Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
A pensar o impensável:
Um cancelamento da dívida e um ano jubileu com uma reabilitação
por Michael Hudson
Atingimos o ponto em que podemos finalmente ser capazes de romper a membrana de dissonância cognitiva que tem estado a cegar o povo. Um curso simples de ciências económicas – principiando no secundário, continuado numa faculdade e a seguir refinado numa pós-graduação – deveria explicar aos estudantes porque é errado acreditar na publicidade que a Wall Street apregoou durante o último meio século: A promessa enganadora de que uma economia pode enriquecer seguindo a matemática da "mágica do juro composto".
A irrealidade desta promessa deveria ser imediatamente evidente ao examinar a matemática do crescimento exponencial . Já no tempo da Revolução Americana, economistas financeiros popularizavam o contraste que Malthus a seguir imitaria na sua teoria da população: Dívidas crescem a taxas "geométricas", ao passo que a própria economia cresce apenas "aritmeticamente", de um modo mais lento e mais linear.
Tudo o que é necessário é colocar esta ideia junto à definição básica do balanço: As poupanças de uma pessoa são emprestadas e tornam-se dívidas de outras pessoas. Assim, a "mágica do juro composto" para os poupadores significa igualmente uma "mágica do endividamento explosivo" em outros lugares na economia. E na medida em que os credores insistem em proteger-se do inevitável incumprimento pela tomada de posse do colateral, é natural que a maior parte das dívidas da economia seja devida aos seus maiores activos: terra e edifícios. Isto explica porque dívidas hipotecárias têm de ser reembolsáveis e "libertas de toxicidade".
A "mágica do juro composto" refere-se à tendência das poupanças para duplicar e reduplicar exponencialmente, com uma ascensão correspondente no que os devedores devem do outro lado do balanço. Esta matemática tem estado a operar ao longo da história, desde quando o encargo do juro foi inventado na Suméria em algum momento por volta do ano 2750 AC. Em toda sociedade conhecida, o efeito foi concentrar riqueza nas mãos das pessoas com dinheiro. Nos últimos anos, nem mesmo é necessária a posse de moeda para fazer isso. O poder para endividar outros a si próprio pode ser alcançado através da livre criação de crédito. Contudo, o resultante crescimento exponencial explosivo no endividamento deve entrar em colapso no ponto em que o seu juro e outros encargos inerentes (agora aumentados por comissões exorbitantes, multas sobre cheques sem fundos, custos com cartões de crédito e outras penalidades) absorvem todo o excedente económico.
A DÍVIDA NÃO PODE SER PAGA
Este é o ponto que foi atingido – e ultrapassado – no dias de hoje. Ele desenvolveu-se ao longo de muitas décadas. Mas há uma grande relutância em aceitar o facto de que a dívida não pode ser paga. "Os pobres são honestos", como me explicou um banqueiro, e acreditam que "uma dívida é uma dívida" e deve ser paga. (Não é isto em que acreditam Donald Trump, Bear Stearns ou a AIG, mas eles estão no topo da pirâmide económica, não na sua base).
Ao longo de anos numerosos editores rejeitaram livros que lhes propus sobre o assunto. Eles explicavam-me: "Ninguém quer ler como a bolha irá arrebentar – pelo menos enquanto ela não se romper. Você não poderia escrever um livro sobre como ganhar um milhão de dólares com o colapso económico que está para vir? Isso seria um best-seller, Prof. Hudson. Mas dizer às pessoas que elas não podem pôr poupanças de lado e pagar pela sua aposentadoria é como dizer-lhes que terão mau sexo depois dos 50 anos de idade. Isso não vende. Volte quando tiver boas notícias".
Estas são palavras que ouço desde meados da década de 1980. Passei muito tempo a olhar através da história a fim de verificar como o fracasso em eliminar a sobrecarga da dívida levou ao colapso da república imperial de Roma, e ao do Império Otomano que no fim do século XIX era conhecido como "o saqueador do Egipto" e "a ruína da Pérsia". Também publiquei uma série de quatro colóquios de assiriologistas e arqueólogos que descreviam como anteriormente, desde cerca de 2500 até talvez 3000 aC, os babilónios e outros governantes do Oriente Próximo souberam manter livres os seus cidadãos livres e preservar a sua propriedade da terra por meio da anulação de dívidas pessoais e agrárias ao assumirem o trono – um verdadeiro "feriado fiscal" – ou quando as condições económicas ou militares garantiam uma Reabilitação (Clean Slate) geral. (A série foi financiada e publicada pelo Peabody Museum de Harvard e agora está disponível junto à CDL Press ).
Estas reabilitações foram adoptadas literalmente, quase palavra por palavra, no Ano do Jubileu Bíblico, Leviticus 25. Até a mesma palavra hebraica, deror, foi utilizada para andurarum babilónico proclamado pelos governantes da dinastia Hamurabi de 2000 a 1600 aC. Assim, para mim é notável que homens de hoje que se afirmam líderes cristãos ignorem o facto de que no próprio primeiro sermão dado por Jesus, na Nazaré (Lucas 4:14-30), ele desenrolou o pergaminho de Isaías 61 e prometeu que tinha vindo "para proclamar o Ano do Senhor", o Ano Jubileu. Esta era a "boa notícia" literal que pregava a Bíblia, como os pergaminhos do Mar Morte ilustraram abundantemente.
Mas é um sinal do poder da ideologia do credor que mesmo a essência deste documento fundador da civilização ocidental tenha sido ignorado por uma visão distorcida daquela cristandade primitiva. O judaísmo e outras religiões foram entusiastas, o que não é surpreendente. A passagem de Lucas sobre este sermão fundador de Jesus conclui destacando que "todas as pessoas na sinagoga ficaram furiosas quando ouviram isto. Elas levantaram-se, acompanharam-no para fora da cidade e levaram-no para a beira da colina sobre a qual a cidade fora construída, a fim de lançá-lo abaixo no despenhadeiro".
Lançarem-no no despenhadeiro! Foi a isto que os revoltantes senadores romanos da extrema direita conduziram os seguidores dos irmãos Graco na colina do Senado, num exercício de violência política que impediu Roma de conceder alívio para a dívida no fim do segundo século AC. Tito Lívio, Diodorus, Plutarco e outros historiadores da época atribuíram a previsível queda do Império Romano às suas duras leis do endividamento orientadas a favor dos credores. Mas hoje, há historiadores a publicar livros especulando que talvez o problema estivesse nas canalizações de chumbo ou nas taças de chumbo do seu vinho, ou doença, ou super-extensão imperial, ou superstição – tudo excepto a causa para a qual os próprios historiadores romanos apontavam.
Ainda estamos a viver com as consequências da revolução oligárquica de Roma. Que é o que torna tão importante as audiências desta semana no Congresso sobre a dádiva de US$700 mil milhões. Primeiro através da força militar e a seguir através da sujeição à dívida e a servidão, Roma deixou como herança para a Europa um corpo de leis baseado na propriedade e orientado para o credor. Mas desde o século XIII, país após país alterou o equilíbrio outra vez em favor dos devedores – para salvá-los da escravização pela dívida, das prisões para devedores, do endividamento permanente, para lhes dar uma reabilitação ao nível individual.
LUTERO, MARX E A USURA
Handel organizou a primeira execução de O Messias como um acto beneficente a fim de conseguir dinheiro para salvar devedores de prisões irlandesas, e todos os anos aquele oratório era repetido com essa finalidade caritativa. Martinho Lutero advertiu acerca da matemática do juro composto como o monstro Caco , a devorar tudo. Mas as denúncias de Lutero quanto à usura são excluídas das suas obras publicadas em inglês, e estão disponíveis nesta língua apenas no Volume III de O Capital de Marx e no Livro III das suas Teorias da Mais Valia. A discussão do juro e da banca tornou-se tão marginalizada que mesmo quando eu ensinava a cadeira "Moeda e bancos" na New School de Nova York, em fins da década de 60 e princípios da de 70, isto não fazia parte do núcleo do currículo e era tratado como um tópico especial. (Felizmente, este não é o caso no lugar em que estou agora na Universidade de Missouri, em Kansas City. Mas levou muito tempo para chegar aqui).
Por trás desta alteração na escolha legislativa estava a percepção de que nenhuma economia se pode manter com o fardo de dívidas a crescerem a taxas exponenciais mais rapidamente do que cresce a própria economia. Nenhuma economia pode crescer a taxas exponenciais fixas, só as dívidas é que se podem multiplicar desta forma. Eis porque a dádiva de US$700 mil milhões do sr. Paulson aos seus colegas da Wall Street não pode funcionar.
O que isto pode conseguir é proporcionar uma transferência ocasional de riqueza para iniciados que já estão a jogar o sistema débito-crédito e a sugar rendimentos financeiros para si próprios. Todos os banqueiros da Wall Street, correctores e administradores de fundos com quem tenho falado durante muitas décadas sabem disto. Eis porque eles se pagam a si próprios bónus anuais tão grandes e grandes salários a cada ano. A ideia é sacar tanto quanto puderem. Tal como no velho ditado: "Você só tem de fazer uma fortuna uma vez na vida". Eles têm estado a guardar as suas fortunas em outros lugares, ano após ano, principalmente em activos tangíveis: imobiliário (livre de hipotecas), mobiliário fino, barcos e troféus artísticos.
O plano deles agora é aperfeiçoar o que já era bom – tomar os US$700 mil milhões de Paulson e fugir. Não se trata de uma "salvação do sistema financeiro". Trata-se de uma dádiva – para iniciados, para liquidarem todas as suas apostas más. Companhias de todas as categorias livrar-se-ão das suas hipotecas más, e também dos seus maus empréstimos de carros, pagamentos de mobiliário, empréstimos com cartões de crédito, empréstimos a estudantes – todas dívidas que qualquer actuário competente poderia ter dito desde o início que nunca poderiam ter sido pagas.
A NOVA CLEPTOCRACIA
Não é isto o que o secretário do Tesouro Paulson reconhece, o que é uma vergonha para ele. Na última sexta-feira de Setembro ele foi acompanhado pelo presidente do Fed, Bern Bernanke, a cantarem em uníssono um estribilho publicitário para a nova cleptocracia da América que soa tão falso que o Congresso e o público americano devem ouvir as desafinações. O Financial Times de Londres, bem como um grande número de europeus percebe isto. Isto é que tem estado a conduzir a taxa de câmbio do dólar esta semana. Parece mais fácil para os estrangeiros reconhecer a ameaça da transformação da democracia americana numa cleptocracia opressora.
Esta mudança é sempre repentina, organizada sob condições de emergência. Aqueles com memória de 12 anos atrás verão George Bush a desempenhar o papel de Boris Yeltsin na Rússia, em 1996, a pagar aos contribuidores da sua campanha dando-lhes todo o excedente económico que o governo poderia expropriar no infame plano "empréstimos por acções" aplaudido e apoiado pelo secretário do Tesouro de Clinton (e actual conselheiro de Obama) Robert Rubin. (Moral: precisaremos ter um Putin no nosso futuro próximo para bloquear o golpe anti-democrático?)
Quão irónico é isto tudo! Remontando à década de 1970, havia a teorização de que as economias russa e americana estavam a convergir. A ideia era que ambas moviam-se rumo a mais centralizados controles de Estado, financiamento de Estado, subsídio de Estado e um complexo industrial-militar. Ninguém esperava que a convergência se verificasse ao estilo Yeltsin com dádivas do governo a iniciados a fim de criar um novo grupo de multimilionários financeiros – os "sete banqueiros" sob Yeltsin em 1996, e a gang de hoje do Compadrio Capitalista do sr. Paulson.
Vamos examinar os eufemismos como um exercício de duplo pensamento orwelliano. O sr. Paulson defendeu o seu "programa de alívio para activos perturbados" ("troubled asset relief program", TARP) afirmando que "activos hipotecários ilíquidos ... perderam valor ... sufocando o fluxo de crédito que é tão vitalmente importante para a nossa economia". O crédito que é "tão vitalmente importante" assumiu a forma de maus empréstimos. Contra a pretensão do sr. Paulson, o problema não está em que eles são "ilíquidos". Se este fosse o problema, ele seria meramente temporário. Os bancos do Federal Reserve são destinados a proporcionar liquidez – com bons colaterais, naturalmente.
CREDORES DEVEM ASSUMIR AS PERDAS
Como observou o colunista Martin Wolf, do Financial Times, na quarta-feira 24 de Setembro, o problema é que o valor facial dos empréstimos hipotecários e uma série de outros maus empréstimos excede de longe os actuais preços de mercado ou os preços que provavelmente serão concretizados este ano, no próximo ano ou no ano seguinte a este. Eles estão empacotados no que a imprensa financeira denomina correctamente como "produto tóxico". O salvamento não é eficiente, escreve ele, "porque só se pode tratar da insolvência pela compra de maus activos a muito acima do seu verdadeiro valor, garantindo portanto grandes perdas para os contribuintes e proporcionando um salvamento ilimitado para a maior parte dos investidores irresponsáveis" [1] . "O caminho mais simples para recapitalizar instituições – conclui ele – é forçá-las a aumentar o património líquido e suspender os dividendos. Se isto não funcionasse, poderiam ser forçadas a conversões de dívida em acções. A atractividade de permutas dívida-acções é que elas criariam perdas para os credores, as quais são essenciais para a saúde a longo prazo de qualquer sistema financeiro". Esta é a chave: se as dívidas não podem ser pagas, então os credores devem assumir as perdas.
Estes maus empréstimos são tóxicos porque só podem ser vendidos com uma perda – nem que seja porque os investidores estrangeiros já não confiam na honestidade dos banqueiros de investimento ou nos administradores de dinheiro dos EUA. Aqui está o problema que o Congresso não está desejoso de constatar e enfrentar. Muitos destes empréstimos são absolutamente fraudulentos. E eles estão a ser vendidos por vigaristas. Vigaristas que trabalham para bancos. Vigaristas que utilizam a fraude contabilística – tal como a fraude que levou ao despedimento de Maurice Greenber da AIG e dos seus émulos na Fannie Mae, Freddie Mac e outras companhias que entraram em contabilidade tipo Enron.
Não é isto o que a mágica do juro composto prometera. Mas é onde ela tem de acabar, com inevitabilidade matemática. Esta mágica foi uma publicidade chamariz de administradores de dinheiro da Wall Street e promotores do "capitalismo fundo de pensões" (ou "capitalismo popular" como era chamado no Chile pelos Chicago Boys a trabalharem para o regime assassino do general Pinochet, e pelos conservadores da Margaret Thatcher na Inglaterra). A promessa é que se as pessoas confiarem estes fundos a indivíduos que fazem muito, muito mais do que prometem, mas têm a vantagem da selecção natural de serem muito, muito cobiçosos, elas receberão uma perpétua duplicação de juros. É supostamente desta forma que as pensões dos trabalhadores americanos ainda serão pagas – pela mágica, não pelo investimento directo. Os aposentados em perspectiva são supostos assegurarem uma boa vida pelo investimento das suas poupanças em empréstimos a assaltantes corporativos que demitiram, despediram, reduziram e externalizaram estes mesmos trabalhadores. O truque é convencer os empregados a entregarem os fundos de pensão a administradores financeiros cuja ideia era fazer dinheiro da economia pela extracção de juros e dividendos dos trabalhadores, proprietários de casas e companhias que estavam a ser compradas com a alavancagem da dívida. Em última análise é a alavancagem da dívida por si própria que é suposta alimentar ganhos de capital.
Isto levou à loucura. A solução mais louca de todas para o governo seria dar ao sector extractivo financeiro ainda mais dinheiro – fundos que nenhum prestamista privados está desejoso de proporcionar, nem mesmo fundos abutre. Nenhuma firma privada foi capaz de descobrir o que o sr. Paulson e o desventurado sr. Bernanke estão hipocritamente a prometer: que um acordo viável, mesmo uma quase criação de dinheiro, pode ser feito comprando lixo agora e esperando que "a economia" fique boa.
Simplesmente, o que é "a economia" que se supõe efectuar esta façanha notável senão seus devedores hipotecários e corporativos? O governo deve fazer tal como os funcionários responsáveis pela imposição da lei agiram para impedir o que o Countrywide Financial e outros prestamistas predatórios faziam: empurrar Hipotecas com Taxa Ajustável explosiva e hipotecas com "situação líquida negativa" para devedores, em termos que muitas vezes começavam por um isco e terminavam num anzol. As companhias privadas podiam ser desafiadas e o seu conjunto de comissões penalizadoras rejeitado por um tribunal. Mas talvez o Congresso possa arquitectar uma lei que imponha estes termos duros aos eleitores. Seria como se vivêssemos num sistema em que o povo votasse de acordo com o seu próprio interesse.
Promessas de que os "contribuintes" serão capazes de recuperar grande parte deste dinheiro são uma ficção. Se houvesse uma esperança de recuperar este dinheiro, então os investidores lá de fora – fundos estrangeiros de compras, bancos estrangeiros, fundos de riqueza soberana do estrangeiro – teriam estado desejosos de comprar o Bear Stearns, o Lehman Brothers, a AIG e outras companhias a algum preço. Mas eles não quiseram tocar nisto a preço nenhum.
Por que deveria então o Tesouro dos EUA pagar até três vezes o dinheiro para a Guerra do Iraque, que acabará por ser perdido, depois de pagar os jogadores pelas suas próprias más apostas? Estes banqueiros já colocaram todo o risco do lado dos seus clientes e, fizeram lobby para reescrever as leis da bancarrota, em favor dos devedores. Tal como o assunto agora se apresenta, os US$700 mil milhões serão utilizados a fim de financiar os bónus deste ano, salários e comissões de vendas de milhões de dólares deste ano, e para contribuir ainda mais para os fundos de aposentadoria com paraquedas dourados que administradores financeiros sifonaram a fim de proporcionar segurança líquida para si próprios. Assim, estamos de volta ao lema básico destes dias: "Você só tem de fazer uma fortuna uma vez na vida". Para eles, agora é o momento de tornar estas fortunas tão grandes quanto puderem. Porque a partir daqui é tudo colina abaixo.
Porque os bancos não concederão empréstimos
Aqui está porque a lógica governamental da dádiva é falaciosa: Trata-se de uma dádiva, não de um salvamento (bailout). Um salvamento é concebido para manter o barco a flutuar. Mas o barco Wall Street existente, carpinteirado pelos banqueiros de investimento que procuravam descarregar o seu lixo, deve afundar. A questão no momento em que afunda é simplesmente de saber quem será capaz de agarrar os botes de salvação e quem se afogará.
Há uma razão para os bancos não concederem empréstimos: a habitação e o imobiliário comercial já estão tão pesadamente hipotecados que não há valor de renda (rental value) disponível (sobre e acima de despesas operacionais, impostos correntes e serviço da dívida) para penhorar aos bancos. Ainda custa mais comprar uma casa do que arrendá-la. Nenhum aumento do montante de crédito, excepto hiper-inflação, pode curar isto. Nenhuma redução da taxa de juro levará bancos a arriscarem-se a fazer um novo mau empréstimo – isto é, um empréstimo que provavelmente apodrecerá e acabará com o banco a assumir uma perda depois de o mutuário abandonar o imóvel ou incumprir.
Saberá o Congresso o que é que lhe estão a dizer para fazer? Suponha-se que "contribuintes" estejam a espremer dinheiro para fora das "tóxicas" hipotecas lixo que compraram de investidores que compraram estes maus empréstimos. O único meio de fazer isso seria os preços do imobiliário serem elevado para níveis ainda mais elevados. Isto significa uma proporção ainda mais elevada de salários líquidos dos compradores de casa em perspectiva.
O sr. Paulson percebe isto. Foi por isso que ele orientou a Fannie Mae e o Freddie Mac a inflacionarem mais os preços de todo o imobiliário. Pelo menos para os actuais possuidores de hipotecas serem pagos pelos actuais devedores a venderem para o proverbial "louco maior". A esperança no plano de Paulson é que haja suficientes "loucos maiores" com bastante dinheiro para tomarem emprestado de ainda mais enlouquecidos novos prestamistas hipotecários. Só a Fannie Mae, o Freddie Mac e a Federal Housing Agency estão desejosas de fazer empréstimos tão loucos, e isto é só porque estão a ser orientados pelo sr. Paulson para actuar neste caminho enlouquecido.
Aqui está o problema em seguir as ordens do sr. Paulson e conceder ainda mais empréstimos: Todo conselheiro imobiliário conhecido prevê uma nova queda de 20 a 30 por cento nos preços da propriedade ao longo dos próximos doze meses. Isto é actualmente a previsão padrão. O seu significado é que além de estarem inscritos na contabilidade os mais de cinco milhões de atrasados e arrestados que o sr. Paulson já reconheceu, ainda mais famílias terão abandonado o combate por esta altura do próximo ano. Irá o fundo de dádiva dos US$700 mil milhões tentar receber de volta despejando muita gente das suas casas – para pagar o suficiente ao "contribuinte" a fim de salvar o Countrywide, Washington Mutual e outros prestamistas predatórios por empréstimos que Procuradores Gerais do estado denunciaram como fraudulentos?
Para o governo começar mesmo a recuperar uma parte do valor dos US$700 mil milhões das hipotecas lixo compradas teria de forçar os novos compradores de casas a pagarem aos bancos ainda maior fatia do seu rendimento. E se eles assim o fizessem teriam menos rendimento para gastar em bens e serviços. O mercado interno encolheria, e as receitas fiscais cairiam aos níveis estaduais, locais e federal. O encargo da dívida deflacionaria a economia, provocando uma retracção geral posterior.
De modo que é aqui que a dissonância cognitiva entra em campo: É necessário, e mesmo inevitável, para o volume de dívida descer – não subir – restaurar o equilíbrio. Como explicou Alan Meltzer do American Enterprise Institute (logo de onde!), a Merrill Lynch pôde ser vendida a 22 centavos de dólar, e a economia sobreviveu à liquidação do Lehman Brothers e do Bear Stearns.
Tais cancelamentos de dívida são uma pré-condição para amortizar as dívidas hipotecárias da América a níveis que sejam comportáveis. Mas o plano do sr. Paulson é de combate a esta maré. Ele quer que a Wall Street seja mantida a arrecadar dinheiro a expensas da economia como um todo. Foram estes grandes bancos que fizeram lobby no Congresso para nomear des-regulamentadores, bancos cujos responsáveis pagam-se a si próprios enormes bónus e concedem-se enormes paraquedas dourados. Eles foram os líderes na grande campanha de desinformação acerca da mágica do juro composto. E agora estão prestes a obter o resultado do seu suborno.
A pretensão é que não pagá-los ameaçaria "a economia". A realidade é que isto só travaria o comportamento predatório deles. Pior do que isso, para a economia como um todo, uma assunção pelo governo destes maus empréstimos impediria a amortização da dívida que a economia necessita!
Ainda pior. Se o Congresso viesse a ser tão destrutivo absorvendo US$700 mil milhões de maus empréstimos (para começar), os vendedores farão exactamente os que fizeram os cleptocratas da Rússia. Eles apanharão o seu dinheiro e mudar-se-ão para fora, para um país de divisa "dura". Isto ajudará a fazer com que o dólar entre em colapso. Subirão os custos da gasolina e os preços das demais importações. A América será transformada numa economia de estilo russo pós-soviética, tendo dotado uma nova cleptocracia interna de iniciados, os quais utilizam alguns dos seus ganhos financeiros para financiar as campanhas de Yeltsins americanos, tais como McCain.
Assim, vamos admitir que economia tomou um caminho errado durante as últimas décadas. Como observou John Kay: "Quando o pó assentar, muitos bancos e hedge funds terão perdido mais dinheiro nas suas actividades de trading no ano passado ou pouco mais do que o fizeram em toda a sua história ... A busca do valor para o accionista prejudicou tanto o valor para o accionista como o próprio negócio". [2]
Preocupa-me que o salto de quarta-feira no Dow Jones médio assinale que os grandes decidiram que há uma boa oportunidade de a vasta dádiva ser aprovada. Os protestos republicanos parecem-me ter como objectivo não tanto realmente travar a medida, mas declarar publicamente para registo que se opõem a ela – antes de por ela votarem. Quando público acordar para a grande dádiva, os republicanos poderão dizer: "Foi um Congresso democrata que fez isso, não fomos nós. Leia os nossos protestos angustiados ". Toda a gente está a tentar cobrir-se. Com boas razões.
Não os deixem falar em nome dos eleitores e a seguir actuar contra a economia, apregoando que estão a tentar salvá-la. Uma dádiva desta magnitude sem precedentes iria estropiá-la tão prolongadamente quanto se possa discernir.
24/Setembro/2008
Notas
[1] Martin Wolf, “Paulson's plan was not a true solution to the crisis”, Financial Times, September 24, 2008.
[2] John Kay, “How we let down the diligent folk at the Halifax”, Financial Times, September 24, 2008.
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php? ... &aid=10330
Um cancelamento da dívida e um ano jubileu com uma reabilitação
por Michael Hudson
Atingimos o ponto em que podemos finalmente ser capazes de romper a membrana de dissonância cognitiva que tem estado a cegar o povo. Um curso simples de ciências económicas – principiando no secundário, continuado numa faculdade e a seguir refinado numa pós-graduação – deveria explicar aos estudantes porque é errado acreditar na publicidade que a Wall Street apregoou durante o último meio século: A promessa enganadora de que uma economia pode enriquecer seguindo a matemática da "mágica do juro composto".
A irrealidade desta promessa deveria ser imediatamente evidente ao examinar a matemática do crescimento exponencial . Já no tempo da Revolução Americana, economistas financeiros popularizavam o contraste que Malthus a seguir imitaria na sua teoria da população: Dívidas crescem a taxas "geométricas", ao passo que a própria economia cresce apenas "aritmeticamente", de um modo mais lento e mais linear.
Tudo o que é necessário é colocar esta ideia junto à definição básica do balanço: As poupanças de uma pessoa são emprestadas e tornam-se dívidas de outras pessoas. Assim, a "mágica do juro composto" para os poupadores significa igualmente uma "mágica do endividamento explosivo" em outros lugares na economia. E na medida em que os credores insistem em proteger-se do inevitável incumprimento pela tomada de posse do colateral, é natural que a maior parte das dívidas da economia seja devida aos seus maiores activos: terra e edifícios. Isto explica porque dívidas hipotecárias têm de ser reembolsáveis e "libertas de toxicidade".
A "mágica do juro composto" refere-se à tendência das poupanças para duplicar e reduplicar exponencialmente, com uma ascensão correspondente no que os devedores devem do outro lado do balanço. Esta matemática tem estado a operar ao longo da história, desde quando o encargo do juro foi inventado na Suméria em algum momento por volta do ano 2750 AC. Em toda sociedade conhecida, o efeito foi concentrar riqueza nas mãos das pessoas com dinheiro. Nos últimos anos, nem mesmo é necessária a posse de moeda para fazer isso. O poder para endividar outros a si próprio pode ser alcançado através da livre criação de crédito. Contudo, o resultante crescimento exponencial explosivo no endividamento deve entrar em colapso no ponto em que o seu juro e outros encargos inerentes (agora aumentados por comissões exorbitantes, multas sobre cheques sem fundos, custos com cartões de crédito e outras penalidades) absorvem todo o excedente económico.
A DÍVIDA NÃO PODE SER PAGA
Este é o ponto que foi atingido – e ultrapassado – no dias de hoje. Ele desenvolveu-se ao longo de muitas décadas. Mas há uma grande relutância em aceitar o facto de que a dívida não pode ser paga. "Os pobres são honestos", como me explicou um banqueiro, e acreditam que "uma dívida é uma dívida" e deve ser paga. (Não é isto em que acreditam Donald Trump, Bear Stearns ou a AIG, mas eles estão no topo da pirâmide económica, não na sua base).
Ao longo de anos numerosos editores rejeitaram livros que lhes propus sobre o assunto. Eles explicavam-me: "Ninguém quer ler como a bolha irá arrebentar – pelo menos enquanto ela não se romper. Você não poderia escrever um livro sobre como ganhar um milhão de dólares com o colapso económico que está para vir? Isso seria um best-seller, Prof. Hudson. Mas dizer às pessoas que elas não podem pôr poupanças de lado e pagar pela sua aposentadoria é como dizer-lhes que terão mau sexo depois dos 50 anos de idade. Isso não vende. Volte quando tiver boas notícias".
Estas são palavras que ouço desde meados da década de 1980. Passei muito tempo a olhar através da história a fim de verificar como o fracasso em eliminar a sobrecarga da dívida levou ao colapso da república imperial de Roma, e ao do Império Otomano que no fim do século XIX era conhecido como "o saqueador do Egipto" e "a ruína da Pérsia". Também publiquei uma série de quatro colóquios de assiriologistas e arqueólogos que descreviam como anteriormente, desde cerca de 2500 até talvez 3000 aC, os babilónios e outros governantes do Oriente Próximo souberam manter livres os seus cidadãos livres e preservar a sua propriedade da terra por meio da anulação de dívidas pessoais e agrárias ao assumirem o trono – um verdadeiro "feriado fiscal" – ou quando as condições económicas ou militares garantiam uma Reabilitação (Clean Slate) geral. (A série foi financiada e publicada pelo Peabody Museum de Harvard e agora está disponível junto à CDL Press ).
Estas reabilitações foram adoptadas literalmente, quase palavra por palavra, no Ano do Jubileu Bíblico, Leviticus 25. Até a mesma palavra hebraica, deror, foi utilizada para andurarum babilónico proclamado pelos governantes da dinastia Hamurabi de 2000 a 1600 aC. Assim, para mim é notável que homens de hoje que se afirmam líderes cristãos ignorem o facto de que no próprio primeiro sermão dado por Jesus, na Nazaré (Lucas 4:14-30), ele desenrolou o pergaminho de Isaías 61 e prometeu que tinha vindo "para proclamar o Ano do Senhor", o Ano Jubileu. Esta era a "boa notícia" literal que pregava a Bíblia, como os pergaminhos do Mar Morte ilustraram abundantemente.
Mas é um sinal do poder da ideologia do credor que mesmo a essência deste documento fundador da civilização ocidental tenha sido ignorado por uma visão distorcida daquela cristandade primitiva. O judaísmo e outras religiões foram entusiastas, o que não é surpreendente. A passagem de Lucas sobre este sermão fundador de Jesus conclui destacando que "todas as pessoas na sinagoga ficaram furiosas quando ouviram isto. Elas levantaram-se, acompanharam-no para fora da cidade e levaram-no para a beira da colina sobre a qual a cidade fora construída, a fim de lançá-lo abaixo no despenhadeiro".
Lançarem-no no despenhadeiro! Foi a isto que os revoltantes senadores romanos da extrema direita conduziram os seguidores dos irmãos Graco na colina do Senado, num exercício de violência política que impediu Roma de conceder alívio para a dívida no fim do segundo século AC. Tito Lívio, Diodorus, Plutarco e outros historiadores da época atribuíram a previsível queda do Império Romano às suas duras leis do endividamento orientadas a favor dos credores. Mas hoje, há historiadores a publicar livros especulando que talvez o problema estivesse nas canalizações de chumbo ou nas taças de chumbo do seu vinho, ou doença, ou super-extensão imperial, ou superstição – tudo excepto a causa para a qual os próprios historiadores romanos apontavam.
Ainda estamos a viver com as consequências da revolução oligárquica de Roma. Que é o que torna tão importante as audiências desta semana no Congresso sobre a dádiva de US$700 mil milhões. Primeiro através da força militar e a seguir através da sujeição à dívida e a servidão, Roma deixou como herança para a Europa um corpo de leis baseado na propriedade e orientado para o credor. Mas desde o século XIII, país após país alterou o equilíbrio outra vez em favor dos devedores – para salvá-los da escravização pela dívida, das prisões para devedores, do endividamento permanente, para lhes dar uma reabilitação ao nível individual.
LUTERO, MARX E A USURA
Handel organizou a primeira execução de O Messias como um acto beneficente a fim de conseguir dinheiro para salvar devedores de prisões irlandesas, e todos os anos aquele oratório era repetido com essa finalidade caritativa. Martinho Lutero advertiu acerca da matemática do juro composto como o monstro Caco , a devorar tudo. Mas as denúncias de Lutero quanto à usura são excluídas das suas obras publicadas em inglês, e estão disponíveis nesta língua apenas no Volume III de O Capital de Marx e no Livro III das suas Teorias da Mais Valia. A discussão do juro e da banca tornou-se tão marginalizada que mesmo quando eu ensinava a cadeira "Moeda e bancos" na New School de Nova York, em fins da década de 60 e princípios da de 70, isto não fazia parte do núcleo do currículo e era tratado como um tópico especial. (Felizmente, este não é o caso no lugar em que estou agora na Universidade de Missouri, em Kansas City. Mas levou muito tempo para chegar aqui).
Por trás desta alteração na escolha legislativa estava a percepção de que nenhuma economia se pode manter com o fardo de dívidas a crescerem a taxas exponenciais mais rapidamente do que cresce a própria economia. Nenhuma economia pode crescer a taxas exponenciais fixas, só as dívidas é que se podem multiplicar desta forma. Eis porque a dádiva de US$700 mil milhões do sr. Paulson aos seus colegas da Wall Street não pode funcionar.
O que isto pode conseguir é proporcionar uma transferência ocasional de riqueza para iniciados que já estão a jogar o sistema débito-crédito e a sugar rendimentos financeiros para si próprios. Todos os banqueiros da Wall Street, correctores e administradores de fundos com quem tenho falado durante muitas décadas sabem disto. Eis porque eles se pagam a si próprios bónus anuais tão grandes e grandes salários a cada ano. A ideia é sacar tanto quanto puderem. Tal como no velho ditado: "Você só tem de fazer uma fortuna uma vez na vida". Eles têm estado a guardar as suas fortunas em outros lugares, ano após ano, principalmente em activos tangíveis: imobiliário (livre de hipotecas), mobiliário fino, barcos e troféus artísticos.
O plano deles agora é aperfeiçoar o que já era bom – tomar os US$700 mil milhões de Paulson e fugir. Não se trata de uma "salvação do sistema financeiro". Trata-se de uma dádiva – para iniciados, para liquidarem todas as suas apostas más. Companhias de todas as categorias livrar-se-ão das suas hipotecas más, e também dos seus maus empréstimos de carros, pagamentos de mobiliário, empréstimos com cartões de crédito, empréstimos a estudantes – todas dívidas que qualquer actuário competente poderia ter dito desde o início que nunca poderiam ter sido pagas.
A NOVA CLEPTOCRACIA
Não é isto o que o secretário do Tesouro Paulson reconhece, o que é uma vergonha para ele. Na última sexta-feira de Setembro ele foi acompanhado pelo presidente do Fed, Bern Bernanke, a cantarem em uníssono um estribilho publicitário para a nova cleptocracia da América que soa tão falso que o Congresso e o público americano devem ouvir as desafinações. O Financial Times de Londres, bem como um grande número de europeus percebe isto. Isto é que tem estado a conduzir a taxa de câmbio do dólar esta semana. Parece mais fácil para os estrangeiros reconhecer a ameaça da transformação da democracia americana numa cleptocracia opressora.
Esta mudança é sempre repentina, organizada sob condições de emergência. Aqueles com memória de 12 anos atrás verão George Bush a desempenhar o papel de Boris Yeltsin na Rússia, em 1996, a pagar aos contribuidores da sua campanha dando-lhes todo o excedente económico que o governo poderia expropriar no infame plano "empréstimos por acções" aplaudido e apoiado pelo secretário do Tesouro de Clinton (e actual conselheiro de Obama) Robert Rubin. (Moral: precisaremos ter um Putin no nosso futuro próximo para bloquear o golpe anti-democrático?)
Quão irónico é isto tudo! Remontando à década de 1970, havia a teorização de que as economias russa e americana estavam a convergir. A ideia era que ambas moviam-se rumo a mais centralizados controles de Estado, financiamento de Estado, subsídio de Estado e um complexo industrial-militar. Ninguém esperava que a convergência se verificasse ao estilo Yeltsin com dádivas do governo a iniciados a fim de criar um novo grupo de multimilionários financeiros – os "sete banqueiros" sob Yeltsin em 1996, e a gang de hoje do Compadrio Capitalista do sr. Paulson.
Vamos examinar os eufemismos como um exercício de duplo pensamento orwelliano. O sr. Paulson defendeu o seu "programa de alívio para activos perturbados" ("troubled asset relief program", TARP) afirmando que "activos hipotecários ilíquidos ... perderam valor ... sufocando o fluxo de crédito que é tão vitalmente importante para a nossa economia". O crédito que é "tão vitalmente importante" assumiu a forma de maus empréstimos. Contra a pretensão do sr. Paulson, o problema não está em que eles são "ilíquidos". Se este fosse o problema, ele seria meramente temporário. Os bancos do Federal Reserve são destinados a proporcionar liquidez – com bons colaterais, naturalmente.
CREDORES DEVEM ASSUMIR AS PERDAS
Como observou o colunista Martin Wolf, do Financial Times, na quarta-feira 24 de Setembro, o problema é que o valor facial dos empréstimos hipotecários e uma série de outros maus empréstimos excede de longe os actuais preços de mercado ou os preços que provavelmente serão concretizados este ano, no próximo ano ou no ano seguinte a este. Eles estão empacotados no que a imprensa financeira denomina correctamente como "produto tóxico". O salvamento não é eficiente, escreve ele, "porque só se pode tratar da insolvência pela compra de maus activos a muito acima do seu verdadeiro valor, garantindo portanto grandes perdas para os contribuintes e proporcionando um salvamento ilimitado para a maior parte dos investidores irresponsáveis" [1] . "O caminho mais simples para recapitalizar instituições – conclui ele – é forçá-las a aumentar o património líquido e suspender os dividendos. Se isto não funcionasse, poderiam ser forçadas a conversões de dívida em acções. A atractividade de permutas dívida-acções é que elas criariam perdas para os credores, as quais são essenciais para a saúde a longo prazo de qualquer sistema financeiro". Esta é a chave: se as dívidas não podem ser pagas, então os credores devem assumir as perdas.
Estes maus empréstimos são tóxicos porque só podem ser vendidos com uma perda – nem que seja porque os investidores estrangeiros já não confiam na honestidade dos banqueiros de investimento ou nos administradores de dinheiro dos EUA. Aqui está o problema que o Congresso não está desejoso de constatar e enfrentar. Muitos destes empréstimos são absolutamente fraudulentos. E eles estão a ser vendidos por vigaristas. Vigaristas que trabalham para bancos. Vigaristas que utilizam a fraude contabilística – tal como a fraude que levou ao despedimento de Maurice Greenber da AIG e dos seus émulos na Fannie Mae, Freddie Mac e outras companhias que entraram em contabilidade tipo Enron.
Não é isto o que a mágica do juro composto prometera. Mas é onde ela tem de acabar, com inevitabilidade matemática. Esta mágica foi uma publicidade chamariz de administradores de dinheiro da Wall Street e promotores do "capitalismo fundo de pensões" (ou "capitalismo popular" como era chamado no Chile pelos Chicago Boys a trabalharem para o regime assassino do general Pinochet, e pelos conservadores da Margaret Thatcher na Inglaterra). A promessa é que se as pessoas confiarem estes fundos a indivíduos que fazem muito, muito mais do que prometem, mas têm a vantagem da selecção natural de serem muito, muito cobiçosos, elas receberão uma perpétua duplicação de juros. É supostamente desta forma que as pensões dos trabalhadores americanos ainda serão pagas – pela mágica, não pelo investimento directo. Os aposentados em perspectiva são supostos assegurarem uma boa vida pelo investimento das suas poupanças em empréstimos a assaltantes corporativos que demitiram, despediram, reduziram e externalizaram estes mesmos trabalhadores. O truque é convencer os empregados a entregarem os fundos de pensão a administradores financeiros cuja ideia era fazer dinheiro da economia pela extracção de juros e dividendos dos trabalhadores, proprietários de casas e companhias que estavam a ser compradas com a alavancagem da dívida. Em última análise é a alavancagem da dívida por si própria que é suposta alimentar ganhos de capital.
Isto levou à loucura. A solução mais louca de todas para o governo seria dar ao sector extractivo financeiro ainda mais dinheiro – fundos que nenhum prestamista privados está desejoso de proporcionar, nem mesmo fundos abutre. Nenhuma firma privada foi capaz de descobrir o que o sr. Paulson e o desventurado sr. Bernanke estão hipocritamente a prometer: que um acordo viável, mesmo uma quase criação de dinheiro, pode ser feito comprando lixo agora e esperando que "a economia" fique boa.
Simplesmente, o que é "a economia" que se supõe efectuar esta façanha notável senão seus devedores hipotecários e corporativos? O governo deve fazer tal como os funcionários responsáveis pela imposição da lei agiram para impedir o que o Countrywide Financial e outros prestamistas predatórios faziam: empurrar Hipotecas com Taxa Ajustável explosiva e hipotecas com "situação líquida negativa" para devedores, em termos que muitas vezes começavam por um isco e terminavam num anzol. As companhias privadas podiam ser desafiadas e o seu conjunto de comissões penalizadoras rejeitado por um tribunal. Mas talvez o Congresso possa arquitectar uma lei que imponha estes termos duros aos eleitores. Seria como se vivêssemos num sistema em que o povo votasse de acordo com o seu próprio interesse.
Promessas de que os "contribuintes" serão capazes de recuperar grande parte deste dinheiro são uma ficção. Se houvesse uma esperança de recuperar este dinheiro, então os investidores lá de fora – fundos estrangeiros de compras, bancos estrangeiros, fundos de riqueza soberana do estrangeiro – teriam estado desejosos de comprar o Bear Stearns, o Lehman Brothers, a AIG e outras companhias a algum preço. Mas eles não quiseram tocar nisto a preço nenhum.
Por que deveria então o Tesouro dos EUA pagar até três vezes o dinheiro para a Guerra do Iraque, que acabará por ser perdido, depois de pagar os jogadores pelas suas próprias más apostas? Estes banqueiros já colocaram todo o risco do lado dos seus clientes e, fizeram lobby para reescrever as leis da bancarrota, em favor dos devedores. Tal como o assunto agora se apresenta, os US$700 mil milhões serão utilizados a fim de financiar os bónus deste ano, salários e comissões de vendas de milhões de dólares deste ano, e para contribuir ainda mais para os fundos de aposentadoria com paraquedas dourados que administradores financeiros sifonaram a fim de proporcionar segurança líquida para si próprios. Assim, estamos de volta ao lema básico destes dias: "Você só tem de fazer uma fortuna uma vez na vida". Para eles, agora é o momento de tornar estas fortunas tão grandes quanto puderem. Porque a partir daqui é tudo colina abaixo.
Porque os bancos não concederão empréstimos
Aqui está porque a lógica governamental da dádiva é falaciosa: Trata-se de uma dádiva, não de um salvamento (bailout). Um salvamento é concebido para manter o barco a flutuar. Mas o barco Wall Street existente, carpinteirado pelos banqueiros de investimento que procuravam descarregar o seu lixo, deve afundar. A questão no momento em que afunda é simplesmente de saber quem será capaz de agarrar os botes de salvação e quem se afogará.
Há uma razão para os bancos não concederem empréstimos: a habitação e o imobiliário comercial já estão tão pesadamente hipotecados que não há valor de renda (rental value) disponível (sobre e acima de despesas operacionais, impostos correntes e serviço da dívida) para penhorar aos bancos. Ainda custa mais comprar uma casa do que arrendá-la. Nenhum aumento do montante de crédito, excepto hiper-inflação, pode curar isto. Nenhuma redução da taxa de juro levará bancos a arriscarem-se a fazer um novo mau empréstimo – isto é, um empréstimo que provavelmente apodrecerá e acabará com o banco a assumir uma perda depois de o mutuário abandonar o imóvel ou incumprir.
Saberá o Congresso o que é que lhe estão a dizer para fazer? Suponha-se que "contribuintes" estejam a espremer dinheiro para fora das "tóxicas" hipotecas lixo que compraram de investidores que compraram estes maus empréstimos. O único meio de fazer isso seria os preços do imobiliário serem elevado para níveis ainda mais elevados. Isto significa uma proporção ainda mais elevada de salários líquidos dos compradores de casa em perspectiva.
O sr. Paulson percebe isto. Foi por isso que ele orientou a Fannie Mae e o Freddie Mac a inflacionarem mais os preços de todo o imobiliário. Pelo menos para os actuais possuidores de hipotecas serem pagos pelos actuais devedores a venderem para o proverbial "louco maior". A esperança no plano de Paulson é que haja suficientes "loucos maiores" com bastante dinheiro para tomarem emprestado de ainda mais enlouquecidos novos prestamistas hipotecários. Só a Fannie Mae, o Freddie Mac e a Federal Housing Agency estão desejosas de fazer empréstimos tão loucos, e isto é só porque estão a ser orientados pelo sr. Paulson para actuar neste caminho enlouquecido.
Aqui está o problema em seguir as ordens do sr. Paulson e conceder ainda mais empréstimos: Todo conselheiro imobiliário conhecido prevê uma nova queda de 20 a 30 por cento nos preços da propriedade ao longo dos próximos doze meses. Isto é actualmente a previsão padrão. O seu significado é que além de estarem inscritos na contabilidade os mais de cinco milhões de atrasados e arrestados que o sr. Paulson já reconheceu, ainda mais famílias terão abandonado o combate por esta altura do próximo ano. Irá o fundo de dádiva dos US$700 mil milhões tentar receber de volta despejando muita gente das suas casas – para pagar o suficiente ao "contribuinte" a fim de salvar o Countrywide, Washington Mutual e outros prestamistas predatórios por empréstimos que Procuradores Gerais do estado denunciaram como fraudulentos?
Para o governo começar mesmo a recuperar uma parte do valor dos US$700 mil milhões das hipotecas lixo compradas teria de forçar os novos compradores de casas a pagarem aos bancos ainda maior fatia do seu rendimento. E se eles assim o fizessem teriam menos rendimento para gastar em bens e serviços. O mercado interno encolheria, e as receitas fiscais cairiam aos níveis estaduais, locais e federal. O encargo da dívida deflacionaria a economia, provocando uma retracção geral posterior.
De modo que é aqui que a dissonância cognitiva entra em campo: É necessário, e mesmo inevitável, para o volume de dívida descer – não subir – restaurar o equilíbrio. Como explicou Alan Meltzer do American Enterprise Institute (logo de onde!), a Merrill Lynch pôde ser vendida a 22 centavos de dólar, e a economia sobreviveu à liquidação do Lehman Brothers e do Bear Stearns.
Tais cancelamentos de dívida são uma pré-condição para amortizar as dívidas hipotecárias da América a níveis que sejam comportáveis. Mas o plano do sr. Paulson é de combate a esta maré. Ele quer que a Wall Street seja mantida a arrecadar dinheiro a expensas da economia como um todo. Foram estes grandes bancos que fizeram lobby no Congresso para nomear des-regulamentadores, bancos cujos responsáveis pagam-se a si próprios enormes bónus e concedem-se enormes paraquedas dourados. Eles foram os líderes na grande campanha de desinformação acerca da mágica do juro composto. E agora estão prestes a obter o resultado do seu suborno.
A pretensão é que não pagá-los ameaçaria "a economia". A realidade é que isto só travaria o comportamento predatório deles. Pior do que isso, para a economia como um todo, uma assunção pelo governo destes maus empréstimos impediria a amortização da dívida que a economia necessita!
Ainda pior. Se o Congresso viesse a ser tão destrutivo absorvendo US$700 mil milhões de maus empréstimos (para começar), os vendedores farão exactamente os que fizeram os cleptocratas da Rússia. Eles apanharão o seu dinheiro e mudar-se-ão para fora, para um país de divisa "dura". Isto ajudará a fazer com que o dólar entre em colapso. Subirão os custos da gasolina e os preços das demais importações. A América será transformada numa economia de estilo russo pós-soviética, tendo dotado uma nova cleptocracia interna de iniciados, os quais utilizam alguns dos seus ganhos financeiros para financiar as campanhas de Yeltsins americanos, tais como McCain.
Assim, vamos admitir que economia tomou um caminho errado durante as últimas décadas. Como observou John Kay: "Quando o pó assentar, muitos bancos e hedge funds terão perdido mais dinheiro nas suas actividades de trading no ano passado ou pouco mais do que o fizeram em toda a sua história ... A busca do valor para o accionista prejudicou tanto o valor para o accionista como o próprio negócio". [2]
Preocupa-me que o salto de quarta-feira no Dow Jones médio assinale que os grandes decidiram que há uma boa oportunidade de a vasta dádiva ser aprovada. Os protestos republicanos parecem-me ter como objectivo não tanto realmente travar a medida, mas declarar publicamente para registo que se opõem a ela – antes de por ela votarem. Quando público acordar para a grande dádiva, os republicanos poderão dizer: "Foi um Congresso democrata que fez isso, não fomos nós. Leia os nossos protestos angustiados ". Toda a gente está a tentar cobrir-se. Com boas razões.
Não os deixem falar em nome dos eleitores e a seguir actuar contra a economia, apregoando que estão a tentar salvá-la. Uma dádiva desta magnitude sem precedentes iria estropiá-la tão prolongadamente quanto se possa discernir.
24/Setembro/2008
Notas
[1] Martin Wolf, “Paulson's plan was not a true solution to the crisis”, Financial Times, September 24, 2008.
[2] John Kay, “How we let down the diligent folk at the Halifax”, Financial Times, September 24, 2008.
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php? ... &aid=10330
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Esse texto fez eu aumentar o buraco dos EUA em mais alguns milhares de metros... vai ser um caixão dificil de enterrar
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
A Crise e o Brasil
Por: Paulo Passarinho*
A crise financeira internacional voltou a se manifestar com força. No espaço de apenas dez dias, foram necessárias três estatizações de vulto no templo maior do liberalismo - os Estados Unidos, envolvendo duas empresas gigantes de crédito imobiliário e a maior seguradora do país, a AIG. Além disso, o terceiro maior banco de investimentos norte-americano, a tristemente famosa Merrill Lynch, foi vendido a preço de banana ao Bank of América. A quarta maior instituição desse tipo do país, o Lehman Brothers, contudo, não encontrou compradores e acabou por entrar em concordata. E o próprio segundo maior banco de investimentos dos EUA, o Morgan Stanley, encontra-se em campo na busca de algum novo sócio que possa evitar a sua própria falência.
Esses foram os sintomas mais recentes da aguda crise financeira que teve início no segundo semestre do ano passado, e que até agora não tem o seu limite definido. Esse, com certeza, é o dado que mais causa preocupação no momento. Afinal, desde agosto do ano passado, os Bancos Centrais dos Estados Unidos, da Europa e do Japão têm coordenado ações em conjunto, e com o apoio de bancos centrais de outros países, procurando injetar recursos nos mercados financeiros com forma de garantir liquidez às instituições em dificuldades. Somente naquele semestre foram disponibilizados mais de US$ 1 trilhão de dólares. Na ocasião, afirmava-se que a crise estaria limitada ao setor de crédito imobiliário, que a mesma não necessariamente alcançaria o lado real da economia, e que economias emergentes, como a do Brasil, estariam descoladas dessa crise.
Já no primeiro semestre desse ano, o banco central americano bancou a aquisição do Bear Stearns - outro poderoso banco de investimento - pelo JPMorgan. Anteriormente, o governo americano já havia tomado medidas de estímulo à economia, reduzindo a taxa de juros, lançando um pacote fiscal de mais de US$ 100 bilhões de dólares para atender às famílias americanas atingidas pela crise, além da criação de linhas de crédito especiais para empréstimos de emergência a instituições financeiras não bancárias.
Tudo indica que o longo ciclo de descolamento da esfera financeira em relação à economia produtiva real está em xeque. Desde o início dos anos setenta, a partir do rompimento unilateral pelo governo dos Estados Unidos dos parâmetros de emissão monetária definidos pelo Acordo de Bretton Woods - o fim do padrão dólar-ouro -, os mercados financeiros se expandiram de forma espantosa.
Este é um processo, portanto, que vem de longe. O BIS - o Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de central dos bancos centrais - estima um volume de ativos financeiros em circulação nas esferas especulativas de todo o mundo da ordem de US$ 600 trilhões. Este volume de direitos financeiros é dez vezes superior ao PIB mundial, estimado em US$ 60 trilhões.
Há muitos anos, diversos analistas alertam para os riscos crescentes desta bolha especulativa estourar. Ao longo dos anos, várias outras crises se esboçaram, mas a atual é muito mais grave pela sua extensão, e pelo fato de envolver o coração financeiro da maior potência econômica do mundo.
O maior desafio desse momento será procurar reduzir esse descolamento entre a economia financeira e a economia produtiva real, e, ao menos para as autoridades norte-americanas, o caminho será o de colocar o Estado como gestor direto desse processo.
O velho método de socialização dos prejuízos, após a farra privada dos lucros fáceis, está de volta. Entretanto, o próprio jogo global das grandes potências econômicas deverá influenciar as decisões futuras dos dirigentes do Estado norte-americano, especialmente na área financeira. As estatizações que foram feitas em caráter emergencial, e sob o pretexto de se evitar a eclosão de uma crise sistêmica, poderão vir a desempenhar um papel reestruturante e permanente, na conformação de uma nova arquitetura econômica que se faz exigir, para a estabilidade do próprio capitalismo financeirizado.
Em termos produtivos e financeiros, a região asiática - sob o impulso do capital gerido e planejado pelo poderoso Estado chinês - é uma realidade e fonte de polarização e ameaça crescente à hegemonia americana, ainda que os laços de complementaridade entre esses dois pólos dinâmicos da economia mundial indiquem a tendência - e necessidade - de uma busca crescente de entendimentos e ações coordenadas entre os seus respectivos governos.
Para o Brasil, a agudização dessa crise internacional ocorre em um momento bastante delicado.
Conforme temos alertado, a deterioração das contas externas do país já é um fato dado. Nos primeiros sete meses desse ano, acumulamos um déficit nas transações correntes do país de US$ 19,5 bilhões, em um quadro onde o saldo comercial do país se reduz de forma grave, pressionado pelas despesas com importações, em crescimento acelerado e superior à expansão das exportações. Em 2006, o saldo comercial atingiu o valor recorde de US$ 46,5 bilhões; em 2007, esse saldo se reduziu para US$ 40 bilhões; e, até a segunda semana de setembro, o resultado positivo comercial do ano era de apenas US$ 18,5 bilhões, resultado 36,6% menor do que o obtido no mesmo período do ano passado.
A estimativa do IPEA, para o déficit que acumularemos no resultado da conta corrente do balanço de pagamentos neste ano, se situa entre a faixa de US$ 27,5 bilhões e US$ 34,5 bilhões. Isto nos obrigará, mais uma vez, a voltar a depender da conta de capital para o fechamento de nossas contas externas.
Em um quadro de retração do crédito internacional, repatriamento de capitais estrangeiros aplicados no país e elevação da percepção de risco passaremos a conviver em uma delicada conjuntura financeira interna.
O Banco Central já anunciou o retorno de operações de compra da moeda americana, com o objetivo de se evitar um descontrolado processo de desvalorização do real, que apenas em três semanas deste mês de setembro já chegou a 18%.
Este ajuste do câmbio não seria de todo ruim, dada a necessidade de favorecimento das receitas de exportação. Contudo, no contexto de saída acelerada de recursos externos aplicados nas bolsas e em títulos, este é um indicador nada tranqüilizador e poderá acelerar a tendência de fuga de capitais. Além disso, a desaceleração ou recessão da economia global poderá afetar as exportações do país, pela redução já em curso do preço das commodities, como também pelo próprio volume de mercadorias transacionadas.
O presidente Lula, no auge de sua popularidade, chegou a afirmar que a crise externa é imperceptível no país. Pode ser apenas mais uma frase de efeito. Porém, pode ser também apenas um recurso defensivo ao fato de ter ele optado pela manutenção de uma política econômica que, mantendo a fé cega no papel do mercado e dos capitais externos, como principais indutores ao nosso desenvolvimento, poderá nos levar a novas dificuldades.
A realidade é que abrimos mão, pelas opções de Lula, de alterar a política e o modelo econômico em curso, em uma conjuntura extremamente favorável para a busca de alternativas. A exuberância da economia internacional a partir de 2002/2003, em combinação com as transformações políticas em curso na América Latina, nos daria plenas condições de uma exitosa transição do falido modelo dos bancos e transnacionais para um outro tipo de economia, menos dependente do exterior, e de maior valorização do trabalho e elevação dos mecanismos de poupança interna.
Perdemos uma oportunidade histórica ímpar, e os próximos meses nos mostrarão a dimensão desse gravíssimo erro.
*Paulo Passarinho: Economista pela UFRJ, servidor público federal, atual vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro e diretor do Sindicato dos Economistas. É, também, o apresentador do Programa Faixa Livre - programa de rádio, voltado para o debate dos problemas brasileiros, dentro de uma perspectiva de fortalecimento da democracia participativa, combate às desigualdades sócio-econômicas e defesa da soberania nacional. O Faixa Livre - Programa faixa livre - é mantido por um conjunto de entidades de classe, sindicatos e associações profissionais, desde 1994, e veiculado pela Rádio Bandeirantes do RJ - AM 1360, de 2ª a 6ª feira, de 8 às 10 horas da manhã."
http://desempregozero.org/2008/09/22/a- ... -o-brasil/
(((Eu estou dizendo: vem chumbo em NÓS também!!!)))
Por: Paulo Passarinho*
A crise financeira internacional voltou a se manifestar com força. No espaço de apenas dez dias, foram necessárias três estatizações de vulto no templo maior do liberalismo - os Estados Unidos, envolvendo duas empresas gigantes de crédito imobiliário e a maior seguradora do país, a AIG. Além disso, o terceiro maior banco de investimentos norte-americano, a tristemente famosa Merrill Lynch, foi vendido a preço de banana ao Bank of América. A quarta maior instituição desse tipo do país, o Lehman Brothers, contudo, não encontrou compradores e acabou por entrar em concordata. E o próprio segundo maior banco de investimentos dos EUA, o Morgan Stanley, encontra-se em campo na busca de algum novo sócio que possa evitar a sua própria falência.
Esses foram os sintomas mais recentes da aguda crise financeira que teve início no segundo semestre do ano passado, e que até agora não tem o seu limite definido. Esse, com certeza, é o dado que mais causa preocupação no momento. Afinal, desde agosto do ano passado, os Bancos Centrais dos Estados Unidos, da Europa e do Japão têm coordenado ações em conjunto, e com o apoio de bancos centrais de outros países, procurando injetar recursos nos mercados financeiros com forma de garantir liquidez às instituições em dificuldades. Somente naquele semestre foram disponibilizados mais de US$ 1 trilhão de dólares. Na ocasião, afirmava-se que a crise estaria limitada ao setor de crédito imobiliário, que a mesma não necessariamente alcançaria o lado real da economia, e que economias emergentes, como a do Brasil, estariam descoladas dessa crise.
Já no primeiro semestre desse ano, o banco central americano bancou a aquisição do Bear Stearns - outro poderoso banco de investimento - pelo JPMorgan. Anteriormente, o governo americano já havia tomado medidas de estímulo à economia, reduzindo a taxa de juros, lançando um pacote fiscal de mais de US$ 100 bilhões de dólares para atender às famílias americanas atingidas pela crise, além da criação de linhas de crédito especiais para empréstimos de emergência a instituições financeiras não bancárias.
Tudo indica que o longo ciclo de descolamento da esfera financeira em relação à economia produtiva real está em xeque. Desde o início dos anos setenta, a partir do rompimento unilateral pelo governo dos Estados Unidos dos parâmetros de emissão monetária definidos pelo Acordo de Bretton Woods - o fim do padrão dólar-ouro -, os mercados financeiros se expandiram de forma espantosa.
Este é um processo, portanto, que vem de longe. O BIS - o Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de central dos bancos centrais - estima um volume de ativos financeiros em circulação nas esferas especulativas de todo o mundo da ordem de US$ 600 trilhões. Este volume de direitos financeiros é dez vezes superior ao PIB mundial, estimado em US$ 60 trilhões.
Há muitos anos, diversos analistas alertam para os riscos crescentes desta bolha especulativa estourar. Ao longo dos anos, várias outras crises se esboçaram, mas a atual é muito mais grave pela sua extensão, e pelo fato de envolver o coração financeiro da maior potência econômica do mundo.
O maior desafio desse momento será procurar reduzir esse descolamento entre a economia financeira e a economia produtiva real, e, ao menos para as autoridades norte-americanas, o caminho será o de colocar o Estado como gestor direto desse processo.
O velho método de socialização dos prejuízos, após a farra privada dos lucros fáceis, está de volta. Entretanto, o próprio jogo global das grandes potências econômicas deverá influenciar as decisões futuras dos dirigentes do Estado norte-americano, especialmente na área financeira. As estatizações que foram feitas em caráter emergencial, e sob o pretexto de se evitar a eclosão de uma crise sistêmica, poderão vir a desempenhar um papel reestruturante e permanente, na conformação de uma nova arquitetura econômica que se faz exigir, para a estabilidade do próprio capitalismo financeirizado.
Em termos produtivos e financeiros, a região asiática - sob o impulso do capital gerido e planejado pelo poderoso Estado chinês - é uma realidade e fonte de polarização e ameaça crescente à hegemonia americana, ainda que os laços de complementaridade entre esses dois pólos dinâmicos da economia mundial indiquem a tendência - e necessidade - de uma busca crescente de entendimentos e ações coordenadas entre os seus respectivos governos.
Para o Brasil, a agudização dessa crise internacional ocorre em um momento bastante delicado.
Conforme temos alertado, a deterioração das contas externas do país já é um fato dado. Nos primeiros sete meses desse ano, acumulamos um déficit nas transações correntes do país de US$ 19,5 bilhões, em um quadro onde o saldo comercial do país se reduz de forma grave, pressionado pelas despesas com importações, em crescimento acelerado e superior à expansão das exportações. Em 2006, o saldo comercial atingiu o valor recorde de US$ 46,5 bilhões; em 2007, esse saldo se reduziu para US$ 40 bilhões; e, até a segunda semana de setembro, o resultado positivo comercial do ano era de apenas US$ 18,5 bilhões, resultado 36,6% menor do que o obtido no mesmo período do ano passado.
A estimativa do IPEA, para o déficit que acumularemos no resultado da conta corrente do balanço de pagamentos neste ano, se situa entre a faixa de US$ 27,5 bilhões e US$ 34,5 bilhões. Isto nos obrigará, mais uma vez, a voltar a depender da conta de capital para o fechamento de nossas contas externas.
Em um quadro de retração do crédito internacional, repatriamento de capitais estrangeiros aplicados no país e elevação da percepção de risco passaremos a conviver em uma delicada conjuntura financeira interna.
O Banco Central já anunciou o retorno de operações de compra da moeda americana, com o objetivo de se evitar um descontrolado processo de desvalorização do real, que apenas em três semanas deste mês de setembro já chegou a 18%.
Este ajuste do câmbio não seria de todo ruim, dada a necessidade de favorecimento das receitas de exportação. Contudo, no contexto de saída acelerada de recursos externos aplicados nas bolsas e em títulos, este é um indicador nada tranqüilizador e poderá acelerar a tendência de fuga de capitais. Além disso, a desaceleração ou recessão da economia global poderá afetar as exportações do país, pela redução já em curso do preço das commodities, como também pelo próprio volume de mercadorias transacionadas.
O presidente Lula, no auge de sua popularidade, chegou a afirmar que a crise externa é imperceptível no país. Pode ser apenas mais uma frase de efeito. Porém, pode ser também apenas um recurso defensivo ao fato de ter ele optado pela manutenção de uma política econômica que, mantendo a fé cega no papel do mercado e dos capitais externos, como principais indutores ao nosso desenvolvimento, poderá nos levar a novas dificuldades.
A realidade é que abrimos mão, pelas opções de Lula, de alterar a política e o modelo econômico em curso, em uma conjuntura extremamente favorável para a busca de alternativas. A exuberância da economia internacional a partir de 2002/2003, em combinação com as transformações políticas em curso na América Latina, nos daria plenas condições de uma exitosa transição do falido modelo dos bancos e transnacionais para um outro tipo de economia, menos dependente do exterior, e de maior valorização do trabalho e elevação dos mecanismos de poupança interna.
Perdemos uma oportunidade histórica ímpar, e os próximos meses nos mostrarão a dimensão desse gravíssimo erro.
*Paulo Passarinho: Economista pela UFRJ, servidor público federal, atual vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro e diretor do Sindicato dos Economistas. É, também, o apresentador do Programa Faixa Livre - programa de rádio, voltado para o debate dos problemas brasileiros, dentro de uma perspectiva de fortalecimento da democracia participativa, combate às desigualdades sócio-econômicas e defesa da soberania nacional. O Faixa Livre - Programa faixa livre - é mantido por um conjunto de entidades de classe, sindicatos e associações profissionais, desde 1994, e veiculado pela Rádio Bandeirantes do RJ - AM 1360, de 2ª a 6ª feira, de 8 às 10 horas da manhã."
http://desempregozero.org/2008/09/22/a- ... -o-brasil/
(((Eu estou dizendo: vem chumbo em NÓS também!!!)))
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Câmara dos Representantes vota "Não" ao plano Paulson/Bush
Segunda-feira negra? [1]
por Mike Whitney [*]
Hoje a Câmara dos Representantes dos EUA rejeitou os US$700 mil milhões da Lei de Emergência Económica e de Estabilização de 2008 do secretário do Tesouro Paulson. Aqui está a votação nominal da lei proposta: http://clerk.house.gov/evs/2008/roll674.xml . Paulson disse dispor dos votos, mas estava errado. A Câmara rejeitou a afirmação de Paulson de que comprar os activos apoiados por hipotecas ilíquidas dos bancos do país seria suficiente para salvar o sistema financeiro de um colapso iminente. O corpo de jurados permaneceu fora da questão, também. O Professor Nouriel Roubini, presidente do Roubini Global Economics, resumiu isto como se segue: "Você não está a resolver as duas questões fundamentais. Você ainda tem de recapitalizar o sistema bancário, e a dívida habitacional está em vias de permanecer alta". Um grande número de economistas acredita que Roubini está certo. A lei não resolveria os problemas subjacentes.
Há uma crise. O sistema bancário está subcapitalizado, os mercados de crédito estão congelados, e os credores estrangeiros começam a reduzir suas compras da dívida dos EUA. É tudo mau. Ao mesmo tempo o número de baixas dentre os gigantes finaceiros – Bear Stearns, Indymac, AIG, Lehman, Washington Mutual – continua a crescer. Três outros bancos europeus com dificuldades foram acrescentados à lista de instituições financeiras que precisaram de assistência governamental de emergência no último fim de semana. Não é de admirar que o Congresso sinta ter de fazer alguma coisa para estancar a hemorragia.
Antes de o mercado de acções abrir na segunda-feira, os mercados de futuros desmoronaram pesadamente no território negativo, ao passo que o TED spread [2] , um indicador de stress no empréstimo interbancário, ampliou-se para 3,19, um nível que sugere mais uma instável semana de comercialização pela frente. Poderia isto ser uma outra Segunda-feira Negra?
A lei de Paulson foi concebida para evitar um crash de todo o sistema através do saneamento dos balanços dos bancos de modo a que eles pudessem retomar o crédito aos consumidores e aos negócios. A esperança era que uma infusão maciça de capital "faria o relógio andar ao contrário", para os dias felizes da especulação com juros baixos e da bolha económica. Paulson é um "one trick pony" [3] que adere com firmeza à crença de que a criação de riqueza depende de um máximo de alavancagem e de uma divisa sempre a enfraquecer. Mas esta visão do mundo já não é mais aplicável depois de se atingir o Pico do Crédito, em que os consumidores já não são mais capazes de efectuar os pagamentos dos juros sobre os empréstimos e os negócios e instituições financeiras são forçados a reduzir seus gastos e enterrar seus activos tóxicos a preços de liquidação. O sistema está a desalavancar e nada pode travar isto. Paulson ainda tem de aceitar a nova realidade.
Além disso, não havia garantia de que os bancos utilizariam o dinheiro do modo que Paulson imaginava. Como me explicou um veterano da Wall Street: "Não vejo um centavo daqueles US$700 mil milhões a acabar por ajudar a economia mais ampla. Vejo-o ser utilizado para impulsionar preços de acções de modo a que iniciados possam salvar tanto quanto possível quando enterrarem as suas acções".
Na verdade, os US$700 mil milhões são apenas parte de um maciço esquema "pump and dump" engendrado com a aprovação tácita do Tesouro e do Federal Reserve. Depois de os banksters terem descarregado seus títulos fraudulentos e papéis sórdidos sobre o Tio Sam, eles farão tudo o que precisarem para acolchoar os resultados líquidos e conduzir as suas acções para cima. Isto significa que lançarão o capital em activos tangíveis, divisas estrangeiras, ouro, swaps de taxas de juro, fraudes em carry trade e contas de banco suíças. A noção de que recapitalizarão de modo a poderem proporcionar empréstimos aos consumidores e aos negócios dos EUA com uma economia a desmoronar é um sonho fantástico.
Os EUA encaminham-se para a sua pior recessão em 60 anos. O mercado habitacional está em crash, a titularização acabou e a economia mais ampla está a deslocar-se rumo a recifes. Os bancos não estão dispostos a desperdiçar o seu tempo a tentar ressuscitar um moribundo mercado estado-unidense em que consumidores e negócios já estão espremidos ao máximo. De forma alguma; eles vão para pastagens mais verdes. Moverão o seu capital sempre que pensarem poder maximizar seus lucros. De facto, uma porção apreciável dos US$700 mil milhões provavelmente seria investida em commodities, o que significaria vem mais uma volta de especulação hiperbólica em futuros de alimentos e energia, levando os preços de combustíveis e alimentos para a estratosfera. Ironicamente, a generosidade dos contribuintes seria utilizada contra eles próprios, tornando ainda pior uma situação má.
Assim, mais uma vez, se uma lei de reabilitação não for aprovada, ninguém pode prever com certeza o que acontecerá. Aqui está como Tim Shipman resumiu isto em "Bailout Failure Will Cause US Crash", no UK Telegraph:
"Responsáveis próximo de Paulson estão, em privado, a pintar um retrato muito mais negro da fragilidade da economia global do que aquele avançado pelo presidente George W. Bush no discurso da semana passada na TV.
Um republicano disse que a mensagem de responsáveis do governo é de que 'a economia está em queda'. E acrescentou: 'Poderíamos ver quedas de 3000 ou 4000 ponto no Dow [o índice mercado de Nova York que actualmente situa-se em torno dos 11.000]. Isso poderia acontecer em apenas um par de dias.
'O que está a ser dito nos bastidores é que estamos a encarar algo como na década de 1930. Estamos a ver uma catástrofe, enorme, espantosa catástrofe. Todos estão extraordinariamente assustados. Isto vai ficar realmente asqueroso'."
O medo na Colina do Capitólio é palpável, especialmente entre os democratas que conduziram tanto esforço quanto possível para aprovar o engendro de Paulson. O porta-voz da Casa, Nancy Pelosi, e colegas líderes do Partido Democrata, Chris Dodd, Harry Reid e o convencido tagarela de Massachusetts, Barney Frank, fizeram tudo o que estava ao seu alcance para coagir dissidentes, suprimir resistência e apressar a votação da lei sem a habitual deliberação e debate. O deputado Marcy Kaptur (D-Ohio) foi um dos muitos irados membros do Congresso que atacou a brutalidade de Pelosi. Tudo isto ficou registado num vídeo de um minuto: http://redstaterebels.org/2008/09/wall- ... reed-game/
Marcy Kaptur: "O processo legislativo normal que deveria acompanhar uma proposta monumental para salvar a Wall Street foi posto de lado. Sim, posto de lado! Apenas uns poucos iniciados estão a fazer a negociação. Estes criminosos têm tanto poder que podem encerrar o processo legislativo normal dos mais alto organismo legislativo desta terra. Todos os comités que deveriam estar a esquadrinhar cada palavra que está a ser negociada foram removidos. E isto significa que o povo americano foi removido. Nós estamos constitucionalmente jurados para proteger este país contra todos os inimigos externos e internos, e sim, meu amigos, há inimigos... A pessoas que estão a pressionar esta lei são exactamente as mesmas que foram responsáveis pela implosão da Wall Street. Elas foram fraudulentas então; e elas são fraudulentas agora. Nós deveríamos dizer Não a este acordo".
Os republicanos estavam igualmente furiosos pelo modo como o grupo de Pelosi manteve as fileiras fora do circuito tanto quanto possível. O dep. Michael Burgess (R-Texas) resumiu os sentimentos de muitas congressistas que sentiam estarem a ser cilindrados por Pelosi & Co.: "Não vimos nenhuma lei. Temos estado aqui a debater conversas ... Os republicanos da casa foram excluídos do processo e ridicularizados pelos líderes democratas da Casa como "impatrióticos" por não participarem no apoio à lei. Sr. Porta-voz, eu fui expelido de mais reuniões nas últimas 24 horas do que alguma vez julguei possível como representante eleito dos 800 mil cidadãos de N. Texas... Uma vez que não tivermos audiências, uma vez que não tivemos emendas, vamos pelo menos colocar esta legislação na Internet durante 24 horas e deixar o povo americano ver o que fizemos na calada da noite. Afinal de contas, eu nunca tive mais mensagens sobre uma questão única do que sobre esta lei que está diante de nós esta noite".
O deputado Dennis Kucinich (D-Ohio) fez o melhor discurso do dia, reprovando a indústria financeira e defendendo os interesses dos americanos da classe trabalhadora.
Denni Kucinich: "A lei do salvamento dos US$700 mil milhões está a ser conduzida pelo medo e não pelos factos. Trata-se de demasiado dinheiro, em demasiado pouco tempo, a ir para demasiadas poucas pessoas, enquanto demasiadas questões permanecem não respondidas. Por que não estamos nós a ter audiências... Por que não estamos nós a considerar quaisquer outras alternativas além de dar US$700 mil milhões à Wall Street? Por que não estamos nós a aprovar novas lei para travar a especulação que disparou isto? Por que não estamos nós a erguer novas estruturas regulamentares para proteger os investidores? Por que não estamos nós a ajudar directamente os proprietários de casas com os seus fardos de dívidas? Por que não estamos nós a ajudar famílias americanas confrontadas com a bancarrota? Não será tempo para mudanças fundamentais no nosso sistema monetário baseado na dívidas de modo a que possamos libertar-nos da manipulação da Reserva Federal e dos bancos? Será isto o Congresso dos Estados Unidos ou o Conselho de Directores da Goldman Sachs?".
Houve maior oposição à lei de Paulson do que a qualquer legislação no último meio século. A vaga de fundo do ultraje publico foi sem precedentes e, ainda assim, o Congresso, completamente isolado das exigências dos seus constituintes, continua a avançar com um erro crasso seguindo o mesmo roteiro pró-indústria dos seus gémeos ideológicos na Casa Branca. Não surpreendentemente, nem Pelosi nem qualquer elemento da liderança democrata chegou mesmo a encontrar-se com qualquer dos mais de 200 economistas importantes que declararam inequivocamente que o salvamento não atenderá os problemas centrais que estão a destruir o sistema financeiro. Ao invés disso, eles demoliram a demagogia de Bush e as afirmações espúrias do vendedor ambulante da G-Sax, Henry Paulson, um homem que até agora enganou o público sobre toda a questão relacionada com a subprime/fiasco financeiro.
Há partes do Emergency Economic Stabilization Act of 2008 de Paulson que todo contribuinte americano deveria entender, embora os media estejam a manter estes factos na sombra. Nas secções 128 e 132, a lei proposta teria de suspender a contabilidade "marcação a mercado" ("mark to market"). Isto significa que aos bancos não seria mais exigido que avaliassem o valor dos seus activos de acordo com o que activos semelhantes alcançassem no mercado aberto. Por exemplo: a Merrill Lynch vendeu US$31 mil milhões de títulos apoiados por hipotecas por US$6 mil milhões, o que signfica que títulos semelhantes deveriam ser apreçados de forma semelhante. Simples, não é? Os bancos precisam ajustar o valor daqueles activos no seus balanços em conformidade. Isto dá aos investidores e depositantes a capacidade de saber se o seu banco está em más condições ou não. Mas a lei de Paulson levantava este requerimento e permitia aos bancos assinalarem o seu próprio valor arbitrário a estes activos, o que é a mesma velha fraude da contabilidade estilo Enron.
A lei de Paulson também propunha a "Eliminação do FASB 157 e 0% de reservas". Isto é tão grosseiro quanto parece. O FASB, ou Financial Services Regulatory Relief Act diz:
"Bancos Federais de Reserva são autorizado a pagar juros bancários sobre reservas sob a Secção 201 do Act. Além disso, a Secção 202 permite ao FRB mudar o rácio de reservas que um banco deve manter em relação às suas contas de transacções, permitindo um rácio de reserva zero se adequado. Devido a exigências orçamentais federais, a Secção 203 prevê que estas mudanças legislativas não terão efeito até 1 de Outubro de 2011".
Isto é tudo algaravia legal para esconder o facto de que os bancos podem continuar a operar com capital insuficiente, o que é a razão porque o sistema está actualmente a explodir. Toda a atenção a isto: A razão porque o sistema está a explodir é porque às várias instituições financeiras foi permitido – via desregulamentação – actuarem como banco e criarem tanto crédito quanto elas quisessem sem um suficiente capital de base. Quando alguém lê sobre desalavancagem maciça, isto relaciona-se directamente com o facto de que negócios sub-capitalizados estavam a operar com demasiada dívida em relação ao seu capital. É isto em síntese; esqueça as CDOs, as MBSs, o CDS e toda a sopa de letras do lixo derivativo. Todas elas foram inseridas no sistema de modo que os bufarinheiros da Wall Street podiam expandir crédito sem supervisão de equilibrar triliões de dólares de dívida sobre as costas de uma única nota de dólar. É por isto que Paulson quiz suspender as regras que trariam a credibilidade e a confiança de volta ao sistema. Afinal de contas, aquilo pode afectar a capacidade da Wall Street para enriquecer-se a expensas do público.
Nouriel Roubini localizou um estudo de Barry Eichengreen, "And Now the Great Depression", que aponta porque o plano de US$700 mil milhões de Paulson provavelmente fracassará:
"Sempre que há uma crise bancária sistémica há uma necessidade de recapitalizar o sistema bancário/financeiro para evitar uma excessiva e destrutiva contracção do crédito. Mas comprar activos tóxicos/ilíquidos do sistema financeiro NÃO é o caminho mais efectivo e eficiente para recapitalizar o sistema bancário...
"Um recente estudo do FMI de 42 crises bancárias sistémicas em todo o mundo apresenta evidência de como diferentes crises foram resolvidas.
"Antes de mais nada, apenas em 32 dos 42 casos houve intervenção financeira governamental de qualquer espécie; em 10 casos crises bancárias sistémicas foram resolvidas sem qualquer intervenção financeira governamental. Dos 32 casos em que o governo recapitalizou o sistema bancário apenas sete incluíram um programa de compra de maus empréstimos/activos (como aquele proposto pelo Tesouro dos EUA). Em 25 outros casos não houve compra governamental de activos tóxicos. Em seis casos o governo preferiu acções; em 4 caos o governo comprou acções ordinárias; em 11 casos o governo comprou dívida subordinada; em 12 casos o governo injectou cash nos bancos; em dois casos foi estendido crédito aos bancos; e em três casos o governo assumiu passivos bancários. Mesmo no caso em que foram comprados maus activos – como no Chile – foram suspensos dividendos e todos os lucros e recuperações tiveram de ser utilizados para recomprar os maus activos. Naturalmente na maior parte dos casos foram usadas múltiplas formas de recapitalização do bancos pelo governo". (Nouriel Roubini's Global EonoMonitor.)
Em suma, não funcionaria. Nem foi concebido para funcionar. A proposta de lei era apenas o meio de Paulson escavar uma canoa de prata para ele e os seus compadres de modo a que pudessem remar para algum paraíso offshore enquanto o resto de nós afundaria num oceano de dívidas sem fundo.
29/Setembro/2008
Notas
[1] O dia 19 de Outubro de 1987, quando o Dow Jones sofreu uma queda de 22 por cento, é conhecido como "Segunda-feira negra"
[2] TED spread: Diferença entre a taxa de juro T-bill e o Libor. É uma medida de liquidez e mostra o fluxo de dólares para dentro e para fora dos Estados Unidos.
[3] One Trick Poney: Filme de 1980, em que o personagem tenta determinadas acções e fracassa.
[*] fergiewghitney@msn.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney09292008.html
Segunda-feira negra? [1]
por Mike Whitney [*]
Hoje a Câmara dos Representantes dos EUA rejeitou os US$700 mil milhões da Lei de Emergência Económica e de Estabilização de 2008 do secretário do Tesouro Paulson. Aqui está a votação nominal da lei proposta: http://clerk.house.gov/evs/2008/roll674.xml . Paulson disse dispor dos votos, mas estava errado. A Câmara rejeitou a afirmação de Paulson de que comprar os activos apoiados por hipotecas ilíquidas dos bancos do país seria suficiente para salvar o sistema financeiro de um colapso iminente. O corpo de jurados permaneceu fora da questão, também. O Professor Nouriel Roubini, presidente do Roubini Global Economics, resumiu isto como se segue: "Você não está a resolver as duas questões fundamentais. Você ainda tem de recapitalizar o sistema bancário, e a dívida habitacional está em vias de permanecer alta". Um grande número de economistas acredita que Roubini está certo. A lei não resolveria os problemas subjacentes.
Há uma crise. O sistema bancário está subcapitalizado, os mercados de crédito estão congelados, e os credores estrangeiros começam a reduzir suas compras da dívida dos EUA. É tudo mau. Ao mesmo tempo o número de baixas dentre os gigantes finaceiros – Bear Stearns, Indymac, AIG, Lehman, Washington Mutual – continua a crescer. Três outros bancos europeus com dificuldades foram acrescentados à lista de instituições financeiras que precisaram de assistência governamental de emergência no último fim de semana. Não é de admirar que o Congresso sinta ter de fazer alguma coisa para estancar a hemorragia.
Antes de o mercado de acções abrir na segunda-feira, os mercados de futuros desmoronaram pesadamente no território negativo, ao passo que o TED spread [2] , um indicador de stress no empréstimo interbancário, ampliou-se para 3,19, um nível que sugere mais uma instável semana de comercialização pela frente. Poderia isto ser uma outra Segunda-feira Negra?
A lei de Paulson foi concebida para evitar um crash de todo o sistema através do saneamento dos balanços dos bancos de modo a que eles pudessem retomar o crédito aos consumidores e aos negócios. A esperança era que uma infusão maciça de capital "faria o relógio andar ao contrário", para os dias felizes da especulação com juros baixos e da bolha económica. Paulson é um "one trick pony" [3] que adere com firmeza à crença de que a criação de riqueza depende de um máximo de alavancagem e de uma divisa sempre a enfraquecer. Mas esta visão do mundo já não é mais aplicável depois de se atingir o Pico do Crédito, em que os consumidores já não são mais capazes de efectuar os pagamentos dos juros sobre os empréstimos e os negócios e instituições financeiras são forçados a reduzir seus gastos e enterrar seus activos tóxicos a preços de liquidação. O sistema está a desalavancar e nada pode travar isto. Paulson ainda tem de aceitar a nova realidade.
Além disso, não havia garantia de que os bancos utilizariam o dinheiro do modo que Paulson imaginava. Como me explicou um veterano da Wall Street: "Não vejo um centavo daqueles US$700 mil milhões a acabar por ajudar a economia mais ampla. Vejo-o ser utilizado para impulsionar preços de acções de modo a que iniciados possam salvar tanto quanto possível quando enterrarem as suas acções".
Na verdade, os US$700 mil milhões são apenas parte de um maciço esquema "pump and dump" engendrado com a aprovação tácita do Tesouro e do Federal Reserve. Depois de os banksters terem descarregado seus títulos fraudulentos e papéis sórdidos sobre o Tio Sam, eles farão tudo o que precisarem para acolchoar os resultados líquidos e conduzir as suas acções para cima. Isto significa que lançarão o capital em activos tangíveis, divisas estrangeiras, ouro, swaps de taxas de juro, fraudes em carry trade e contas de banco suíças. A noção de que recapitalizarão de modo a poderem proporcionar empréstimos aos consumidores e aos negócios dos EUA com uma economia a desmoronar é um sonho fantástico.
Os EUA encaminham-se para a sua pior recessão em 60 anos. O mercado habitacional está em crash, a titularização acabou e a economia mais ampla está a deslocar-se rumo a recifes. Os bancos não estão dispostos a desperdiçar o seu tempo a tentar ressuscitar um moribundo mercado estado-unidense em que consumidores e negócios já estão espremidos ao máximo. De forma alguma; eles vão para pastagens mais verdes. Moverão o seu capital sempre que pensarem poder maximizar seus lucros. De facto, uma porção apreciável dos US$700 mil milhões provavelmente seria investida em commodities, o que significaria vem mais uma volta de especulação hiperbólica em futuros de alimentos e energia, levando os preços de combustíveis e alimentos para a estratosfera. Ironicamente, a generosidade dos contribuintes seria utilizada contra eles próprios, tornando ainda pior uma situação má.
Assim, mais uma vez, se uma lei de reabilitação não for aprovada, ninguém pode prever com certeza o que acontecerá. Aqui está como Tim Shipman resumiu isto em "Bailout Failure Will Cause US Crash", no UK Telegraph:
"Responsáveis próximo de Paulson estão, em privado, a pintar um retrato muito mais negro da fragilidade da economia global do que aquele avançado pelo presidente George W. Bush no discurso da semana passada na TV.
Um republicano disse que a mensagem de responsáveis do governo é de que 'a economia está em queda'. E acrescentou: 'Poderíamos ver quedas de 3000 ou 4000 ponto no Dow [o índice mercado de Nova York que actualmente situa-se em torno dos 11.000]. Isso poderia acontecer em apenas um par de dias.
'O que está a ser dito nos bastidores é que estamos a encarar algo como na década de 1930. Estamos a ver uma catástrofe, enorme, espantosa catástrofe. Todos estão extraordinariamente assustados. Isto vai ficar realmente asqueroso'."
O medo na Colina do Capitólio é palpável, especialmente entre os democratas que conduziram tanto esforço quanto possível para aprovar o engendro de Paulson. O porta-voz da Casa, Nancy Pelosi, e colegas líderes do Partido Democrata, Chris Dodd, Harry Reid e o convencido tagarela de Massachusetts, Barney Frank, fizeram tudo o que estava ao seu alcance para coagir dissidentes, suprimir resistência e apressar a votação da lei sem a habitual deliberação e debate. O deputado Marcy Kaptur (D-Ohio) foi um dos muitos irados membros do Congresso que atacou a brutalidade de Pelosi. Tudo isto ficou registado num vídeo de um minuto: http://redstaterebels.org/2008/09/wall- ... reed-game/
Marcy Kaptur: "O processo legislativo normal que deveria acompanhar uma proposta monumental para salvar a Wall Street foi posto de lado. Sim, posto de lado! Apenas uns poucos iniciados estão a fazer a negociação. Estes criminosos têm tanto poder que podem encerrar o processo legislativo normal dos mais alto organismo legislativo desta terra. Todos os comités que deveriam estar a esquadrinhar cada palavra que está a ser negociada foram removidos. E isto significa que o povo americano foi removido. Nós estamos constitucionalmente jurados para proteger este país contra todos os inimigos externos e internos, e sim, meu amigos, há inimigos... A pessoas que estão a pressionar esta lei são exactamente as mesmas que foram responsáveis pela implosão da Wall Street. Elas foram fraudulentas então; e elas são fraudulentas agora. Nós deveríamos dizer Não a este acordo".
Os republicanos estavam igualmente furiosos pelo modo como o grupo de Pelosi manteve as fileiras fora do circuito tanto quanto possível. O dep. Michael Burgess (R-Texas) resumiu os sentimentos de muitas congressistas que sentiam estarem a ser cilindrados por Pelosi & Co.: "Não vimos nenhuma lei. Temos estado aqui a debater conversas ... Os republicanos da casa foram excluídos do processo e ridicularizados pelos líderes democratas da Casa como "impatrióticos" por não participarem no apoio à lei. Sr. Porta-voz, eu fui expelido de mais reuniões nas últimas 24 horas do que alguma vez julguei possível como representante eleito dos 800 mil cidadãos de N. Texas... Uma vez que não tivermos audiências, uma vez que não tivemos emendas, vamos pelo menos colocar esta legislação na Internet durante 24 horas e deixar o povo americano ver o que fizemos na calada da noite. Afinal de contas, eu nunca tive mais mensagens sobre uma questão única do que sobre esta lei que está diante de nós esta noite".
O deputado Dennis Kucinich (D-Ohio) fez o melhor discurso do dia, reprovando a indústria financeira e defendendo os interesses dos americanos da classe trabalhadora.
Denni Kucinich: "A lei do salvamento dos US$700 mil milhões está a ser conduzida pelo medo e não pelos factos. Trata-se de demasiado dinheiro, em demasiado pouco tempo, a ir para demasiadas poucas pessoas, enquanto demasiadas questões permanecem não respondidas. Por que não estamos nós a ter audiências... Por que não estamos nós a considerar quaisquer outras alternativas além de dar US$700 mil milhões à Wall Street? Por que não estamos nós a aprovar novas lei para travar a especulação que disparou isto? Por que não estamos nós a erguer novas estruturas regulamentares para proteger os investidores? Por que não estamos nós a ajudar directamente os proprietários de casas com os seus fardos de dívidas? Por que não estamos nós a ajudar famílias americanas confrontadas com a bancarrota? Não será tempo para mudanças fundamentais no nosso sistema monetário baseado na dívidas de modo a que possamos libertar-nos da manipulação da Reserva Federal e dos bancos? Será isto o Congresso dos Estados Unidos ou o Conselho de Directores da Goldman Sachs?".
Houve maior oposição à lei de Paulson do que a qualquer legislação no último meio século. A vaga de fundo do ultraje publico foi sem precedentes e, ainda assim, o Congresso, completamente isolado das exigências dos seus constituintes, continua a avançar com um erro crasso seguindo o mesmo roteiro pró-indústria dos seus gémeos ideológicos na Casa Branca. Não surpreendentemente, nem Pelosi nem qualquer elemento da liderança democrata chegou mesmo a encontrar-se com qualquer dos mais de 200 economistas importantes que declararam inequivocamente que o salvamento não atenderá os problemas centrais que estão a destruir o sistema financeiro. Ao invés disso, eles demoliram a demagogia de Bush e as afirmações espúrias do vendedor ambulante da G-Sax, Henry Paulson, um homem que até agora enganou o público sobre toda a questão relacionada com a subprime/fiasco financeiro.
Há partes do Emergency Economic Stabilization Act of 2008 de Paulson que todo contribuinte americano deveria entender, embora os media estejam a manter estes factos na sombra. Nas secções 128 e 132, a lei proposta teria de suspender a contabilidade "marcação a mercado" ("mark to market"). Isto significa que aos bancos não seria mais exigido que avaliassem o valor dos seus activos de acordo com o que activos semelhantes alcançassem no mercado aberto. Por exemplo: a Merrill Lynch vendeu US$31 mil milhões de títulos apoiados por hipotecas por US$6 mil milhões, o que signfica que títulos semelhantes deveriam ser apreçados de forma semelhante. Simples, não é? Os bancos precisam ajustar o valor daqueles activos no seus balanços em conformidade. Isto dá aos investidores e depositantes a capacidade de saber se o seu banco está em más condições ou não. Mas a lei de Paulson levantava este requerimento e permitia aos bancos assinalarem o seu próprio valor arbitrário a estes activos, o que é a mesma velha fraude da contabilidade estilo Enron.
A lei de Paulson também propunha a "Eliminação do FASB 157 e 0% de reservas". Isto é tão grosseiro quanto parece. O FASB, ou Financial Services Regulatory Relief Act diz:
"Bancos Federais de Reserva são autorizado a pagar juros bancários sobre reservas sob a Secção 201 do Act. Além disso, a Secção 202 permite ao FRB mudar o rácio de reservas que um banco deve manter em relação às suas contas de transacções, permitindo um rácio de reserva zero se adequado. Devido a exigências orçamentais federais, a Secção 203 prevê que estas mudanças legislativas não terão efeito até 1 de Outubro de 2011".
Isto é tudo algaravia legal para esconder o facto de que os bancos podem continuar a operar com capital insuficiente, o que é a razão porque o sistema está actualmente a explodir. Toda a atenção a isto: A razão porque o sistema está a explodir é porque às várias instituições financeiras foi permitido – via desregulamentação – actuarem como banco e criarem tanto crédito quanto elas quisessem sem um suficiente capital de base. Quando alguém lê sobre desalavancagem maciça, isto relaciona-se directamente com o facto de que negócios sub-capitalizados estavam a operar com demasiada dívida em relação ao seu capital. É isto em síntese; esqueça as CDOs, as MBSs, o CDS e toda a sopa de letras do lixo derivativo. Todas elas foram inseridas no sistema de modo que os bufarinheiros da Wall Street podiam expandir crédito sem supervisão de equilibrar triliões de dólares de dívida sobre as costas de uma única nota de dólar. É por isto que Paulson quiz suspender as regras que trariam a credibilidade e a confiança de volta ao sistema. Afinal de contas, aquilo pode afectar a capacidade da Wall Street para enriquecer-se a expensas do público.
Nouriel Roubini localizou um estudo de Barry Eichengreen, "And Now the Great Depression", que aponta porque o plano de US$700 mil milhões de Paulson provavelmente fracassará:
"Sempre que há uma crise bancária sistémica há uma necessidade de recapitalizar o sistema bancário/financeiro para evitar uma excessiva e destrutiva contracção do crédito. Mas comprar activos tóxicos/ilíquidos do sistema financeiro NÃO é o caminho mais efectivo e eficiente para recapitalizar o sistema bancário...
"Um recente estudo do FMI de 42 crises bancárias sistémicas em todo o mundo apresenta evidência de como diferentes crises foram resolvidas.
"Antes de mais nada, apenas em 32 dos 42 casos houve intervenção financeira governamental de qualquer espécie; em 10 casos crises bancárias sistémicas foram resolvidas sem qualquer intervenção financeira governamental. Dos 32 casos em que o governo recapitalizou o sistema bancário apenas sete incluíram um programa de compra de maus empréstimos/activos (como aquele proposto pelo Tesouro dos EUA). Em 25 outros casos não houve compra governamental de activos tóxicos. Em seis casos o governo preferiu acções; em 4 caos o governo comprou acções ordinárias; em 11 casos o governo comprou dívida subordinada; em 12 casos o governo injectou cash nos bancos; em dois casos foi estendido crédito aos bancos; e em três casos o governo assumiu passivos bancários. Mesmo no caso em que foram comprados maus activos – como no Chile – foram suspensos dividendos e todos os lucros e recuperações tiveram de ser utilizados para recomprar os maus activos. Naturalmente na maior parte dos casos foram usadas múltiplas formas de recapitalização do bancos pelo governo". (Nouriel Roubini's Global EonoMonitor.)
Em suma, não funcionaria. Nem foi concebido para funcionar. A proposta de lei era apenas o meio de Paulson escavar uma canoa de prata para ele e os seus compadres de modo a que pudessem remar para algum paraíso offshore enquanto o resto de nós afundaria num oceano de dívidas sem fundo.
29/Setembro/2008
Notas
[1] O dia 19 de Outubro de 1987, quando o Dow Jones sofreu uma queda de 22 por cento, é conhecido como "Segunda-feira negra"
[2] TED spread: Diferença entre a taxa de juro T-bill e o Libor. É uma medida de liquidez e mostra o fluxo de dólares para dentro e para fora dos Estados Unidos.
[3] One Trick Poney: Filme de 1980, em que o personagem tenta determinadas acções e fracassa.
[*] fergiewghitney@msn.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney09292008.html
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Só podem estar todos doidos...
O povo contra os banksters [1]
por Mike Whitney [*]
O sistema financeiro está a explodir. Não ouça os peritos, olhe apenas para os números. Na semana passada, segundo a Reuters, "Bancos estado-unidenses tomaram emprestado do Federal Reserve uma quantia recorde: uma média de aproximadamente US$188 mil milhões por dia, mostrando que o banco central foi a extremos para manter o sistema bancário a flutuar em meio a maior crise financeira desde a Grande Depressão". O Fed abriu vários "instrumentos de leilão" a fim de criar a aparência de que bancos insolventes estavam a negociar com êxito, mas não estão. Eles estão mortos; seus passivos excedem seus activos. Agora o Fed está desesperado porque as centenas de milhares de milhões de dólares de títulos apoiados por hipotecas (mortgage-backed securities, MBS) nos cofres dos bancos provocaram a bancarrota de todo o sistema e o balanço do Fed está inchar dia a dia. O mercado para MBSs não se recuperará no futuro previsível e os bancos são incapazes de renovar (roll-over) sua dívida a curto prazo.
O próprio Federal Reserve está em perigo. Assim, ele está no Plano B, o qual é de despejar toda a lama tóxica sobre os contribuintes antes de eles perceberem que todo o sistema está a estilhaçar. Isto é o chamado Plano Paulson, um ultraje de US$700 mil milhões, o qual já foi criticado por todo economista de mérito no país.
Da Reuters: "A contracção de empréstimos por negociadores primários, através do Primary Dealer Credit Facility, e através de outro instrumento criado no domingo para a Goldman Sachs, a Morgan Stanley e a Merrill Lynch, e suas subsidiárias com base em Londres, totalizaram US$105,66 mil milhões na quarta-feira, disse o Fed".
Vejam o que quero dizer: todos eles estão quebrados. Os empréstimos rotativos do Fed são apenas um meio para perpetuar o mito de que os bancos já não estão mortos (flat-lining). Bernanke amarrou cordas a várias partes do corpo e sacode-as frequentemente para dar a impressão de que eles estão vivos. Mas o modelo Wall Street está fracassado e o salvamento é inútil.
Na semana passada houve uma corrida digital aos bancos de que a maior parte das pessoas nunca ouviu falar; um crash em "tempo real". Um artigo de Michael Gray no New York Post deu com grande pormenor a descrição de como os acontecimentos se desdobraram. Aqui está um recorte do artigo de Gray, "Almost Armageddon":
"O mercado estava a 500 trades longe do Armagedão na quinta-feira... Se o Tesouro e o Fed não tivesse acudido rapidamente no combate daquela manhã com uma veloz injecção de US$105 mil milhões em liquidez, o Dow poderia ter colapsado para o nível 8300 – um declínio de 22 por cento! – enquanto o clangor do sino de abertura ainda ecoava em torno do cavernoso piso do pregão. Segundo traders, que falaram na condição de anonimato, os fundos do mercado monetário foram inundados com ordens de venda de US$500 mil milhões antes da abertura. A capitalização total do mercado de dinheiro era aproximadamente US$4 milhões de milhões naquela manhã.
"As vendas em pânico estavam ligadas directamente à detenção dos mercados de crédito – incluindo uma contracção de US$52 mil milhões em papel comercial – e a rumores de fundos adicionais do mercado monetário a 'triturar o dólar', ou derrubando-o abaixo dos US$1 de valor activo líquido.
"A dramática injecção do Fed de US$105 mil milhões de liquidez na quinta-feira (antes do mercado) foi apenas suficiente para manter contas institucionais chave de continuarem nas ordens de venda e começarem um estouro de cash que poderia ter levado grandes bocados da economia dos EUA a uma travagem".
Papel comercial é o lubrificante que mantém os mercados financeiros em funcionamento. Quando a confiança se desvanece, os investidores retiram o seu dinheiro, as operações normais de negócios tornam-se impossíveis, e os mercados entram em colapso. Fim da história. Assim, ao invés de restaurar a confiança do público por uma liderança e comportamento fortes destinados a reconfortar investidores, o presidente Bush decidiu pronunciar um grande discurso no horário nobre declarando que se o salvamento de emergência de Paulson não fosse aprovado imediatamente, a economia do país vaporizar-se-ia no éter.
Na semana passada, o mercado de papel comercial (grande parte do qual é apoiado por mortgage-backed securities) contraiu-se em US$61 mil milhões, para US$1072 milhões de milhões, o mais baixo nível desde o princípio de 2006. Assim, o salvamento de Paulson efectivamente assegurará os commercial paper bem como toda a sopa de letras de derivativos apoiados por hipotecas para os quais actualmente não há mercado. O contribuinte estado-unidense não está apenas a cair no mercado imobiliário em queda livre; ele também está a servir de barreira para todo o sistema financeiro incluindo incumprimentos de títulos por vendas de carros, títulos em declínio de empréstimos a estudantes, títulos descontrolados de empréstimos imobiliários e títulos vacilantes de cartões de crédito. Toda a gigantesca pilha da dívida bosta de cavalo está prestes a ser amontoada sobre as costas do contribuinte já no limite da sua capacidade e da nota verde sempre a murchar.
DANO DE US$5 MILHÕES DE MILHÕES
Como é que o secretário do Tesouro Paulson descobriu que recapitalizar o sistema bancário custaria US$700 mil milhões? Ou será que ele simplesmente estimou a quantia de dinheiro que poderia ser carregada no camião do Tesouro quando partisse para cumular os seus compadres no Goldman Sachs com notas verdes acabadas de imprimir? A questão é que os cálculos de Paulson não foram assistidos por quaisquer economistas, e eles não são confiáveis. É um numero puramente arbitrário, calculado "nas costas de um envelope". De acordo com a Bloomberg: "O investidor suíço Marc Faber, conhecido por um longo registo de boas comunicações, acredita que o dano pode chegar aos US$5 milhões de milhões (trillion):
"Marc Faber, director administrador da Marc Faber Ltd. em Hong Kong, disse que o pacote de resgate do governo para o sistema financeiro pode exigir até US$5 milhões de milhões, sete vezes a quantia que o secretário do Tesouro Henry Paulson pediu...
"Os US$700 mil milhões são realmente nada", disse Faber numa entrevista à televisão. "O Tesouro está apenas a anunciar este número, quando o número final pode ser de US$5 milhões de milhões".
A maior parte das pessoas que seguem estes assuntos confiaria na avaliação de Faber sobre o número de Paulson. Na mais recente entrada no seu blog, o economista Nouriel Roubini afirmou que "nenhum economista profissional foi consultado pelo Congresso ou convidado a apresentar a sua visão nas audiências do Congresso sobre o plano de resgate do Tesouro". Roubini acrescentou:
"O plano do Tesouro é uma desgraça: um salvamento de banqueiros imprudentes, prestamistas e investidores que proporciona pouco alívio directa da dívida a tomadores de empréstimos e famílias financeiramente sob tensão e que virão a um custo muito alto para o contribuinte estado-unidense. E o plano nada faz para resolver o severo stress nos mercados monetários e mercados interbancários que agora estão fechados num colapso sistémico".
Roubini está certo em tudo o que diz. Até então, mais de 190 eminentes economistas pressionaram o Congresso a não aprovar a lei de salvamento dos US$700 mil mlhões. Há um consenso crescente de que o chamado "pacote de resgate" não trata das questões económicas centrais e tem o potencial para tornar uma situação má ainda pior.
O GOLPE DOS BANQUEIROS
Paulson é o chefe num golpe dos banqueiros cujos resultados decidirão o futuro económico e político da América nos próximos anos. Os líderes do golpe drenaram dezenas de milhares de milhões de dólares de liquidez do já tenso sistema bancário para desencadear um congelamento dos empréstimos interbancários e apressar um crash do mercado de acções. Isto, acreditam eles, forçará o Congresso a aprovar o pacote de salvamento de Paulson no valor de US$770 mil milhões sem resistência adicional do Congresso. Isto é chantagem.
Por enquanto, ninguém sabe se os apoiantes do golpe terão êxito e consolidarão mais o seu poder político através de um maciço choque económico para o sistema, mas o seu plano continua a mover-se alegremente para a frente enquanto a economia segue o seu declínio para o desastre.
O salvamento galvanizou movimentos de base que inundaram as linhas de fax e telefone do Congresso. Os que chamam opõem-se esmagadoramente a qualquer salvamento para bancos que estão rendidos pelos seus próprios tóxicos activos apoiados por hipotecas. Um analista afirma que as chamadas para o Congresso são 50 por cento "Não" e 50 por cento "Inferno, Não". Não há virtualmente apoio popular para a lei.
Da Bloomberg News: "Erik Brynjolfsson, da Sloan School do Massachusetts Institute of Technology, disse que a sua principal objecção "é o montante de tirar o fôlego de liberdade de acção sem controle que dá ao secretário do Tesouro. Isto é sem precedentes numa democracia moderna".
"Suspeito de que parte do que estamos a ver no congelamento de mercados prestamistas é comportamento estratégico da parte de grandes actores financeiros que se preparam para beneficiar do salvamento", disse David K. Levine, economista na Washington University – St. Louis, o qual estuda constrangimentos de liquidez e teoria dos jogos". ( Mish's Global Economic Trend Analysis )
As suspeições de Brynjolfsson são bem fundamentadas. Karl Denninger do "Market Ticker's" confirma que o Fed tem estado a drenar o sistema bancário de liquidez a fim de chantagear o Congresso para aprovar a nova legislação. Aqui está o que diz Denninger:
"A taxa efectiva dos fundos Fed tem sido comercializada 50 pontos ou mais abaixo dos 3% alvo durante cinco dias contínuos, e nos últimos dois dias foi comercializada 75 pontos base abaixo. O IRX está a exigir um corte imediato na taxa. O Slosh foi drenado intencionalmente em mais de US$125 mil milhões na semana passada e a baixa do nível da água no atoleiro revelou um corpo morto – o Washington Mutual (WaMu) – o qual foi imediatamente atacado com base numa não notícia do JP Morgan. Nem mesmo o presidente do WaMu sabia do ataque até que foi executado... O Fed afirma ser um 'banco central independente'. Eles não são nada disso, eles agora estão a actuar como um incendiário (arsonist). O Fed e o Tesouro afirmaram que isto é uma 'crise de liquidez'; não é. Trata-se de uma crise de insolvência que o Fed, o Tesouro e outros organismos regulatórios do nosso governo permitiram intencionalmente que ocorresse".
A resistência da base, liderada por bloguistas da Internet (como Mish, Roubini e Denninger) está a demonstrar que pode mobilizar dezenas de milhares de "camponeses com forcados" e ser um factor na tomada de decisão política. Isto também ajuda a eleger representantes, como o senador Richard Shelby, que mantêm-se firmes nos princípios e não desmaiam à primeira rajada de metralha (como os seus indecisos colegas democratas). Shelby carregou todo o peso da pressão do executivo, que descarregou-se sobre ele uma avalanche. Em consequência, ainda há uma ligeira possibilidade de que a lei terá de ser posta de lado e os representantes da indústria financeira terão de começar tudo de novo.
A situação económica do país está constantemente a deteriorar-se. Encomendas de bens manufacturados duradouros caíram 4,5 por cento no mês passado ao passo que os stocks continuam a crescer. O desemprego está a aumentar e o crash habitacional continua a acelerar. O Credit Suisse espera agora 10,3 milhões de arrestos (total) nos próximos poucos anos. Números como este não são casuais, mas parte de um esquema mais vasto para utilizar a política monetária como um meio de mudar a riqueza de uma classe para outra enquanto degradam o bem estar económico geral do país. Mais alarmante: os credores primários do país estão agora a encenar uma rebelião que provavelmente cortará o fluxo de capitais para os mercados dos EUA remetendo o dólar para uma queda livre e disparando um colapso de crédito deflacionário. Isto é da Reuters:
"Reguladores chineses pediram aos bancos internos para parar de emprestar a instituições financeiras dos EUA nos mercados monetários interbancários a fim de prevenir possíveis perdas durante a crise financeira, relatou o South China Morning Post de quinta-feira. A proibição da Comissão Regulatória Bancária da China ao empréstimo interbancário de todas as divisas aplicou-se a bancos dos EUA, mas não a prestamistas de outros países, acrescentou a notícia".
A Bloomberg New relata que o presidente do Dallas Federal Reserve Bank, Richard Fisher, rompeu com a tradição e criticou asperamente o salvamento proposto dizendo que isto "mergulharia o governo dos EUA mais profundamente num abismo fiscal".
Da Bloomberg: "O plano do secretário do Tesouro Henry Paulson de comprar activos perturbados de instituições financeiras colocaria 'mais uma palha sobre as costas do camelo tremendamente sobrecarregado que é o livro-razão do governo federal', disse hoje Fisher no texto de um discurso em Nova York. 'Estamos profundamente submersos num vasto abismo fiscal' ... As tomadas e convulsões que temos experimentado na dívida e nos mercados de acções foram as consequências de uma orgia sustentada de excessos e comportamentos imprudentes, não de uma política monetária demasiado forte", disse Fisher no Money Marketeers Club da Universidade de Nova York". (Bloomberg)
A cura para os hiperbólicos "excessos de crédito e comportamentos imprudentes" não pode certamente ser "mais do mesmo". De facto, o salvamento de Paulson nem mesmo trata das questões centrais, as quais têm sido obscurecidas pela demagogia e ameaças. Os activos sem valor devem ser cancelados, aos bancos insolventes deve ser permitido falir, e os vigaristas e criminosos que engendraram esta blitz financeira sobre os cofres da nação devem prestar contas.
A carnificina das baixas taxas de juro de Greenspan, a farra do "dinheiro fácil", agora está visível para toda a gente. Os valores inflacionados das casas e acções estão a entrar em crash à medida que o gás continua a escapar da bolha maciça. A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) terá de ser recapitalizada – talvez US$500 mil milhões – para responsabilizar-se pela perda antecipada de depósito dos bancos em falência presos na deflação de activos e em constante contracção de crédito. A recessão está a vir, mas o colapso económico ainda pode ser evitado se o mal concebido plano de Paulson for abandonado e for tomada acção correctora para colocar o país sobre base financeira sólida. Market Ticker esboça a estrutura de uma solução trabalhável para a crise, mas eles devem agir suavemente para reconstruir a confiança de que grandes mudanças sistémicas estão em preparação:
1- Forçar todos os "activos" fora do balanço outra vez para dentro do balanço, e forçar os modelos de avaliação e identificação de activos individuais fora do Nível 3 e dentro de 10Qs e 10Ks. Fazer isto já. (Por outras palavras, não mais contabilidades aldrabadas tipo Enron e não permitir mais aos bancos atribuírem seus próprios "valores" a activos incertos)
2- Forçar todos os derivativos OTC (over the counter) a uma troca regulamentada semelhante àquela utilizada pelas opções listadas nos mercados de acções. Isto neutraliza permanentemente a bomba relógio dos derivativos. Dar 90 dias aos participantes no mercado; quaisquer outras que não sejam listadas em 90 dias são declaradas nulas; deixar os participantes processarem-se uns aos outros se não puderem demonstrar adequação de capital. (Se os contratos de comercialização de derivativos podem prejudicar o sistema "regulamentado", então aquela comercialização deve ter lugar sob estritas regulamentações do governo)
3- Forçar alavancagem por todas as instituições a não mais do que 12:1. A SEC em 2004 abandonou deliberadamente os limites de alavancagem para corretores/dealers; antes daquela data o limite era 12:1. Toda firma que fracassasse teria de duplicar ou mais a alavancagem daquele limite anterior de 12:1. Aprovar isto com um limite temporal de seis meses e exigir mensalmente 1/6 do excesso verificado. (O colapso no modelo das "finanças estruturadas" é devido principalmente a demasiada alavancagem. A Fannie Mae e o Freddie Mac, por exemplo, tinham US$80 de dívida para cada US$1 de reservas de capital quando foram tomadas pela conservatorship do governo)
Se tem de haver um salvamento, vamos fazer isso correctamente. A lei dos US$700 mil milhões de Paulson nada faz para corrigir os profundos problemas estruturais nos mercados financeiros. Ela meramente empurra o dia do julgamento um pouco mais para a frente no futuro enquanto comuta o fardo do pagamento dos activos tóxicos para o contribuinte.
27/Setembro/2008
[1] Banksters: neologismo, banqueiros+gangsters
[*] fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney09272008.html
Terça, 30 de setembro de 2008, 21h01
Fonte: Redação Terra
Economia Internacional
Senado dos EUA vai votar plano de socorro na 4ª feira
Atualizada às 21h14
O Senado americano votará na quarta-feira o plano do governo para socorrer o setor financeiro com US$ 700 bilhões. O texto será submetido a votação no final da tarde, quando os senadores retornarem do feriado do Ano Novo judeu.
O pacote de US$ 700 bilhões a ser votado incluirá um aumento no valor dos depósitos bancários segurados pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corp, um órgão governamental) para US$ 250 mil, contra US$ 100 mil previstos anteriormente.
O líder da maioria Harry Reid, senador democrata por Nevada, recebeu um consenso unânime do Senado para marcar a votação sobre o pacote que, diz a Casa Branca, é necessário para evitar uma grande crise econômica.
Os principais líderes do Senado dos Estados Unidos pediram nesta terça-feira a restauração da unidade para levar em frente um plano contra a crise financeira como o que foi rejeitado na última segunda-feira na Câmara dos Representantes (deputados).
Reid e o líder da minoria, o republicano Mitch McConnell, fizeram um apelo para acabar com as acusações e iniciar a negociação de um plano.
A Câmara de Representantes rejeitou ontem o plano que os dois partidos negociaram durante o fim de semana e que teria permitido ao Tesouro contar com até US$ 700 bilhões para resgatar os bancos da crise financeira e devolver a normalidade aos mercados de crédito.
Nesta terça-feira, o presidente dos EUA, George W. Bush, instou também o Congresso a alcançar um acordo. Pois, declarou, se está diante de "um momento crítico" para a economia do país, o qual requer uma atuação "urgente", pois caso não se atue agora "a situação piora dia a dia".
O povo contra os banksters [1]
por Mike Whitney [*]
O sistema financeiro está a explodir. Não ouça os peritos, olhe apenas para os números. Na semana passada, segundo a Reuters, "Bancos estado-unidenses tomaram emprestado do Federal Reserve uma quantia recorde: uma média de aproximadamente US$188 mil milhões por dia, mostrando que o banco central foi a extremos para manter o sistema bancário a flutuar em meio a maior crise financeira desde a Grande Depressão". O Fed abriu vários "instrumentos de leilão" a fim de criar a aparência de que bancos insolventes estavam a negociar com êxito, mas não estão. Eles estão mortos; seus passivos excedem seus activos. Agora o Fed está desesperado porque as centenas de milhares de milhões de dólares de títulos apoiados por hipotecas (mortgage-backed securities, MBS) nos cofres dos bancos provocaram a bancarrota de todo o sistema e o balanço do Fed está inchar dia a dia. O mercado para MBSs não se recuperará no futuro previsível e os bancos são incapazes de renovar (roll-over) sua dívida a curto prazo.
O próprio Federal Reserve está em perigo. Assim, ele está no Plano B, o qual é de despejar toda a lama tóxica sobre os contribuintes antes de eles perceberem que todo o sistema está a estilhaçar. Isto é o chamado Plano Paulson, um ultraje de US$700 mil milhões, o qual já foi criticado por todo economista de mérito no país.
Da Reuters: "A contracção de empréstimos por negociadores primários, através do Primary Dealer Credit Facility, e através de outro instrumento criado no domingo para a Goldman Sachs, a Morgan Stanley e a Merrill Lynch, e suas subsidiárias com base em Londres, totalizaram US$105,66 mil milhões na quarta-feira, disse o Fed".
Vejam o que quero dizer: todos eles estão quebrados. Os empréstimos rotativos do Fed são apenas um meio para perpetuar o mito de que os bancos já não estão mortos (flat-lining). Bernanke amarrou cordas a várias partes do corpo e sacode-as frequentemente para dar a impressão de que eles estão vivos. Mas o modelo Wall Street está fracassado e o salvamento é inútil.
Na semana passada houve uma corrida digital aos bancos de que a maior parte das pessoas nunca ouviu falar; um crash em "tempo real". Um artigo de Michael Gray no New York Post deu com grande pormenor a descrição de como os acontecimentos se desdobraram. Aqui está um recorte do artigo de Gray, "Almost Armageddon":
"O mercado estava a 500 trades longe do Armagedão na quinta-feira... Se o Tesouro e o Fed não tivesse acudido rapidamente no combate daquela manhã com uma veloz injecção de US$105 mil milhões em liquidez, o Dow poderia ter colapsado para o nível 8300 – um declínio de 22 por cento! – enquanto o clangor do sino de abertura ainda ecoava em torno do cavernoso piso do pregão. Segundo traders, que falaram na condição de anonimato, os fundos do mercado monetário foram inundados com ordens de venda de US$500 mil milhões antes da abertura. A capitalização total do mercado de dinheiro era aproximadamente US$4 milhões de milhões naquela manhã.
"As vendas em pânico estavam ligadas directamente à detenção dos mercados de crédito – incluindo uma contracção de US$52 mil milhões em papel comercial – e a rumores de fundos adicionais do mercado monetário a 'triturar o dólar', ou derrubando-o abaixo dos US$1 de valor activo líquido.
"A dramática injecção do Fed de US$105 mil milhões de liquidez na quinta-feira (antes do mercado) foi apenas suficiente para manter contas institucionais chave de continuarem nas ordens de venda e começarem um estouro de cash que poderia ter levado grandes bocados da economia dos EUA a uma travagem".
Papel comercial é o lubrificante que mantém os mercados financeiros em funcionamento. Quando a confiança se desvanece, os investidores retiram o seu dinheiro, as operações normais de negócios tornam-se impossíveis, e os mercados entram em colapso. Fim da história. Assim, ao invés de restaurar a confiança do público por uma liderança e comportamento fortes destinados a reconfortar investidores, o presidente Bush decidiu pronunciar um grande discurso no horário nobre declarando que se o salvamento de emergência de Paulson não fosse aprovado imediatamente, a economia do país vaporizar-se-ia no éter.
Na semana passada, o mercado de papel comercial (grande parte do qual é apoiado por mortgage-backed securities) contraiu-se em US$61 mil milhões, para US$1072 milhões de milhões, o mais baixo nível desde o princípio de 2006. Assim, o salvamento de Paulson efectivamente assegurará os commercial paper bem como toda a sopa de letras de derivativos apoiados por hipotecas para os quais actualmente não há mercado. O contribuinte estado-unidense não está apenas a cair no mercado imobiliário em queda livre; ele também está a servir de barreira para todo o sistema financeiro incluindo incumprimentos de títulos por vendas de carros, títulos em declínio de empréstimos a estudantes, títulos descontrolados de empréstimos imobiliários e títulos vacilantes de cartões de crédito. Toda a gigantesca pilha da dívida bosta de cavalo está prestes a ser amontoada sobre as costas do contribuinte já no limite da sua capacidade e da nota verde sempre a murchar.
DANO DE US$5 MILHÕES DE MILHÕES
Como é que o secretário do Tesouro Paulson descobriu que recapitalizar o sistema bancário custaria US$700 mil milhões? Ou será que ele simplesmente estimou a quantia de dinheiro que poderia ser carregada no camião do Tesouro quando partisse para cumular os seus compadres no Goldman Sachs com notas verdes acabadas de imprimir? A questão é que os cálculos de Paulson não foram assistidos por quaisquer economistas, e eles não são confiáveis. É um numero puramente arbitrário, calculado "nas costas de um envelope". De acordo com a Bloomberg: "O investidor suíço Marc Faber, conhecido por um longo registo de boas comunicações, acredita que o dano pode chegar aos US$5 milhões de milhões (trillion):
"Marc Faber, director administrador da Marc Faber Ltd. em Hong Kong, disse que o pacote de resgate do governo para o sistema financeiro pode exigir até US$5 milhões de milhões, sete vezes a quantia que o secretário do Tesouro Henry Paulson pediu...
"Os US$700 mil milhões são realmente nada", disse Faber numa entrevista à televisão. "O Tesouro está apenas a anunciar este número, quando o número final pode ser de US$5 milhões de milhões".
A maior parte das pessoas que seguem estes assuntos confiaria na avaliação de Faber sobre o número de Paulson. Na mais recente entrada no seu blog, o economista Nouriel Roubini afirmou que "nenhum economista profissional foi consultado pelo Congresso ou convidado a apresentar a sua visão nas audiências do Congresso sobre o plano de resgate do Tesouro". Roubini acrescentou:
"O plano do Tesouro é uma desgraça: um salvamento de banqueiros imprudentes, prestamistas e investidores que proporciona pouco alívio directa da dívida a tomadores de empréstimos e famílias financeiramente sob tensão e que virão a um custo muito alto para o contribuinte estado-unidense. E o plano nada faz para resolver o severo stress nos mercados monetários e mercados interbancários que agora estão fechados num colapso sistémico".
Roubini está certo em tudo o que diz. Até então, mais de 190 eminentes economistas pressionaram o Congresso a não aprovar a lei de salvamento dos US$700 mil mlhões. Há um consenso crescente de que o chamado "pacote de resgate" não trata das questões económicas centrais e tem o potencial para tornar uma situação má ainda pior.
O GOLPE DOS BANQUEIROS
Paulson é o chefe num golpe dos banqueiros cujos resultados decidirão o futuro económico e político da América nos próximos anos. Os líderes do golpe drenaram dezenas de milhares de milhões de dólares de liquidez do já tenso sistema bancário para desencadear um congelamento dos empréstimos interbancários e apressar um crash do mercado de acções. Isto, acreditam eles, forçará o Congresso a aprovar o pacote de salvamento de Paulson no valor de US$770 mil milhões sem resistência adicional do Congresso. Isto é chantagem.
Por enquanto, ninguém sabe se os apoiantes do golpe terão êxito e consolidarão mais o seu poder político através de um maciço choque económico para o sistema, mas o seu plano continua a mover-se alegremente para a frente enquanto a economia segue o seu declínio para o desastre.
O salvamento galvanizou movimentos de base que inundaram as linhas de fax e telefone do Congresso. Os que chamam opõem-se esmagadoramente a qualquer salvamento para bancos que estão rendidos pelos seus próprios tóxicos activos apoiados por hipotecas. Um analista afirma que as chamadas para o Congresso são 50 por cento "Não" e 50 por cento "Inferno, Não". Não há virtualmente apoio popular para a lei.
Da Bloomberg News: "Erik Brynjolfsson, da Sloan School do Massachusetts Institute of Technology, disse que a sua principal objecção "é o montante de tirar o fôlego de liberdade de acção sem controle que dá ao secretário do Tesouro. Isto é sem precedentes numa democracia moderna".
"Suspeito de que parte do que estamos a ver no congelamento de mercados prestamistas é comportamento estratégico da parte de grandes actores financeiros que se preparam para beneficiar do salvamento", disse David K. Levine, economista na Washington University – St. Louis, o qual estuda constrangimentos de liquidez e teoria dos jogos". ( Mish's Global Economic Trend Analysis )
As suspeições de Brynjolfsson são bem fundamentadas. Karl Denninger do "Market Ticker's" confirma que o Fed tem estado a drenar o sistema bancário de liquidez a fim de chantagear o Congresso para aprovar a nova legislação. Aqui está o que diz Denninger:
"A taxa efectiva dos fundos Fed tem sido comercializada 50 pontos ou mais abaixo dos 3% alvo durante cinco dias contínuos, e nos últimos dois dias foi comercializada 75 pontos base abaixo. O IRX está a exigir um corte imediato na taxa. O Slosh foi drenado intencionalmente em mais de US$125 mil milhões na semana passada e a baixa do nível da água no atoleiro revelou um corpo morto – o Washington Mutual (WaMu) – o qual foi imediatamente atacado com base numa não notícia do JP Morgan. Nem mesmo o presidente do WaMu sabia do ataque até que foi executado... O Fed afirma ser um 'banco central independente'. Eles não são nada disso, eles agora estão a actuar como um incendiário (arsonist). O Fed e o Tesouro afirmaram que isto é uma 'crise de liquidez'; não é. Trata-se de uma crise de insolvência que o Fed, o Tesouro e outros organismos regulatórios do nosso governo permitiram intencionalmente que ocorresse".
A resistência da base, liderada por bloguistas da Internet (como Mish, Roubini e Denninger) está a demonstrar que pode mobilizar dezenas de milhares de "camponeses com forcados" e ser um factor na tomada de decisão política. Isto também ajuda a eleger representantes, como o senador Richard Shelby, que mantêm-se firmes nos princípios e não desmaiam à primeira rajada de metralha (como os seus indecisos colegas democratas). Shelby carregou todo o peso da pressão do executivo, que descarregou-se sobre ele uma avalanche. Em consequência, ainda há uma ligeira possibilidade de que a lei terá de ser posta de lado e os representantes da indústria financeira terão de começar tudo de novo.
A situação económica do país está constantemente a deteriorar-se. Encomendas de bens manufacturados duradouros caíram 4,5 por cento no mês passado ao passo que os stocks continuam a crescer. O desemprego está a aumentar e o crash habitacional continua a acelerar. O Credit Suisse espera agora 10,3 milhões de arrestos (total) nos próximos poucos anos. Números como este não são casuais, mas parte de um esquema mais vasto para utilizar a política monetária como um meio de mudar a riqueza de uma classe para outra enquanto degradam o bem estar económico geral do país. Mais alarmante: os credores primários do país estão agora a encenar uma rebelião que provavelmente cortará o fluxo de capitais para os mercados dos EUA remetendo o dólar para uma queda livre e disparando um colapso de crédito deflacionário. Isto é da Reuters:
"Reguladores chineses pediram aos bancos internos para parar de emprestar a instituições financeiras dos EUA nos mercados monetários interbancários a fim de prevenir possíveis perdas durante a crise financeira, relatou o South China Morning Post de quinta-feira. A proibição da Comissão Regulatória Bancária da China ao empréstimo interbancário de todas as divisas aplicou-se a bancos dos EUA, mas não a prestamistas de outros países, acrescentou a notícia".
A Bloomberg New relata que o presidente do Dallas Federal Reserve Bank, Richard Fisher, rompeu com a tradição e criticou asperamente o salvamento proposto dizendo que isto "mergulharia o governo dos EUA mais profundamente num abismo fiscal".
Da Bloomberg: "O plano do secretário do Tesouro Henry Paulson de comprar activos perturbados de instituições financeiras colocaria 'mais uma palha sobre as costas do camelo tremendamente sobrecarregado que é o livro-razão do governo federal', disse hoje Fisher no texto de um discurso em Nova York. 'Estamos profundamente submersos num vasto abismo fiscal' ... As tomadas e convulsões que temos experimentado na dívida e nos mercados de acções foram as consequências de uma orgia sustentada de excessos e comportamentos imprudentes, não de uma política monetária demasiado forte", disse Fisher no Money Marketeers Club da Universidade de Nova York". (Bloomberg)
A cura para os hiperbólicos "excessos de crédito e comportamentos imprudentes" não pode certamente ser "mais do mesmo". De facto, o salvamento de Paulson nem mesmo trata das questões centrais, as quais têm sido obscurecidas pela demagogia e ameaças. Os activos sem valor devem ser cancelados, aos bancos insolventes deve ser permitido falir, e os vigaristas e criminosos que engendraram esta blitz financeira sobre os cofres da nação devem prestar contas.
A carnificina das baixas taxas de juro de Greenspan, a farra do "dinheiro fácil", agora está visível para toda a gente. Os valores inflacionados das casas e acções estão a entrar em crash à medida que o gás continua a escapar da bolha maciça. A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) terá de ser recapitalizada – talvez US$500 mil milhões – para responsabilizar-se pela perda antecipada de depósito dos bancos em falência presos na deflação de activos e em constante contracção de crédito. A recessão está a vir, mas o colapso económico ainda pode ser evitado se o mal concebido plano de Paulson for abandonado e for tomada acção correctora para colocar o país sobre base financeira sólida. Market Ticker esboça a estrutura de uma solução trabalhável para a crise, mas eles devem agir suavemente para reconstruir a confiança de que grandes mudanças sistémicas estão em preparação:
1- Forçar todos os "activos" fora do balanço outra vez para dentro do balanço, e forçar os modelos de avaliação e identificação de activos individuais fora do Nível 3 e dentro de 10Qs e 10Ks. Fazer isto já. (Por outras palavras, não mais contabilidades aldrabadas tipo Enron e não permitir mais aos bancos atribuírem seus próprios "valores" a activos incertos)
2- Forçar todos os derivativos OTC (over the counter) a uma troca regulamentada semelhante àquela utilizada pelas opções listadas nos mercados de acções. Isto neutraliza permanentemente a bomba relógio dos derivativos. Dar 90 dias aos participantes no mercado; quaisquer outras que não sejam listadas em 90 dias são declaradas nulas; deixar os participantes processarem-se uns aos outros se não puderem demonstrar adequação de capital. (Se os contratos de comercialização de derivativos podem prejudicar o sistema "regulamentado", então aquela comercialização deve ter lugar sob estritas regulamentações do governo)
3- Forçar alavancagem por todas as instituições a não mais do que 12:1. A SEC em 2004 abandonou deliberadamente os limites de alavancagem para corretores/dealers; antes daquela data o limite era 12:1. Toda firma que fracassasse teria de duplicar ou mais a alavancagem daquele limite anterior de 12:1. Aprovar isto com um limite temporal de seis meses e exigir mensalmente 1/6 do excesso verificado. (O colapso no modelo das "finanças estruturadas" é devido principalmente a demasiada alavancagem. A Fannie Mae e o Freddie Mac, por exemplo, tinham US$80 de dívida para cada US$1 de reservas de capital quando foram tomadas pela conservatorship do governo)
Se tem de haver um salvamento, vamos fazer isso correctamente. A lei dos US$700 mil milhões de Paulson nada faz para corrigir os profundos problemas estruturais nos mercados financeiros. Ela meramente empurra o dia do julgamento um pouco mais para a frente no futuro enquanto comuta o fardo do pagamento dos activos tóxicos para o contribuinte.
27/Setembro/2008
[1] Banksters: neologismo, banqueiros+gangsters
[*] fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney09272008.html
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Europa atira culpas para cima dos Estados Unidos~
Comissão quer plano de emergência nos EUA, mas algo semelhante é recusado por cá. Bush pressiona legisladores norte-americanos e Sócrates garante poupanças dos portugueses
JOÃO PAULO MADEIRA
A Comissão Europeia acusou esta terça-feira os EUA de serem os principais responsáveis pela crise financeira. Os legisladores norte-americanos estão agora sob pressão, depois de um apelo dramático de Bush. Sem plano de emergência, as consequências serão "dolorosas e duradouras", avisou.
O porta-voz da Comissão Europeia (CE), Johannes Laitenberger, afirmou ontem que "os Estados Unidos devem assumir a sua responsabilidade nesta situação". Laitenberger defendeu que os EUA "têm responsabilidades especiais na turbulência que atravessam os mercados mundiais" e classificou o chumbo do plano Paulson, pelo Congresso norte-americano, como uma "decepção".
A clareza do porta-voz da CE, que disse aguardar por uma nova decisão que possa acalmar os mercados, não foi caso isolado. Vários líderes europeus manifestaram apreensão com o retrocesso no plano de emergência dos Estados Unidos. O comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, afirmou, à BBC, que os políticos americanos "perderam a cabeça" ao rejeitar o plano de salvamento do sector financeiro.
A chanceler alemã Angela Merkel apelou ontem a uma acção rápida por parte de Washington, sublinhando que o plano de emergência "tem uma importância transcendente para a economia e para os cidadãos, para restabelecer a confiança".
Já o presidente da CE, Durão Barroso, considera ser "necessário fazer alguma coisa a nível global". Em entrevista ao canal France 24, Barroso anunciou que vai propor um esforço financeiro conjunto dos estados-membros da União Europeia, mas pelas palavras do presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude-Trichet, uma intervenção semelhante à dos EUA está fora de questão. "Não há razão para imitar os Estados Unidos. Devemos encontrar uma solução à nossa medida", disse.
Entre as vozes de preocupação, ouviu-se a do primeiro-ministro português. José Sócrates considera que as dificuldades enfrentadas pela Europa "chegaram por via dos Estados Unidos" e que deve caber àquele país a iniciativa de resolver a turbulência: "Há um ano que estamos a pagar o preço, com restrições no crédito e com o crédito mais caro. É altura para os Estados Unidos intervirem".
O primeiro-ministro, que falava na cerimónia de assinatura de um contrato com a AIP, fez questão de enviar uma mensagem de serenidade. "Quero tranquilizar as pessoas quanto às suas poupanças. O sistema português tem demonstrado uma boa resistência às consequências da turbulência e das incertezas nos mercados financeiros internacionais", disse.
Sócrates adiantou que as entidades de supervisão, o ministro das Finanças e ele próprio estão "a acompanhar os desenvolvimentos" e que o mercado português "tem dado mostras de boa saúde".
Do outro lado do Atlântico, a América está em "suspense". George Bush fez ontem um discurso em que dramatizou a aprovação de um plano de intervenção nos mercados financeiros. Bush advertiu para as consequências "dolorosas e duradouras" que a não aprovação de um programa provocaria: "Estamos num momento crítico para a nossa economia. O congresso tem de actuar", avisou.
A mensagem de Bush parece ter tido efeito. Os senadores Harry Reid, democrata, e Mitch McConnel, republicano, ambos porta-vozes da respectiva bancada, manifestaram empenho em encontrar uma solução ainda esta semana. O plano de intervenção no sistema financeiro deverá começar a ser discutida hoje, no Senado.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Economi ... id=1020310
Comissão quer plano de emergência nos EUA, mas algo semelhante é recusado por cá. Bush pressiona legisladores norte-americanos e Sócrates garante poupanças dos portugueses
JOÃO PAULO MADEIRA
A Comissão Europeia acusou esta terça-feira os EUA de serem os principais responsáveis pela crise financeira. Os legisladores norte-americanos estão agora sob pressão, depois de um apelo dramático de Bush. Sem plano de emergência, as consequências serão "dolorosas e duradouras", avisou.
O porta-voz da Comissão Europeia (CE), Johannes Laitenberger, afirmou ontem que "os Estados Unidos devem assumir a sua responsabilidade nesta situação". Laitenberger defendeu que os EUA "têm responsabilidades especiais na turbulência que atravessam os mercados mundiais" e classificou o chumbo do plano Paulson, pelo Congresso norte-americano, como uma "decepção".
A clareza do porta-voz da CE, que disse aguardar por uma nova decisão que possa acalmar os mercados, não foi caso isolado. Vários líderes europeus manifestaram apreensão com o retrocesso no plano de emergência dos Estados Unidos. O comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, afirmou, à BBC, que os políticos americanos "perderam a cabeça" ao rejeitar o plano de salvamento do sector financeiro.
A chanceler alemã Angela Merkel apelou ontem a uma acção rápida por parte de Washington, sublinhando que o plano de emergência "tem uma importância transcendente para a economia e para os cidadãos, para restabelecer a confiança".
Já o presidente da CE, Durão Barroso, considera ser "necessário fazer alguma coisa a nível global". Em entrevista ao canal France 24, Barroso anunciou que vai propor um esforço financeiro conjunto dos estados-membros da União Europeia, mas pelas palavras do presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude-Trichet, uma intervenção semelhante à dos EUA está fora de questão. "Não há razão para imitar os Estados Unidos. Devemos encontrar uma solução à nossa medida", disse.
Entre as vozes de preocupação, ouviu-se a do primeiro-ministro português. José Sócrates considera que as dificuldades enfrentadas pela Europa "chegaram por via dos Estados Unidos" e que deve caber àquele país a iniciativa de resolver a turbulência: "Há um ano que estamos a pagar o preço, com restrições no crédito e com o crédito mais caro. É altura para os Estados Unidos intervirem".
O primeiro-ministro, que falava na cerimónia de assinatura de um contrato com a AIP, fez questão de enviar uma mensagem de serenidade. "Quero tranquilizar as pessoas quanto às suas poupanças. O sistema português tem demonstrado uma boa resistência às consequências da turbulência e das incertezas nos mercados financeiros internacionais", disse.
Sócrates adiantou que as entidades de supervisão, o ministro das Finanças e ele próprio estão "a acompanhar os desenvolvimentos" e que o mercado português "tem dado mostras de boa saúde".
Do outro lado do Atlântico, a América está em "suspense". George Bush fez ontem um discurso em que dramatizou a aprovação de um plano de intervenção nos mercados financeiros. Bush advertiu para as consequências "dolorosas e duradouras" que a não aprovação de um programa provocaria: "Estamos num momento crítico para a nossa economia. O congresso tem de actuar", avisou.
A mensagem de Bush parece ter tido efeito. Os senadores Harry Reid, democrata, e Mitch McConnel, republicano, ambos porta-vozes da respectiva bancada, manifestaram empenho em encontrar uma solução ainda esta semana. O plano de intervenção no sistema financeiro deverá começar a ser discutida hoje, no Senado.
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Ms então é mundo todo que endoidou, POWS: temos aqui um incêndio descontrolado em campo aberto e a tigrada quer apagá-lo jogando cadeiras de madeira, penicos de plástico, sofás, cobertores, galões de gasolina & quetales, esperado que o fogo consuma todo o oxigênio do mundo e se apague sozinho; entendamos, a crise é SISTÊMICA, é estrutural, o caminho para sair dela é criando regras para ordenar o caos atual e suportando o tranco até que elas comecem a mostrar resultados, e não alimentando e premiando a jogatina e a especulação que criaram isso tudo, que josta! Os estimados 700 bi - alguém acredita nesse número mágico? - vão servir apenas para dar novo fôlego aos mais daninhos e nocivos agentes financeiros, comprarão apenas algum - pouco - tempo, depois virá uma nova conta, ainda mais salgada, a confiança mundial em erosão cada vez mais acelerada, os bônus do Tesouro ianque cada vez menos dignos de confiança - cada vez mais se instaurará a certeza de que o governo deles não terá como honrá-los e, portanto, manter seu falor de face, eis que afogado em dívidas impagáveis, superiores ao PIB mundial - e o dólar em queda livre; cedo ou tarde a conta apresentada será tão impossível que o dano que estão tentando evitar agora será infinitamente maior; uma duríssima recessão MUNDIAL. Não haverá pré-sal nem etanol que nos salvem, vamos afundar junto e vai ser feio. Como o custo de tales 'operações de salvamento' será necessariamente diluído pelo resto do mundo - agüardem e vejam - então o mundo seguirá alegremente rumo ao abismo que, neste momento, ameaça apenas os ianques e PODE SER EVITADO mesmo por eles, se realmente quiserem. A josta é que parecem NÃO QUERER e o resto do mundo parece não ver isso...
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Europa atira culpas para cima dos Estados Unidos~
Nenhuma novidade. O Lula fez a mesma coisa e declarou que era tudo com o Bush, mas, porém, todavia, contudo e entretanto, isto não afastou a crise de nós. Agora o governo sentiu o pepino e está a tomar providências mais concretas, tentando conter os estragos. A culpa não é só dos americanos. Muitos bancos e empresas europeias também investiram por lá em busca do lucro fácil esquecendo, por ganância, de avaliar os risco corretamente.
saudações
Nenhuma novidade. O Lula fez a mesma coisa e declarou que era tudo com o Bush, mas, porém, todavia, contudo e entretanto, isto não afastou a crise de nós. Agora o governo sentiu o pepino e está a tomar providências mais concretas, tentando conter os estragos. A culpa não é só dos americanos. Muitos bancos e empresas europeias também investiram por lá em busca do lucro fácil esquecendo, por ganância, de avaliar os risco corretamente.
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Só que o Brasil não tem mega instituições financeiras que levaram calote por investir nos EUA Ao contrário das européias e asiáticos entre outros. Assim, que era uma desvantagem para o Brasil, se transformou numa vantagem
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Cuidado, os bancos do mundo inteiro estão interligados, todo mundo faz negócio junto. Não vou estar nem um pouco espantado quando o Bradesco, por exemplo, pedir arrego...
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Depende que tipo de instituição financeira e que regras de conduta seguem. A especulação e o rombo no sistema financeiro nasceu nos bancos de investimento, que não seguem regras tão claras, ou melhor, fazem o que querem com seus recursos. Por outro lado, os bancos comerciais tem que obdecer certas regulamentações. Assim, um banco de investimentos pode se alavancar 37 vezes ( ) enquanto um banco comercial pode, no máximo, se alavancar 12 vezes e tem que cumprir uma série de garantias.
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Não é bem assim, o Freddie Mac e a Fannie Mae estavam alavancados em OITENTA por umquando a casa caiu. E bancos comerciais também fazem negócios de compra e venda com papéis...
Mais uma noticiazitcha sobre como a kôza está feia nos EUA:
Mais uma noticiazitcha sobre como a kôza está feia nos EUA:
Quarta, 1 de outubro de 2008, 15h08
Fonte: EFE
Economia Internacional
EUA: quase 1 milhão perderam emprego por crise, diz UNI
A atual crise financeira é de proporções históricas e já causou a perda de um milhão de empregos nos Estados Unidos, afirmaram nesta quarta-feira em Bogotá diretores da Union Network International (UNI), uma das maiores associações de sindicatos do mundo.
» Manufatura global cai a menor nível em 7 anos
» EUA: Senado vota pacote nesta noite
» Entenda a crise do crédito
» Opine sobre a crise nos mercados financeiros
"Estamos em uma crise de proporções históricas. Acredita-se que quase um milhão de pessoas tenham perdido seu emprego", afirmou em Bogotá o suíço Phillip Jennings, secretário-geral da UNI.
O diretor disse que "seguramente os trabalhadores do mundo não ajudaram a causar esta crise". "A crise financeira foi construída sobre uma crise social profunda. É importante que aprendamos a lição", disse.
Segundo ele, "nos EUA os trabalhadores não tiveram um tratamento justo nas últimas décadas". "É só o começo. A situação é muito grave e terá um grave impacto na economia internacional", disse Jennings.
Para o secretário, em 2008 pelo menos 100 milhões de pessoas entraram na linha de pobreza como conseqüência da crise mundial.
Jennings fez uma visita de três dias à Colômbia para reivindicar que sejam investigados os assassinatos de sindicalistas no país, dentro de uma delegação formada por diretores de Estados Unidos, Panamá, Chile, Guatemala e Suíça.
A UNI reúne cerca de 900 sindicatos e 15 milhões de filiados.
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
E quem vai sofrer na pele as consequencias? Como tenho falado serão os trabalhadores ilegais os primeiros a serem atingidos. Uns voltarão por falta de trabalho e outros por serem obrigados.Economia Internacional
EUA: quase 1 milhão perderam emprego por crise, diz UNI
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Re: Balança do poder: queda americana ou 'emergência' dos BRIC?
Para ler e entender do que estamos falando:
Quarta, 1 de outubro de 2008, 15h36
Fonte: BBC Brasil
Economia Internacional
Entenda a nova proposta de pacote em votação nos EUA
Uma nova proposta para um pacote de US$ 700 bilhões em ajuda a empresas afetadas pela crise econômica dos Estados Unidos está tramitando pelo Congresso americano, após a versão anterior do plano ter sido rejeitada na Câmara dos Representantes (deputados) na última segunda-feira.
A proposta deve ser votada ainda nesta quarta-feira no Senado e, se aprovada, seguiria na quinta-feira para nova votação na Câmara.
Se for aprovado, o pacote abrirá caminho para a maior intervenção do Estado na economia americana desde a crise de 1929.
A BBC preparou uma série de perguntas e respostas para ajudar você a entender o pacote e a disputa política por trás dele.
Quais são as principais propostas do pacote?
O pacote de ajuda ao mercado financeiro tem cinco pontos principais:
- US$ 700 bilhões serão liberados em parcelas para a compra de papéis podres em poder de bancos e outras empresas em dificuldades financeiras.
- O pacote prevê restrições nos pagamentos feitos a executivos das instituições beneficiadas pela ajuda;
- O governo terá participação em empresas que forem ajudadas;
- A implementação do pacote será supervisionada por uma comissão;
- O Tesouro terá que estabelecer um programa de seguros para garantir os ativos das empresas que estão com problemas.
Quais são as principais diferenças entre o pacote que foi rejeitado na Câmara dos Representantes e a versão atual?
As mudanças procuram garantir que o contribuinte americano ganhe mais com a adoção do plano. A principal alteração diz respeito ao aumento do limite de depósitos bancários que passam a ser garantidos pelo governo - que passa de US$ 100 mil para US$ 250 mil.
Também foram incluídos descontos nos impostos para promover o uso de fontes de energia renováveis por empresas, no total de quase US$ 80 bilhões, e a prorrogação e ampliação de outras reduções nos impostos para pessoas físicas e empresas.
De acordo com o jornal americano The New York Times, foram adicionadas mudanças como a extensão de "créditos tributários para empresas que investirem em pesquisas e desenvolvimento" e "descontos nos impostos para vítimas de recentes enchentes, tornados e tempestades".
Segundo analistas, ao incluir as mudanças no pacote, os líderes do Senado esperam ganhar o voto de republicanos que ainda relutam em apoiá-lo, mas há o risco de que isso desagrade democratas da casa.
Como o pacote deve funcionar?
Depois da aprovação da proposta pelo Legislativo e pelo Executivo americanos, os US$ 700 bilhões devem ser desembolsados em três parcelas: primeiro, US$ 250 bilhões serão liberados imediatamente após a aprovação do pacote. Depois, se o presidente americano pedir, mais US$ 100 bilhões. A segunda metade dependerá de uma nova aprovação do Congresso.
Com o dinheiro, o governo ajudará as instituições com problemas, comprando os papéis podres, em troca de ações das empresas. Dessa forma, se o banco se recuperar, os contribuintes vão lucrar com os dividendos dos papéis.
Passará a haver restrições aos pagamentos dos executivos dos bancos, que deixarão de ter os chamados "pára-quedas dourados" - imensos pagamentos destinados a banqueiros que estão deixando suas instituições.
O governo vai cancelar deduções de impostos a empresas que pagarem US$ 500 mil por ano a seus executivos.
O Tesouro também lançará um programa de seguros para garantir os ativos dos bancos em dificuldade. Os prêmios seriam pagos pelas próprias instituições financeiras socorridas.
Por fim, será criado o comitê que ficará encarregado de supervisionar a aplicação do dinheiro do pacote. Entre as autoridades que farão parte desse comitê estão os presidentes do Fed (o banco central americano), Ben Bernanke, e da Comissão de Mercado de Valores (órgão que regulamenta o mercado de ações, semelhante à Comissão de Valores Mobiliários brasileira), Chris Cox.
O que são papéis podres?
Papéis podres são títulos com possibilidade de não serem pagos a seus detentores. Ou seja, têm alto potencial de prejuízo, apesar de o volume das perdas que eles representam ser incerto. Isso acontece porque eles estão atrelados a financiamentos imobiliários.
A atual crise foi desencadeada pelo aumento da inadimplência de pessoas que contraíram hipotecas, mas não se sabe ao certo quais conseguirão honrar seus compromissos ou não.
Por que a compra desses papéis deve ajudar os bancos com problemas?
A proposta em votação no Congresso é que os papéis sejam comprados pelo valor de maturação, muito superior ao valor de mercado.
Com isso, as empresas em dificuldades receberiam uma grande injeção de capital, melhorando suas contas.
Isso, por sua vez, aumentaria a liquidez do mercado - já que os bancos ganhariam mais segurança para emprestar recursos uns ao outros.
Por que o projeto original foi rejeitado na Câmara?
O projeto é bastante impopular nos Estados Unidos. Uma pesquisa realizada pelo jornal americano USA Today, antes das mudanças atuais no plano, revelou que apenas 22% dos eleitores o apoiavam.
Muitos americanos consideram o pacote uma proposta de ajuda aos banqueiros e, em um ano de eleições legislativas (além da presidencial), muitos congressistas que são candidatos à reeleição consideraram politicamente arriscado demais votar a favor da proposta.
Também pesou o fator ideológico. Muitos republicanos conservadores são, por princípio, contrários a uma intervenção do Estado na economia.
A maior parte dos republicanos - do mesmo partido do presidente George W. Bush, que era a favor da proposta - votou contra o plano.
Como deve ser a votação da nova proposta no Congresso?
Líderes do Senado, onde ela será votada primeiro, dizem acreditar que a proposta tem mais apoio na casa do que na Câmara. Mas, mesmo assim, não há garantia de que ela seja aprovada.
Apenas um terço dos senadores busca a reeleição neste ano. Na Câmara, todas as cadeiras estão sendo renovadas. Por isso, acredita-se que o Senado seja menos vulnerável à pressão do eleitorado para derrubar a medida.
Os candidatos dos partidos democrata e republicano à Casa Branca, os senadores Barack Obama e John McCain, apóiam o pacote e prometem estar presentes na votação.
Simpatizantes do plano avaliam que uma aprovação do pacote por uma boa margem no Senado vai ampliar a pressão sobre a Câmara para que também o aprove.
Mas o projeto que for aprovado pelo Senado pode ser mudado significativamente na Câmara. Se isso acontecer, ele teria que passar por uma comissão formada por membros das duas casas, o que poderia causar mais atrasos no processo.
O que pode acontecer se o projeto não for aprovado?
Os mais pessimistas prevêem conseqüências nefastas para o mercado financeiro. Mais instituições financeiras quebrariam, e os Estados Unidos entrariam em uma grande recessão com desdobramentos profundos na economia global.
Depois da rejeição na Câmara, as bolsas de valores de todo o mundo sofreram quedas significativas. O índice Dow Jones, da bolsa de Nova York, registrou na segunda-feira sua maior queda em pontos (770) em todos os tempos.
Outro fator que atingiu muitos investidores foi a queda no preço do barril do petróleo e na cotação do dólar.
Mas analistas dizem que o principal problema é que, sem o pacote, continuaria a incerteza sobre o futuro do setor financeiro.
O mercado de crédito permaneceria praticamente paralisado, já que os bancos continuariam com receio de emprestar dinheiro uns aos outros.
Indivíduos e empresas interessadas em obter financiamentos também continuariam a ter dificuldade em obter dinheiro.
http://br.invertia.com/noticias/noticia ... 992&idtel=
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