Meus prezados:
Adquirida pela GOL ha um ano, a empresa nao consegue decolar.
Desde a venda da Varig para a Gol, em 28 de março de 2007, até a última quarta-feira, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a transferência, as ações da companhia caíram de R$ 55,50 para R$ 19,96, desvalorização de 64%.
As dificuldades no negócio já custaram mais de R$ 1 bilhão à Gol. Agora, com a aprovação da venda pelo Cade, talvez o céu fique menos nebuloso.
- É mais um caso entre as companhias que subestimaram as dificuldades de concorrer no mercado de longa distância - diz um consultor do setor, que pediu para não ser identificado.
Constantino Júnior, presidente da Gol, ressalta sempre que vê a aquisição como um negócio de longo prazo. Para reverter as manchas vermelhas no balanço, a Gol reestruturou a malha doméstica da Varig e desistiu das rotas para Europa e América do Norte. A meta é empatar as contas a partir do segundo semestre. Para isso, enfrentará pelo menos sete dificuldades que já bloquearam vôos mais altos da Varig no primeiro ano após a venda.
Nesta página, vejo os entraves que ainda vêm impedindo a decolagem da empresa, na visão da própria companhia e de consultores do setor.
1. Falta de aviões
Quando comprou a Varig por US$ 320 milhões, a Gol tinha poucos meses para voltar a voar para destinos internacionais que haviam sido abandonados ou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) poderia confiscar as autorizações e concedê-las à concorrência. A Gol saiu atrás de aeronaves que pudessem fazer vôos intercontinentais, mas conseguiu apenas Boeing 767 antigos. Durante 2007, com o mercado aéreo aquecido, a Gol teve dificuldades para encontrar aeronaves adequadas. Quando conseguiu, a entrega atrasou. Assim, os espaços abandonados devem mesmo terminar nas mãos da concorrência.
2. Alta do petróleo
A Gol enfrentou a alta do petróleo ao mesmo tempo em que tentava reerguer a Varig. No dia da aquisição, o preço do barril em Nova York era de US$ 64,08. Na última quinta-feira, era comprado por US$ 140,39, variação de quase 120% que afeta diretamente o preço do querosene de aviação. A Gol atribui o cancelamento de rotas internacionais da Varig ao preço do combustível, que representa cerca de 40% do custo operacional da empresa.
3. Padrão de atendimento
Com o programa de fidelidade Smiles, a antiga Varig conquistou um público cativo entre clientes que buscam bons serviços. Essa base, porém, foi perdida quando a empresa começou a sofrer com a crise financeira e passou para as mãos da Gol, conhecida pelo padrão enxuto de atendimento. A esperada migração de clientes fiéis à marca Varig só está acontecendo agora, quando a empresa reformulou a malha doméstica. Entre março e maio, a taxa de ocupação das aeronaves passou de 43%para 70%, e a participação de mercado saltou de 3,93% para 7,97%.
4. Aviões antigos
A pressa para retomar operações da Varig fez com que a Gol optasse por aviões sem condições ideais. Em vôos longos, as aeronaves eram menos econômicas do que os da concorrência e estavam fora do padrão vigente de entretenimento de bordo. Nas rotas nacionais, os Boeing 737 da Varig gastam mais combustível que os 737 da Gol.
5. Concorrência forte
A TAM não ficou apenas assistindo ao crescimento da rival. A primeira manobra foi a contratação de David Barioni Neto, ex-vice-presidente técnico da Gol, alçado à presidência da TAM. Barioni cuidava da área operacional da Gol, parte vital da companhia, que se notabilizou por enxugar custos nos bastidores dos aeroportos. Enquanto assistia às dificuldades da Varig no mercado internacional, a TAM lançou seis novas rotas para o Exterior, aumentou as freqüências para Paris e fez acordos com 17 empresas estrangeiras. Além de adotar um programa agressivo de expansão e modernização.
6. Gastos inesperados
A Gol sempre negou a possibilidade de herdar dívidas da antiga Varig, inclusive trabalhistas, mas ainda lida com esse fantasma e também teria descoberto dívidas no Exterior. Uma delas apareceu quando funcionários do aeroporto de Buenos Aires paralisaram os vôos da Varig até que houvesse um acordo sobre o vínculo trabalhista dos funcionários e supostas dívidas aeroportuárias. De acordo com uma fonte do mercado, a empresa também teve de renegociar antigas dívidas em aeroportos da Europa. A companhia não comenta as informações.
7. Demora do Cade
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) levou quase 15 meses para aprovar a compra da Varig, período em que a Gol não pode integrar a administração da Varig. Na prática, as duas companhias não podiam negociar juntas com fornecedores ou compartilhar funcionários.
( alexandre.santi@zerohora.com.br ) ALEXANDRE DE SANTI
fonte: jornal "Zero Hora" 29 jun 2008
Um abraço e ateh mais...
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