O casal 20 entre nós
Nicolas Sarkozy quer vender submarinos e aviões, mas sua agenda comercial será eclipsada pela presença de Carla Bruni
GUSTAVO GANTOIS
AO SOM DA ESCOLA DE SAMBA Grande Rio, o presidente francês Nicolas Sarkozy dará início a uma curta e proveitosa estadia no Brasil. Na próxima segunda-feira 22, ao chegar ao Copacabana Palace, Sarko trará na bagagem um lote mínimo de quatro submarinos convencionais e as tratativas para o desenvolvimento do futuro submarino brasileiro de propulsão nuclear. Além disso, o francês dará prosseguimento ao acordo de cooperação militar com o Brasil, fornecendo a tecnologia que será utilizada no programa Soldado do Futuro. Para fechar o pacote, uma comitiva de 80 empresários europeus encerrará o aspecto comercial da visita. Mas tudo isso terá um concorrente de peso na disputa pelas atenções: a estréia da primeira-dama Carla Bruni nos trópicos. Embalados pelo eterno clima de lua-de-mel, Sarko e Carla vão passar o Natal na casa de Louis Albert de Moustier, em Itaipava, na região serrana do Rio. Moustier é amigo do pai de Carla Bruni, o empresário italiano Maurizzio Remmert, que vive no Brasil. Salvo alterações de última hora, é claro. Em se tratando do casal 20 da política internacional, a diplomacia francesa já providenciou outras duas locações: o mar de Búzios, a bordo de um iate, e Fernando de Noronha – mas com a possibilidade de mudança para Trancoso, na Bahia.
R$ 600 milhões é o valor do submarino nuclear que o governo francês pretende vender ao Brasil dentro de um acordo de cooperação militar
Antes disso, Sarkozy terá dois dias de reuniões. Na segunda-feira 22, como presidente da União Européia, ele, o presidente Lula e o presidente da Comunidade Européia, José Manuel Durão Barroso, farão uma minicúpula entre o bloco e o Brasil. A idéia é debater os efeitos da crise internacional. Além disso, o encontro entre empresários europeus e brasileiros foi organizado para dar um caráter de superação de crise ao evento. “Apresentaremos oportunidades que independem da crise”, explica Dominique Mauppin, chefe da Missão Econômica da França no Brasil. Nesse bolo, estão interesses nas áreas de alimentos, petroquímico e energia. Mas a saia-justa ficará por conta do Brasil. O Itamaraty já foi consultado por emissários da representação européia sobre o impasse da Cúpula do Mercosul, realizada na semana passada, que manteve a bitributação dentro do bloco sul-americano a pedido do Paraguai. O fim da cobrança excessiva de impostos era uma condição dos europeus para que as negociações entre a União Européia e o Mercosul avançassem. “Não há dúvidas de que esse será o tema mais espinhoso em relação ao encontro empresarial”, afirma um diplomata brasileiro.
Na terça-feira 23, Sarkozy voltará à baila. E dessa vez para vender. Ainda sem previsão de conseguir emplacar os caças Rafale junto ao programa de reaparelhamento da Força Aérea, Sarkozy ganhou ao menos o sinal verde da Marinha para criar uma empresa binacional que será responsável pela construção do primeiro submarino nuclear brasileiro. Ao contrário do que vinha sendo divulgado, no entanto, não será um Scorpéne, mas a sua variação, o Marlin. Questões técnicas e contratuais. O Scorpéne é um projeto entre França e Espanha que terminou de uma forma nada amistosa entre os dois países. E para não pagar mais royalties para os espanhóis, Sarkozy quer emplacar apenas o Marlin. Além disso, o casco do submarino não seria capaz de carregar o reator nuclear que será desenvolvido pelo Brasil. Cada um deles sairá por US$ 600 milhões. A caixa registradora continuará a tilintar no anúncio da compra, pelo governo brasileiro, de 50 helicópteros Super Cougar, da francesa Eurocopter. A contrapartida, nesse caso, é a construção de um pólo aeronáutico de helicópteros de grande porte, orçado em US$ 500 milhões, na cidade mineira de Itajubá, onde já está instalada a Helibrás. Um detalhe: segundo oficiais da embaixada francesa, a viagem de Sarkozy e Carla a Itaipava será feita num EC 135, o luxuoso helicóptero da Eurocopter. Puro marketing, com a ajuda da primeira-dama francesa.