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Mensagem
por Marino » Dom Mai 17, 2009 10:33 am
ESP:
Submarino pode sair daqui a 12 anos
Marinha já encontrou terreno para sediar estaleiro que vai construir o primeiro modelo nuclear do Brasil
Alexandre Rodrigues, RIO
A Marinha do Brasil já encontrou o lugar ideal para a construção do complexo industrial naval de onde deve sair, em pelo menos 12 anos, o primeiro submarino nuclear brasileiro. Trata-se de uma área de 95 mil metros quadrados encravada na Ilha da Madeira, às margens da Baía de Sepetiba, litoral sul do Rio. A Marinha negocia a cessão do terreno, próximo ao Porto de Itaguaí, com a Companhia Docas, atual proprietária, enquanto faz os últimos ajustes no projeto. Se forem obtidas as licenças ambientais, serão erguidos ali a nova base da Força de Submarinos da Marinha, que atualmente fica em Niterói, e um estaleiro de grandes proporções, capaz de abrigar as dimensões da futura linha de produção da prioridade número um da Marinha.
No caminho para desenvolver o casco do submarino nuclear, a Marinha vai construir quatro submarinos convencionais, de propulsão diesel-elétrica, do modelo francês Scorpène. Eles integram o pacote do acordo militar assinado entre Brasil e França no fim de 2008, durante a vista do presidente francês, Nicolas Sarkozy, ao Brasil. Vão se juntar à atual frota nacional de cinco submarinos da classe Tupi, construídos com tecnologia alemã.
O convênio de transferência da tecnologia do Scorpène também contempla o financiamento de um grupo de instituições financeiras francesas para todo o projeto, cujo valor ainda não foi fechado. É o que falta para que a Marinha comece a executar o plano. "Atualmente estamos na fase de pré-planejamento, acompanhando as discussões contratuais", disse ao Estado o almirante de esquadra reformado José Alberto Accioly Fragelli, convocado em setembro pelo comandante da Marinha, Júlio de Moura Neto, para coordenar o Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear.
Ex-chefe do Estado Maior da Armada, Fragelli negociou a compra do porta-aviões São Paulo da França, em 2000. Empolgado com a retomada da construção de submarinos brasileiros - o último, Tikuna, saiu do Arsenal de Marinha em 2006 - ele explica que a troca da plataforma alemã pela francesa é o passaporte para o casco do veículo nuclear.
Além de ter sensores e sonares mais modernos do que os Tupi, o Scorpène tem o formato arredondado inspirado no nuclear francês, o que favorece a operação a profundidades maiores. O que muda no caso do nuclear é o tamanho. Enquanto o convencional tem 6,3 metros de diâmetro e desloca 1,4 mil toneladas, o nuclear precisará de 9 metros para abrigar o reator nuclear e deslocar 6 mil toneladas.
Por isso a Marinha decidiu construir um novo estaleiro, já que o do Arsenal de Marinha, na Baía de Guanabara, não pode abrigar a linha de montagem de um casco tão grande. Fragelli acredita que as formalidades do financiamento e as licenças ambientais serão definidas ainda este ano. Assim, o complexo naval e o primeiro Scorpène poderão começar a sair do papel no primeiro semestre do ano que vem. Dois anos depois, entra em construção simultânea o segundo. O terceiro e o quarto, iniciam os trabalhos com intervalo de um ano e meio. Mantido o cronograma, o primeiro sairá do estaleiro em 2015 e o último em 2021.
O cone de proa do primeiro Scorpène começará a ser produzido na França, enquanto são feitas as obras do estaleiro onde ele deverá ser finalizado com os módulos de aço do casco fabricados pela Nuclep, unidade industrial da Marinha que fica próxima ao local escolhido na Baía de Sepetiba. A construção da primeira unidade servirá de "universidade" para os engenheiros do centro de projetos mantido pela Marinha na Universidade de São Paulo (USP). Um grupo passará pelo menos um ano na França estudando a fabricação do casco do Scorpène para começar a projetar o veículo nuclear brasileiro. "O projeto do submarino nuclear será totalmente brasileiro. Com o conhecimento que absorveremos da França com os convencionais vamos projetar inteirinho o casco do nosso submarino para o reator que já desenvolvemos", ressalta Fragelli.
Só a concepção do projeto do casco vai consumir cinco anos. Por isso, apesar da prioridade que o submarino alcançou com a Estratégia Nacional de Defesa diante do incremento previsto na exploração de petróleo na costa brasileira com a descoberta do pré-sal, o submarino nuclear ainda é uma questão de tempo. Se começar a ser construído em 2015, talvez possa sair do estaleiro em 2022.
O casco é agora o maior desafio tecnológico do programa nuclear da Marinha, que começou pelo mais difícil. O reator, as turbinas e os geradores já estão prontos no Centro Experimental de Aramar, no interior paulista, aguardando o início de uma bateria de testes. "É uma premissa da engenharia de submarinos, principalmente no caso nuclear: nenhum equipamento pode ir ao mar sem antes ser testado muito bem", disse o contra-almirante Alan Paes Leme Arthou, superintendente de engenharia do programa.
Também em Aramar, a Marinha enriquece urânio desde 2008, mas só completará em maio do ano que vem todo o ciclo de produção do combustível numa linha que será exclusiva do submarino nuclear.
''Brasil será muito maior do que é hoje como nação''
José Alberto Accioly Fragelli: almirante de esquadra; Fragelli acredita que veículo nuclear ajudará o País a conquistar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU
RIO
O almirante de esquadra reformado José Alberto Accioly Fragelli dedicou mais de 50 dos seus 72 anos à Marinha. Especialista em cartografia, vivenciou o entusiasmo do início do programa nuclear da Força de Submarinos da Marinha, em 1979, e a frustração das décadas de 80 e 90, quando o projeto quase foi perdido com a falta de verba. Em 2008, aceitou o desafio de tirar do papel o antigo sonho do submarino nuclear certo de que não haverá mais decepções. "Hoje, só há otimismo na Marinha", disse, ao receber o Estado no Arsenal de Marinha, no Rio. Para ele, o programa mudará o papel geopolítico do Brasil.
Qual a principal vantagem do submarino nuclear?
O nuclear atinge grande velocidade por tempo ilimitado. O combustível, que vai dentro do reator, pode levar de 6 a 10 anos para ser consumido. Contar com a propulsão nuclear significa evoluir da estratégia de posição para a de mobilidade, ampliando a capacidade de estar presente em qualquer área de interesse da Marinha. O único limite é o humano. A tripulação teria que ter um preparo muito forte para suportar meses submersa.
Qual seria o número ideal de submarinos nucleares ao Brasil hoje?
Quanto mais, melhor. Não há dúvidas de que o Brasil está crescendo. O mar terá cada vez mais importância pelo comércio exterior e a produção de petróleo. O submarino é uma grande arma para dominar o mar. E é seguro.
O senhor sente segurança na manutenção dos recursos para o cumprimento de todo o cronograma até o submarino nuclear?
O Brasil começou esse projeto em 1979 pela parte principal, o combustível. Depois, o País enfrentou uma situação econômica muito difícil, que afetou a Marinha. As verbas foram muito reduzidas. Hoje, graças à visão estratégica do presidente Lula e do comandante Júlio de Moura Neto, o programa não é da Marinha ou do governo, é do Estado brasileiro. Foi assinado pelos dois presidentes da França e do Brasil. Se Deus quiser, teremos tudo o que for necessário.
O submarino nuclear vai modificar a posição geopolítica do Brasil? Ajuda a conquistar um assento no Conselho de Segurança da ONU?
As duas coisas. Não é à toa que os cinco países do mundo que têm submarino nuclear são os que têm assento permanente no conselho. Quando o Brasil se tornar o sexto, será muito maior do que é hoje como nação, do ponto de vista militar e estratégico. Vai ter meios sólidos de reivindicar a cadeira no conselho.
Doze anos para chegar ao nuclear não é muito tempo? Outros países não podem chegar na frente?
Se tiverem capacidade. Mas quem hoje tem essa capacidade? Alemanha e Japão não podem por causa da Segunda Guerra. Nenhum outro país controla o enriquecimento de urânio como nós. A Índia também está nessa corrida, mas há informações de problemas e atrasos.A.R.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco