O Club de Regatas Botafogo e o Botafogo Football Club eram ambos do mesmo bairro, eram ambos alvinegros e muitos dos seus sócios eram comuns aos dois clubes, diferenciando-se porque um nascera ainda no século XIX para as regatas e o outro iniciara-se no século XX nascendo para o futebol.
Muitos dos botafoguenses de terra e de mar desejavam a união entre os dois clubes e, em começos de 1931, Paulo Azeredo e Viveiros de Castro incumbiram Alceu Mendes de Oliveira Castro de sondar o seu primo, António de Oliveira e Castro, a maior figura do Club de Regatas Botafogo, legendário campeão de remo de 1902, sobre a fusão dos dois clubes. A 10 de Março de 1931 a resposta foi favorável à fusão, mas o momento não era oportuno porque a influência do Fluminense no CRB ainda era grande.
Os anos passaram-se e foi Carlito Rocha que dinamizou de novo a possível fusão, insistindo junto do amigo Adherbal de Souza Bastos para tornar o Botafogo maior.
Porém, a 12 de Junho de 1942, no Mourisco, as equipas da ‘Estrela Solitária’ e do ‘Glorioso’ disputavam um jogo de basquetebol válido para o campeonato carioca. No intervalo o atleta Armando Albano
(ao centro na foto), do ‘Glorioso’, foi acometido de mal súbito e faleceu em plena quadra. “Tombou surpreendentemente na arena, fulminado pela morte!” (Castro, 1951: 529). Após confirmação do falecimento do jogador a partida foi interrompida a dez minutos do final, quando o marcador assinalava CRB 21x23 BFC, e nunca mais foi reatada.
O corpo de Albano, jogador do Botafogo Football Club saiu da sede de General Severiano e quando passava em frente ao Mourisco Mar houve uma parada e o drama exaltou ambos os presidentes dos dois clubes.
Augusto Frederico Schmidt, então presidente do Club de Regatas Botafogo, pronunciou um elogio que terminou do seguinte modo:
– “E comunico nesta hora a Albano que a sua última partida resultou numa nítida vitória. O tempo que resta do jogo interrompido, os nossos jogadores não disputarão mais. Todos nós queremos que o jovem lutador desaparecido parta para a grande noite como um vitorioso. E é assim que o saudamos.”
O então presidente do Botafogo Football Club, Eduardo Góis Trindade, escreveu ao C. R. Botafogo:
– “Nas disputas entre os nossos clubes – o Botafogo de Regatas e o Botafogo de Football – só pode haver um vencedor: o Botafogo!”
Dois dias após o Botafogo de Football recebia, a 19 de Junho de 1942, a resposta do presidente Schmidt que selava a fusão:
– “O que é preciso mais para que os nossos dois clubes sejam um só?”
Carlito Rocha ditou então a Nova Monteiro os pontos básicos do protocolo de fusão e a 13 de Novembro, num jantar em que o BFC homenageou os dirigentes do CRF, a fusão concretizou-se. Nesse jantar Carlito Rocha sugeriu a designação de Clube Botafogo de Futebol e Regatas. Homero Borges da Fonseca sugeriu a supressão da palavra ‘Clube’ e Paulo Azeredo lembrou que o respeito pela antiguidade deveria colocar primeiro ‘regatas’ e depois ‘futebol’. Porém, Ibsen De Rossi, que representava Augusto Schmidt, presidente do CRB que se encontrava ausente do Rio, referiu que as regras da eufonia indicavam que se invertesse a designação, acabando por vingar o nome de Botafogo de Futebol e Regatas.
As doze bases da fusão foram aprovadas: a 1ª selava a futura designação do clube; a 2ª assumia todos os créditos e débitos dos dois ex-clubes; a 3ª assegurava que as três datas de fundação seriam comemoradas no futuro; a 4ª que a bandeira conservaria as cores do BFR e acrescentaria a estrela solitária; a 5ª definia a adopção do uniforme negro com uma estrela branca para os desportos náuticos e do uniforme alvinegro para os desportos terrestres; a 6ª e a 7ª definiam as categorias de sócios; da 8ª à 12ª tratava-se de definir a composição do Conselho Deliberativo e de nomear o presidente do BFR e o presidente do CRB para presidente e vice-presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, respectivamente.
A morte de Albano tornou os Botafogos apenas um. No dia 8 de Dezembro de 1942 houve a fusão entre o Botafogo Football Club e o Club de Regatas Botafogo, clubes do mesmo bairro, das mesmas cores, de muitos sócios e torcedores em comum e da mesma vontade de vencer.
Nasceu, então, o Botafogo de Futebol e Regatas que manteve as cores alvinegras, adoptou calções pretos e o monograma do escudo BFC foi substituído pela estrela solitária. A tragédia de Armando Albano imortalizou-o na gesta alvinegra.
* - Augusto, Sérgio (204), Botafogo – Entre o Céu e o Inferno, Rio de Janeiro: Editora Ediouro.
- Castro, Alceu Mendes de Oliveira (1951), O Futebol no Botafogo (1904-1950), Rio de Janeiro: Gráfica Milone
- http://pt.wikipedia.org/
- http://www.botafogocentenario.kit.net/
- http://www.botafogopaixao.kit.net/