NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

Assuntos em discussão: Marinha do Brasil e marinhas estrangeiras, forças de superfície e submarinas, aviação naval e tecnologia naval.

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Oziris
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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#256 Mensagem por Oziris » Sex Ago 22, 2008 10:45 am

:shock: :shock: :shock: :shock:

[]'s




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Si vis pacem, para bellum.


"Não sei com que armas a III Guerra Mundial será lutada. Mas a IV Guerra Mundial será lutada com paus e pedras."
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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#257 Mensagem por WalterGaudério » Sex Ago 22, 2008 10:56 am

brisa escreveu:Uma pequena visao do futuro :wink:

Imagem
Essa concepção artística aí é a do SMB-10 tal como era em 1999. O NUC teria uma seção de casco de pressão(seção 40 nuclear) de pelo menos 10m de extenção, entre a seção 50 e 30(respectivamente comando e máquinas).

O Diâmetro de casco resistente do nuc (boca moldada) é que era uma icógnita. Pois deveria ser de no máximo 8,2/8,4m, para um comprimento estimado de 80m, obedecendo a razão de 0,1aprox.

O SMB-10 teria então cerca de 68/70m de comprimento para uma boca moldada de cerca de 7,2(mínimo) 7,5m(máximo) para que a potência de trabalho do MEP(motor elétrico principal/motor elétrico de propulsão/máquina elétrica de propulsão, como queiram), ficasse na casa de 5500/6000shp, com uma tx de consumo tal que permitisse um alcance de 10.000mn.




Só há 2 tipos de navios: os submarinos e os alvos...

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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#258 Mensagem por brisa » Sex Ago 22, 2008 10:59 am

Pows Walter.....fiz apenas uma homenagem ao seu avatar....nao precisa humilhar :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:




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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#259 Mensagem por WalterGaudério » Sex Ago 22, 2008 11:58 am

Luís Henrique escreveu:
cicloneprojekt escreveu: Sobre?? :?: :?:
Sobre a adoção pela MB de um mix de submarinos convencionais e nucleares...

A discussão iniciou na página 15.

Aguardo ansiosamente,
Me desculpa aí L Henrique.

Sim, a MB terá que operar uma frota mista de SSKs e SSNs a partir de 2020. O emprego de submarinos consoante a estratégia naval da cada nação marítima, não é tão cartesiano como possa parecer em nossas divagações.

A Negação do uso do mar, não é objetivo inerente apenas a pontos focais, como estreitos, pontos de passagens, mas significativamente tb em áreas focais, no caso brasileiro nem seria nescessário ir muito longe para advinhar qual seria atualmente e num horizonte de pelo menos 30 anos qual seria A área focal brasileira por excelência. Todo o entorno das bacias petrolíferas da bacia de Campos, incluindo áreas pós-sal do litoral capixaba até o extremo sul da bacia pré-sal no través da cidade de Torres-RS. Essa área-alvo está entre 220km(120mn) até 380km(205mn) de alguns pontos do litoral. Portanto uma interdição de área semelhante teria que ser feita por submarinos portando mísseis cruise com alcance de 1100mn(2000mn)(pelo menos), já que esse é o alcance máximo dos mísseis de cruzeiro conhecidos atualmente. Tomahawk-TLAM, e o russo Granat 10K-50.

Ou seja, seria nessa área focal que teríamos que ter uma forte atuação ASW com submarinos. Para uma área desse tamanho, estudo já bem antigo de 1994 do EMA/EGN assessorado pelo ComForSub indicava que deriam nescessários pelo menos 21(!) submarinos médios, capacidade/desempenho pelo menos 40/50% superior aos Tupi(em alcance e número de torpedos transportados)
apenas para "dar conta" de 3 áreas focais contra uma flotilha de apenas 4/5 SSKs dotados de mísseis de cruzeiro(16 por submarino)
com chances de sucesso não superiores em vários senários a 40%(!)

Estes estudo levaram a geração de requisitos que conformaram o ante-projeto do submarino médio brasileiro, posteriormente evoluindo para o que se conheceu no fim da década de 90 como o SMB-10.

A presença de uma pequena flotilha(6 unidades ou menos) de SSNs como os pretendidos pela MB, implica um investimento em infra-estrutura considerável que apresenta limitações orçamentárias proibitivas com o atual nível de investimentos na MB por parte do Governo federal. Um eventual aumento dos recursos da ordem de 70/100% como se ventila a partir de 2010, permitiria dispor de uma flotilha de no máximo 5/6 submarinos SSNs pela MB no início de 2030, coma as primeiras unidades entrando em serviço por volta de 2018/20.


O uso de submarinos convencionais e nucleares deve ser diosado para permitir que com a melhor relação custo-benefício para o país, se possa conseguir 2 objetivos.

Negar as áreas focais das nossas bacias petrolíferas(Tb existe uma área pre-sal no litoral nordeste/norte do Brasil, da área que se estende do través de Camocin-CE e vai até o início do litoral paraense).

Negar o uso impune do mar junto ao inimigo, interditando suas bases, pontos de concentração de reabastecimento/reaprovisionamento, o que decerto não poderia ser levado a cabo sem o concurso de sumarinos nucleares, ou de SSKs de grande porte .

Vou ter que sair agora depois concluo.




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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#260 Mensagem por WalterGaudério » Sex Ago 22, 2008 12:04 pm

brisa escreveu:Pows Walter.....fiz apenas uma homenagem ao seu avatar....nao precisa humilhar :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:
Mas báh! :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: virá coisa muito melhor daqui a pouco. 8-] Agora que já se tem um horizonte definido em termos de recursos, e um plano claro com números, fica tudo mais fácil. :wink: :wink: :wink:




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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#261 Mensagem por pafuncio » Sex Ago 22, 2008 12:08 pm

cicloneprojekt escreveu: Negar as áreas focais das nossas bacias petrolíferas(Tb existe uma área pre-sal no litoral nordeste/norte do Brasil, da área que se estende do través de Camocin-CE e vai até o início do litoral paraense).
Ops !!! :mrgreen: Excelente notícia (para mim desconhecida) contrabandeada, engenheiro ...




"Em geral, as instituições políticas nascem empiricamente na Inglaterra, são sistematizadas na França, aplicadas pragmaticamente nos Estados Unidos e esculhambadas no Brasil"
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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#262 Mensagem por WalterGaudério » Sex Ago 22, 2008 12:13 pm

alexandre lemos escreveu:
cicloneprojekt escreveu: Negar as áreas focais das nossas bacias petrolíferas(Tb existe uma área pre-sal no litoral nordeste/norte do Brasil, da área que se estende do través de Camocin-CE e vai até o início do litoral paraense).
Ops !!! :mrgreen: Excelente notícia (para mim desconhecida) contrabandeada, engenheiro ...
E essa área nem foi sondada ainda 8-] (...), mas seu potencial não é menos do que o pré-sal meridional recentemente conhecido.




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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#263 Mensagem por Brasileiro » Sex Ago 22, 2008 12:36 pm

Onosso SMB-10 "afrancesou". No bom sentido, claro.




abraços]




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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#264 Mensagem por Luís Henrique » Sex Ago 22, 2008 4:11 pm

Legal Walther,

Gostei dos mísseis Cruise... :twisted: :twisted:

Continua.... :mrgreen:




Su-35BM - 4ª++ Geração.
Simplesmente um GRANDE caça.
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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#265 Mensagem por LeandroGCard » Sex Ago 22, 2008 7:01 pm

Brasileiro escreveu:Onosso SMB-10 "afrancesou". No bom sentido, claro.




abraços]
Não tenho certeza de que o sentido é mesmo bom, pois o Scorpène é bem menor do que se imaginava o SMB-10.

Mas os franceses geralmente são pequenininhos mesmo...

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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#266 Mensagem por LeandroGCard » Sex Ago 22, 2008 7:25 pm

cicloneprojekt escreveu: Ou seja, seria nessa área focal que teríamos que ter uma forte atuação ASW com submarinos. Para uma área desse tamanho, estudo já bem antigo de 1994 do EMA/EGN assessorado pelo ComForSub indicava que deriam nescessários pelo menos 21(!) submarinos médios, capacidade/desempenho pelo menos 40/50% superior aos Tupi(em alcance e número de torpedos transportados)
apenas para "dar conta" de 3 áreas focais contra uma flotilha de apenas 4/5 SSKs dotados de mísseis de cruzeiro(16 por submarino)
com chances de sucesso não superiores em vários senários a 40%(!)
Caraca, eu já imaginava que o número seria grande, mas 21 é bem mais que os 12 que eu havia imaginado! Se levarmos em conta a necessidade total e não só a proteção das "zonas quentes", nem mesmo 6 SSN's e 12 SSK's (que é o máximo que eu consigo imaginar a marinha operando um dia) seriam suficientes.

A MB já pensou em outras formas de patrulhas AS para nestas zonas relativamente próximas (até uns 3000 Km da costa) além de subs, como corvetas AS leves ou mesmo dirigíveis?

Leandro G. Card




Editado pela última vez por LeandroGCard em Sáb Ago 23, 2008 10:20 am, em um total de 1 vez.
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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#267 Mensagem por thelmo rodrigues » Sex Ago 22, 2008 10:19 pm

cicloneprojekt escreveu:
alexandre lemos escreveu: Ops !!! :mrgreen: Excelente notícia (para mim desconhecida) contrabandeada, engenheiro ...
E essa área nem foi sondada ainda 8-] (...), mas seu potencial não é menos do que o pré-sal meridional recentemente conhecido.
Já existem barcos de pesquisa sismológica aqui no litoral maranhense. 8-]




"O dia em que os EUA aportarem porta aviões, navios de guerra, jatos e helicópteros apache sobre o território brasileiro, aposto que muitos brasileiros vão sair correndo gritando: "me leva, junto! me leva, junto!"
brisa

Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#268 Mensagem por brisa » Sáb Ago 23, 2008 12:32 am

Já existem barcos de pesquisa sismológica aqui no litoral maranhense.
Movimento tectonico eminente....epicentro localizado vosso municipio...favor tomar as devidas providencias...

Um tempo depois....

Movimento tectonico desbaratado....epicentro prezo cadeia local...desculpa demora resposta...terremoto nossa cidade... :mrgreen: :mrgreen:

desculpem o off topic




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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#269 Mensagem por G-LOC » Sáb Ago 23, 2008 2:15 pm

cicloneprojekt escreveu: A Negação do uso do mar, não é objetivo inerente apenas a pontos focais, como estreitos, pontos de passagens, mas significativamente tb em áreas focais, no caso brasileiro nem seria nescessário ir muito longe para advinhar qual seria atualmente e num horizonte de pelo menos 30 anos qual seria A área focal brasileira por excelência. Todo o entorno das bacias petrolíferas da bacia de Campos, incluindo áreas pós-sal do litoral capixaba até o extremo sul da bacia pré-sal no través da cidade de Torres-RS. Essa área-alvo está entre 220km(120mn) até 380km(205mn) de alguns pontos do litoral. Portanto uma interdição de área semelhante teria que ser feita por submarinos portando mísseis cruise com alcance de 1100mn(2000mn)(pelo menos), já que esse é o alcance máximo dos mísseis de cruzeiro conhecidos atualmente. Tomahawk-TLAM, e o russo Granat 10K-50.
Então a ameaça fica restrita a US Navy, a Rússia e outros países que usam estes mísseis. Me lembro da RN e talvez a Espanha com o TLAM nos seus S-80. No futuro não sei de outras possibilidades.

Para falar a verdade acho que qualquer submarino como um IKL com um mergulhador de combate pode fazer um belo estrago nas nossas plataformas de petróleo.

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Re: NOTICIAS SUB NUCLEAR BRASILEIRO

#270 Mensagem por Luiz Bastos » Sáb Ago 23, 2008 8:48 pm

Galera.

Tá lá no blog naval. Não sei se já postaram aqui, mas achei pertinente com o assunto e deveras interessante. Fui :wink:

Entrevista do vice-almirante Othon Pinheiro da Silva,
o “Rickover brasileiro”
31 de Outubro de 2007 @ 20:59 - Galante
Arquivado sob História, Tecnologia | Link desta publicação | Enviar por e-mail




Em 2004, o jornal “Momento das Relações Exteriores” entrevistou o Vice-Almirante da reserva da Marinha do Brasil, Othon Pinheiro da Silva, considerado o “pai” do programa nuclear da Marinha. Na entrevista, o Vice-Almirante relata os bastidores do desenvolvimento do programa, que gerou uma das mais altas tecnologias de enriquecimento de urânio no mundo. Formado em engenharia naval no ano de 1966, pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o almirante Othon Pinheiro assumiu o posto de chefe do Departamento de Construção Naval aos 34 anos. Em seguida, cursou pós-graduação em engenharia nuclear no Massachusetts institute of Technology (MIT).

MRE - Por que a Marinha escolheu o sr. para fazer um curso no MIT?

Comuniquei a meus superiores que pretendia cursar pós-graduação em engenharia nuclear no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Mostrei para eles que era uma especialidade onde a Marinha brasileira já havia graduado algumas pessoas e que, naquele momento, não tínhamos nenhum oficial formado em engenharia nuclear. Eu achava importante que a Marinha, na pior das hipóteses, pudesse interpretar o que estava acontecendo com o resto do mundo e esta seria uma oportunidade para nos atualizarmos com o que estava sendo absorvido por outras marinhas na área. Foi uma decisão minha, apoiada por um oficial que tinha uma visão muito grande, Almirante Arnaldo Januzi. Ingressei no MIT em 1975 e me lembro que, três dias antes de partir, estava inaugurando uma embarcação na Baía de Guanabara. Numa quarta-feira estava no Brasil e na segunda-feira estava tendo aula de física quântica no MIT! Foi uma mudança bastante interessante em minha vida.

MRE - Quando o sr. ficou sabendo que o acordo Brasil-Alemanha na área nuclear estava fadado ao insucesso?
Em 1977, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha tinha duas facetas. A faceta das centrais e a faceta do ciclo do combustível. As centrais, em geral, eram de muito boa qualidade. Porém, no que diz respeito ao ciclo do combustível, o Brasil quis comprar a tecnologia certa, a qual lhe foi negada por pressão dos norte-americanos. Em razão disso, os alemães ofereceram outra tecnologia, chamada jato-centrífuga, cuja concepção ainda era muito embrionária, praticamente pré-laboratorial. O Brasil comprou esta tecnologia.

Eu estava tendo aula com o professor Manson Benedict, que é um dos ícones da engenharia nuclear do mundo. Em uma de suas aulas, comentando sobre o projeto brasileiro, ele se esqueceu que eu estava em sala de aula e afirmou: “os brasileiros acreditaram e compraram isso”. Dois dias depois, eu estava no refeitório, ele pediu para almoçar comigo e disse: “olhe, eu esqueci que tinha um brasileiro em sala de aula e fiz um comentário muito desagradável”. Eu respondi que “quem fala a verdade não precisa pedir desculpas”. Aquele episódio me causou uma postura investigativa.

Em 1978 me formei e o almirante Maximiniano era o diretor-geral de Material da Marinha (antes de se tornar ministro). Ele era uma pessoa formidável e um homem de visão, que me perguntou: “Quais são as possibilidades de produção nuclear da Marinha? Eu vejo que todo o mundo desenvolvido tem produção nuclear, quais são nossas chances?” E então disse: “me faça um relatório”.

Em meu relatório foquei a questão do ciclo do combustível, que deveríamos nos dedicar a isso. Por duas razões, o que tínhamos comprado era muito limitado, muito caro e realmente não poderia funcionar, e os termos do acordo com a Alemanha diziam que nada decorrente do mesmo poderia ter uma aplicação militar. Ou seja, num certo sentido, era mais restrito que o tratado de não-proliferação. A própria Agência Internacional só considera bélico o que vai para bomba. Ela não interpreta produção nuclear como atividade bélica. Tanto é que se não fosse assim, os navios e submarinos de propulsão nuclear das potências mundiais não poderiam trafegar em épocas de paz.

MRE - Quando houve uma decisão por parte do comando de adotar seu relatório?

Entreguei o relatório em maio de 1978 e em novembro fui chamado a Brasília. Quando cheguei ao aeroporto, encontrei um oficial da reserva da Marinha, que também possuía formação em engenharia nuclear. Ele me disse: “Você deve ter sido chamado aqui pela mesma razão que eu. Tem um maluco propondo que a gente enriqueça urânio!” Muitos anos depois, em novo encontro com ele, comentando sobre este episódio, ele me disse: “se arrependimento matasse não teria comentado aquilo”. Fui para Brasília ser sabatinado por um superior, que também tinha pós-graduação nos Estados Unidos, sobre diversos pontos da produção nuclear.

No fim de novembro fui chamado para receber uma missão. Esse programa se chamou Chalana e foi classificado como programa secreto. Naquela época tínhamos uma limitação. Os institutos da Comissão Nacional de Energia Nuclear haviam sido transferidos para a Nuclebrás, a qual tinha uma cláusula que me incomodava. O diretor técnico tinha que ser necessariamente um alemão. Pela letra do acordo, todos os diretores técnicos eram alemães.

Contudo, houve um fato importante, o Almirante Ricarti, Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, me levou para uma conversa com o chefe do Estado-Maior da Armada e na frente dele me disse: “você está recebendo uma das mais importantes missões de um oficial de Marinha em nossa história, Deus te ilumine”. Confesso que senti o peso da missão.

O projeto Chalana se desmembrava em dois projetos. O Ciclone, que perseguia o desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear e o projeto Remo, que era o desenvolvimento de propulsão nuclear para submarino. Aramar veio numa fase seguinte, a de testes e demonstração industrial. Para tal, precisávamos de um lugar que reunisse todas as condições favoráveis, a região de lperó, próxima a Sorocaba, tinha vocação para a mecânica, além de ser próxima de São Paulo e da Unicamp, dois pólos de alta tecnologia do país.

Em 1982 fizemos o primeiro teste bem sucedido com equipamento completamente concebido e desenvolvido aqui no país. Isso mudou completamente o cenário. Em nossa missão já tínhamos gasto sete milhões de dólares e no programa todo (desde o acordo com a Alemanha) já haviam sido gastos setecentos milhões de dólares e ainda não possuíamos uma garrafinha de urânio. Mas já tínhamos nossa ampolinha.

MRE - Em determinado momento houve dificuldade com a chamada liga leve?

Havia uma limitação para se adquirir o material mais indicado na época. Poucos países o produziam e seu comércio era fechadíssimo..

Os Estados Unidos, Áustria, Rússia e Alemanha a produziam. Era um elemento essencial para a centrífuga. Fomos obrigados a desenvolvê-la aqui mesmo. Reunimos mais de 30 professores doutores, de São Carlos, do Instituto Paulista de Tecnologia, da Unicamp, do Rio de Janeiro, de Santa Catarina, quem poderia contribuir era bem vindo e tudo foi centrado na empresa Eletrometal, de José Diniz, engenheiro e empresário. Um ano e meio depois já tínhamos a liga no Brasil, passando a ser um patrimônio nacional. Para se ter uma idéia da importância desta liga, na época os italianos tinham um míssil que não conseguiam vender para a OTAN, por deficiência na estrutura. Propusemos uma parceria, dizendo que faríamos cinco testes com nossa liga e que, se desse certo, eles comprariam ao preço que estabelecêssemos. Fizemos os cinco teste com pleno sucesso.

MRE - Quando o mundo tomou conhecimento de que o Brasil tinha a tecnologia do urânio enriquecido?
Em 1987 o presidente Sarney anunciou ao mundo que o Brasil tinha esta tecnologia e que todo o aparato era brasileiro, tudo o que fosse necessário nas usinas.

MRE - O que a proibição de venda de supercomputadores por parte dos Estados Unidos ao Brasil tem a ver com nosso programa nuclear?

Havia um embate diplomático entre o Brasil e os Estados Unidos, pois os americanos achavam que pelo fato de ainda não sermos signatários do Tratado de Não-Proliferação (TNP), esse tipo de equipamento pudesse ser usado pra outros fins. A posição da diplomacia brasileira era que já tínhamos assinado outros acordos que garantiriam os mesmos aspectos de segurança e transparência, o Tratado de Tlatelolco e o acordo trilateral Brasil-Argentina. O primeiro (não ratificado pelas potências centrais) era mais rigoroso, pois não permitia o desenvolvimento e o armazenamento de artefatos nucleares. Curiosamente, recentemente vazou para a imprensa que um navio inglês carregava artefato nuclear na época do conflito nas Ilhas Malvinas, algo totalmente irregular.

MRE - Sabe-se de pesquisadores, com o mesmo grau de conhecimento que o sr., que decidiram trabalhar para outras nações que não as suas. O sr. recebeu algum convite neste sentido?

Sim, houve duas sondagens. E pelo que tenho conhecimento, eu e os componentes de nossa equipe não nos deixamos seduzir por estas propostas. Esse é um orgulho para o Brasil. Veja o exemplo do que ocorreu com o Paquistão, que desenvolveu seu programa baseado na espionagem e vendeu esta tecnologia.

MRE - Ao longo do processo, a equipe da Marinha linha percepção de que havia interesses estrangeiros trabalhando de forma organizada contra o desenvolvimento do programa?

Havia esta percepção. Mas este tipo de pressão só estimula, vira um desafio. Sempre conversávamos com a equipe e trocávamos idéias. A linha de confiança permeava toda a equipe.

MRE - Como o sr. avalia a relação do governo brasileiro, tanto do executivo federal como do Congresso Nacional, com nossa inteligência militar?
Eu vejo duas fases. Até o início da década de 90, o país acreditou muito em suas possibilidades, o que levou a um crescimento econômico exemplar no mundo, naquela época. Apesar de ter sido um modelo muito criticado pelos neoliberais, foi o que durante quase cinqüenta anos levou o país a um crescimento muito grande. De repente chegou um pessoal que achou que deveria vender nossas empresas por meio de financiamentos com capital nosso, sem contrapartida nenhuma. Na década de 70 se faziam grandes obras e a imprensa começou a chamar isso de “obras faraônicas”. Ouvi recentemente numa palestra que “é melhor termos obras faraônicas que imobilismo faraônico”.

MRE - A energia nuclear é tida como uma das alternativas de geração de energia frente ao problema da emissão de gás carbônico na atmosfera e sua aplicabilidade é ampla. Há muita desinformação a respeito da importância da energia nuclear?
Cada país depende de sua matriz energética para desenvolver sua economia. O ideal é que se tenha uma malha polivalente que dê segurança. Cada país deve procurar desenvolver um mix que lhe dê segurança e que tenha menor custo para a sociedade. Assim, as soluções energéticas são diferentes de país para país. Na França, por exemplo, a componente nuclear é muito maior que no Brasil. Isso porque a França tem pouco carvão, não tem petróleo, não tem queda d’água e a solução foi a energia nuclear. No Brasil, em decorrência de fatores naturais, concluímos que a hidrelétrica deve ser o principal componente. Em seguida, vem a energia nuclear. O petróleo é algo muito mais nobre e devemos deixá-lo para outras atividades.

Existe uma grande desinformação com relação à energia nuclear e o caminho é a educação. Na França existe isso. Como o mundo tomou conhecimento sobre energia nuclear por meio de dois holocaustos - Hiroshima e Nagasaki - as pessoas têm muito medo. Chernobyl é um caso diferente, a concepção do reator era equivocada. Já houve acidentes semelhantes nos Estados Unidos e lá não tivemos vítimas nem contaminação.

MRE - O Brasil tem uma legislação específica sobre extração e comercialização de urânio?

Não há. Mas existe uma discussão em âmbito do governo sobre a necessidade de se desenvolver um quadro geral, em termos de lei, sobre a extração deste tipo de minério.

MrE - Se o Brasil quiser entrar no mercado internacional deste tipo de comércio, nos é facultado vender urânio enriquecido?

Qualquer comércio de energia nuclear é controlado pela AIEA para que seja usado em reatores e não em aplicações bélicas. Dentro deste parâmetro é facultado ao Brasil vender.

MRE - Como o Irã e a Coréia do Norte desenvolveram suas instalações e tecnologia nucleares?
Pelo que se sabe, havia um contencioso entre o Paquistão e a Índia. Um paquistanês, com cidadania holandesa, trabalhava no consórcio formado entre Holanda, Inglaterra e Alemanha (para desenvolver centrifugação) e por meio de um sistema muito engenhoso de espionagem, com bom aporte de dinheiro do Paquistão, teve acesso a plantas, desenhos e modelos. Dessa maneira, essa tecnologia foi exportada para a Coréia e para o Irã.

MRE - Com relação à matéria do “Washington Post”, que causou tanto tumulto, e à posição do governo brasileiro, o que o sr. diria?

Todas as instalações brasileiras são inspecionadas. Agora os americanos querem que todos adiram ao Protocolo Adicional aos Tratados de Salvaguarda. Este protocolo é um cheque em branco para se inspecionar qualquer lugar do território de um país, a qualquer momento, onde se desconfie haver instalações nucleares. Pelas inspeções atuais, existe acesso a quase tudo. Fitas de vídeos mostram o que entra e o que sai e têm acesso a miligramas do minério que entra e do que sai, o que é o mais importante numa instalação.

Se nós aceitarmos o protocolo adicional, eu sugiro rasgarmos nossa constituição, pois seu primeiro fundamento é a soberania. É uma cláusula pétrea. Permitir a inspeção de qualquer ponto de nosso território, segundo a vontade deles, é inaceitável. Nosso país tem tido um comportamento exemplar nesta área. Temos assegurado uma transparência muito grande. O protocolo adicional permite que se visite a ultracentrífuga. Ora, isso é uma instalação mecânica, há questões de tecnologia de alto nível envolvidas. Há quem diga que nossa tecnologia é a mesma utilizada por outros países. Quem disse isso está provando que não entende nada de ultracentrífuga. É coisa de cientista político. Conhecemos o motor dos automóveis há 90 anos, mas cada fabricante tem seus detalhes. Podemos entrar na fábrica da Coca-Cola e ter acesso à composição do xarope deles? Claro que não. Uma coisa é controlar o material que entra e que sai para que não seja utilizado para outros fins. Outra é ter acesso à tecnologia.

MRE - Qual sua avaliação a respeito da postura do Ministério das Relações Exteriores?

O ministro tem tido uma postura muito firme e sensata no sentido de não inflar o tema. Tem colocado o assunto na posição devida. Não aceitamos e ponto. A ninguém interessa confrontação.

MRE - Com relação aos custos do programa, são muito altos para se manter?

Não. Com esta filosofia de âncora cambial, o país ficou ancorado. Não há verba para nada. Não temos mais investimento. Temos homens preparados e não utilizamos esta força. O Brasil tem capacidade para fazer vinte ultracentrífugas por dia. Os recursos secaram, não por falta de dinheiro, mas por questões de prioridade. A Marinha enviou vários de seus oficiais para estudar em diversos locais do mundo, para obter conhecimento. Um de nossos oficiais, comandante Braid, foi estudar em Berkeley. Lá tinha alguém que se aproximou dele, sempre muito solícito. Ele me comunicou sobre essa pessoa e eu lhe disse para continuar dando corda. Logo descobrimos tratar-se de um araponga. Um dia, numa festa, esse sujeito bebeu um pouco mais e disse ao Braid: “let me give you a good piece of a good advice” - que seria algo como “deixa eu te dar um bom conselho”: “os recursos da Marinha vão zerar, vão isolar o Almirante Othon”. Eu tenho este relatório de 1993! Ou o camarada tinha uma bola de cristal formidável ou estava muito bem informado, pois ocorreu exatamente o que ele disse.

MRE - Ou seja, a inteligência americana estava muito mais efetiva no Brasil do que imaginávamos.
Obviamente. Mas penso que eles estão no seu papel. Gostaria de ressaltar que sou um admirador da cultura americana. É o país que nos deu a penicilina e uma série de coisas. Porém, desrespeitar nossas potencialidades é um desserviço à humanidade. Não tenho antipatia pelos chamados serviços de informação deles, tenho antipatia pelos nacionais que submeteram a isso.

MRE - Em que estágio se encontra o projeto do submarino nuclear brasileiro?

Em 1993, a propulsão nuclear era prioridade um na Marinha. Isso porque num mundo com satélites, o único instrumento militar de defesa num mar maiúsculo para um país que tem menos recursos é o submarino. Essa prioridade durou nas quatro administrações, dos ministros Maximiniano (Maximiniano Eduardo da S. Fonseca - 1979/84), Karam (Alfredo Karam - 1984/85), Sabóia - quando tivemos o pico do programa (Henrique Sabóia - 1985/90), e o almirante Flores (Mário César Flores - 1990/93). De repente, entrou um ministro e baixou a prioridade de 1 para 18, sem que houvesse um estudo maior, e começou a priorizar navios secundários de superfície. Comprou navios cuja vida útil tinha se esgotado na Inglaterra (por US$ 135 milhões) e navios varredores para fazer patrulhamento costeiro. É o mesmo que comprar tartaruga para fazer papel de colibri. Nestes últimos dez anos se gastou mais de US$ 800 milhões para comprar sucatas. Se tivéssemos investido este dinheiro na prioridade da propulsão, este ano teríamos a plataforma do submarino nuclear, ou seja, um submarino a propulsão convencional do porte de um nuclear. Em mais três ou quatro anos trocaríamos a propulsão pela nuclear.

MRE - Gostaria de acrescentar algo?

Tudo pode ser feito neste país. Temos uma quantidade enorme de jovens bem formados em nossas universidades. Vemos essa excelência em vários segmentos como Embrapa, Fapesp e Fundação Osvaldo Cruz. Não faltam exemplos de competência.”




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