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Mensagem
por Marino » Dom Abr 12, 2009 10:10 am
Artigo publicado no Globo, de uma Repórter extremamente especializada.
Acho que até o Walter vai ter que intervir aqui e explicar a matéria para o pessoal:
Viagem ao fundo do mar
Visitamos um dos cinco submarinos brasileiros antes da partida para a maior expedição já feita por uma de nossas embarcações do gênero
Por Karla Monteiro
A capacidade de defesa de um país pode ser medida pela quantidade de submarinos que ele tem. O Brasil tem cinco. E os Estados Unidos, só de submarinos nucleares, somam cem. Os cinco países que compõem o Conselho de Segurança da ONU são os únicos que contam com submarinos nucleares. Por isso o Brasil festejou tanto o acordo, firmado em dezembro com a França, na presença dos presidentes Lula e Nicolas Sarkozy, para a construção de quatro submarinos a diesel e um nuclear, o primeiro do país.
— Submarinos são armas estratégicas, armas de dissuasão.
Não temos para a guerra, mas, sim, para evitar a guerra — explica o almirante Bento de Albuquerque, chefe da Força de Submarinos da Marinha. — Submarino confere poder militar.
O Brasil tem 95% dos seus interesses no mar. O país depende do mar. Os submarinos são fundamentais para que possamos ter condições de negar o uso do mar a quem tentar contrariar os interesses brasileiros.
O pré-sal, por exemplo, fica a 300 quilômetros da costa.
Historicamente falando, a única vez que os submarinos brasileiros entraram em ação foi durante a Segunda Guerra Mundial, quando, de fato, tiveram que patrulhar a costa do país, ameaçada por invasões.
Desde então, eles passam os dias em treinamento.
O submarino Tikuna, por exemplo, acaba de partir para a maior missão de um submarino brasileiro.
Saiu de Niterói no dia 1º de março e só retornará no final de agosto. Ao todo, serão seis meses de mar, a maior viagem já feita por uma de nossas embarcações do gênero. A missão termina nos Estados Unidos, onde acontece um treinamento conjunto de guerra para a defesa de todo o continente americano.
Antes de zarpar, demos um jeitinho de penetrar no submarino para descobrir como, afinal de contas, 41 homens grandes, fortes e sarados conseguem sobreviver num espaço tão apertadinho, sem nenhuma comunicação com o mundo, sob regras — literalmente — militares.
Até jogar baralho é proibido, embora outros jogos sejam liberados, sabem Deus e o alto-escalão das Forças Armadas por quê. O Tikuna tem 62 metros de comprimento, seis metros de largura, cinco cabines, dois banheiros e uma cozinha.
— É como um “Big Brother” sem piscina e sem festas — define o capitão Nelson, comandante do Tikuna.
Na saída da Baía de Guanabara, tudo parece divertido.
O comandante Nelson, um gaúcho bem-humorado e simpático, nos deixa iniciar a experiência subaquática empoleiradas no passadiço, a parte mais alta do submarino, onde fica o periscópio.
Eram 9h10m de um dia ensolarado, de céu sem nuvens.
A embarcação se move muito lentamente, a 6km/h quando está na superfície e, no máximo, 40km/h, quando mergulhada.
Nas duas horas seguintes, até atingir o mar aberto e submergir, ficamos ali, olhando o Rio e ouvindo histórias dos marinheiros. E, o mais engraçado, o vocabulário dos marinheiros. “Encargo colateral”, por exemplo, significa atividade extra, e “faina”, tarefa. Em muitos momentos da conversa, fica difícil captar a mensagem.
Mas tivemos a nossa aula. Um submarino funciona com baterias nutridas por óleo diesel, que fornecem energia elétrica e energia de propulsão.
Como para queimar o diesel é necessário ar, a embarcação tem que subir ao que chamam de “cota periscópica”, 15 metros, três vezes por dia.
A autonomia, sem necessidade de parar em portos para abastecer, é de 50 dias.
— Não tem TV, não tem computador. Por causa dessas peculiaridades, todos os submarinistas são voluntários.
A vida embaixo d’água pode ficar muito entediante se a pessoa não curtir — diz o comandante. — O que nos orienta é o sonar. Escutamos tudo, da vida marinha ao movimento dos navios e outros barcos. A nossa única comunicação com o mundo é um relatório que chega todos os dias com as principais notícias dos jornais.
Às 11h10m em ponto, soa o apito. Hora de mergulhar. Enquanto o submarino faz os procedimentos de mergulho, balança um pouco. Mas, quando atinge a tal cota periscópica, não se sente mais nada. A sensação é de se estar numa casa mal iluminada, sem janelas, cheia de compartimentos apertados, e decorada com milhares de botões que acendem e apagam.
O único divertimento é mesmo dar uma espiada no periscópio. Depois de conhecer as instalações, somos conduzidas para a chamada “praça d’armas”, uma salinha com mesa, rodeada de bancos, onde os oficiais graduados fazem as refeições.
Ali almoçamos, comemos sobremesa, tomamos café e jogamos conversa fora até a hora de voltar para a terra firme.
Todos os tripulantes garantem: sempre há o que fazer.
— Somos divididos em três equipes. Uma fica de serviço.
A segunda dorme. E a terceira fica lendo, papeando, estudando.
Embora não pareça, dentro de um submarino tem muita ocupação — diz um dos rapazes de macacão cinza que permanecem ali, apertando os botões
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco