Internet facilita cópia de trabalhos universitários e dificulta avaliação
Publicada em 01/07/2008 às 10h33m
Professor anônimo
RIO - É inegável que o advento da internet tenha trazido profundas mudanças quanto à comunicação, ao entretenimento, aos serviços, à divulgação e ao acesso a dados e informações, ao ensino, ao comportamento e às relações humanas, só para citar alguns exemplos.
Assim como qualquer veículo de comunicação livre, a internet oferece em tempo real páginas eletrônicas com conteúdos instrutivos, relevantes e confiáveis, como também dissemina toda sorte de endereços, cujos conteúdos podem ser, no mínimo, questionáveis.
Minha área de atuação profissional é o ensino superior. Em muitos cursos de graduação e de especialização (pós-graduação lato sensu) são exigidas monografias como condição obrigatória para sua conclusão, enquanto os cursos de pós-graduação stricto sensu exigem o desenvolvimento e defesa pública de dissertações de mestrado e de teses de doutorado.
Mesmo antes da chegada da internet, sempre houve uma preocupação e correspondente cuidado por parte da academia quanto à oferta de serviços de encomenda de artigos científicos, monografias, dissertações e teses. Tais serviços eram executados pelos conhecidos ghost writers, que os ofereciam abordando discretamente estudantes em cantinas e corredores de universidade. Por meio de classificados de jornais tais serviços também eram anunciados. Os executores, normalmente, são professores e profissionais com nível superior e até pós-graduados. Alegam que realizam as pesquisas encomendadas como forma de conseguirem um adicional na renda mensal. Provavelmente, em alguns casos, os ganhos com esses serviços representam o componente principal da renda desses profissionais. Mas isso é especulação minha...
A internet tornou-se, portanto, um meio de comunicação mais sofisticado, mais ágil e, até mesmo, mais seguro entre os interessados e os >ita<ghost writers. Atualmente, em virtude do próprio desgaste e da carga negativa em torno do termo ghost writer, este vem sendo substituído mais comumente pelo termo >ita<personal writer (também inferência minha).
O fato concreto é que está cada vez mais difícil ter controle sobre um trabalho monográfico plagiado. Independentemente de haver ou não plágio, é comum ocorrerem pesquisas realizadas na internet, nas quais o usuário opta por "
copiar e colar" trechos inteiros na íntegra sem dar o devido crédito ao sítio eletrônico que originou a informação. É muito freqüente em pesquisas na internet encontrarmos um sítio eletrônico que simplesmente copia o conteúdo de um outro.
Outro aspecto a ser destacado é que muitas pessoas não sabem como realizar uma pesquisa na internet de forma orientada, utilizando filtros, de modo a garantir que o resultado da busca concentre sítios eletrônicos oficiais e de qualidade (por exemplo: uma busca avançada no Google).
No caso das universidades públicas, um número expressivo de cursos exige o cumprimento de créditos de monografia como condição para o aluno atingir a sua conclusão e poder colar grau. A monografia é um estudo individual e que versa sobre um tema pertinente ao campo científico e profissional do aluno. Antes do desenvolvimento em si da monografia, o aluno deve vincular-se a uma linha de pesquisa de algum professor da sua unidade acadêmica e elaborar um projeto de monografia. Este projeto evidenciará a problemática a ser estudada, os objetivos, a justificativa do estudo, principais aspectos teórico-conceituais a serem tratados, os procedimentos metodológicos, os recursos para a sua execução e os resultados esperados.
No caso do curso de graduação em geografia, por exemplo, durante um período de um ano, pelo menos, o aluno deverá executar a monografia, ou seja, realizar leitura de vários textos e hipertextos, fichamentos, levantar dados e informações, tabulá-los e dar tratamentos estatístico e gráfico, elaborar mapeamentos, fazer trabalhos de campo e gerar relatórios destes, aplicar questionários e, no fim, sistematizar todos os resultados obtidos, analisá-los e redigir as conclusões.
Como se vê, o desenvolvimento de uma monografia não é uma tarefa trivial em qualquer que seja o curso de graduação. Quando lidamos com monografias de especialização, dissertações de mestrado ou teses de doutorado, a complexidade do estudo e o grau de exigência aumentam bastante.
Tanto em universidades públicas como em universidades particulares pode existir um número considerável de pessoas que não têm tempo de se dedicar às etapas exigidas em um estudo monográfico. Essas pessoas representam o alvo dos serviços de encomenda de monografias prontas.
Em sua defesa, os responsáveis usam a seguinte frase lapidar, que foi devidamente "
copiada e colada" como manda o figurino:
"
Quando se rouba de um autor, chama-se plágio; quando se rouba de vários, chama-se pesquisa".
Depois dessa, preciso dizer mais alguma coisa?
P. S.: Fazendo uma rápida pesquisa no Google, encontrei nada mais nada menos do que 64.300 sítios eletrônicos que oferecem serviços de monografias prontas. É uma quantidade, no mínimo, expressiva.
Fonte: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/ ... 044696.asp