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Reino Unido estuda plano radical para aeroportos
Numa tentativa de aliviar os aeroportos britânicos superlotados, agentes reguladores do governo propuseram na quarta-feira a divisão da BAA, empresa que tem praticamente o monopólio no controle dos aeroportos do país. Esta seria a maior reforma nos aeroportos da Grã-Bretanha em décadas.
A Comissão de Concorrência tem investigado se os maus serviços, os altos custos das linhas aéreas e os atrasos que os passageiros enfrentam foram causados ou agravados pela falta de investimentos da BAA nas instalações de seus aeroportos em Londres. Dentre eles, estão os aeroportos Heathrow, Stansted e Gatwick, pelos quais passam algumas das mais movimentadas rotas do mundo.
A empresa e a British Airways tiveram sua imagem seriamente abalada em março com a abertura caótica do Terminal 5, no Heathrow.
No tão esperado parecer provisional sobre a BAA, a comissão afirmou que havia "problemas de concorrência" em cada um dos sete aeroportos da BAA na Grã-Bretanha e que tais problemas trouxeram "conseqüências adversas aos passageiros e às linhas aéreas". "A causa principal é a posse comum de todos os aeroportos pela BAA," disse a comissão.
O parecer também afirma que a BAA poderá ser obrigada a vender dois de seus três aeroportos na região de Londres, além do aeroporto de Edimburgo ou o de Glasgow, na Escócia, quando o relatório final for publicado em março. Se a proposta for aprovada, a BAA provavelmente manterá o controle do Heathrow.
As partes interessadas terão outra chance de fazer comentários antes da divulgação do relatório final. A BAA, antiga Autoridade de Aeroportos Britânicos, é, desde 2006, propriedade do grupo espanhol Ferrovial, que também controla aeroportos em Belfast, Irlanda, Nápoles, Itália e Antofagasta no Chile.
O parecer não agradou à BAA. "Continuaremos enfatizando à comissão que a análise foi falha em muitos aspectos e que suas soluções são desproporcionais e contraproducentes," disse o presidente Colin S. Matthews.
Matthews também criticou o momento inadequado para a ação, que coincide com a aproximação da decisão do governo sobre a construção de novas pistas de longa extensão no sudeste da Grã-Bretanha, as primeiras a serem construídas desde a Segunda Guerra Mundial. "A comissão corre o risco de atrasar a entrega das novas pistas, dificultando a melhoria do atendimento aos clientes," disse Matthews.
O porta-voz da BAA, Malcolm Robertson, disse que a diretoria da empresa ainda não decidiu se apelará contra o parecer, se este for mantido. "Não estamos descartando nada," ele disse. "Há muito a ser digerido neste relatório."
A comissão havia divulgado um relatório intermediário em abril, afirmando que o controle comum dos aeroportos pela BAA" pode não ser do interesse das linhas aéreas ou dos passageiros." Mas o último parecer na quarta-feira foi ainda mais incisivo do que previam muitos analistas.
A BAA, originalmente privatizada em 1987, gera a maior parte de sua receita através da cobrança de taxas administrativas às linhas aéreas e às lojas pelo uso dos espaços nos aeroportos. No ano passado, 148 milhões de passageiros passaram pelos aeroportos da Grã-Bretanha, um aumento de 2,3% em relação ao ano anterior. A receita cresceu 7,8%, totalizando £2,2 bilhões, o equivalente a US$4,1 bilhões, gerando um lucro líquido de £495 milhões. Os lucrativos direitos de horários de decolagem e pouso são mantidos e negociados pelas companhias aéreas.
Ainda assim, a ação dos reguladores pode acabar não resolvendo os problemas dos aeroportos, segundo analistas e companhias aéreas. "As falhas da BAA aos olhos do público, como problemas de bagagem ou atrasos, foram a origem de tudo, mas isso não é apenas um golpe para a BAA; é também um apelo ao governo e à comissão reguladora por mudanças significativas," disse Howard Wheeldon, estrategista da BGC Partners em Londres.
Segundo Andy Harrison, presidente da companhia de baixo custo EasyJet, "disseram o que todo mundo já sabe, que nossos aeroportos, a BAA e a regulação não estão funcionando." "A venda do monopólio de um capitalista ganancioso e altamente endividado para outro simplesmente não beneficia ninguém além dos negociantes da cidade," Harrison disse, se referindo ao distrito financeiro de Londres.
Cathy West, porta-voz da British Airways, disse que a principal preocupação da companhia está na perspectiva de expansão do mais importante centro de rotas de Londres, Heathrow, com a construção de uma terceira pista de pouso e decolagem. A decisão sobre a pista, que enfrenta a oposição de grupos ambientais, está prevista para o final do ano.
West acrescentou que a British Airways gostaria que a regulamentação dos aeroportos londrinos da BAA fosse fortalecida, fazendo com que a posse de um aeroporto passasse a ser tratada como um serviço público, sujeita a critérios de desempenho rígidos e sanções no caso de descumprimento desses critérios.
Analistas disseram que a Ferrovial não venderia a Heathrow devido à sua posição lucrativa nas rotas transatlânticas, mas que é muito provável que a Gatwick e a Stansted irão a leilão.
A Ryanair, companhia irlandesa de baixo custo, havia anteriormente demonstrado interesse em Stansted, seu aeroporto principal. Seu presidente, Michael O'Leary, foi citado na quarta-feira dizendo que estaria "interessado em trabalhar com qualquer companhia que queira investir em Stansted."
A companhia alemã Fraport disse nesta semana que estava revisando a situação, enquanto o grupo alemão de construção Hochtief também demonstrou interesse. A Ferrovial tem 104 mil empregados em 43 países e possui obras em andamento, aeroportos e concessões de rodovias e cuida da administração de estacionamentos e de serviços municipais.
Quase metade de sua receita vem da Grã Bretanha, onde também está envolvida na manutenção e ampliação do sistema de metrô de Londres. A companhia foi atingida pela recente retração do setor imobiliário espanhol. Seus rendimentos diminuíram em 4,8% e sua renda líquida caiu para ¿78,5 milhões, ou US$115,2 milhões, no primeiro trimestre. No ano anterior esse valor foi de ¿449,9 milhões.
Analistas estimam o valor da Gatwick e da Stansted em cerca de quatro a cinco bilhões de libras. A venda ajudaria a Ferrovial, baseada em Madri, a pagar parte da dívida acumulada na compra da BAA por £10,2 bilhões em 2006 e também a investir em alternativas ao setor de construção.
Não ficou claro até que ponto a Ferrovial pretende lutar contra as decisões da comissão. Jesus Valbuena, diretor de comunicações da Ferrovial, se negou a comentar além da declaração da BAA.
Fonte: Terra, via Câmera 2 domingo, 24 de agosto de 2008 - 12:28
Um abraço e até mais...
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