casa de Militina, ela estava ocupada, conversando com dois geógrafos de uma empresa contratada pela ACS para a realização de um estudo sobre os impactos sociais e ambientais que podem ser gerados pelas atividades da binacional no entorno do sítio de lançamento do Cyclone-4. Meses atrás, a cena seria praticamente impossível de se ver porque a ACS e os quilombolas já estiveram quase em pé de guerra.
Inicialmente, a idéia do governo brasileiro era fazer a plataforma de lançamento do foguete ucraniano fora da base da Aeronáutica, entre Mamuna e o povoado vizinho de Baracatatiua – um dos que ainda nem energia elétrica têm. Essa área corresponde justamente a uma daquelas três “ilhas” ao norte do CLA que o Ministério da Defesa e outros órgãos do governo reivindicam como essenciais à expansão do programa espacial brasileiro. Porém, na avaliação dos moradores, o empreendimento isolaria as duas comunidades, ligadas por laços sociais históricos, além de dificultar o acesso a áreas de coleta de frutos e principalmente ao mar, prejudicando a pesca, atividade vital à sobrevivência das famílias. “Nós temos muita dúvida, medo de viver sem liberdade e autonomia”, afirma Militina. “O estado nunca chegou para eles, e vai chegar agora para trazer prejuízos?”, questiona o procurador Alexandre Soares, do Ministério Público Federal do Maranhão (MPF/MA).
Como a ACS planejava construir as instalações para operar com o Cyclone-4 entre os dois povoados, ela precisava em primeiro lugar de um estudo de impacto ambiental. “Quando a empresa afirmou que ia fazer esse estudo, no início de 2008, tomou um passo à frente. Sem autorização, começou a abrir estradas, fazer perfurações, colocar marcos dentro das comunidades. Mas não havia nada licenciado. Isso levou a empresa a ser autuada pelo Ibama”, conta o procurador. Então, os moradores de Mamuna também resolveram agir. Primeiro, pararam as máquinas. Depois, montaram uma guarita onde se revezaram durante três meses para garantir que ninguém a mando da ACS recomeçasse os trabalhos, passando por cima de seus roçados. “Querem vestir a roupa de que o atraso de Alcântara é culpa dos quilombolas. Mas esperamos que essa tecnologia de ponta traga desenvolvimento para o município e para as comunidades”, diz Militina. A disputa só foi resolvida com um acordo judicial, em agosto de 2008, proposto pela União. Para não correr o risco de descumprir o contrato firmado com os ucranianos, o governo mexeu os pauzinhos internamente e a empresa binacional foi alocada dentro do CLA.
Na avaliação do procurador Alexandre Soares, a dor de cabeça seria evitada se as autoridades brasileiras não hesitassem tanto em achar um espaço para a plataforma da ACS na vasta área da base da Aeronáutica. “A princípio, a União disse que era inviável. Mas, depois de seis meses, ela mesma fez a proposta de que poderia ficar dentro do CLA. É uma contradição”, avalia. Desde 2003, corre na Justiça uma Ação Civil Pública movida pelo MPF/MA que pede a titulação definitiva dos territórios quilombolas antes de qualquer tipo de intervenção na área. A rigor, a medida não impede a construção de novos sítios de lançamento de foguetes. É só uma maneira de garantir que não se repitam os erros cometidos no passado. Apesar de classificar a titulação contínua dos 78 mil hectares de nonsense, o presidente da AEB afirma que não vai desistir de Alcântara. “Independentemente disso, essas pessoas poderão amanhã, com a titularidade da terra, estudar um melhor destino a seu próprio destino, dado que no momento elas plantam mandioca, feijão, caçam precariamente e pescam”, afirma Carlos Ganem.
Depois de me despedir de Militina, subi na garupa da moto-táxi e enfrentei mais alguns quilômetros de estradas precárias rumo à agrovila Pepital. Esse lugar remonta aos primórdios da instalação da base da Aeronáutica, nos anos 80, quando os militares transferiram centenas de famílias para núcleos habitacionais no interior de Alcântara, as tais agrovilas, bem longe do mar. “A negociação foi muito mal conduzida. Não era necessário expulsar ninguém para fazer o CLA. Nas bases chinesas, vivem comunidades que são retiradas da área apenas nos momentos de lançamento”, critica Ennio Candotti, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O então presidente José Sarney assinou um decreto reduzindo pela metade o tamanho mínimo, determinado pelo próprio governo, da parcela de terra necessária à sobrevivência de uma família naquela parte do Maranhão. Mesmo assim, passados mais de 20 anos, ninguém tem escritura que comprove a propriedade sobre as áreas.
Em Pepital, encontro uma simpática senhora, Leandra de Jesus Oliveira. Para fugir do sol escaldante, sentamos à sombra do pátio de um colégio desativado localizado logo na entrada da agrovila, onde alunos e professores não se reúnem já faz um bom tempo. Leandra guarda na memória o dia exato em que deixou o povoado perto da praia onde vivia: 9 de setembro de 1986. “Os militares não chegaram expulsando. Eles fizeram uma proposta muito bonita, e as pessoas se embelezaram”, recorda. Casas de alvenaria para as famílias, emprego para os adultos, escola para as crianças. Enfim, os quilombolas também teriam o seu quinhão no desenvolvimento que a atividade espacial traria. Leandra até reconhece como melhorias proporcionadas pelas agrovilas as casas de tijolo, que substituíram as construções de taipa, e principalmente a luz elétrica. “Mas saímos de uma terra fértil. Aqui a gente planta, mas não dá nada. É só areia.” Ela reclama ainda da escassez de um alimento básico que não faltava décadas atrás. Peixe, agora, só quando o pessoal de Mamuna passa vendendo. Dona Leandra mira a praça em frente ao colégio, tomada pela lama e pela vegetação descuidada, onde até um pequeno jacaré já foi encontrado, e diz: “Aqui eu queria que mudasse era tudo”.
A questão também está na agenda do congresso. “A instalação da base espacial desorganizou a cultura e a produção da população, criou uma expectativa falsa. Dentro dela é primeiro mundo: todo mundo fardado, com salário, telefone, asfalto. Fora, é uma miséria”, afirma o deputado federal Domingos Dutra (PT/MA). Ele é o autor de um projeto de lei, ainda não aprovado, que destina uma porcentagem da receita da ACS com os lançamentos de satélites para um fundo a ser utilizado em benefício de Alcântara. Algo semelhante aos royalties pagos pela Petrobras aos municípios de onde a empresa extrai petróleo. “Um dos motivos da repulsa ao projeto espacial é que em todos estes anos ele foi só atraso. O fundo é como se fosse uma poupança para as comunidades a fim de reparar os danos praticados”, resume o deputado. Já seu colega Ribamar Alves (PSB/MA) tem um sonho para lá de otimista: ver o litoral maranhense transformado no “novo Cabo Canaveral”, em alusão ao centro tecnológico e turístico localizado na Flórida, na costa leste dos Estados Unidos, de onde os norte-americanos lançam seus foguetes. Alves encabeça uma frente parlamentar em defesa da base de Alcântara, mas acha que por enquanto as atividades do programa espacial brasileiro devem ficar restritas à área que já se encontra sob controle da Aeronáutica. “Só será possível expandir quando se conquistar a confiança dos nativos. Por enquanto, é muita agressão. O governo perdeu a credibilidade”, pondera.
Depois de passar por Mamuna e Pepital, retornei a São Luís. Precisava esperar mais um dia para, enfim, conhecer o CLA. Na noite anterior à data agendada, me encontro com o assessor de imprensa especialmente destacado de Belém do Pará para me acompanhar durante a entrevista com o coronel Nilo Andrade, responsável pela administração da base. Então, às 6h45 da manhã do dia seguinte, lá estava eu no trapiche da Ponta da Areia para pegar a lancha que conduz ao CLA o efetivo de mais de uma centena de servidores da Aeronáutica. O transporte é mais confortável do que o barco usado pela população. Aportamos no mesmo cais de Alcântara que já me era familiar. A volta da lancha estava marcada para 16h30, por causa da maré.
A conversa com o coronel Andrade aconteceu logo pela manhã, e começou com papéis invertidos. “Você tem alguma opinião preconcebida sobre a questão dos quilombolas?”, ele me perguntou. Respondi afirmando acreditar que a questão já está mais ou menos encaminhada com o relatório que o Incra havia produzido, recomendando a titulação contínua do território étnico. “Não está, não”, retrucou. O coronel também avalia que, para se expandir, o programa espacial brasileiro necessita dos três lotes ao norte do CLA. Segundo ele, com a plataforma de lançamento do Cyclone-4 que vai ser construída, e a que já existe para a operação dos foguetes brasileiros da família VLS, não existe espaço na base da Aeronáutica para mais nada. “Esses novos sítios não vão prejudicar as comunidades. Todas as necessidades delas estão listadas e priorizadas na instalação do programa”, garante. E insistiu na tese de que o desenvolvimento das atividades espaciais tem beneficiado a população local. “Dos 500 soldados que trabalham na base, 400 são nativos de Alcântara. Os contratos firmados com empresas que vão realizar obras vão dar preferência à mão-de-obra local.”
DESDE O ACIDENTE COM O VLS EM 2003, apenas pequenos foguetes de sondagem, sem capacidade de carregar satélites, são lançados a partir do CLA. Basicamente, sua parte operacional é composta por uma estação de meteorologia, além de laboratórios com radares que monitoram a trajetória dos lançamentos, e aparelhos que fazem a leitura das informações enviadas pelos foguetes. Não é preciso ser especialista para perceber que os equipamentos não são dos mais modernos. “Ali existem coisas que já são quase objetos de museu. Vamos precisar dar um upgrade no centro. Tem muita coisa que é sucata”, afirma o ex-presidente da AEB, Sergio Gaudenzi.
De acordo com o coronel Andrade, seriam necessários pelo menos R$ 100 milhões para modernizar os sistemas operacionais e outros R$ 150 milhões para completar a infraestrutura prevista no plano diretor do CLA, com a construção de uma escola e um hospital, dentre outros itens. Retrato da estagnação da base é o aspecto fantasma do conjunto residencial com mais de uma centena de casas que deveria abrigar os oficiais que lá trabalham. Diante da complicada qualidade de vida em Alcântara, a maioria optou mesmo por morar na capital São Luís. “Os oficiais de carreira lamentam que deveriam ser feitos investimentos. Mas você vai gastar dinheiro em um lugar onde as pessoas saem às 4 da tarde e voltam às 8 da manhã? Isso se faz nas repartições públicas de Brasília, e não nos centros de pesquisa estratégicos. Vai ver se no Cabo Canaveral alguém dorme. É uma atividade permanente. E lá a comunidade se integra. Não é um entreposto de soldados”, critica o professor Ennio Candotti, da SBPC.
De fato, por toda a simbologia que o conflito encerra, é realmente impossível não prestar atenção à disputa travada em Alcântara entre empresas lançadoras de foguetes e camponeses pobres lutando por suas terras. Nesse enredo há margem inclusive para teorias da conspiração: setores do próprio governo sustentam que organizações estrangeiras se infiltraram entre os quilombolas para inviabilizar o programa espacial brasileiro. Porém, creditar a essa disputa as dificuldades que o Brasil enfrenta nesse setor tão estratégico para o desenvolvimento de qualquer país é uma leitura apressada e até mesmo inverossímil. A rápida volta pelos laboratórios do Centro de Lançamento de Alcântara evidencia aquela que é, sem dúvida, a principal causa dos problemas: a histórica desatenção do Estado brasileiro para com as atividades espaciais. Ou, mais direto, a falta de dinheiro. Nesse sentido, o acordo com os ucranianos também teve o efeito positivo de acelerar os investimentos na base da Aeronáutica e no próprio município. A rodovia MA 106, por exemplo, principal via de acesso terrestre a Alcântara, vai ser totalmente recuperada em uma obra conjunta de R$ 30 milhões entre a AEB e o governo estadual para possibilitar o trânsito de equipamentos necessários às atividades da ACS. Neste ano ainda, outros R$ 38 milhões devem ser investidos para a modernização do CLA, segundo o presidente da AEB.
Mesmo assim, seria preciso “multiplicar talvez por dez o montante que o tesouro nacional nos confere por votação da lei orçamentária”, pondera Carlos Ganem. Em 2008, foi empenhada uma rubrica de R$ 213 milhões para diversas ações do Programa Nacional de Atividades Espaciais. Uma verdadeira esmola considerando os quase US$ 20 bilhões de que dispõe a Nasa, a famosa agência espacial norte-americana. Para 2009, o orçamento da AEB sofreu um corte de 22,5%. Com mais dinheiro, até mesmo a trágica explosão do VLS, que matou 21 pessoas em 2003, poderia ter sido evitada. De acordo com o relatório da comissão que investigou as causas do acidente, por uma questão de economia a construção do foguete deixou de usar cabos blindados que poderiam ter impedido o acionamento antecipado dos detonadores. “Já houve três tentativas sem sucesso de lançamento do foguete brasileiro, e nenhum quilombola atirou uma pedra sequer no VLS”, provoca o deputado Domingos Dutra.
Não há dúvidas de que o governo precisa encarar o programa espacial como prioridade. Mas é preciso colocar a mão no bolso para investir no CLA e, principalmente, em Alcântara. Talvez assim se conquistasse a confiança da população, tão acostumada a discursos desenvolvimentistas que nunca saíram do papel.
Ilustração Índio San
CONEXÃO BRASILIS
Carlos Juliano Barros
A FRONTEIRA FINAL
ALCÂNTARA, NO MARANHÃO, É UM ESPELHO DOS PARADOXOS DO BRASIL. DE UM LADO, POVOADOS QUILOMBOLAS LUTAM POR SUAS TERRAS DE UM DIREITO; DE OUTRO, O PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO PREGA O DESENVOLVIMENTO E A EXPANSÃO
UMA HORA DE BARCO SEPARA SÃO LUÍS, A CAPITAL do Maranhão, do modesto cais de Alcântara. Principal meio de transporte entre as duas cidades, é mais rápido e barato do que o trajeto por via terrestre, que se desenrola ao longo de 400 quilômetros de rodovias maltrapilhas. É preciso ficar atento ao movimento da maré para saber a hora exata da saída do barco. Geralmente, ele parte de manhã cedo de São Luís, e volta entre o meio e o final da tarde.
Situado no litoral de um dos estados mais pobres do Brasil, o acanhado município de Alcântara, fundado em 1648, bem que poderia ser apenas outra parte do Nordeste castigada pela inclemência do sol e pela rapina dos homens, como escreveu João Cabral de Melo Neto. O triste retrato do abandono pode ser percebido tão logo se desce do barco, ao se caminhar pelas ruas calçadas com pedras: ruínas de edificações seculares e casarões de arquitetura colonial caindo pelas tabelas compõem a agonizante, porém, incrivelmente linda paisagem do centro de Alcântara, tombado pelo patrimônio histórico nacional. Mas quis o destino – e os militares, no apagar das luzes da ditadura, assim fizeram acontecer – que a poucos quilômetros das mais antigas construções erguidas pelos portugueses em território maranhense fosse instalada a mais bem localizada base do planeta para mandar foguetes em direção ao espaço sideral. Batizada como Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), ocupa uma área de aproximadamente 9 mil campos de futebol e é controlada pela Aeronáutica.
É desse município no mínimo improvável, onde menos de um quarto da população tem água encanada em casa, que o Brasil pretende embarcar de vez rumo à era espacial. Até dezembro de 2010, a empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), formada por somas iguais de capital dos governos ucraniano e brasileiro, deve entrar no bilionário negócio de lançamentos de satélites, um clube restritíssimo a que menos de dez países têm acesso hoje. Pelo menos assim sonha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de se despedir do Palácio do Planalto. “O principal objetivo desse acordo é comercial: introduzir no mercado internacional uma alternativa segura e barata”, define José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Para 2012, quando a empresa estiver funcionando a pleno vapor, a previsão de faturamento é da ordem de R$ 300 milhões, com a realização de ao menos seis lançamentos por ano. “Esperamos disputar uma faixa de até 20% desse mercado por causa das nossas vantagens comparativas”, aposta Roberto Amaral, que já foi o titular do MCT e atualmente preside a ACS. No futuro, a parceria ainda permitirá que o governo economize uma verba considerável para colocar em órbita os satélites desenvolvidos principalmente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que têm entre outras funções o papel de monitorar o desmatamento da Amazônia.
A lógica das responsabilidades do acordo que criou a empresa binacional é bem simples. Os ucranianos entrarão com o foguete Cyclone-4, um gigante de 40 metros e de 200 toneladas que transportará satélites de meteorologia, telecomunicações e quaisquer outros fabricados por países e empresas que se interessarem pelas pechinchas oferecidas pela ACS. A família Cyclone tem no currículo mais de 200 lançamentos bem-sucedidos, e esse tipo de tecnologia é dominado pelos ucranianos desde os tempos da Guerra Fria, quando eles ainda faziam parte da superpotente União Soviética. O acordo também tem outro efeito inegavelmente interessante: o compartilhamento de conhecimentos científicos. A previsão é de que o Cyclone-5 seja fabricado em conjunto por técnicos de ambos os países.
Por enquanto, a missão do Brasil é construir um sítio de lançamento, utilizando menos de uma dezena dos tais 9 mil campos de futebol que formam o CLA. Por quê? Simplesmente por causa da localização geográfica de Alcântara. Por caprichos que só a física explica, a proximidade com a linha do equador permite uma economia de até 30% do combustível necessário para a arrancada de um foguete. Caso ele se desvie da rota prevista e resolva cair em lugar não planejado, a vizinhança com o Oceano Atlântico é outro diferencial, barateando significativamente os custos com seguro. E, mesmo que se dirija ao interior do município, a baixa densidade demográfica reduz as chances de uma catástrofe. Alcântara tem praticamente o mesmo tamanho da cidade de São Paulo, mas conta com apenas 22 mil habitantes.
A vocação natural dessa porção do litoral maranhense para o lançamento de foguetes já despertou até mesmo o olho gordo dos norte-americanos. No começo da década, a Casa Branca chegou a propor um acordo de cláusulas questionáveis, para usar um eufemismo. Na prática, tratava- se do aluguel de um pedaço de chão em Alcântara, uma espécie de enclave yankee em território tupiniquim, onde só entrariam pessoas com expressa autorização das autoridades norte-americanas. Além disso, não haveria transferência de tecnologia e o governo federal sequer poderia aplicar o dinheiro do aluguel no nosso próprio programa espacial. Tantas vantagens assim fizeram com que o Congresso barrasse a idéia, tachada até de afronta à soberania nacional.
Também há episódios tristes na odisséia brasileira rumo ao espaço ocorridos no CLA. O mais trágico ocorreu em agosto de 2003, dois dias antes do lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS) – um foguete made in Brasil concebido pelo Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), ligado à Aeronáutica. Um incêndio causado pela ignição antecipada de um dos propulsores do VLS provocou a morte de 21 técnicos e engenheiros que faziam parte da linha de frente do nosso programa espacial. Prejuízo financeiro, científico e, sobretudo, humano, de dimensões incalculáveis. Essa foi a última de três tentativas frustradas. Apesar dos percalços, Carlos Ganem, atual presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), órgão vinculado ao MCT, acredita que nos próximos anos o VLS ainda possa vingar. “É um foguete sob medida para determinadas cargas úteis de menor peso e já interessa a alguns gigantes da atividade espacial.”
Enquanto a oscilação do barco rumo a Alcântara ofendia meu estômago, organizava na cabeça a minha agenda. A visita à base da Aeronáutica aconteceria dali a poucos dias, o que me daria tempo suficiente para ir a alguns dos mais de 100 pequenos povoados do interior do município. Cerca de dois terços da população vivem no campo, em comunidades de nomes sonoros e curiosos, como Mamuna e Baracatatiua, formadas basicamente por diversas gerações de descendentes de escravos que passaram por lá nos séculos passados. Negros cativos de fazendas de algodão e de cana-de-açúcar, abandonados à própria sorte com o declínio da economia dessa porção do litoral maranhense, ainda na era colonial.
Desde então, a população sobrevive à indiferença dos governantes basicamente por meio da pesca e da agricultura. A luz elétrica chegou somente há dois ou três anos, com um programa do governo federal chamado “Luz para Todos”. Mas ainda há comunidades que esperam pela boa vontade dos gabinetes de Brasília para aposentar os lampiões. Grande parte das famílias também dribla as necessidades do dia-a-dia com os trocados oferecidos pelo “Bolsa Família”. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, publicação da Organização das Nações Unidas (ONU) que leva em conta indicadores de renda, educação e expectativa de vida, só 15% dos 5.507 municípios analisados oferecem condições de vida ainda mais sofríveis a seus habitantes. Existe outra questão grave: os camponeses não são donos das terras onde vivem e trabalham. O artigo 68 da Constituição garante que as comunidades remanescentes de quilombos, onde negros tocavam terras coletivamente em nome da utopia da liberdade, têm direito de propriedade sobre os territórios historicamente ocupados por elas. Por isso, há pelos menos duas décadas, os descendentes de escravos de Alcântara reivindicam para si as áreas onde residem.
Mas qual é a relação entre o lançamento de foguetes e essas populações tradicionais? Há muitos anos, o município aparece nas manchetes dos jornais por conta de um conflito territorial envolvendo justamente a base espacial e as comunidades quilombolas. A história começou nos anos 80, quando centenas de famílias foram removidas de seus locais de origem para a instalação do CLA. Sintomaticamente, os militares confiaram a um veterinário a responsabilidade de lidar com os quilombolas. Um processo traumático que deixou feridas abertas até hoje, e que motivou inclusive a criação do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial. Por tudo isso, Alcântara é um espelho exemplar dos paradoxos que singularizam nosso país. Lugar onde o Brasil precisa inevitavelmente acertar as contas com o passado para abrir as portas ao futuro. Porém, existem nessa parte do Maranhão duas visões de mundo que colidem. De um lado do ringue, tendo em vista as cicatrizes do passado, estão os que enxergam como medida prioritária para garantir os direitos fundamentais das populações tradicionais a titulação definitiva do chamado “território étnico”, assim reconhecido em 2000 pela Fundação Palmares do Ministério da Cultura. No outro canto, estão os defensores da expansão do programa espacial e da construção de mais sítios de lançamentos de foguetes sobre parte da área pleiteada pelos quilombolas, como forma de trazer riqueza para o país e também melhorar a qualidade de vida em Alcântara.
O assunto é tão controverso que, desde o final do ano passado, vem provocando um racha em Brasília. Tudo porque o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) produziu um relatório recomendando a titulação contínua de um território de 78 mil hectares para as comunidades quilombolas, quase metade do município de Alcântara. O texto não altera em um centímetro sequer o perímetro resguardado à base sob comando da Aeronáutica. Porém, deixa de fora outras três áreas não contíguas, ao norte do CLA, que na avaliação de setores do governo são indispensáveis à construção de novas plataformas de foguetes. Esses três lotes seriam como “ilhas” encravadas entre as diversas comunidades que formam o território étnico quilombola.
A proposta do Incra contou com o apoio da Secretaria Especial de Políticas para Promoção da Igualdade Racial (Seppir), vinculada diretamente ao gabinete da presidência da República. “O estágio a que chegamos nos leva a crer que a titulação contínua da área de Alcântara é a que melhor atende à realidade das comunidades”, afirma o ministro da Seppir, Édson Santos. No entanto, o relatório foi bombardeado por outros braços do executivo. O Ministério da Defesa reagiu por considerar que o reconhecimento da área quilombola nos moldes indicados pelo Incra compromete o futuro do programa espacial brasileiro, assim como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também ligado à presidência da República. “Esse acréscimo, ao norte do Centro de Lançamento de Alcântara, possui relevância estratégica para o país, que busca hoje maior projeção internacional, bem como para a economia do Município de Alcântara com reflexos para o bem-estar de sua população”, afirmou a direção do GSI em nota oficial. O complexo debate deverá ser resolvido por mediação do próprio presidente Lula.
Na verdade, A MENINA DOS OLHOS DOS GESTORES DO NOSSO PROGRAMA ESPACIAL É A CONSTRUÇÃO DO CENTRO ESPACIAL DE ALCÂNTARA (CEA), do qual a base da Aeronáutica seria apenas uma parte, transformando o município maranhense em um pólo industrial, tecnológico e turístico, com diversas plataformas de lançamento comercial de foguetes e satélites – investimento avaliado em torno de meio bilhão de reais.
A realidade de pouco diálogo e muito conflito pode ser ilustrada por um episódio exemplar. Acordei cedo em um domingo de céu aberto e de sol de rachar para me abalar rumo a Mamuna, localizada a uma hora de moto do centro de Alcântara – isso quando as crateras no barro da estrada não metem medo no motociclista, como era o caso do jovem e arisco mototaxista que me conduzia. Eu estava à procura de Militina, uma senhora de olhar sereno e fala compassada que trabalha como professora lá mesmo na escolinha de Mamuna. Ela também é conhecida como uma das principais lideranças dos quilombolas de Alcântara. Tanto que, em outubro do ano passado, viajou até Washington, nos Estados Unidos, para prestar um depoimento na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em que o estado brasileiro responde a uma espécie de processo pelo tratamento pouco carinhoso dispensado aos cidadãos de Alcântara. Na prática, caso ocorra uma condenação, não haverá qualquer tipo de punição, com exceção de um constrangimento moral.
Quando cheguei à casa de Militina, ela estava ocupada, conversando com dois geógrafos de uma empresa contratada pela ACS para a realização de um estudo sobre os impactos sociais e ambientais que podem ser gerados pelas atividades da binacional no entorno do sítio de lançamento do Cyclone-4. Meses atrás, a cena seria praticamente impossível de se ver porque a ACS e os quilombolas já estiveram quase em pé de guerra.
Inicialmente, a idéia do governo brasileiro era fazer a plataforma de lançamento do foguete ucraniano fora da base da Aeronáutica, entre Mamuna e o povoado vizinho de Baracatatiua – um dos que ainda nem energia elétrica têm. Essa área corresponde justamente a uma daquelas três “ilhas” ao norte do CLA que o Ministério da Defesa e outros órgãos do governo reivindicam como essenciais à expansão do programa espacial brasileiro. Porém, na avaliação dos moradores, o empreendimento isolaria as duas comunidades, ligadas por laços sociais históricos, além de dificultar o acesso a áreas de coleta de frutos e principalmente ao mar, prejudicando a pesca, atividade vital à sobrevivência das famílias. “Nós temos muita dúvida, medo de viver sem liberdade e autonomia”, afirma Militina. “O estado nunca chegou para eles, e vai chegar agora para trazer prejuízos?”, questiona o procurador Alexandre Soares, do Ministério Público Federal do Maranhão (MPF/MA).
Como a ACS planejava construir as instalações para operar com o Cyclone-4 entre os dois povoados, ela precisava em primeiro lugar de um estudo de impacto ambiental. “Quando a empresa afirmou que ia fazer esse estudo, no início de 2008, tomou um passo à frente. Sem autorização, começou a abrir estradas, fazer perfurações, colocar marcos dentro das comunidades. Mas não havia nada licenciado. Isso levou a empresa a ser autuada pelo Ibama”, conta o procurador. Então, os moradores de Mamuna também resolveram agir. Primeiro, pararam as máquinas. Depois, montaram uma guarita onde se revezaram durante três meses para garantir que ninguém a mando da ACS recomeçasse os trabalhos, passando por cima de seus roçados. “Querem vestir a roupa de que o atraso de Alcântara é culpa dos quilombolas. Mas esperamos que essa tecnologia de ponta traga desenvolvimento para o município e para as comunidades”, diz Militina. A disputa só foi resolvida com um acordo judicial, em agosto de 2008, proposto pela União. Para não correr o risco de descumprir o contrato firmado com os ucranianos, o governo mexeu os pauzinhos internamente e a empresa binacional foi alocada dentro do CLA.
Na avaliação do procurador Alexandre Soares, a dor de cabeça seria evitada se as autoridades brasileiras não hesitassem tanto em achar um espaço para a plataforma da ACS na vasta área da base da Aeronáutica. “A princípio, a União disse que era inviável. Mas, depois de seis meses, ela mesma fez a proposta de que poderia ficar dentro do CLA. É uma contradição”, avalia. Desde 2003, corre na Justiça uma Ação Civil Pública movida pelo MPF/MA que pede a titulação definitiva dos territórios quilombolas antes de qualquer tipo de intervenção na área. A rigor, a medida não impede a construção de novos sítios de lançamento de foguetes. É só uma maneira de garantir que não se repitam os erros cometidos no passado. Apesar de classificar a titulação contínua dos 78 mil hectares de nonsense, o presidente da AEB afirma que não vai desistir de Alcântara. “Independentemente disso, essas pessoas poderão amanhã, com a titularidade da terra, estudar um melhor destino a seu próprio destino, dado que no momento elas plantam mandioca, feijão, caçam precariamente e pescam”, afirma Carlos Ganem.
Depois de me despedir de Militina, subi na garupa da moto-táxi e enfrentei mais alguns quilômetros de estradas precárias rumo à agrovila Pepital. Esse lugar remonta aos primórdios da instalação da base da Aeronáutica, nos anos 80, quando os militares transferiram centenas de famílias para núcleos habitacionais no interior de Alcântara, as tais agrovilas, bem longe do mar. “A negociação foi muito mal conduzida. Não era necessário expulsar ninguém para fazer o CLA. Nas bases chinesas, vivem comunidades que são retiradas da área apenas nos momentos de lançamento”, critica Ennio Candotti, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O então presidente José Sarney assinou um decreto reduzindo pela metade o tamanho mínimo, determinado pelo próprio governo, da parcela de terra necessária à sobrevivência de uma família naquela parte do Maranhão. Mesmo assim, passados mais de 20 anos, ninguém tem escritura que comprove a propriedade sobre as áreas.
Em Pepital, encontro uma simpática senhora, Leandra de Jesus Oliveira. Para fugir do sol escaldante, sentamos à sombra do pátio de um colégio desativado localizado logo na entrada da agrovila, onde alunos e professores não se reúnem já faz um bom tempo. Leandra guarda na memória o dia exato em que deixou o povoado perto da praia onde vivia: 9 de setembro de 1986. “Os militares não chegaram expulsando. Eles fizeram uma proposta muito bonita, e as pessoas se embelezaram”, recorda. Casas de alvenaria para as famílias, emprego para os adultos, escola para as crianças. Enfim, os quilombolas também teriam o seu quinhão no desenvolvimento que a atividade espacial traria. Leandra até reconhece como melhorias proporcionadas pelas agrovilas as casas de tijolo, que substituíram as construções de taipa, e principalmente a luz elétrica. “Mas saímos de uma terra fértil. Aqui a gente planta, mas não dá nada. É só areia.” Ela reclama ainda da escassez de um alimento básico que não faltava décadas atrás. Peixe, agora, só quando o pessoal de Mamuna passa vendendo. Dona Leandra mira a praça em frente ao colégio, tomada pela lama e pela vegetação descuidada, onde até um pequeno jacaré já foi encontrado, e diz: “Aqui eu queria que mudasse era tudo”.
A questão também está na agenda do congresso. “A instalação da base espacial desorganizou a cultura e a produção da população, criou uma expectativa falsa. Dentro dela é primeiro mundo: todo mundo fardado, com salário, telefone, asfalto. Fora, é uma miséria”, afirma o deputado federal Domingos Dutra (PT/MA). Ele é o autor de um projeto de lei, ainda não aprovado, que destina uma porcentagem da receita da ACS com os lançamentos de satélites para um fundo a ser utilizado em benefício de Alcântara. Algo semelhante aos royalties pagos pela Petrobras aos municípios de onde a empresa extrai petróleo. “Um dos motivos da repulsa ao projeto espacial é que em todos estes anos ele foi só atraso. O fundo é como se fosse uma poupança para as comunidades a fim de reparar os danos praticados”, resume o deputado. Já seu colega Ribamar Alves (PSB/MA) tem um sonho para lá de otimista: ver o litoral maranhense transformado no “novo Cabo Canaveral”, em alusão ao centro tecnológico e turístico localizado na Flórida, na costa leste dos Estados Unidos, de onde os norte-americanos lançam seus foguetes. Alves encabeça uma frente parlamentar em defesa da base de Alcântara, mas acha que por enquanto as atividades do programa espacial brasileiro devem ficar restritas à área que já se encontra sob controle da Aeronáutica. “Só será possível expandir quando se conquistar a confiança dos nativos. Por enquanto, é muita agressão. O governo perdeu a credibilidade”, pondera.
Depois de passar por Mamuna e Pepital, retornei a São Luís. Precisava esperar mais um dia para, enfim, conhecer o CLA. Na noite anterior à data agendada, me encontro com o assessor de imprensa especialmente destacado de Belém do Pará para me acompanhar durante a entrevista com o coronel Nilo Andrade, responsável pela administração da base. Então, às 6h45 da manhã do dia seguinte, lá estava eu no trapiche da Ponta da Areia para pegar a lancha que conduz ao CLA o efetivo de mais de uma centena de servidores da Aeronáutica. O transporte é mais confortável do que o barco usado pela população. Aportamos no mesmo cais de Alcântara que já me era familiar. A volta da lancha estava marcada para 16h30, por causa da maré.
A conversa com o coronel Andrade aconteceu logo pela manhã, e começou com papéis invertidos. “Você tem alguma opinião preconcebida sobre a questão dos quilombolas?”, ele me perguntou. Respondi afirmando acreditar que a questão já está mais ou menos encaminhada com o relatório que o Incra havia produzido, recomendando a titulação contínua do território étnico. “Não está, não”, retrucou. O coronel também avalia que, para se expandir, o programa espacial brasileiro necessita dos três lotes ao norte do CLA. Segundo ele, com a plataforma de lançamento do Cyclone-4 que vai ser construída, e a que já existe para a operação dos foguetes brasileiros da família VLS, não existe espaço na base da Aeronáutica para mais nada. “Esses novos sítios não vão prejudicar as comunidades. Todas as necessidades delas estão listadas e priorizadas na instalação do programa”, garante. E insistiu na tese de que o desenvolvimento das atividades espaciais tem beneficiado a população local. “Dos 500 soldados que trabalham na base, 400 são nativos de Alcântara. Os contratos firmados com empresas que vão realizar obras vão dar preferência à mão-de-obra local.”
DESDE O ACIDENTE COM O VLS EM 2003, apenas pequenos foguetes de sondagem, sem capacidade de carregar satélites, são lançados a partir do CLA. Basicamente, sua parte operacional é composta por uma estação de meteorologia, além de laboratórios com radares que monitoram a trajetória dos lançamentos, e aparelhos que fazem a leitura das informações enviadas pelos foguetes. Não é preciso ser especialista para perceber que os equipamentos não são dos mais modernos. “Ali existem coisas que já são quase objetos de museu. Vamos precisar dar um upgrade no centro. Tem muita coisa que é sucata”, afirma o ex-presidente da AEB, Sergio Gaudenzi.
De acordo com o coronel Andrade, seriam necessários pelo menos R$ 100 milhões para modernizar os sistemas operacionais e outros R$ 150 milhões para completar a infraestrutura prevista no plano diretor do CLA, com a construção de uma escola e um hospital, dentre outros itens. Retrato da estagnação da base é o aspecto fantasma do conjunto residencial com mais de uma centena de casas que deveria abrigar os oficiais que lá trabalham. Diante da complicada qualidade de vida em Alcântara, a maioria optou mesmo por morar na capital São Luís. “Os oficiais de carreira lamentam que deveriam ser feitos investimentos. Mas você vai gastar dinheiro em um lugar onde as pessoas saem às 4 da tarde e voltam às 8 da manhã? Isso se faz nas repartições públicas de Brasília, e não nos centros de pesquisa estratégicos. Vai ver se no Cabo Canaveral alguém dorme. É uma atividade permanente. E lá a comunidade se integra. Não é um entreposto de soldados”, critica o professor Ennio Candotti, da SBPC.
De fato, por toda a simbologia que o conflito encerra, é realmente impossível não prestar atenção à disputa travada em Alcântara entre empresas lançadoras de foguetes e camponeses pobres lutando por suas terras. Nesse enredo há margem inclusive para teorias da conspiração: setores do próprio governo sustentam que organizações estrangeiras se infiltraram entre os quilombolas para inviabilizar o programa espacial brasileiro. Porém, creditar a essa disputa as dificuldades que o Brasil enfrenta nesse setor tão estratégico para o desenvolvimento de qualquer país é uma leitura apressada e até mesmo inverossímil. A rápida volta pelos laboratórios do Centro de Lançamento de Alcântara evidencia aquela que é, sem dúvida, a principal causa dos problemas: a histórica desatenção do Estado brasileiro para com as atividades espaciais. Ou, mais direto, a falta de dinheiro. Nesse sentido, o acordo com os ucranianos também teve o efeito positivo de acelerar os investimentos na base da Aeronáutica e no próprio município. A rodovia MA 106, por exemplo, principal via de acesso terrestre a Alcântara, vai ser totalmente recuperada em uma obra conjunta de R$ 30 milhões entre a AEB e o governo estadual para possibilitar o trânsito de equipamentos necessários às atividades da ACS. Neste ano ainda, outros R$ 38 milhões devem ser investidos para a modernização do CLA, segundo o presidente da AEB.
Mesmo assim, seria preciso “multiplicar talvez por dez o montante que o tesouro nacional nos confere por votação da lei orçamentária”, pondera Carlos Ganem. Em 2008, foi empenhada uma rubrica de R$ 213 milhões para diversas ações do Programa Nacional de Atividades Espaciais. Uma verdadeira esmola considerando os quase US$ 20 bilhões de que dispõe a Nasa, a famosa agência espacial norte-americana. Para 2009, o orçamento da AEB sofreu um corte de 22,5%. Com mais dinheiro, até mesmo a trágica explosão do VLS, que matou 21 pessoas em 2003, poderia ter sido evitada. De acordo com o relatório da comissão que investigou as causas do acidente, por uma questão de economia a construção do foguete deixou de usar cabos blindados que poderiam ter impedido o acionamento antecipado dos detonadores. “Já houve três tentativas sem sucesso de lançamento do foguete brasileiro, e nenhum quilombola atirou uma pedra sequer no VLS”, provoca o deputado Domingos Dutra.
Não há dúvidas de que o governo precisa encarar o programa espacial como prioridade. Mas é preciso colocar a mão no bolso para investir no CLA e, principalmente, em Alcântara. Talvez assim se conquistasse a confiança da população, tão acostumada a discursos desenvolvimentistas que nunca saíram do papel.
Ilustração Índio San
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
AEB estuda área fora de Alcântara para nova base de lançamentos
Por Defesa Brasil
03 de Julho de 2009
A AEB não revelou a área escolhida, que será apresentado na próxima semana ao presidente Lula. No entanto, já se sabe que tem cerca de 20 mil hectares, e fica na costa Norte-Nordeste, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte
A Agência Espacial Brasileira (AEB) deve apresentar na próxima semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um estudo de uma nova área, fora de Alcântara (MA), para a instalação de uma nova base de veículos lançadores de satélites.
De acordo com o presidente da AEB, Carlos Ganem, a proposta visa garantir o cumprimento das metas do Programa Espacial Brasileiro, que enfrenta a resistência das comunidades remanescentes de quilombos para a ampliação da atual base de Alcântara.
“Eu não vejo motivos para ficar batendo nessa tecla de Alcântara. Vamos apresentar em dois meses para o conselho da agência duas áreas, e vamos nos fixar em uma delas”, disse.
No Maranhão, o projeto espacial sofreu um golpe no fim de 2008, quando o governo decidiu conceder a titularidade de 71,8 mil hectares às comunidades quilombolas da região. Trata-se da mesma área que seria destinada para a implantação do Centro Espacial de Alcântara, e que serviria para a instalação de sítios de lançamento comercial, contemplados por um tratado firmado em 2003 entre Brasil e Ucrânia.
Em função da decisão favorável às comunidades locais, a construção dos novos locais de lançamento foi suspensa, e o projeto foi deslocado para o Centro de Lançamento de Alcântara, uma área militar que serve de base para o Veículo Lançador de Satélites (VLS) (foguete brasileiro, que deve ser testado em 2011, e tem o primeiro lançamento previsto para 2012).
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, defendeu ontem (quarta-feira, dia 01/07), no Senado, a ampliação da área de lançamento de Alcântara, apesar do projeto da AEB e da decisão do próprio governo de conceder às terras para os quilombolas.
“Esta é uma questão internacional e não podemos ser ingênuos. Há outros países interessados em não deixar que o Brasil seja incluído no fechado círculo dos países lançadores de foguetes”, disse o ministro.
Segundo a AEB, a área em estudo reúne as características que mantém a competitividade de Alcântara em relação aos centros internacionais de lançamento: fica próxima da Linha do Equador, o que garante a economia de até 30% sobre o consumo de propelentes, e está localizada no litoral, condição de segurança para a atividade espacial.
“São áreas quase despovoadas, sem vícios de origem ou de titularidade e que oferecem condições de infraestrutura como estradas e aeroporto”, explica o presidente da agência.
A AEB não revelou a área escolhida, que será apresentado na próxima semana ao presidente Lula. No entanto, já se sabe que tem cerca de 20 mil hectares, e fica na costa Norte-Nordeste, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte.
Fonte: Agência Brasil
Por Defesa Brasil
03 de Julho de 2009
A AEB não revelou a área escolhida, que será apresentado na próxima semana ao presidente Lula. No entanto, já se sabe que tem cerca de 20 mil hectares, e fica na costa Norte-Nordeste, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte
A Agência Espacial Brasileira (AEB) deve apresentar na próxima semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um estudo de uma nova área, fora de Alcântara (MA), para a instalação de uma nova base de veículos lançadores de satélites.
De acordo com o presidente da AEB, Carlos Ganem, a proposta visa garantir o cumprimento das metas do Programa Espacial Brasileiro, que enfrenta a resistência das comunidades remanescentes de quilombos para a ampliação da atual base de Alcântara.
“Eu não vejo motivos para ficar batendo nessa tecla de Alcântara. Vamos apresentar em dois meses para o conselho da agência duas áreas, e vamos nos fixar em uma delas”, disse.
No Maranhão, o projeto espacial sofreu um golpe no fim de 2008, quando o governo decidiu conceder a titularidade de 71,8 mil hectares às comunidades quilombolas da região. Trata-se da mesma área que seria destinada para a implantação do Centro Espacial de Alcântara, e que serviria para a instalação de sítios de lançamento comercial, contemplados por um tratado firmado em 2003 entre Brasil e Ucrânia.
Em função da decisão favorável às comunidades locais, a construção dos novos locais de lançamento foi suspensa, e o projeto foi deslocado para o Centro de Lançamento de Alcântara, uma área militar que serve de base para o Veículo Lançador de Satélites (VLS) (foguete brasileiro, que deve ser testado em 2011, e tem o primeiro lançamento previsto para 2012).
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, defendeu ontem (quarta-feira, dia 01/07), no Senado, a ampliação da área de lançamento de Alcântara, apesar do projeto da AEB e da decisão do próprio governo de conceder às terras para os quilombolas.
“Esta é uma questão internacional e não podemos ser ingênuos. Há outros países interessados em não deixar que o Brasil seja incluído no fechado círculo dos países lançadores de foguetes”, disse o ministro.
Segundo a AEB, a área em estudo reúne as características que mantém a competitividade de Alcântara em relação aos centros internacionais de lançamento: fica próxima da Linha do Equador, o que garante a economia de até 30% sobre o consumo de propelentes, e está localizada no litoral, condição de segurança para a atividade espacial.
“São áreas quase despovoadas, sem vícios de origem ou de titularidade e que oferecem condições de infraestrutura como estradas e aeroporto”, explica o presidente da agência.
A AEB não revelou a área escolhida, que será apresentado na próxima semana ao presidente Lula. No entanto, já se sabe que tem cerca de 20 mil hectares, e fica na costa Norte-Nordeste, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte.
Fonte: Agência Brasil
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
IAE/CTA estudam parceria para novo veículo lançador
-Baratear e dar mais segurança para o programa de microgravidade?
-Chance de exportação de um veículo para o mercado de microssatélites científicos tal qual o sucesso do VSB-30?
-Tipo de propulsão? Líquida?
-Estímulo aos projetos de satélites universitários (menor custo)?
abraços]
Do Blog Panorama Espacial"Lançador de pequeno porte
O Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), está estudando projetos de parcerias para o desenvolvimentode um novo lançador espacial de pequeno porte, focado no mercado de lançamento de microssatélites, apurou T&D. Existem discussões com empresas da Rússia, Ucrânia e França e uma decisão sobre qual será o parceiro deve ser tomada até o final do ano. A grande surpresa é a participação da européia EADS nessas conversas, grupo que não tem tradição em atuar no Brasil em matéria de lançadores, ao contrário da Rússia (programa VLS e propulsão líquida) e Ucrânia (Alcântara Cyclone Space). Certamente, a possibilidade de cooperação em foguetes é uma das razões que levaram a EADS Astrium, divisão espacial do grupo, a considerar o Brasil como um dos mercados prioritários para 2009, conforme anunciado na LAAD."
-Baratear e dar mais segurança para o programa de microgravidade?
-Chance de exportação de um veículo para o mercado de microssatélites científicos tal qual o sucesso do VSB-30?
-Tipo de propulsão? Líquida?
-Estímulo aos projetos de satélites universitários (menor custo)?
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
Grande 'Brasileiro'...
No meu ponto de vista essa é uma crise aguda de "barata tonta" do IAE. É a falta de foco de que tanto fala o Leandro. Essa agora só vem confirmar isso. Nem só pelejando com o VLS estamos dando conta do recado, imagina partir pra outro projeto. O IAE assim parece ter um "espírito" auto-destrutivo, digamos assim.
E outra, se esse projeto é tão bom (viável) assim e tem até "possivel" parceiro externo, por que então esses paises que estão a anos-luz de nós na área espacial não pegaram esse "projeto" e investiram eles mesmos??? Não é no minimo intrigante, pra não dizer bizarro?? Tem coisas neste nosso querido país que não dá pra entender...
Grande abraço camarada. Desculpe não responder nenhuma de suas perguntas, mas fiz um desabafo.
Até logo!
No meu ponto de vista essa é uma crise aguda de "barata tonta" do IAE. É a falta de foco de que tanto fala o Leandro. Essa agora só vem confirmar isso. Nem só pelejando com o VLS estamos dando conta do recado, imagina partir pra outro projeto. O IAE assim parece ter um "espírito" auto-destrutivo, digamos assim.
E outra, se esse projeto é tão bom (viável) assim e tem até "possivel" parceiro externo, por que então esses paises que estão a anos-luz de nós na área espacial não pegaram esse "projeto" e investiram eles mesmos??? Não é no minimo intrigante, pra não dizer bizarro?? Tem coisas neste nosso querido país que não dá pra entender...
Grande abraço camarada. Desculpe não responder nenhuma de suas perguntas, mas fiz um desabafo.
Até logo!
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
Olá senhores,
Até alguns anos atrás (uns 10 mais ou menos) não havia muitos micro e nano satélites experimentais, e a tendência era que fossem lançados apenas como "parasitas" nos mesmos foguetes que lançavam os satélites maiores, então ninguém se interesdsou em construir pequenos foguetes especificamente para este mercado (ou quase ninguém, um dos trabalhos que desenvolvi no meu tempo de faculdade, para a matéria Organização Industrial, foi justamente um estudo sobre a montagem de uma empresa para construção de foguetes e lançamento de pequenos satélites).
Nos últimos anos contudo a quantidade de projetos nesta área cresceu bastante, tendo inclusive sido criadas algumas plataformas-padrão para satélites de poucos quilos de peso (como minis-PMM), e surgiram dois problemas. Um é a disponibilidade de foguetes de maior porte, pois com o aumento da vida útil dos satélites a quantidade total de lançamentos não cresceu na taxa que era imaginada. O outro é que a maioria dos satélites comerciais e científicos é lançada para altitudes grandes demais para os satélites muito pequenos, que tem restrições quanto aos sistemas de comunicação. E liberar estes micro-satélites enquanto o foguete ainda está acelerando para chegar a uma órbita mais alta é uma manobra complicada e arriscada.
Devido a tudo isso hoje até existe uma demanda razoável por lançadores pequenos e baratos que possam atender especificamente este segmento de satélites com massa entre 10 e 100 Kg. Em termos financeiros não é um mercado muito atrativo, já que os potenciais clientes não tem disponibilidade ou interesse em pagar muitos milhões de dólares para colocar seus pequenos equipamentos em órbita, mas se houver alguém com um foguete barato disponível a quantidade de projetos deste porte provavelmente aumentará. Então talvez seja um setor interessante para o IAE, assim como o dos foguetes de sondagem que hoje não tem muitos concorrentes.
Mas sou obrigado a concordar com o Delta22, iniciar um projeto do zero como parece ser a intenção agora, e ainda ficar com esta mania de sempre correr atrás de parceiros estrangeiros, só se explica pela total falta de objetividade dos responsáveis pelo programa de foguetes. O IAE está a 1 estágio do VLM, que inclusive serviria também para teste de vários sistemas do VLS, e falar em um novo projeto agora é realmente incompreensível. Porque simplesmente não se termina o VLM (que já poderia estar voando desde a década de 80, pelo amor de Deus!), e depois se faz o aperfeiçoamento de substituir seus dois últimos estágios por um de combustível líquido usando um motor derivado do MPFL-15 no qual o IAE já está trabalhando? Já está tudo quase pronto, para que começar outro projeto e ainda inventar esta complicação de parceria internacional? Só para depois passar vergonha como nos casos da ISS e do programa Brasil-Ucrânia?
Com as notícias que vem da área espacial no Brasil realmente não dá para ter muita esperança!
Abraços à todos,
Leandro G. Card
Até alguns anos atrás (uns 10 mais ou menos) não havia muitos micro e nano satélites experimentais, e a tendência era que fossem lançados apenas como "parasitas" nos mesmos foguetes que lançavam os satélites maiores, então ninguém se interesdsou em construir pequenos foguetes especificamente para este mercado (ou quase ninguém, um dos trabalhos que desenvolvi no meu tempo de faculdade, para a matéria Organização Industrial, foi justamente um estudo sobre a montagem de uma empresa para construção de foguetes e lançamento de pequenos satélites).
Nos últimos anos contudo a quantidade de projetos nesta área cresceu bastante, tendo inclusive sido criadas algumas plataformas-padrão para satélites de poucos quilos de peso (como minis-PMM), e surgiram dois problemas. Um é a disponibilidade de foguetes de maior porte, pois com o aumento da vida útil dos satélites a quantidade total de lançamentos não cresceu na taxa que era imaginada. O outro é que a maioria dos satélites comerciais e científicos é lançada para altitudes grandes demais para os satélites muito pequenos, que tem restrições quanto aos sistemas de comunicação. E liberar estes micro-satélites enquanto o foguete ainda está acelerando para chegar a uma órbita mais alta é uma manobra complicada e arriscada.
Devido a tudo isso hoje até existe uma demanda razoável por lançadores pequenos e baratos que possam atender especificamente este segmento de satélites com massa entre 10 e 100 Kg. Em termos financeiros não é um mercado muito atrativo, já que os potenciais clientes não tem disponibilidade ou interesse em pagar muitos milhões de dólares para colocar seus pequenos equipamentos em órbita, mas se houver alguém com um foguete barato disponível a quantidade de projetos deste porte provavelmente aumentará. Então talvez seja um setor interessante para o IAE, assim como o dos foguetes de sondagem que hoje não tem muitos concorrentes.
Mas sou obrigado a concordar com o Delta22, iniciar um projeto do zero como parece ser a intenção agora, e ainda ficar com esta mania de sempre correr atrás de parceiros estrangeiros, só se explica pela total falta de objetividade dos responsáveis pelo programa de foguetes. O IAE está a 1 estágio do VLM, que inclusive serviria também para teste de vários sistemas do VLS, e falar em um novo projeto agora é realmente incompreensível. Porque simplesmente não se termina o VLM (que já poderia estar voando desde a década de 80, pelo amor de Deus!), e depois se faz o aperfeiçoamento de substituir seus dois últimos estágios por um de combustível líquido usando um motor derivado do MPFL-15 no qual o IAE já está trabalhando? Já está tudo quase pronto, para que começar outro projeto e ainda inventar esta complicação de parceria internacional? Só para depois passar vergonha como nos casos da ISS e do programa Brasil-Ucrânia?
Com as notícias que vem da área espacial no Brasil realmente não dá para ter muita esperança!
Abraços à todos,
Leandro G. Card
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
Para mim, caros amigos, um programa como este só se justificaria com o seguinte pressuposto:
-O Fim do programa VLS-1.
Dos três vôos que fez (ou faria) o VLS-1, em nenhum deles a massa total dos satélites ultrapassaria 150 kg. E a criação de um foguete como o que está se propondo, abocanharia justamente essa faixa de massa, fazendo do VLS-1 um foguete sem função e deixando tudo o que pese mais do que isso (>300 kg) para as missões do VLS-1B ou outros foguetes que venham a existir.
Mas isso não quer dizer que vão jogar tudo fora. Pode ser sim, que seja um VLM como este que o Leandro disse, nada diz que não será. Mas também pode ser que não.
Apesar de parecer corrida de "barata tonta", talvez seja este a "paulada" que o nosso programa espacial estava precisando. Uma manobra de risco, mas que colocaria as coisas em seus eixos.
Poderíamos lançar, de forma mais barata e segura, satélites científicos de pequeno porte e satélites universitários, como no projeto microgravidade. Alcançando sucessos mais consistentes e frequentes ("lançar o primeiro satélite") nosso programa teria mais visibilidade, impacto e conseguiria mais apoio para dar passos maiores.
A chance de exportação do serviço (países da América Latina tomando iniciativa para pequenos programas espaciais, com pequenos satélites) é real, caso consigam um veículo seguro e barato, aliando-se 'estrategicamente' a um parceiro experiente e conhecido como a EADS.
Iniciar um projeto de um lançador de satélites de pequeno porte, hoje, seria muito mais barato porque não começaríamos nada do zero. Já temos uma gama muito grande de motores já desenvolvidos (S-43, S-44, L-5, L-15, L-75), que poderiam (e deverão) ser aproveitados em um novo projeto, bastanto apenas projetar as novas configurações, já temos a infra-estrutura adequada (TMI do VLS e CLA) que poderia ser aproveitada sem problemas.
Acho que, caso esse projeto realmente siga adiante, muitas porta se abrirão para nosso programa espacial. Mas manter em operação o VLS-1"A", caso isso se concretize, para mim seria perda de dinheiro.
Na minha opinião, os vôos tecnológicos que ocorrerão nos próximos anos servirão para apenas uma coisa: qualificar em vôo os componentes da parte baixa do foguete para posterior utilização no VLS-1B, que é totalmente diferente. Há quem diga (do IAE) que o segundo vôo tecnológico do VLS-1, com o foguete completo, não deveria ocorrer. Isso para mim só tem um significado.
abraços]
-O Fim do programa VLS-1.
Dos três vôos que fez (ou faria) o VLS-1, em nenhum deles a massa total dos satélites ultrapassaria 150 kg. E a criação de um foguete como o que está se propondo, abocanharia justamente essa faixa de massa, fazendo do VLS-1 um foguete sem função e deixando tudo o que pese mais do que isso (>300 kg) para as missões do VLS-1B ou outros foguetes que venham a existir.
Mas isso não quer dizer que vão jogar tudo fora. Pode ser sim, que seja um VLM como este que o Leandro disse, nada diz que não será. Mas também pode ser que não.
Apesar de parecer corrida de "barata tonta", talvez seja este a "paulada" que o nosso programa espacial estava precisando. Uma manobra de risco, mas que colocaria as coisas em seus eixos.
Poderíamos lançar, de forma mais barata e segura, satélites científicos de pequeno porte e satélites universitários, como no projeto microgravidade. Alcançando sucessos mais consistentes e frequentes ("lançar o primeiro satélite") nosso programa teria mais visibilidade, impacto e conseguiria mais apoio para dar passos maiores.
A chance de exportação do serviço (países da América Latina tomando iniciativa para pequenos programas espaciais, com pequenos satélites) é real, caso consigam um veículo seguro e barato, aliando-se 'estrategicamente' a um parceiro experiente e conhecido como a EADS.
Iniciar um projeto de um lançador de satélites de pequeno porte, hoje, seria muito mais barato porque não começaríamos nada do zero. Já temos uma gama muito grande de motores já desenvolvidos (S-43, S-44, L-5, L-15, L-75), que poderiam (e deverão) ser aproveitados em um novo projeto, bastanto apenas projetar as novas configurações, já temos a infra-estrutura adequada (TMI do VLS e CLA) que poderia ser aproveitada sem problemas.
Acho que, caso esse projeto realmente siga adiante, muitas porta se abrirão para nosso programa espacial. Mas manter em operação o VLS-1"A", caso isso se concretize, para mim seria perda de dinheiro.
Na minha opinião, os vôos tecnológicos que ocorrerão nos próximos anos servirão para apenas uma coisa: qualificar em vôo os componentes da parte baixa do foguete para posterior utilização no VLS-1B, que é totalmente diferente. Há quem diga (do IAE) que o segundo vôo tecnológico do VLS-1, com o foguete completo, não deveria ocorrer. Isso para mim só tem um significado.
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
13/07/2009 | 00:00
Mãe Rússia
A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou um acordo de cooperação que possibilitará o lançamento de satélites e foguetes russos a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA)
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
Curiosidade:
http://www.iae.cta.br/noticias/imagens/unisul6.JPG
Alguém já viu essa imagem? Está no site do IAE.
É de uma câmera "onboard" do vôo do VLS-1 V02.
Interessante o secretismo dos programas militares e não divulgarem nada. De repente foi porque não deu certo...
abraços]
http://www.iae.cta.br/noticias/imagens/unisul6.JPG
Alguém já viu essa imagem? Está no site do IAE.
É de uma câmera "onboard" do vôo do VLS-1 V02.
Interessante o secretismo dos programas militares e não divulgarem nada. De repente foi porque não deu certo...
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
Imprensa
Cyclone Space decide permanecer no CLA
“A Alcântara Cyclone Space vai ficar dentro da área do CLA, pois essa área é suficiente para a realização de nossas atividades. Nós queremos trabalhar em harmonia com os quilombolas e com toda a sociedade de Alcântara e Maranhão”. A declaração é do presidente da parte brasileira da empresa binacional Alcantara Cyclone Space (ACS), Roberto Amaral, ontem, em entrevista exclusiva a O Estado. A afirmação contraria as recentes declarações do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e do presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, sobre a possível perda de importância do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) para atividades espaciais em decorrência dos impasses com as comunidades quilombolas.
No meio do impasse entre Governo Federal e quilombolas, encontra-se a empresa Alcântara Cyclone Space, empresa binacional criada a partir de um acordo de cooperação técnica entre Brasil e Ucrânia, e cujo projeto original previa a sua instalação na área ocupada pelas comunidades de Mamuna, Baracatatiua e Brito. Diante do impasse, e para não atrasar o primeiro lançamento, previsto para 2010, a ACS recuou e, mediante um acordo judicial, firmado em novembro do ano passado, garantiu que não irá utilizar área fora do CLA.
De acordo com Roberto Amaral, nada interferiu, apesar da mudança, nos planos de ação do empreendimento binacional.
“Da parte da Alcântara Cyclone Space, posso dizer que iremos permanecer onde estamos. Não iremos afetar a área quilombola e o Governo Federal tem que respeitar a decisão judicial. Para nós, é fundamental o entendimento com os quilombolas e com toda a sociedade do Maranhão, processo que está muito adiantado a partir de diálogos, reuniões com líderes comunitários, representantes do governo. Nada irá mudar a nossa decisão”, afirmou.
Atividades - A Alcântara Cyclone Space se prepara para inaugurar no município um escritório provisório, onde também funcionará um centro social e cultural. O prédio já foi cedido pela Prefeitura de Alcântara e dentro de 15 dias deverá começar a funcionar. Segundo Amaral, essa iniciativa deverá aproximar ainda mais os interesses da empresa com a comunidade quanto às atividades espaciais. O presidente garante que a primeira atividade da empresa ocorrerá no próximo ano com o lançamento do foguete ucraniano Cyclone-4. Em 2011, deverá ser iniciada a exploração comercial do CLA para atividades espaciais em parceria com vários países. “A partir de 2011, nossa intenção é fazer seis lançamentos por ano e já estamos negociando com outros países, mas não podemos revelar os nomes, uma vez que mercado espacial é muito concorrido. Seria um tiro no pé”, informou.
Ainda de acordo com Roberto Amaral, a parceria com a comunidade de Alcântara é fundamental para o andamento do projeto e, também, para o crescimento social e econômico do município. A partir de um convênio com o Ministério do Trabalho, serão realizadas oficinas de qualificação da mão-de-obra local em várias áreas de atuação, sem contar com os recursos indiretos, ou seja, os investimentos que as operações da Alcântara Cyclone Space trarão para o município.
ACS mais próxima de iniciar as obras do sítio de lançamento
ACS mais próxima de iniciar as obras do sítio de lançamento A Alcântara Cyclone Space (ACS) deu mais um passo rumo ao início das obras de seu sítio de lançamento. Nos dias 13 e 14 de agosto, técnicos da empresa, acompanhados de representantes da Fundação Palmares e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), realizaram uma inspeção in loco e uma consulta pública na região.
Além de visitarem o local exato onde será construído o sítio da ACS, eles também foram até o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), onde participaram de uma palestra ministrada pelo vice-diretor do CLA, Coronel Silva Tavares. No futuro sítio da ACS, onde somente é possível chegar de caminhonete com tração nas quatro rodas, eles foram fotografados no local exato de onde será lançado, no segundo semestre do ano que vem, o foguete Cyclone-4 (foto).
Consulta pública
A consulta pública, realizada no dia 14, contou com a presença e participação de representantes das comunidades quilombolas de Mamuna, Brito e Baracatatiua, da Prefeitura de Alcântara, da Câmara de Vereadores da cidade, da Fundação Palmares, da Seppir, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alcântara (STTR), da Paróquia de Alcântara e do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (MABE). O encontro começou às 9h30 e terminou pouco antes das 18h.
"Tudo transcorreu em um clima bastante amistoso", avalia o gerente técnico da ACS, responsável pelo licenciamento ambiental, Leonardo Scalabrin. "As dúvidas e questionamentos das comunidades foram respondidos e, agora, resta-nos estar preparados para a próxima base, que é a audiência pública para a validação de nosso Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que está prestes a ser aceito pelo Ibama."
45 dias
A consulta pública realizada no dia 14, exigida pela Fundação Palmares, serve como preparação para a audiência pública, exigida pelo Ibama. A consulta tem caráter informal, servindo, basicamente, para interação mais próxima com as comunidades quilombolas.
Neste momento, a ACS aguarda que o Ibama aceite o seu EIA e dê início ao prazo de 45 dias para a realização da audiência pública, que deve contar com a presença dos mesmos órgãos e entidades presentes à consulta do dia 14 e outros interessados no processo. Após a audiência pública e a análise do EIA, o Ibama poderá emitir a Licença Prévia, permitindo que a ACS inicie os procedimentos para obtenção da Licença de Instalação, necessária para o início da construção do sítio de lançamento.
http://www.alcantaracyclonespace.com/in ... Itemid=267
Cyclone Space decide permanecer no CLA
“A Alcântara Cyclone Space vai ficar dentro da área do CLA, pois essa área é suficiente para a realização de nossas atividades. Nós queremos trabalhar em harmonia com os quilombolas e com toda a sociedade de Alcântara e Maranhão”. A declaração é do presidente da parte brasileira da empresa binacional Alcantara Cyclone Space (ACS), Roberto Amaral, ontem, em entrevista exclusiva a O Estado. A afirmação contraria as recentes declarações do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e do presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, sobre a possível perda de importância do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) para atividades espaciais em decorrência dos impasses com as comunidades quilombolas.
No meio do impasse entre Governo Federal e quilombolas, encontra-se a empresa Alcântara Cyclone Space, empresa binacional criada a partir de um acordo de cooperação técnica entre Brasil e Ucrânia, e cujo projeto original previa a sua instalação na área ocupada pelas comunidades de Mamuna, Baracatatiua e Brito. Diante do impasse, e para não atrasar o primeiro lançamento, previsto para 2010, a ACS recuou e, mediante um acordo judicial, firmado em novembro do ano passado, garantiu que não irá utilizar área fora do CLA.
De acordo com Roberto Amaral, nada interferiu, apesar da mudança, nos planos de ação do empreendimento binacional.
“Da parte da Alcântara Cyclone Space, posso dizer que iremos permanecer onde estamos. Não iremos afetar a área quilombola e o Governo Federal tem que respeitar a decisão judicial. Para nós, é fundamental o entendimento com os quilombolas e com toda a sociedade do Maranhão, processo que está muito adiantado a partir de diálogos, reuniões com líderes comunitários, representantes do governo. Nada irá mudar a nossa decisão”, afirmou.
Atividades - A Alcântara Cyclone Space se prepara para inaugurar no município um escritório provisório, onde também funcionará um centro social e cultural. O prédio já foi cedido pela Prefeitura de Alcântara e dentro de 15 dias deverá começar a funcionar. Segundo Amaral, essa iniciativa deverá aproximar ainda mais os interesses da empresa com a comunidade quanto às atividades espaciais. O presidente garante que a primeira atividade da empresa ocorrerá no próximo ano com o lançamento do foguete ucraniano Cyclone-4. Em 2011, deverá ser iniciada a exploração comercial do CLA para atividades espaciais em parceria com vários países. “A partir de 2011, nossa intenção é fazer seis lançamentos por ano e já estamos negociando com outros países, mas não podemos revelar os nomes, uma vez que mercado espacial é muito concorrido. Seria um tiro no pé”, informou.
Ainda de acordo com Roberto Amaral, a parceria com a comunidade de Alcântara é fundamental para o andamento do projeto e, também, para o crescimento social e econômico do município. A partir de um convênio com o Ministério do Trabalho, serão realizadas oficinas de qualificação da mão-de-obra local em várias áreas de atuação, sem contar com os recursos indiretos, ou seja, os investimentos que as operações da Alcântara Cyclone Space trarão para o município.
ACS mais próxima de iniciar as obras do sítio de lançamento
ACS mais próxima de iniciar as obras do sítio de lançamento A Alcântara Cyclone Space (ACS) deu mais um passo rumo ao início das obras de seu sítio de lançamento. Nos dias 13 e 14 de agosto, técnicos da empresa, acompanhados de representantes da Fundação Palmares e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), realizaram uma inspeção in loco e uma consulta pública na região.
Além de visitarem o local exato onde será construído o sítio da ACS, eles também foram até o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), onde participaram de uma palestra ministrada pelo vice-diretor do CLA, Coronel Silva Tavares. No futuro sítio da ACS, onde somente é possível chegar de caminhonete com tração nas quatro rodas, eles foram fotografados no local exato de onde será lançado, no segundo semestre do ano que vem, o foguete Cyclone-4 (foto).
Consulta pública
A consulta pública, realizada no dia 14, contou com a presença e participação de representantes das comunidades quilombolas de Mamuna, Brito e Baracatatiua, da Prefeitura de Alcântara, da Câmara de Vereadores da cidade, da Fundação Palmares, da Seppir, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alcântara (STTR), da Paróquia de Alcântara e do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (MABE). O encontro começou às 9h30 e terminou pouco antes das 18h.
"Tudo transcorreu em um clima bastante amistoso", avalia o gerente técnico da ACS, responsável pelo licenciamento ambiental, Leonardo Scalabrin. "As dúvidas e questionamentos das comunidades foram respondidos e, agora, resta-nos estar preparados para a próxima base, que é a audiência pública para a validação de nosso Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que está prestes a ser aceito pelo Ibama."
45 dias
A consulta pública realizada no dia 14, exigida pela Fundação Palmares, serve como preparação para a audiência pública, exigida pelo Ibama. A consulta tem caráter informal, servindo, basicamente, para interação mais próxima com as comunidades quilombolas.
Neste momento, a ACS aguarda que o Ibama aceite o seu EIA e dê início ao prazo de 45 dias para a realização da audiência pública, que deve contar com a presença dos mesmos órgãos e entidades presentes à consulta do dia 14 e outros interessados no processo. Após a audiência pública e a análise do EIA, o Ibama poderá emitir a Licença Prévia, permitindo que a ACS inicie os procedimentos para obtenção da Licença de Instalação, necessária para o início da construção do sítio de lançamento.
http://www.alcantaracyclonespace.com/in ... Itemid=267
Editado pela última vez por Anderson TR em Qua Set 02, 2009 12:16 am, em um total de 1 vez.
Jesus Cristo meu Senhor -"O Leão da tribo de Judah"!!!
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
Imprensa
Governo do Maranhão e AEB assinam convênio para restaurar estradas
A governadora Roseana Sarney, o secretário de estado da Infraestrutura, Max Barros, e o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, assinaram, ontem, o termo de convênio para a recuperação da estrada entre o povoado de Cujupe e o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), como cumprimento de parte do tratado Brasil-Ucrânia que visa ao lançamento do foguete Cyclone-4 a partir do CLA. Os investimentos para as obras são da ordem de R$ 33 milhões.
A iniciativa prevê que serão reformados um trecho de 11 quilômetros que liga o Terminal de Cujupe à rodovia estadual MA-106 e outro trecho de aproximadamente 47 quilômetros na MA-106 que segue até a cidade de Alcântara.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, após acompanhar em Alcântara o lançamento do segundo Foguete de Treinamento Básico (FTB) da Operação FogTrein I, se fez presente ao ato de assinatura do termo de convênio, quando parabenizou a Roseana Sarney pela formalização da parceria com o Governo Federal. Ele anunciou para os próximos meses a instalação do sítio da Cyclone Space em Alcântara, o que permitirá o lançamento do primeiro foguete de grande porte no Maranhão. “A base facilitará o trabalho da Cyclone e proporcionará um significativo avanço para o país. Ainda no governo Lula será lançado o foguete do sítio Cyclone”, garantiu.
De acordo com a governadora, a reforma das rodovias que dão acesso ao Centro de Lançamento não só trarão benefícios aos trabalhos desenvolvidos pela Agência Espacial Brasileira e a Cyclone Space em Alcântara, como a todos os moradores das várias comunidades e povoados existentes no município. Ela ressaltou o sucesso da parceria com o Governo Federal que, do total de R$ 33 milhões, disponibilizou R$ 30 milhões para a melhoria das estradas.
Roseana Sarney garantiu que a intenção do Governo do Estado é envolver ainda mais a população de Alcântara no projeto que prevê a construção do sítio da Cyclone Space. “O governo vai capacitar a população e aproveitar a mão-de-obra local nos empreendimentos que serão ali apresentados. A idéia é investirmos em centros de treinamento, formação e capacitação profissional”, afirmou.
Mais
O secretário de Infraestrutura, Max Barros, informou que o processo de licitação para as obras de restauração das estradas será aberto no dia 11 de setembro, com prazo máximo de seis meses para conclusão. “Faremos o possível para concluirmos as etapas bem antes, em mês de janeiro de 2010. Vamos dar celeridade às ações, garantindo, assim, o mais rápido desenvolvimento no que diz respeito a experiências e lançamentos de foguetes em terras maranhenses”, afirmou Barros.
http://www.alcantaracyclonespace.com/in ... Itemid=267
Governo do Maranhão e AEB assinam convênio para restaurar estradas
A governadora Roseana Sarney, o secretário de estado da Infraestrutura, Max Barros, e o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, assinaram, ontem, o termo de convênio para a recuperação da estrada entre o povoado de Cujupe e o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), como cumprimento de parte do tratado Brasil-Ucrânia que visa ao lançamento do foguete Cyclone-4 a partir do CLA. Os investimentos para as obras são da ordem de R$ 33 milhões.
A iniciativa prevê que serão reformados um trecho de 11 quilômetros que liga o Terminal de Cujupe à rodovia estadual MA-106 e outro trecho de aproximadamente 47 quilômetros na MA-106 que segue até a cidade de Alcântara.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, após acompanhar em Alcântara o lançamento do segundo Foguete de Treinamento Básico (FTB) da Operação FogTrein I, se fez presente ao ato de assinatura do termo de convênio, quando parabenizou a Roseana Sarney pela formalização da parceria com o Governo Federal. Ele anunciou para os próximos meses a instalação do sítio da Cyclone Space em Alcântara, o que permitirá o lançamento do primeiro foguete de grande porte no Maranhão. “A base facilitará o trabalho da Cyclone e proporcionará um significativo avanço para o país. Ainda no governo Lula será lançado o foguete do sítio Cyclone”, garantiu.
De acordo com a governadora, a reforma das rodovias que dão acesso ao Centro de Lançamento não só trarão benefícios aos trabalhos desenvolvidos pela Agência Espacial Brasileira e a Cyclone Space em Alcântara, como a todos os moradores das várias comunidades e povoados existentes no município. Ela ressaltou o sucesso da parceria com o Governo Federal que, do total de R$ 33 milhões, disponibilizou R$ 30 milhões para a melhoria das estradas.
Roseana Sarney garantiu que a intenção do Governo do Estado é envolver ainda mais a população de Alcântara no projeto que prevê a construção do sítio da Cyclone Space. “O governo vai capacitar a população e aproveitar a mão-de-obra local nos empreendimentos que serão ali apresentados. A idéia é investirmos em centros de treinamento, formação e capacitação profissional”, afirmou.
Mais
O secretário de Infraestrutura, Max Barros, informou que o processo de licitação para as obras de restauração das estradas será aberto no dia 11 de setembro, com prazo máximo de seis meses para conclusão. “Faremos o possível para concluirmos as etapas bem antes, em mês de janeiro de 2010. Vamos dar celeridade às ações, garantindo, assim, o mais rápido desenvolvimento no que diz respeito a experiências e lançamentos de foguetes em terras maranhenses”, afirmou Barros.
http://www.alcantaracyclonespace.com/in ... Itemid=267
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Re: ALCÂNTARA CYCLONE SPACE/AEB - News
Olá amigos!
Segue abaixo uma entrevista esclarecedora com o Diretor-Geral da Parte Brasileira da Alcântara Cyclone Space (ACS), Roberto Amaral postada hoje (04/09) pelo companheiro jornalista "André Mileski" no site da revista Tecnologia & Defesa destacando assuntos relativos ao Programa Espacial Brasileiro.
Duda Falcão
Entrevista Exclusiva com Roberto Amaral,
Diretor da Alcântara Cyclone Space
André Mileski
04/09/2009
Roberto Amaral concedeu entrevista exclusiva para T&D, e contou detalhes sobre a parceria ucraniano-brasileira para a exploração comercial da base espacial de Alcântara.
A reportagem de Tecnologia & Defesa teve a oportunidade de conversar ontem (3) com Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia (2003-2004), e atualmente diretor-geral da binacional ucraniano-brasileira Alcântara Cyclone Space (ACS), sobre o projeto da empresa para a exploração comercial do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.
Em breve conversa, T&D abordou vários pontos do projeto da ACS, como o início das obras de infraestrutura, suas perspectivas comerciais, a necessidade de acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos, cooperação tecnológica com a Ucrânia, entre outros.
A cooperação espacial com a Ucrânia teve seu marco inicial em 1995, quando da visita ao Brasil do presidente ucraniano Leonid Kutchma. Pouco depois, passou-se a discutir a ideia de utilização do CLA para missões comerciais. A partir de então, os dois países aprofundaram as discussões, tendo assinado em outubro de 2003 o Tratado sobre a Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamentos Cyclone-4, que criou a ACS.
Importante dirigente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Amaral demonstrou grande conhecimento sobre o Programa Espacial Brasileiro e o mercado global de lançamentos espaciais, indicativo de que não ocupa a direção geral de uma das duas empresas binacionais brasileiras por razões meramente políticas.
Início das Obras de Infraestrutura em Alcântara
A previsão inicial era de que as primeiras obras da ACS em Alcântara fossem iniciadas este mês, setembro, mas o cronograma foi alterado e depende do licenciamento pelo Ibama.
Com as informações disponíveis hoje, a previsão é que as obras sejam iniciadas em novembro, logo após o licenciamento pelo Ibama e a contratação das construtoras por meio de concorrência em andamento.
Amaral informou que a infraestrutura que será construída não se resume apenas à plataforma de lançamento. Serão, ao todo, 103 itens, como poços d água, grandes armazéns, vias e outras obras civis.
Mercado Mundial de Lançamentos
Embora ainda não tenha seu lançador operacional, a ACS já trabalha em busca de potenciais clientes. “Nós estamos trabalhando desde agora”, disse Amaral. De acordo com o diretor-geral da ACS, o mercado de lançamentos médios e intermediários é o de maior crescimento, devendo crescer ainda mais nos próximos anos, já que vários satélites de comunicações serão colocados em órbita para substituir outros.
O voo de qualificação do Cyclone 4 é essencial para os esforços comerciais da joint-venture binacional, e a expectativa é que só a partir dele é que os primeiros contratos de lançamento sejam assinados. Amaral informou que no momento existem três negociações em marcha, bem preliminares. Um dos potenciais clientes é a norte-americana Iridium, famosa por sua constelação de satélites de comunicações de órbita baixa.
Primeiro Lançamento
De acordo com Amaral, o voo de qualificação em outubro de 2010 é ainda viável, mas vai se tornando cada dia mais difícil. O objetivo, no entanto, continua sendo o de lançar o primeiro Cyclone 4 até o final de 2010.
Uma carga útil já confirmada para o primeiro modelo do Cyclone 4 é o satélite científico japonês Jasmine. No entanto, a Agência Espacial Brasileira (AEB) tem prioridade na definição de outras cargas úteis, devendo incluir na missão outro satélite, certamente construído pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os Estados Unidos
Perguntado sobre a relevância que um acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos teria para os propósitos comerciais da AEB, Amaral informou que atualmente cerca de 40% dos satélites são de origem estadunidense ou possuem algum componente oriundo deste país. Sem o acordo com os Estados Unidos, satélites ou com peças fabricados e desenvolvidos lá não poderiam ser lançados pela ACS.
Os Ministérios de Ciência e Tecnologia e Relações Exteriores já foram informados pela ACS sobre a questão, e devem tomar as medidas necessárias visando à negociação de um acordo de salvaguardas com os Estados Unidos. Por ser uma empresa, não cabe à ACS negociar diretamente com o país. “Não podemos tomar nenhuma iniciativa de negócio”. “É questão de Estado-Estado”, disse.
Desenvolvimento Tecnológico e Participação Nacional
O acordo de cooperação na área espacial com a Ucrânia também leva em consideração desenvolvimentos tecnológicos futuros, como a continuidade da família Cyclone. A ideia é que uma vez consolidado o projeto comercial da ACS, os dois países partam para o desenvolvimento do Cyclone 5, foguete de maior porte que seu irmão mais velho. “Seria um projeto para os próximos quinze anos”, detalha Amaral.
O diretor da ACS revelou que a indústria brasileira deve participar da construção de componentes do Cyclone 4, como a coifa. A companhia está estudando quais empresas poderiam fabricar estas partes. “A Embraer tem tecnologia para isso”, disse.
Outra iniciativa em discussão é o apoio ao Programa VLS, através de desenvolvimento conjunto de lançador de pequeno porte com foco no mercado de microssatélites. No momento, autoridades dos dois países estão discutindo o intercâmbio de especialistas em tecnologia espacial na área de lançadores, o que permitiria transferência de conhecimento.
No próximo dia 9, Roberto Amaral, acompanhado do brigadeiro Venâncio Alvarenga, do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), e do coronel Francisco Pantoja, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), embarcam para a Ucrânia com o objetivo de discutirem o possível apoio ao Programa VLS.
Investimentos
O diretor da ACS disse que o projeto ucraniano-brasileiro como um todo deve exigir investimentos de cerca de US$ 500 milhões, divididos entre os dois governos. Quando o projeto estiver mais evoluído do ponto de vista operacional, existe também a possibilidade de se obter financiamentos junto a instituições financeiras, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A ideia é que o banco de desenvolvimento brasileiro financie o projeto de industrialização do lançador quando este já estiver disponível comercialmente.
Conflito na AEB
Questionado sobre a áspera discussão tida com o então diretor de Transporte Espacial e Licenciamento da AEB, brig. Antonio Hugo Pereira Chaves, relatada no início desta semana pelo jornal "Correio Braziliense", Amaral disse que o "o caso está encerrado." Depois da discussão, que quase chegou a agressões físicas, o brig. Chaves foi demitido da direção da AEB.
A reportagem do jornal brasiliense afirma que a relação entre alguns setores da Agência Espacial (diretoria de Transporte Espacial, tradicionalmente ocupada por brigadeiros da Aeronáutica) e a ACS "não anda em seus melhores dias", em razão da binacional atuar numa área que sempre esteve sob a chancela do Comando da Aeronáutica.
Fonte: Site da Revista Tecnologia & Defesa
Comentário: Uma grande e esclarecedora entrevista do companheiro André Mileski para a revista Tecnologia & Defesa que eu convido aos amigos analisarem comigo os seus principais pontos. Se não vejamos:
Início das Obras de Infraestrutura em Alcântara - Acho bastante improvável que se cumpra o cronograma de lançamento do foguete Cyclone 4 em 2010, caso as obras sejam iniciadas em novembro, já que além das obras civis que são em grande numero, após a realização das mesmas haverá a necessidade de um certo tempo para a instalação e testes dos equipamentos destinados ao lançamento do foguete.
Mercado Mundial de Lançamentos - Será uma briga muito grande e seu sucesso dependerá muito da eficiência e experiência administrativa, fator difícil de ser alcançado por instituições controladas por politicagem.
Primeiro lançamento - É muito improvável que o mesmo venha se realizar ainda em 2010, não acredito nessa possibilidade. O Amaral deixa entender que além do satélite universitário japonês “Jasmine”, o Cyclone 4 poderá levar uma carga útil que deverá ser apontada pela AEB. Se assim for, ou o INPE desenvolverá outro SATEC (satélite tecnológico) ou dependendo da época do lançamento poderá lançar o ITASAT ou até mesmo o NANOSATC-BR (o primeiro cubesat brasileiro) que esta sendo desenvolvido pelo INPE e pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Existe também a possibilidade de lançar o Amazônia 1, porém essa possibilidade no momento me parece mais remota.
Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os Estados Unidos – Extremamente necessário se a ACS quiser operar agressivamente no mercado internacional, justamente pelos pontos já colocados pelo próprio Mileski e endossado pelo senhor Amaral. Acontece que, um acordo como esse esta levando em média 5 anos para ser aprovado pelo Congresso Brasileiro, o que em minha opinião é um desastre para as pretensões de sucesso da empresa. Esse ponto já deveria ter sido visto, antes de qualquer coisa.
Desenvolvimento Tecnológico e Participação Nacional - Não é verdade que o acordo com os ucranianos leve em conta qualquer consideração de desenvolvimentos tecnológicos futuros, como a continuidade da família Cyclone e muito menos a transferência de tecnologia (nem mesmo de um simples parafuso) como já foi divulgado pelo senhor Amaral por diversas vezes. O que existe é o interesse e estudos de ambas as partes (caso o acordo da ACS ocorra de forma positiva) de se partir para um acordo mais amplo que possa incluir essa possibilidade. No entanto, para que isso ocorre-se seria necessário se assinar um outro acordo que também teria que passar pelos transmites legais, o que atrasaria ainda mais o já atrasadíssimo Programa Espacial Brasileiro. Além disso, já existe um acordo com os russos em andamento nesse sentido que não justifica qualquer mudança de caminho para se alcançar os foguetes que serão necessários para lançar os satélites previstos pelo PEB até 2016.
Quanto a idéia de se partir para um Cyclone 5 num prazo de quinze anos acho que só vem demonstrar uma vez mais a falta de foco das pessoas que comandam o PEB. Gente, deveríamos sim está unindo nossos esforços e nossas ações e pensamentos no intuito produzir o VLS para colocar o nosso primeito satélite no espaço. Esse deve ser o pensamento e não desviar a nossa atenção para um foguete pesado com horizonte de 15 anos para ser produzido quando no momento não podemos colocar nem uma formiga em órbita. Faça-me uma garapa.
Quanto à participação da indústria brasileira na construção de partes do Cyclone 4 (isso é algo que não depende de acordo) é uma boa notícia e esperamos que realmente possa acontecer.
Já quanto à participação ucraniana no Programa VLS a mesma é desnecessária, principalmente quanto à idéia de se desenvolver conjuntamente um lançador de pequeno porte com foco no mercado de microssatélites. O próprio IAE tem um projeto chamado VLM - Veículo Lançador de Microssatélites (previsto pelo PNAE) que com o sucesso do VLS-1, tornar-se um passo muito simples de ser alcançado sem a necessidade de ajuda extra, pois só seria uma questão de concepção de montagem dos estágios e teríamos o VLM, pronto.
Essa notícia sobre a reunião na Ucrânia é preocupante, pois poderá significar o fim o projeto do VLM (aumentando o atraso), a clara ingerência política na parte militar do PEB que sempre funcionou razoavelmente bem pelo claro entendimento pelas partes envolvidas (militar e civil) de que as decisões sobre os foguetes cabiam aos militares (CTA/IAE) e as decisões sobre satélites e tecnologias associadas cabiam aos civis (MCT/AEB/INPE). Certamente esta interferência do senhor Amaral num projeto que não lhe diz respeito, gerará grandes insatisfações dentro do CTA, o que poderá atrasar ainda mais o Programa Espacial Brasileiro. Lamentável!
Segue abaixo uma entrevista esclarecedora com o Diretor-Geral da Parte Brasileira da Alcântara Cyclone Space (ACS), Roberto Amaral postada hoje (04/09) pelo companheiro jornalista "André Mileski" no site da revista Tecnologia & Defesa destacando assuntos relativos ao Programa Espacial Brasileiro.
Duda Falcão
Entrevista Exclusiva com Roberto Amaral,
Diretor da Alcântara Cyclone Space
André Mileski
04/09/2009
Roberto Amaral concedeu entrevista exclusiva para T&D, e contou detalhes sobre a parceria ucraniano-brasileira para a exploração comercial da base espacial de Alcântara.
A reportagem de Tecnologia & Defesa teve a oportunidade de conversar ontem (3) com Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia (2003-2004), e atualmente diretor-geral da binacional ucraniano-brasileira Alcântara Cyclone Space (ACS), sobre o projeto da empresa para a exploração comercial do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.
Em breve conversa, T&D abordou vários pontos do projeto da ACS, como o início das obras de infraestrutura, suas perspectivas comerciais, a necessidade de acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos, cooperação tecnológica com a Ucrânia, entre outros.
A cooperação espacial com a Ucrânia teve seu marco inicial em 1995, quando da visita ao Brasil do presidente ucraniano Leonid Kutchma. Pouco depois, passou-se a discutir a ideia de utilização do CLA para missões comerciais. A partir de então, os dois países aprofundaram as discussões, tendo assinado em outubro de 2003 o Tratado sobre a Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamentos Cyclone-4, que criou a ACS.
Importante dirigente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Amaral demonstrou grande conhecimento sobre o Programa Espacial Brasileiro e o mercado global de lançamentos espaciais, indicativo de que não ocupa a direção geral de uma das duas empresas binacionais brasileiras por razões meramente políticas.
Início das Obras de Infraestrutura em Alcântara
A previsão inicial era de que as primeiras obras da ACS em Alcântara fossem iniciadas este mês, setembro, mas o cronograma foi alterado e depende do licenciamento pelo Ibama.
Com as informações disponíveis hoje, a previsão é que as obras sejam iniciadas em novembro, logo após o licenciamento pelo Ibama e a contratação das construtoras por meio de concorrência em andamento.
Amaral informou que a infraestrutura que será construída não se resume apenas à plataforma de lançamento. Serão, ao todo, 103 itens, como poços d água, grandes armazéns, vias e outras obras civis.
Mercado Mundial de Lançamentos
Embora ainda não tenha seu lançador operacional, a ACS já trabalha em busca de potenciais clientes. “Nós estamos trabalhando desde agora”, disse Amaral. De acordo com o diretor-geral da ACS, o mercado de lançamentos médios e intermediários é o de maior crescimento, devendo crescer ainda mais nos próximos anos, já que vários satélites de comunicações serão colocados em órbita para substituir outros.
O voo de qualificação do Cyclone 4 é essencial para os esforços comerciais da joint-venture binacional, e a expectativa é que só a partir dele é que os primeiros contratos de lançamento sejam assinados. Amaral informou que no momento existem três negociações em marcha, bem preliminares. Um dos potenciais clientes é a norte-americana Iridium, famosa por sua constelação de satélites de comunicações de órbita baixa.
Primeiro Lançamento
De acordo com Amaral, o voo de qualificação em outubro de 2010 é ainda viável, mas vai se tornando cada dia mais difícil. O objetivo, no entanto, continua sendo o de lançar o primeiro Cyclone 4 até o final de 2010.
Uma carga útil já confirmada para o primeiro modelo do Cyclone 4 é o satélite científico japonês Jasmine. No entanto, a Agência Espacial Brasileira (AEB) tem prioridade na definição de outras cargas úteis, devendo incluir na missão outro satélite, certamente construído pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os Estados Unidos
Perguntado sobre a relevância que um acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos teria para os propósitos comerciais da AEB, Amaral informou que atualmente cerca de 40% dos satélites são de origem estadunidense ou possuem algum componente oriundo deste país. Sem o acordo com os Estados Unidos, satélites ou com peças fabricados e desenvolvidos lá não poderiam ser lançados pela ACS.
Os Ministérios de Ciência e Tecnologia e Relações Exteriores já foram informados pela ACS sobre a questão, e devem tomar as medidas necessárias visando à negociação de um acordo de salvaguardas com os Estados Unidos. Por ser uma empresa, não cabe à ACS negociar diretamente com o país. “Não podemos tomar nenhuma iniciativa de negócio”. “É questão de Estado-Estado”, disse.
Desenvolvimento Tecnológico e Participação Nacional
O acordo de cooperação na área espacial com a Ucrânia também leva em consideração desenvolvimentos tecnológicos futuros, como a continuidade da família Cyclone. A ideia é que uma vez consolidado o projeto comercial da ACS, os dois países partam para o desenvolvimento do Cyclone 5, foguete de maior porte que seu irmão mais velho. “Seria um projeto para os próximos quinze anos”, detalha Amaral.
O diretor da ACS revelou que a indústria brasileira deve participar da construção de componentes do Cyclone 4, como a coifa. A companhia está estudando quais empresas poderiam fabricar estas partes. “A Embraer tem tecnologia para isso”, disse.
Outra iniciativa em discussão é o apoio ao Programa VLS, através de desenvolvimento conjunto de lançador de pequeno porte com foco no mercado de microssatélites. No momento, autoridades dos dois países estão discutindo o intercâmbio de especialistas em tecnologia espacial na área de lançadores, o que permitiria transferência de conhecimento.
No próximo dia 9, Roberto Amaral, acompanhado do brigadeiro Venâncio Alvarenga, do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), e do coronel Francisco Pantoja, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), embarcam para a Ucrânia com o objetivo de discutirem o possível apoio ao Programa VLS.
Investimentos
O diretor da ACS disse que o projeto ucraniano-brasileiro como um todo deve exigir investimentos de cerca de US$ 500 milhões, divididos entre os dois governos. Quando o projeto estiver mais evoluído do ponto de vista operacional, existe também a possibilidade de se obter financiamentos junto a instituições financeiras, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A ideia é que o banco de desenvolvimento brasileiro financie o projeto de industrialização do lançador quando este já estiver disponível comercialmente.
Conflito na AEB
Questionado sobre a áspera discussão tida com o então diretor de Transporte Espacial e Licenciamento da AEB, brig. Antonio Hugo Pereira Chaves, relatada no início desta semana pelo jornal "Correio Braziliense", Amaral disse que o "o caso está encerrado." Depois da discussão, que quase chegou a agressões físicas, o brig. Chaves foi demitido da direção da AEB.
A reportagem do jornal brasiliense afirma que a relação entre alguns setores da Agência Espacial (diretoria de Transporte Espacial, tradicionalmente ocupada por brigadeiros da Aeronáutica) e a ACS "não anda em seus melhores dias", em razão da binacional atuar numa área que sempre esteve sob a chancela do Comando da Aeronáutica.
Fonte: Site da Revista Tecnologia & Defesa
Comentário: Uma grande e esclarecedora entrevista do companheiro André Mileski para a revista Tecnologia & Defesa que eu convido aos amigos analisarem comigo os seus principais pontos. Se não vejamos:
Início das Obras de Infraestrutura em Alcântara - Acho bastante improvável que se cumpra o cronograma de lançamento do foguete Cyclone 4 em 2010, caso as obras sejam iniciadas em novembro, já que além das obras civis que são em grande numero, após a realização das mesmas haverá a necessidade de um certo tempo para a instalação e testes dos equipamentos destinados ao lançamento do foguete.
Mercado Mundial de Lançamentos - Será uma briga muito grande e seu sucesso dependerá muito da eficiência e experiência administrativa, fator difícil de ser alcançado por instituições controladas por politicagem.
Primeiro lançamento - É muito improvável que o mesmo venha se realizar ainda em 2010, não acredito nessa possibilidade. O Amaral deixa entender que além do satélite universitário japonês “Jasmine”, o Cyclone 4 poderá levar uma carga útil que deverá ser apontada pela AEB. Se assim for, ou o INPE desenvolverá outro SATEC (satélite tecnológico) ou dependendo da época do lançamento poderá lançar o ITASAT ou até mesmo o NANOSATC-BR (o primeiro cubesat brasileiro) que esta sendo desenvolvido pelo INPE e pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Existe também a possibilidade de lançar o Amazônia 1, porém essa possibilidade no momento me parece mais remota.
Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os Estados Unidos – Extremamente necessário se a ACS quiser operar agressivamente no mercado internacional, justamente pelos pontos já colocados pelo próprio Mileski e endossado pelo senhor Amaral. Acontece que, um acordo como esse esta levando em média 5 anos para ser aprovado pelo Congresso Brasileiro, o que em minha opinião é um desastre para as pretensões de sucesso da empresa. Esse ponto já deveria ter sido visto, antes de qualquer coisa.
Desenvolvimento Tecnológico e Participação Nacional - Não é verdade que o acordo com os ucranianos leve em conta qualquer consideração de desenvolvimentos tecnológicos futuros, como a continuidade da família Cyclone e muito menos a transferência de tecnologia (nem mesmo de um simples parafuso) como já foi divulgado pelo senhor Amaral por diversas vezes. O que existe é o interesse e estudos de ambas as partes (caso o acordo da ACS ocorra de forma positiva) de se partir para um acordo mais amplo que possa incluir essa possibilidade. No entanto, para que isso ocorre-se seria necessário se assinar um outro acordo que também teria que passar pelos transmites legais, o que atrasaria ainda mais o já atrasadíssimo Programa Espacial Brasileiro. Além disso, já existe um acordo com os russos em andamento nesse sentido que não justifica qualquer mudança de caminho para se alcançar os foguetes que serão necessários para lançar os satélites previstos pelo PEB até 2016.
Quanto a idéia de se partir para um Cyclone 5 num prazo de quinze anos acho que só vem demonstrar uma vez mais a falta de foco das pessoas que comandam o PEB. Gente, deveríamos sim está unindo nossos esforços e nossas ações e pensamentos no intuito produzir o VLS para colocar o nosso primeito satélite no espaço. Esse deve ser o pensamento e não desviar a nossa atenção para um foguete pesado com horizonte de 15 anos para ser produzido quando no momento não podemos colocar nem uma formiga em órbita. Faça-me uma garapa.
Quanto à participação da indústria brasileira na construção de partes do Cyclone 4 (isso é algo que não depende de acordo) é uma boa notícia e esperamos que realmente possa acontecer.
Já quanto à participação ucraniana no Programa VLS a mesma é desnecessária, principalmente quanto à idéia de se desenvolver conjuntamente um lançador de pequeno porte com foco no mercado de microssatélites. O próprio IAE tem um projeto chamado VLM - Veículo Lançador de Microssatélites (previsto pelo PNAE) que com o sucesso do VLS-1, tornar-se um passo muito simples de ser alcançado sem a necessidade de ajuda extra, pois só seria uma questão de concepção de montagem dos estágios e teríamos o VLM, pronto.
Essa notícia sobre a reunião na Ucrânia é preocupante, pois poderá significar o fim o projeto do VLM (aumentando o atraso), a clara ingerência política na parte militar do PEB que sempre funcionou razoavelmente bem pelo claro entendimento pelas partes envolvidas (militar e civil) de que as decisões sobre os foguetes cabiam aos militares (CTA/IAE) e as decisões sobre satélites e tecnologias associadas cabiam aos civis (MCT/AEB/INPE). Certamente esta interferência do senhor Amaral num projeto que não lhe diz respeito, gerará grandes insatisfações dentro do CTA, o que poderá atrasar ainda mais o Programa Espacial Brasileiro. Lamentável!