HIGGINS escreveu:Orestes,
permita-me dizer:
O projeto AMX foi o nosso primeiro, efetivo, de um jato militar.
Como resultado, gerou e ainda gera discussões embasadas em emocionalidades derivadas de um patriotismo juvenil.
O AMX já era um projeto equivocado na época. Sua história posterior confirma.
Como se protege o projeto, e não se permite ou se veicula as críticas, todos os erros havidos são naturalmente, esquecidos.
Um erro absurdo de comportamento, pois erros são balizas para acertos futuros!
A história fracassada e danosa do AMX, poderia iluminar os parâmetros para o FX-2. Mas, isto não acontece.
Pois não foi discutido, portanto, conhecido em suas minúcias e parâmetros mínimos.
Então, entramos no escuro mais uma vez, desnecessariamente, porque estamos antes apegados ao nosso querer idealizado, e não a realidade, mesmo que esta seja operativa.
A pergunta pertinente é: Cometeremos o mesmo erro, novamente?
PS: Não sei quanto a ti, mas eu sou o tipo da pessoa que prefere perguntas às respostas. São mais importantes, afinal, as respostas delas derivam.
Olá Higgins,
realmente existiram problemas no desenvolvimento do AMX e há várias críticas sobre ele, todas bem conhecidas aqui. Porém, não acredito que aqueles que defendem o avião seja apenas por patriotismo, isto seria razoável na época, hoje temos mais acesso as informações e conhecimentos necessários para não ficar presos ao ufanismo e a ignorância.
O AMX foi idealizado em uma época que ainda existia a Guerra Fria, uma forma diferente de pensar. Pensava-se que ele seria o substituto natural dos A-4 espalhados pelo mundo, porém, quando ele se tornou operacional, o mundo "descobria" a capacidade de modernização de seus ultrapassados meios de combate, um balde de água fria que impediu a venda esperada para o AMX.
A parceria Brasil-Itália, se por um lado, adequada sob o ponto de vista de redução de gastos por ambas as partes, um desastre por ter que fazer um vetor que atendesse dois objetivos completamente distintos (no fundo cada um queria um vetor de um jeito). Acertado os detalhes que permitiram construir um caça comum, passamos a sofrer ao "percebermos" que nosso caça não poderia ser exatamente igual ao dos italianos, pois houveram restrições quanto a equipamentos e armamentos, portanto o caça já nasceu como sendo dois, encarecendo ainda mais o projeto. Assim sendo, foi necessário "fazer escolhas", no caso brasileiros, deixar o avião o mais básico possível, visto ter sido muito dispendioso o desenvolvimento, sem falar nas compras em si. E tudo isto em um momento em que o País atravessava um de seus piores momentos econômicos em sua história, com inflação mensal ultrapassando 80%, moratória batendo às portas, turbulência política, sem falar que nesta época encontrávamos como oitavo maior exportador de armamentos, incomodando muita gente grande.
O que não deve ser esquecido, neste fórum, jamais, é o quanto se deve gastar para se ter algo moderno, principalmente na área militar. Neste universo não se ganha nada, tudo é pago e muito caro. Pagou-se um valor elevado para se desenvolver e construir o AMX, mas o retorno técnico-industrial é inquestionável, e não se pode falar apenas no vetor sem se dizer o quanto proporcionou em termos de tecnologia para o País. Os produtos recentes da Embraer estão aí para confirmar, e não sou eu quem diz isso apenas.
Posso estar redondamente enganado, mas tenho a sensação que os que criticam o AMX como vetor de combate, o comparam com caças superiores da mesma geração e com preços inferiores. Ora bolas, se estiver certo nesta minha hipótese, então os críticos do AMX são defensores de compras de prateleira. Sim, isto mesmo, visto que parecem não aceitar que se gaste tanto em desenvolvimento de um equipamento deste porte. Não estou acusando ninguém, que fique claro, só tenho a sensação que esta discussão soa como ideologia entre comprar na prateleira e desenvolver algo. Digo isso porque não faltam exemplos de pessoas dizendo (opositores ou não ao AMX) que com o valor pago daria para comprar dois F-16. Sim, mas insisto, na prateleira e olhe lá.
Além disso, me parece muito estranho tentar comparar o AMX, mesmo a versão brasileira, com os top´s de sua geração. Ora bolas, o vetor foi desenvolvido/comprado pensando-se no cenário que o Brasil se encontrava na ocasião, e neste contexto ninguém na AS tinha um vetor próximo dele, os "similares" possuíam problemas sérios em suas manutenções (servia/servem para desfiles), sem falar no reduzido número quando comparado aos 53 A-1 do Brasil, algo pra lá de expressivo.
Outro ponto relevante é que a FAB, até então, não dispunha de um vetor realmente de ataque, ela tinha o F-5 fazendo este papel de maneira improvisada, os M-III que nem isso, e o "grosso" era deixado nas mãos dos Xavantes, um vetor que não é de ataque de fato, no máximo de ataque "leve", mas que no fundo sempre foi um treinador e que quebrava o galho na falta de algo específico.
Na verdade o AMX era esperado para realizar ataques naval, mas aí ele não foi bem, justamente por ter sido optado por uma versão "básica". Quanto aos mísseis ar-ar de curto alcance para auto-defesa, bem, não vieram "apenas" por falta de dinheiro mesmo, não por incompetência ou pelo fato do vetor não poder usá-los. Sobre o fato de ter sido usado como um caça puro sangue, recebendo críticas por não fazer tal coisa, bem, a falha foi dos que o "viram" assim, mas não foi apenas com a gente, os EUA tiveram sérios problemas quando os F-15 substituíram os F-4, algo muito próximo, mas resolvido, como aqui.
Em suma, só critico um equipamento quando ele não cumpre a missão esperada pra ele dentro do cenário previsto e quando se paga muito pelo produto sem que dê retorno real (caso do desenvolvimento). Se me mostrarem que o AMX não tem condições de cumprir suas missões no cenário sul-americano com competência e que seu desenvolvimento não trouxe benefício algum em termos de conhecimentos e tecnologias para o País, então dou o braço a torcer e nunca mais o defendo, até mudo de lado.
Por fim, gostaria de lembrar que este caça já está aí, vai ser modernizado e vai incomodar depois da mesma, porém a vida útil tem um fim e até lá teremos seu substituto natural, que será divulgado em breve. Então, acredito ser melhor deixarmos tais coisas de lado, conviver com elas, e jamais, insisto, jamais, cometer os erros do passado, no máximo "erros novos".
Abração,
Orestes