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Mensagem
por Marino » Dom Jul 20, 2008 11:28 am
Vejam como qualquer idiota pode escrever uma matéria sobre Defesa, sem saber que propulsão nuclear não é armamento nuclear:
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Jornal do Brasil
A crescente banalização das armas nucleares
Facilidade para construir pequenos arsenais é motivo de preocupação
Fernando de Souza-Barros
Com o domínio de tecnologias nucleares por um número cada vez maior de países e o aumento de tensões em regiões com conflitos, reaparecem os questionamentos sobre a proibição do uso de armas atômicas adotada no final da Guerra Fria (marcada pela queda do muro de Berlim, em 1989). A presente inexistência de uma ordem política mundial e a constante quebra dos acordos existentes, como o Tratado de Não-Proliferação, reforçam essa tendência de banalização das armas nucleares. Assim, uma análise da situação de alguns países que têm programas nucleares militares é ferramenta útil para se pensar a questão. O Brasil, apesar de usar a energia nuclear principalmente para fins de geração de energia e abastecimento doméstico, está incluso no grupo, uma vez que a Marinha nacional tem um projeto de construção de um submarino nuclear.
A estratégia de uso de armas nucleares táticas não é nova. No início da Guerra Fria, quando o arsenal nuclear ainda era privilégio norte-americano, a possibilidade de seu emprego era estratégia de defesa das nações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra o poderio militar soviético. Em 1949, o advento do arsenal nuclear soviético induziu os projetos nucleares militares da Inglaterra (1952) e da França (1960), os quais foram implementados a despeito da existência da Otan.
A postura ambígua de Israel sobre seu programa nuclear, cujas primeiras instalações remontam à década de 1950, também tem sido importante na estratégia militar do país. Hoje, estima-se que Israel, que não aceita inspeções pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), tenha cerca de uma centena de ogivas nucleares. A posição oficial é a de que o país não pretende ser a primeira nação a introduzir armas nucleares na região, mas a rejeição às inspeções tem sido usada para justificar programas nucleares militares em países vizinhos.
Zonas tensas
O Irã também tem longo histórico de produção de artefatos nucleares, mas foi em 2002 que a polêmica em relação a seu arsenal nuclear tomou forma. Nesse ano o país anunciou para a AEIA o início de um programa nuclear autônomo e em 2003 revelou que, já em 2001, havia convertido urânio natural para a forma na qual o elemento é usado em reatores nucleares.
Desde 2006 o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) vem considerando aplicar punições contra o país, caso este não suspenda seu programa de enriquecimento de urânio (no qual se extrai, do urânio natural, sua versão 'explosiva'). Um dos subsídios para a possível tomada dessa medida é um relatório da AIEA. O documento não mostra evidências concretas de aplicações nucleares militares, mas revela que a tecnologia nuclear iraniana tem dimensões significativas, atingidas à revelia dos compromissos assumidos pelo país ao assinar o Tratado de Não-Proliferação (TNP).
A Coréia do Norte, por sua vez, realizou há pouco tempo um teste subterrâneo de uma bomba de plutônio. A explosão foi de apenas 1 kton (mil toneladas de explosivo químico), muito abaixo dos testes usuais de artefatos nucleares. No entanto, a iniciativa criou um precedente em uma zona muito tensa da Ásia e uma de suas conseqüências foi o início de um movimento no Japão para o desenvolvimento de programas de tecnologias militares. O teste norte-coreano também mostrou que a construção de pequenos arsenais hoje é acessível a um conjunto bem maior de nações uma vez que não requer qualquer patamar especial de desenvolvimento tecnológico. E com a difusão das informações sobre tecnologias nucleares e do mercado negro nuclear, o número desses arsenais tenderá a crescer.
Porém, apesar de durante vários anos o regime norte-coreano ter escolhido dominar a tecnologia nuclear com recursos limitados, sacrificando o bem estar do seu povo, recentemente o país negociou a eliminação de suas instalações e destruiu seu parque nuclear.
Brasil, projetos militares
O projeto militar brasileiro, liderado pela Marinha, de construção de um submarino nuclear foi originariamente justificado pela necessidade de cobertura das rotas, no Atlântico Sul, de suprimento de petróleo importado do Oriente Médio (Iraque). Na atualidade, evoca-se a necessidade de proteção das reservas submarinas de petróleo, localizadas na plataforma continental. Tal programa, iniciado no final da década de 1970, em pleno regime militar, só foi oficialmente reconhecido em 1988, já no regime civil. Foi então inaugurada uma planta-piloto de enriquecimento de urânio em uma instalação da Marinha no interior de São Paulo que continua em operação. A integração de todo o parque nacional nuclear, incluindo a fábrica de combustível nuclear de Resende (RJ), depende do plano nacional para essa área, recentemente aprovado em nível federal.
O Brasil deve ser o único país onde o uso pacífico de tecnologias nucleares é imposto pela Constituição. Quando o Brasil assinou o TNP, em 1997, a ratificação pelo Congresso Nacional exigia que o país atuasse no âmbito da ONU para eliminar as armas atômicas. Mas a continuidade do programa nuclear da Marinha brasileira induz à inclusão do Brasil no grupo de países que mantêm projetos nucleares militares.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco