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Mensagem
por Edu Lopes » Ter Jan 01, 2008 11:29 am
Submarino nuclear já consumiu US$ 1 bilhão
Projeto, considerado prioridade por Jobim, foi iniciado há 20 anos; Marinha ainda está construindo o protótipo
SÃO PAULO. De cima de um morro, a vista é de um terreno de cimento batido, pouca estrutura metálica, cercado de árvores. Não fosse uma maquete instalada perto dali, seria impossível imaginar que é naquele local, na cidade de Iperó, interior de São Paulo, que a Marinha está construindo o protótipo do submarino nuclear brasileiro. Em discurso para especialistas do setor, em novembro, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que é vital para o Brasil contar com um submarino nuclear para proteger as riquezas nacionais – como a reserva gigante de petróleo, recém-descoberta, na Bacia de Santos – de ataques terroristas.
Marinha ainda vai procurar estaleiro adequado
No entanto, mais de duas décadas de iniciado o projeto do submarino nuclear – que já consumiu US$ 1,1 bilhão basicamente com a aquisição de equipamentos e pesquisas -, o Centro Tecnológico da Marinha (Aramar) trabalha ultimamente na construção de um protótipo apenas para testes, mas com a tecnologia que deverá ser utilizada num modelo real, com previsão para ter inicio dentro de sete anos.
- Aqui (Aramar) vamos construir um protótipo de terra. Depois de todos os testes, poderemos procurar um estaleiro adequado para criar um submarino com todas as condições de defender o país. A nossa previsão é que começaremos a construí-lo entre quatro e sete anos – disse o diretor da aera de enriquecimento de urânio da Marinha, o comandante André Luiz Ferreira Marques, durante visita do GLOBO às instalações onde é desenvolvido o projeto.
Desde que o programa começou, foram injetados, entre outros recursos, cerca de US$ 230 milhões no programa de desenvolvimento de enriquecimento de urânio, além de US$ 130 milhões com equipamentos e mais de US$ 450 milhões no pagamento de salários das mais de duas mil pessoas envolvidas no projeto. Ainda assim, o programa foi interrompido nos últimos anos por falta de recursos para a construção do prédio onde será criado o protótipo de terra.
O prédio, na verdade, é onde será criada a “ilha nuclear”. Lá, a Marinha prepara a montagem do reator: um conjunto de equipamentos que inclui tubos geradores, condensadores, pressurizadores e vasos para acondicionar o urânio enriquecido. Tudo está acondicionado no laboratório de testes, um enorme galpão onde estão todos os equipamentos desenvolvidos em conjunto com empresas privadas.
- É um projeto militar e civil que vai colocar o Brasil entre os países com mais condições de defesa no mundo – disse o comandante.
Uma luz amarela acendeu no governo após a descoberta do megacampo de petróleo. Mas, ainda navegando lentamente, as expectativas em torno do submarino nuclear só aumentaram, ainda que timidamente, depois de o governo federal liberar, em julho deste ano, R$ 1 bilhão para o projeto, investimento que será destinado em parcelas de R$ 130 milhões ao ano. Com esses recursos, a Marinha projeta para o próximo ano o inicio da construção do cilindro (casco) do submarino, que poderá levar até 90 tripulantes.
O cilindro será construído pela empresa Jaraguá, instalada em Sorocaba, cidade vizinha a Iperó. Ao mesmo tempo que o casco será desenvolvido, a Marinha começará a levantar naquele terreno, hoje desocupado, um prédio onde será montado o reator nuclear, capaz de gerar energia e transformá-la em eletricidade.
Brasil tem hoje cinco submarinos convencionais
Atualmente, o Brasil conta com submarinos convencionais – quatro fabricados no país e um comprado do governo alemão, num investimento de US$ 700 milhões.
O submarino nuclear tem velocidade média de 20 nós, contra os 5 nós dos convencionais. Alem disso, o projeto que vem sendo desenvolvido na Marinha também prevê uma autonomia de navegação bastante superior aos submarinos convencionais: se preciso, um submarino nuclear navega até um ano inteiro submerso. Já os convencionais precisam emergir para se abastecer de oxigênio. As proporções também são distintas: o submarino nuclear tem cem metros de comprimento, os convencionais, 70. Nos dois casos, no entanto, o armamento não muda: torpedos, mísseis e minas.
O submarino nuclear está sendo feito sob licenciamento ambiental (Ibama) e nuclear (Comissão Nacional de Energia Nuclear).
Fonte: edição impressa do jornal O Globo de 01/01/2008.