Cavaco questiona rendimentos elevados de altos dirigentes de empresas
01.01.2008 - 21h07 Clara Viana
Uma mensagem que faz eco dos sentimentos de injustiça, um apelo ao diálogo, um semi-retrato de um país em crise — o discurso de Ano Novo hoje proferido pelo Presidente da República, Cavaco Silva, esteve longe do tom jubilatório adoptado pelo Natal pelo primeiro-ministro, José Sócrates.
Foi talvez a primeira vez que um alto responsável do Estado adoptou publicamente uma das principais críticas da “rua”: “Não podemos deixar de nos inquietar perante as desigualdades na distribuição do rendimento que as estatísticas revelam”, disse hoje à noite o Presidente, em mensagem transmitida pela RTP.
As estatísticas revelam, por exemplo, que Portugal é o país da UE onde há mais desigualdade entre ricos e pobres. Cavaco Silva não falou nem dos mais ricos, nem dos mais pobres, mas apontou esta discrepância “comum” em Portugal: “Sem pôr em causa o princípio da valorização do mérito e a necessidade de captar os melhores talentos, interrogo-me sobre se os rendimentos auferidos por altos dirigentes de empresas não serão, muitas vezes, injustificados e desproporcionados, face aos salários médios dos seus trabalhadores”.
Cuidado com verbas da UE
Invocando os conhecimentos adquiridos durante as suas recentes viagens pelo país, Cavaco Silva admitiu que as reformas na Saúde — um dos sectores mais contestados — servem objectivos que os portugueses não entendem, predominando ainda a ideia de que são os mais fracos as principais vítimas.
“Seria importante que os portugueses percebessem para onde vai o país em matéria de cuidados de saúde”, disse, depois de apontar o seguinte: “O acesso aos cuidados de saúde é uma inquietação de muitos portugueses. Não estão seguros de que os utentes, principalmente os de recursos mais baixos, ocupem, como deve ser, uma posição central nas reformas que são inevitáveis para assegurar a insustentabilidade financeira dos serviços de saúde”.
Cavaco manifestou-se convicto de que Portugal poderá vencer o desemprego — “atingiu níveis preocupantes” — e aproximar-se “do nível de desenvolvimento médio da União Europeia”, mas assumiu que, para vencer estes e outros desafios, é preciso mudar de atitude: “Será altamente vantajoso o aprofundamento do diálogo entre os agentes políticos e do diálogo entre os poderes públicos e os grupos e parceiros sociais”.
“Perante as dificuldades de crescimento da nossa economia, perante a angústia daqueles que não têm emprego e a subsistência de bolsas de pobreza, devemos concentrar-nos no que é essencial para o nosso futuro comum, e não trazer para o debate aquilo que divide a sociedade portuguesa”, defendeu.
Mais diálogo também no sector da educação, defendeu o Presidente, sublinhando que é necessário “melhorar o clima de confiança entre todos os intervenientes no processo educativo”. Esta é uma das chaves para se “reduzir o atraso de qualificação dos nossos jovens”.
2008 vai ser o ano de uma nova vaga de fundos comunitários. A propósito, Cavaco insistiu na necessidade de uma maior racionalidade e voltou também ao tema corrupção, embora sem o nomear: “Exige-se que estes fundos sejam aplicados com verdadeiro sentido estratégico e geridos com eficiência e transparência. É uma oportunidade que não podemos desperdiçar”.
Poucos elogios
Na mensagem de Ano Novo, os elogios foram escassos. Cavaco realçou “o papel desempenhado pelo Governo” durante a presidência portuguesa da União Europeia e as “importantes reformas” aprovadas no sector da justiça. Esta foi uma das metas principais para 2007 apontadas, há um ano, por Belém.
Mas, apesar do novo pacote legislativo, Cavaco considerou que o funcionamento do sistema de justiça continua a ser “um obstáculo ao progresso económico e social do país”.
http://ultimahora.publico.clix.pt/notic ... idCanal=12
Cavaco Silva tem dúvidas sobre a retoma da economia portuguesa e da sua convergência com os países da União Europeia, embora admita que em 2007 "melhorou o crescimento" do País e se mostre confiante em relação ao futuro.
O Presidente da República, na sua mensagem de Ano Novo, foi assertivo ao avisar que "não são ainda seguros os sinais de que nos encontramos no caminho de uma aproximação sustentada ao nível de desenvolvimento médio dos países mais avançados da Europa". Cavaco Silva assumiu ainda uma preocupação colectiva. "Todos gostaríamos que a evolução da situação económica e social do País tivesse sido mais positiva e que os sinais de recuperação fossem agora mais fortes", sublinhou o Presidente da República
Num discurso, onde foi intercalando palavras de optimismo e outras de preocupação, Cavaco Silva não deixou de reconhecer a "eficácia, rigor e dignidade", predicados que em seu entender foram demonstrados pelo Governo durante o exercício da presidência do conselho da União Europeia. "Portugal saiu prestigiado do exercício da presidência e todos aqueles que nela trabalharam são credores do nosso apreço", afirmou.
Em contrapartida, o Presidente da República salientou que "o desemprego atingiu níveis preocupantes e são muitas as famílias que enfrentam sérias dificuldades para fazer face às suas despesas de todos os dias". Outros problemas apontados por Cavaco Silva foram o funcionamento da justiça e a necessidade desta ser administrada de forma "mais eficiente e mais célere", assim como a educação, onde sublinhou que há "ainda muito a fazer para reduzir o atraso de qualificação dos nossos jovens".
A desigualdade na distribuição do rendimento foi outro tema abordado pelo Presidente da República. "Sem pôr em causa o princípio da valorização do mérito e a necessidade de captar os melhores talentos, interrogo-me sobre se os rendimentos auferidos por altos dirigentes de empresas não serão, muitas vezes, injustificados e desproporcionados, face aos salários médios dos seus trabalhadores".
Deixando esta questão em aberto, Cavaco Silva lançou também um alerta à forma como serão geridos os fundos do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) ao longo de 2008. "Exige-se que estes fundos sejam aplicados com verdadeiro sentido estratégico e geridos com eficiência e transparência. É uma oportunidade que não podemos desperdiçar", lembrou o Presidente, defendendo que "o Estado actue com eficiência e com rigor na utilização dos dinheiros públicos e não seja obstáculo a quem quer empreender e criar e riqueza".
Sobre o seu papel, Cavaco Silva garantiu que tem "procurado incentivar uma nova geração de gente empreendedora" que "não espera favores" do Estado, mas sim apenas que este "não lhe crie dificuldades e seja justo nos impostos".
http://www.negocios.pt/default.asp?Sess ... tId=308457
o Cavaco está a ficar comuna, há que ter cuidado!!!!
Camarada Aníbal dixit:
DIFERENÇAS ABISSAIS
Cavaco Silva colocou ontem na agenda um debate que já marca o quotidiano de outros países europeus e dos EUA: os salários milionários dos gestores. O BCP é o caso mais paradigmático desta situação: em 2006 cada um dos nove administradores recebeu cerca de três milhões de euros. Segundo um estudo da Comissão de Mercado de Valores de Lisboa, entre 2000 e 2005 cada administrador de empresa cotada na Bolsa de Lisboa ganhou mais de 500 mil euros por ano. Em média o salário anual de um trabalhador ascendia a 8680 euros.
in CM