Perícia da Interpol deixa Chávez em apuros
BOGOTÁ - A Interpol informou ontem que não encontrou evidência de adulteração nos computadores que a Colômbia diz ter apreendido de Raúl Reyes, ex-líder rebelde morto das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O anúncio contradiz alegações da Venezuela de que os arquivos eram uma farsa e dão à Colômbia apoio internacional.
O estudo da polícia internacional sediada na França aumentará a pressão sobre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O presidente da Venezuela agora precisa explicar documentos indicando que seu governo estava financiando e armando a guerrilha.
A Colômbia informou que suas tropas recolheram três laptops, entre outros materiais, após destruírem um campo rebelde no território do Equador, em 1º de março. O então número 2 das Farc, Reyes, e outras 24 pessoas foram mortas na operação militar. Chávez qualificou os documentos como fraudes, zombando das revelações colombianas como "
o suposto computador de Raúl Reyes".
O presidente venezuelano nega ter armado ou financiado as Farc, apesar de simpatizar abertamente com o grupo rebelde. O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pediu uma investigação da Interpol para excluir dúvidas sobre a autenticidade do documento. Após dois meses de trabalho, o documento de 39 páginas atende os anseios de Uribe.
A Interpol avaliou que as autoridades colombianas não seguiram os métodos internacionais mais aceitos para lidar com o material, mas não notaram modificações, arquivos apagados ou criados posteriormente.
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Não houve adulteração ou alteração de qualquer dos dados contidos nos arquivos do usuário, por quaisquer das autoridades legais colombianas após a apreensão no dia 1º de março", garantiu o secretário-geral da Interpol, Ronald Noble.
Os computadores e outros materiais contêm uma vasta quantidade de informações. São 610 gigabytes de dados, incluindo 210.888 imagens, 37.872 documentos escritos, 22.481 páginas de internet, 10.357 arquivos de áudio e vídeo, 7.989 endereços de e-mail e 452 planilhas, segundo a Interpol. Dez computadores da entidade trabalharam sem parar para decifrar os 983 arquivos que estavam criptografados, segundo informou Noble.
O exame forense limitou-se a verificar se a Colômbia tinha ou não alterado o material e se lidou corretamente com as provas. Não foi solicitado que a Interpol analisasse o conteúdo propriamente dito. Dois dos especialistas da Interpol, um da Austrália e um de Cingapura, não falavam espanhol, "o que ajudou a eliminar a possibilidade de que eles seriam influenciados pelo conteúdo de qualquer dado ao analisá-lo", segundo o texto.
Junto com o relatório foram divulgadas fotos, incluindo uma de Reyes em frente ao seu laptop em traje de combate. O escritório antiterrorismo da Colômbia acessou os computadores antes deles serem examinados pela Interpol, deixando múltiplos traços nos arquivos do sistema operacional. Mas as autoridades colombianas informaram corretamente sobre isso para a Interpol, e Noble elogiou o profissionalismo desses funcionários.
Um especialista independente nesse tipo de análise consultado, Richard Smith, da Boston Software Forensics, disse que seria muito difícil manipular os dados gerados pelo sistema operacional do computador, que grava quando a máquina é ligada ou desligada qualquer arquivo que tiver sido aberto, modificado ou removido.
Os especialistas da Interpol obtiveram acesso aos dados em 10 de março, de acordo com o relatório. Funcionários colombianos primeiro mostraram a jornalistas alguns documentos, em 2 de março, e desde então têm vazado informações. O material mais comprometedor para Chávez foi repassado por um alto funcionário colombiano na semana passada. Trata-se de mais de dez mensagens internas dos rebeldes, detalhando vários anos de estreita cooperação entre altos funcionários venezuelanos e das Farc.
Os textos versam sobre instalações para treinamento de rebeldes em território venezuelano e sobre um encontro dentro de um alto escritório do setor de Defesa desse país. Os documentos também sugerem que a Venezuela preparava um empréstimo para os rebeldes de pelo menos US$ 250 milhões (R$ 415 milhões), forneceria a eles armas russas e possivelmente até mísseis terra-ar para uso contra as forças militares colombianas.
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Essas são declarações sérias sobre o fornecimento de armas e o apoio a uma organização terrorista pela Venezuela", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack, em Washington. "
Certamente, isso tem implicações profundas para o povo da região".
Fonte: http://www.tribunadaimprensa.com.br/not ... nacional04