A nova arma das polícias
Mais leves e menos letais, carabinas .30 vão substituir fuzis em áreas menos conflagradas do Rio
Maria Inez Magalhães
Rio - Criados para situações de guerra, onde é preciso tirar o inimigo de combate com o menor número possível de disparos, os fuzis, que o carioca se acostumou a ver — e temer — em praticamente todas as ações da polícia, estão com os dias contados em algumas áreas do Rio. Pelo menos 1.500 deles serão substituídos pelas carabinas Taurus CT 30 que a Secretaria de Segurança Pública (Seseg) comprará com recursos do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), do governo federal. Mais leves e menos letais que os fuzis, as CT 30 são mais adequadas para áreas urbanas e, por enquanto, serão destinadas a regiões menos conflagradas. Mil delas vão para PMs das Radiopatrulhas e do Patrulhamento Motorizado Especial. As 500 restantes, para a Polícia Civil.
A compra do armamento foi sugerida em relatório do diretor-geral de Apoio Logístico da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho. No documento, ele conclui que a “
adoção do modelo traria ganho no fator segurança, devido às características de seu calibre, bem menos devastador que os dos fuzis”. A verba destinada à compra das carabinas — R$ 4,6 milhões — é parte dos R$ 55,3 milhões liberados quinta-feira pela Ministério da Justiça.
TESTES FEITOS PELO BOPE
Os testes foram feitos por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), a tropa de elite da PM. Um deles é o chefe da seção de pessoal e de assuntos internos do Bope e instrutor de tiros e armamento, major Ricardo Soares. O oficial passou cinco dias na fábrica da Taurus. “
Um tiro de fuzil atravessa parede. A velocidade do tiro da carabina .30 é muito menor. Isso representa menos risco para todos”, explica ele.
Para o major, a nova arma é mais fácil de ser transportada e dará ao policial mais mobilidade nas operações. Segundo Soares, um fuzil municiado pesa quase seis quilos, enquanto a carabina pesa pouco mais de três. “
A diferença no manuseio é muito grande, além de ser mas fácil de carregar, principalmente em viaturas pequenas”, conta ele.
Soares ressaltou outro aspecto do uso da carabina que poderá ajudar a polícia a elucidar casos de balas perdidas. “
Isso vai desmistificar a tese de que a polícia sempre entra atirando nas comunidades. Com o nosso armamento sendo diferente das armas dos criminosos, vai ser possível descobrir de quem realmente partiu o tiro”, explica. Soares acredita que a carabina vai também assustar menos os cidadãos. “
As pessoas se assustam só de ver os PMs com fuzis enormes ou as viaturas com os bicos das armas para fora”.
Investimentos contra o crime
As 1.500 carabinas .30 compradas para as polícias Civil e Militar do Rio são a exceção entre os investimentos do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), que dá prioridade a investimentos em equipamentos de inteligência, monitoramento e armas não letais.
A maior fatia dos R$ 55,3 milhões em recursos, como prevê o convênio assinado na última quinta-feira entre o estado e o Ministério da Justiça, será destinada a obras. Ao todo, serão R$ 22,8 milhões empregados na construção de uma expansão para o 16º BPM (Olaria), na criação de 20 postos de policiamento comunitários, em reformas de instalações das polícias e na implantação de dois centros de gerenciamento de crise.
Todo o armamento não letal e a munição desse tipo serão comprados diretamente pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) e doados ao Estado do Rio. As compras diretas pelo governo federal somam R$ 20,2 milhões e incluem ambulâncias e veículos especiais, como para transporte de animais e picapes 4x4. A Polícia Militar recebeu R$ 7,8 milhões, que deve empregar na compra das carabinas e ainda em veículos de reboque e tratores para remoção de barricadas.
Para a Polícia Civil, o Pronasci destinou R$ 4,3 milhões, que serão gastos com equipamentos de monitoramento eletrônico, computadores portáteis e de mesa, um sistema de filmagem para os helicópteros e blindagem das aeronaves da instituição.
No lançamento do programa, o ministro Tarso Genro afirmou que é emblemática a batalha contra o crime no Rio. “
Se nós não ganharmos a batalha da segurança pública no Rio, isso vai ter reflexo em todo o País”, disse.
ARMAMENTO MOTIVOU DISPUTA ENTRE EMPRESAS
As carabinas calibre .30 produzidas pela Taurus no Rio Grande do Sul foram homologadas em 2004 pelo Exército. Até então, a empresa gaúcha de armamentos fabricava, para uso por policiais, apenas carabinas calibre .40.
A inovação surgiu depois de uma disputa com a israelense IMI (Israel Military Industries), que tinha tomado a frente na concorrência para fornecer esse tipo de armamento de uso urbano para as polícias brasileiras, como previa o Plano Nacional de Segurança Pública em 2002. O calibre .30, na época, chegou a ser atacado pela Taurus, que o considerava inadequado. Atualmente, sete estados usam as .30.
Fonte: http://odia.terra.com.br/rio/htm/a_nova ... 171889.asp