EUA x Irã
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o Bolton não falou mentira alguma, do meu ponto de vista faltou mesmo muito o que BUSH fazer, com relação ao iraque mais tranquilo, penso que não se deve a esforços diplomaticos (o que seria a PROVA de o IRA armar os terroristas) mas sim a um processo que eu já tinha antecipado aqui, CONFORME A MIRA vai se direcionando para o IRA, o esforço será direcionado para o IRA, saindo assim o contingente de combate terrorista do IRAQUE para se preparar no IRA.
Crise no seio do estado maior inter-armas dos Estados Unidos
A Casa Branca sacrificaria a 5ª Frota para justificar a destruição nuclear do Irão?
por Michael Salla
O plano de ataque ao Irão pelos Estados Unidos prevê sacrificar a Quinta Frota a fim de justificar uma réplica nuclear. Não se trata de um cenário hipotético, mas de uma opção discutida no seio do estado maior inter-armas estado-unidense. Segundo nossas informações, o almirante William Fallon fez saber que se uma tal ordem fosse dada, ele recusar-se-ia a segui-la e apresentaria a sua demissão, assim como aquela do conjunto do estado maior do Centcom. Por enquanto é a resistência dos oficiais superiores da Armada e do Exército que impediram os neoconservadores e a Força Aérea de lançar as operações.
A administração Bush oculta e ignora deliberadamente análises táctica iconoclastas (baseadas na teoria dos jogos) provenientes do Pentágono, as quais sugerem que um ataque conta as instalações nucleares ou militares do Irão conduzirá directamente à liquidação da Quinta Fronta da US Navy, atracada actualmente no Golfo Pérsico. O tenente-general Paul Van Riper simulou assim o papel do chefe de um Estado hipotético do Golfo Pérsico, num cenário desenvolvido no quadro do jogo estratégico 2002 Millenium Challenge, e a partida terminou com a destruição total da Quinta Frota [1] . Sua experimentação e suas conclusões acerca da vulnerabilidade desta frota num conflito armado assimétrico e das consequência de uma guerra eventual contra o Irão foram ignoradas. Os neoconservadores da administração Bush estão em vias de fazer uma promoção agressiva de operações armadas contra o Irão, que culminarão no ataque, por este país, da Quinta Frota da U.S. Navy por meio de mísseis de cruzeiro ar-mar refinados. Eles ignoram deliberadamente as experiências desenvolvidas por Van Riper no decorrer da simulação Millenium Challenge, e suas semelhanças perigosamente sugestivas com o actual contencioso nuclear com o Irão.
O Irão dispõe de uma quantidade de mísseis de cruzeiro perfeitamente suficiente para destruir grande parte, senão a totalidade, da Quinta Frota, que se encontra ao alcance dos lançadores de mísseis móveis iranianos – estrategicamente instalados ao longo da sua cadeia montanhosa que domina as costas do Golfo Pérsico. A administração Bush minimisa deliberadamente a vulnerabilidade da Quinta Fronta à tecnologia avançada do Irão em matéria de mísseis, os quais foram comprados à Rússia e à China no fim dos anos 1990. Os mais refinados destes mísseis iranianos são os "Sunburn" (queimadura de sol) e os "Yakhonts". Trata-se de mísseis contra os quais os vasos de guerra estado-unidenses não têm resposta eficaz, advertem todos os peritos militares. Ao provocar deliberadamente represálias iranianas contra uma intervenção armada americana, os neoconservadores preparam-se para sacrificar com pleno conhecimento de causa uma grande parte, senão a totalidade, da Quinta Frota. Isto arrisca-se a resultar num novo Pearl Harbor, o que criaria o ambiente político adequado tendo em vista uma guerra total contra o Irão e acções armadas estendendo-se ao conjunto da região do Golfo Pérsico.
A vulnerabilidade da Quinta Frota ao arsenal dos mísseis ar-mar iranianos
A Quinta Frota da US Navy tem o seu QG no Estado do Bahrein, no golfo. Este QG é responsável pela vigilância por meio de patrulhas do Golfo Pérsico, do Mar da Arábia, do Canal de Suez, assim como de certas partes do Oceano Índico. Actualmente, esta frota inclui uma flotilha de porta-aviões e dois porta-helicópteros. Sua dimensão atingiu um máximo de cinco porta-aviões e de seis porta-helicópteros durante a invasão do Iraque. A esquadra é dirigida pelo USS Enterprise (CVN-65), o primeiro porta-aviões a propulsão nuclear construído em 1961, o qual participou, dia 2 deste mês (Novembro de 2007), num exercício naval no Golfo Pérsico.
A base da Quinta Frota, no Bahrein, está a apenas 150 milhas marítimas [278 km] da costa iraniana, e ela própria estaria ao alcance de uma nova geração de mísseis ar-mar iranianos. Aliás, não importa qual embarcação da Navy, no terreno de operação confinado do Golfo Pérsico, teria dificuldades em manobrar e encontrar-se-ia a pouca distância da costa rochosa e em dentes de serra do Irão, ao longo de todo o Golfo Pérsico e até o Mar da Arábia.
O Irão começou a comprar tecnologia militar à Rússia pouco depois de esta retractar-se, em 2000, do Protocolo Gore- Chernomyrdin, o qual limitava as vendas de equipamento militar da Rússia ao Irão. Na sequência do que a Rússia pôs-se a vender ao Irão tecnologia militar susceptível de ser utilizada em não importa qual conflito com os Estados Unidos, nomeadamente sistemas de defesa anti-aérea e mísseis terra-mar, equipamentos nos quais a Rússia se havia especializado precisamente a fim de contra-balancear a esmagadora superioridade marítima dos Estados Unidos.
O míssil SS-N-22, dito "Sunburn", atinge a velocidade de mach 2,5, ou seja, 1500 milhas/hora [2414 km/h]. Ele utiliza tecnologia furtiva e seu alcance atinge as 130 milhas [209 km]. Transporta uma cabeça explosiva convencional de 750 libras [340 kg], capaz de destruir a maior parte das embarcações de guerra. Mais preocupante ainda é o SSN-X.26 de fabricação russa, dito "Yakhont". É um míssil de cruzeiro com um alcance de 185 milhas [298 km], que torna vulneráveis todas as embarcações da US Navy presentes no Golfo Pérsico. Mais grave: os Yakhonts foram ajustados especificamente para serem utilizados contra porta-aviões, e foram vendidos pela Rússia nos mercados internacionais de armamentos.
Tanto os mísseis Yakhont como os mísseis Sunburn são concebidos para esquivarem-se aos radares de vigilância Aegis, actualmente utilizados nas embarcações da US Navy, graças à sua tecnologia furtiva e às suas manobras de voo em altitude muito baixa, que seguem as asperezas do terreno. Na sua aproximação terminal, estes mísseis adoptam trajectórias esquivas que lhes permitem escapar aos tiros anti-mísseis terra-mar. Tão importante é a ameaça representada pelos Sunburn, pelos Yakhonts e outros mísseis desenvolvidos pela Rússia e por ela vendidos à China, ao Irão e a outros países, que o serviço de testagem de armas do Pentágono tomou a decisão, este ano, de cessar a produção de todos os novos tipos de porta-aviões enquanto uma defesa anti-míssil eficaz não tiver sido preparada.
Os jogos de estratégia Millenium Challenge
O "Millenium Challenge" foi o jogo de guerra mais importante já efectuada até agora. Este exercício implicou 13500 soldados, repartidos em mais de 17 regiões do globo. Os jogos estratégicos implicam uma utilização intensa das simulações informáticas, estendendo-se num período de três semanas, a um custo de 250 milhões de dólares. O Millenium Challenge punha em jogo uma guerra assimétrica entre as forças armadas americanas, sob o comando do general William Kernan, e um país não especificado do Golfo Pérsico. Segundo o general Kernan, estes jogos estratégicos "deviam servir para testar uma série de novos conceitos operacionais recentemente desenvolvidos pelo Pentágono". Tendo recorrido a um conjunto de ataques assimétricos, a estratégias utilizando navios civis maquilhados a fim de lançar ofensivas, aviões para ataques kamikazes, e mísseis de cruzeiro Silkworm, foi a quase totalidade da Quinta Frota que foi ao fundo. As simulações revelaram até que ponto estratégias assimétricas eram susceptíveis de tirar proveito da vulnerabilidade da Quinta Frota face a mísseis de cruzeiro terra-mar, em particular nas águas confinadas do Golfo Pérsico.
Tomando uma decisão eminentemente discutível, o Pentágono escolheu, muito simplesmente, "repor a flutuar" a Quinta Frota a fim de prosseguir o exercício, que conduziu, no fim, à derrota do país fictício escolhido no Golfo Pérsico. O envio para o fundo da Quinta Frota foi um episódio infeliz rapidamente esquecido, e o exercício foi declarado um êxito para os "novos conceitos de conduta da guerra" adoptados pelo general Kernan. Isto levou o tenente-general Paul Van Riper, comandante do mítico Estado do Golfo, a qualificar os resultados oficiais deste exercício de "slogans vazios". No decorrer de uma entrevista televisiva realizada pouco após, o general Riper declarou: "os conceitos que estavam a ser testados pelo comando não se tendo revelado à altura, o comando pôs-se a reescrever o cenário do exercício ao seu modo, a fim de demonstrar a validade dos seus conceitos hipotéticos de partida. É nisto que incide essencialmente a minha queixa".
Mais graves foram as afirmações do general Riper quanto à eficiência da tecnologia de mísseis de cruzeiro reformados, os mísseis Silkworm, que haviam sido utilizados para afundar um porta-aviões e dois porta-helicópteros carregados de Marines, no total das dezasseis embarcações enviadas para o fundo. Quando foi pedido para confirmar as alegações de Riper, o general Kernar respondeu: "Oh, você sabe... não sei. Para ser franco consigo, não tive oportunidade de avaliar o que se passou. Mas é uma possibilidade... Quanto às especificidades deste tipo particular de míssil de cruzeiro... não posso realmente responder a esta pergunta. Deveremos retornar a ela ulteriormente".
Os jogos estratégicos Millenium Challenge demonstraram claramente a vulnerabilidade da 5ª Frota a ataques de mísseis Silkworm. Tratou-se de uma reposição em cena da experiência vivida em 1980 pelos britânicos durante a guerra das Malvinas (Falklands), na qual dois navios de guerra britânicos foram afundados por três mísseis Exocet. Tanto os mísseis de cruzeiro Exocet como os mísseis de cruzeiro Silkworm faziam parte de uma geração obsoleta de tecnologia de mísseis anti-navios, pois foram ultrapassados pelos mísseis Sunburn e Yakhont. Se o Millenium Challenge foi bem parametrizado a fim de corresponder a uma repetição tendo em vista uma guerra assimétrica com o Irão, a quase-totalidade da Quinta Fronta seria destruída. Não é espantoso, portanto, que o Millenium Challenge tenha sido no fim das contas modificado de modo a que este facto aborrecido fosse ocultado. Até o dia de hoje, a opinião pública tem muito pouca consciência da vulnerabilidade da Quinta Frota estacionada no Golfo Pérsico. Parece que a administração Bush preparou para os jogos estratégicos uma saída que promoveria a sua agenda neoconservadora no Médio Oriente.
A estratégia neoconservadora de ataque ao Irão
Os neocons têm em comum uma filosofia política a qual pretende que a dominação dos Estados Unidos sobre o sistema internacional, na sua qualidade de super-potência única, deva prolongar-se no século XXI e até uma data indeterminada. No princípio de 2006, os neocons que trabalhavam na administração Bush começaram a fazer uma promoção vigorosa de uma nova arma de guerra contra o Irão, devido à alegada ameaça que representaria o programa nuclear este país. O Irão repetiu constantemente que o seu desenvolvimento nuclear é perfeitamente legal e que respeita o Tratado da Não Proliferação Nuclear (TNP). Desde 2004, a administração Bush cita dados provenientes dos seus serviços de informação segundo os quais o Irão desenvolveria armas atómicas, e que em hipótese alguma isto lhe seria permitido.
A maior parte do desenvolvimento nuclear do Irão teria sido efectuado em fábricas subterrâneas construídas a uma profundidade de 70 pés [21,3 m] com estruturas de betão armado que as protegem de quaisquer ataques com armas convencionais conhecidas. Isto levou a administração Bush a pretender, no princípio de 2006, que deveria ser utilizadas armas nucleares tácticas a fim de eliminar as instalações nucleares iranianas [2] . Este facto provocou uma controvérsia inflamada entre neoconservadores de primeira categoria, como Dick Cheney e Donald Rumsfeld, e os chefes dos estados maiores conjuntos, que se opuseram categoricamente a esta eventualidade. O jornalista de investigação Seymour Hersh escreveu, em Maio de 2006, acerca desta oposição destes chefes dos estados maiores conjuntos.
Esforços subsequentes dos neoconservadores, visando justificar um ataque militar multinacional, foram seriamente prejudicados por um cepticismo amplamente difuso na opinião pública quanto à ameaça representada pelo programa nuclear iraniano, assim como pelo respeito, por parte do Irão, do Tratado de Não Proliferação, reafirmado por Mohamed El-Baradei, responsável pela Agência Internacional de Energia Atómica. Este cita avaliações mlitares estado-unidenses segundo as quais o Irão não estará em condições de produzir combustível nuclear suficientemente puro que possa ser utilizado em bombas nucleares antes de alguns anos. A administração Bush, frustrada por esta dupla oposição aos seus planos, em simultâneo no próprio interior da sua burocracia, nas suas forças armadas e na comunidade internacional, adoptou uma estratégia em três plataformas a fim de por o Irão "fora do jogo".
A primeira plataforma consiste em suscitar percepções, na opinião pública, de uma crise de segurança internacional, pondo em guarda contra uma Terceira Guerra Mundial, caso não se chegasse a por um fim ao programa nuclear do Irão. Durante uma conferência de imprensa, a 17 de Outubro de 2007, o presidente Bush declarou: "Se está interessado em evitar a Terceira Guerra Mundial, sem dúvida deveria estar interessado em impedi-los [os iranianos] de ter o conhecimento necessário para fabricar uma arma nuclear". A retórica assustadora de Bush foi seguida logo após pela do vice-presidente Cheney, em 23 de Outubro, quando advertiu num discurso que os EUA e seus aliados estavam "preparados para impor sérias consequências" sobre o Irão.
A segunda estratégia consiste num deslizamento, a ênfase sendo posta menos na necessidade de privar o Irão das suas instalações nucleares, e mais sobre o apoio deste país ao terrorismo. Dada a oposição, militar e política, muito ampla contra ataques às instalações nucleares iranianas, a administração Bush desde então apresenta o Irão como um apoiante do terrorismo no Iraque.
Esta mudança na estratégia foi fortemente corroborada por uma passagem da Emenda Kyle-Lieberman, no Senado, a 26 de Setembro de 2008, designou "o corpo dos Guardas da Revolução Iranianos como uma organização terrorista estrangeira". Isto iria permitir à administração Bush autorizar ataques contra as casernas do Guardas da Revolução no interior do território iraniano, com o pretexto de que eles apoiariam os grupos terroristas iraquianos que atacam as forças americanas.
A terceira estratégia – a mais perigosa – a que recorre a administração Bush consiste em acelerar uma missão encoberta que criaria o ambiente político necessário para uma guerra contra o Irão. Isto foi evidenciado aquando do infame incidente do B-52 "Bent Spear", onde foram descobertos cinco mísseis com ogivas nucleares em vias de serem encaminhados para o Médio Oriente, no quadro de um golpe sujo dos serviços secretos [3] . As ogivas nucleares tinham cargas que variavam de 5 a 150 quilotoneladas, e elas idealmente teriam podido servir para destruir as fábricas subterrâneas do Irão, ou a uma operação com falsa bandeira que seria atribuída ao Irão. Contudo, pessoal da US Air Force recusou-se a obedecer a ordens "ilegais" que vinham muito provavelmente da Casa Branca, evitando assim o que poderia ter implicado a explosão de uma ou de várias bomba(s) nuclear(es) na região do Golfo Pérsico.
As consequências de um ataque contra o Irão
Pretendendo intimidar o Irão, a administração Bush manobrou permanentemente duas formações de porta-aviões no Golfo Pérsico. A amplitude e o calendário de eventuais ataques contra as instalações nucleares ou/e militares do Irão determinariam a rapidez e a amplitude de uma retaliação iraniana. A retaliação iraniana previsivelmente terá como consequência uma escalada militar culminando no recurso, pelo Irão, aos seus mísseis de cruzeiro anti-navios contra a Quinta Frota dos Estados Unidos, e o encerramento do Estreito de Ormuz a toda a navegação. A capacidade do Irão de esconder e lançar mísseis de cruzeiro a partir das suas posições nas montanhas, ao longo do Golfo Pérsico, tornará vulneráveis as embarcações da Quinta Frota que ali manobram. Esta ficaria presa na armadilha, e incapaz de partir para mares mais seguros. Os jogos de guerra do Millenium Challenge, em 2002, assistiram aos afundamento da quase totalidade desta frota. Se um ataque contra o Irão devesse acontecer antes do fim deste ano (2007), ele implicaria a destruição do USS Enterprise e a morte dos 5000 homens que servem neste navio. Quanto às perdas ulteriores em termos de cruzadores de apoio e de outras forças navais pertencentes à Quinta Frota no Golfo Pérsico, elas seriam catastróficas. Um ataque por mísseis de cruzeiro iranianos reeditaria as perdas registadas em Pearl Harbor, onde o envio para o fundo de cinco navios, a destruição de 188 aviões e a morte de 2333 soldados americanos implicou muito rapidamente a declaração de uma guerra total contra o Japão pelo Congresso dos Estados Unidos.
A declaração de uma guerra total contra o Irão pelo Congresso dos EUA implicaria uma campanha de bombardeamentos intensos e uma eventual invasão armada, a fim de provocar uma mudança de regime político no Irão. A mobilização seria decretada nos Estados Unidos a fim de obter o pessoal necessário para uma invasão do Irão, e sustentar as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão, que seriam imediatamente submetidas a uma pressão acrescida.
As tensões experimentariam rapidamente uma escalada com as outras grandes potências, como a Rússia e a China, que forneceram ao Irão sistemas de armas refinados susceptíveis de serem utilizados contra os postos avançados militares americanos. O encerramento do Estreito de Ormuz a toda a navegação e o estado de guerra máximo nos Estados Unidos implicaria um afundamento da economia mundial e um aumento da erosão das liberdades civis nos Estados Unidos, empenhados desde então numa guerra total.
Conclusões
O cenário que acabámos de descrever é altamente plausível, dadas as capacidades militares do Irão em matéria de mísseis de cruzeiro anti-navios, e da vulnerabilidade da US Navy face a estes mísseis, no caso de ela passar à acção no Golfo Pérsico. A administração Bush escondeu à opinião pública estado-unidense a gravidade da vulnerabilidade de Quinta Fronta, bem como a maneira como ela se arrisca a ficar presa na armadilha e ser destruída, no caso de um conflito de grande amplitude com o Irão. Isto ficou particularmente bem evidenciado pela decisão controversa de minimizar os resultados reais dos jogos estratégicos de simulação Milleniu Wargames, e pelas opiniões contrárias expressas pelo tenente-general Van Riper acerca das lições a retirar. Tais opiniões culminaram na assinatura, pelo general Van Riper, de uma petição de generais americanos na reforma apelando à demissão de Donald Rumsfeld.
Os neoconservadores da administração Bush têm perfeita consciência da vulnerabilidade da Quinta Frota e contudo, em várias ocasiões, tentaram afectar até três flotilhas de porta-aviões no Golfo Pérsico, que não faria senão aumentar as perdas estado-unidenses em caso de guerra contra o Irão, seja qual for o tipo. Contudo, a administração Bush continuou a avançar nos seus projectos de ataque nuclear, convencional ou/e subreptício, contra o Irão, que não faria senão precipitar o cenário espantoso acima descrito.
Uma conclusão razoável a tirar disto é que os neoconservadores da administração Bush estão prontos a sacrificar o grosso – até mesmo a totalidade – da Quinta Frota dos EUA ao provocar militarmente o Irão a puxar do seu arsenal de mísseis anti-navios, a fim de justificar uma "guerra total" contra o Irão, e impor uma mudança de regime a este país. Pode-se evitar este novo Pearl Harbor exigindo responsabilidades aos oficiais da administração Bush prontos a sacrificar a Quinta Frota no altar da sua agenda neoconservadora.
Notas
[1] "La grande simulation de la guerre en Irak. Apocalypse Tomorrow ", Réseau Voltaire, 26 septembre 2002.
[2] "L'Iran doit se tenir prêt à contrer une attaque nucléaire", par Général Leonid Ivashov, Réseau Voltaire, 16 février 2007.
[3] "L'affaire du B52 de la base de Minot. La mise en place de bombes nucléaires états-uniennes contre l'Iran?", par Larry Johnson, Horizons et débats, 17 septembre 2007.
[*] Investigador em política internacional, resolução de conflitos, política externa dos EUA e no novo campo da "exopolítica". É autor/editor de cinco livros e possui postos académicos na School of International Service, no Center for Global Peace, American University, Washington DC (1996-2004); no Department of Political Science, Australian National University, Canberra, Australia (1994-96); e na Elliott School of International Affairs, George Washington University, Washington D.C., (2002). Tem um Ph.D em Governo da Universidade de Queensland, Australia, e um M.A. em Filosofia da Universidade de Melbourne, Australia. Efectuou investigação e trabalho de campo em conflitos étnicos em Timor Leste, Kosovo, Macedonia, e Sri Lanka, e organizou iniciativas de paz envolvendo participantes nestes conflitos.
A versão em francês encontra-se em http://www.voltairenet.org/article153012.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
O pior é que a Frota Americana é alvo fácil pro Iranianos, uma ataque surpresa e metade afunda. Por isso que o primeiro ataque tem de ser dos americanos, pra neutralizar os mísseis de cruzeiro, depois a Marinha, depois a Força Aérea, e após isso a infraestrutura petrolífera.
O pior dos infernos é reservado àqueles que, em tempos de crise moral, escolheram por permanecerem neutros. Escolha o seu lado.
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ja foi postado aqui .. mas eu acho que este texto é pertinente ao assunto !!
Situação iraniana prestes a piorar
por Jeffrey Nyquist em 13 de novembro de 2007
© 2007 MidiaSemMascara.org
Os Estados Unidos irão bombardear o Irã para evitar que os iranianos venham a ter armas nucleares? A fraqueza da atual administração e a impopularidade, na Europa e no Oriente Médio, de um ataque preventivo americano, estão entre os fatores que pesam contra um evento dessa natureza. Aqueles que mais alto gritaram contra o imperialismo americano e a maldade da atual administração, não obstante, são os que têm feito circular rumores e cenários nos quais um ataque americano parece iminente. Os rumores que ouvimos em outubro de 2006, repetem-se, apenas com novos detalhes: ex-agentes da CIA murmuram incoerentemente acerca de planos de ataque enquanto jornalistas franceses têm as informações ultra confidenciais e Dick Cheney agora desempenha o papel de Príncipe das Trevas. O velho e surrado script, agora já manchado de café, mas com novos diálogos, é empurrado adiante mais uma vez. Mas um ataque americano ao Irã irá mesmo finalmente materializar-se?
Os EUA estão claramente fazendo preparativos de guerra contra o Irã. Mas isto significa que a administração Bush irá atacar? Não necessariamente. Construir uma ameaça crível é uma boa estratégia de negociação. Infelizmente, as negociações falharam. Os iranianos não arredaram o pé e o analista arguto, tomando o pulso islâmico, pode dizer, sem medo de contradição, que o Irã não está desistindo de seu programa nuclear. Eles estão determinados a fabricar armas nucleares. Eles estão determinados a se transformar numa ameaça nuclear. A Europa e os Estados Unidos não podem convencê-los a desistir na base da conversa.
Acrescente a isso o fato que de George Bush tornou-se um presidente muito fraco, um líder bastante impopular, e sua reputação ao redor do mundo é pior do que nos EUA. Apesar de as pessoas em muitos países ainda admirarem os Estados Unidos ou de gostarem dos americanos, é fácil ouvi-las dizer o quanto odeiam o presidente Bush. No Oriente Médio, a aventura iraquiana irritou aliados importantes, tais como a Turquia e a Arábia Saudita. Aliados europeus também expressaram sua contrariedade. A invasão ao Iraque trouxe problemas novos a uma região já inundada de problemas. Acrescentar ainda mais uma palha às costas do camelo sobrecarregado, i.e., uma guerra com o Irã, só ampliaria a desordem. Por enquanto, parece que não está bem entendido que tal ampliação poderia estourar os limites locais e iniciais e se alastrar pela Ásia toda. Isto tem a ver com as estratégias mais sinistras da China e da Rússia.
Dada a fraqueza da presidência de Bush e os muitos fatores que refreiam a sua administração quanto a um ataque ao Irã, os israelenses[*] podem tomar o porrete e lançar eles mesmos um ataque preventivo contra o Irã. Militarmente menos capazes de fazer um serviço completo, os israelenses podem, não obstante, causar danos muito sérios à infra-estrutura nuclear iraniana. Este é o cenário mais provável à medida que o tempo avança e as negociações provam-se inúteis. Diante disso, a melhor estratégia iraniana seria a de lançar ataques imediatos contra navios americanos e contra as forças terrestres americanas no Iraque. Ao retaliar contra alvos americanos, os iranianos atrairiam os EUA e Israel para uma posição conjunta, lado a lado, numa série de confrontos militares conectados. Os israelenses e americanos seriam então vistos operando em conjunto, numa nefanda conspiração contra a Nação Islâmica. Isto poderia ter um efeito poderoso e eletrizante sobre toda a região.
Se o sentimento antiamericano for inflamado dessa forma, se a imaginação islâmica for suficientemente agitada pela mistura de Israel com forças americanas lutando contra o mesmo país islâmico, estados chave tais como o Egito e Arábia Saudita não mais seriam aliados confiáveis. Ainda outra desestabilização da região pode ser esperada. Os iranianos podem também tentar fechar o Estreito de Ormuz, através do qual fluem 40% do petróleo que o Ocidente consome. Nas palavras do líder supremo do Irã, Seyyed Ali Khamenei: “Se os americanos fizerem um movimento errado na direção do Irã, o suprimento de petróleo certamente enfrentaria perigo, e os americanos não seriam capazes de proteger a oferta de energia na região”.
Mesmo com todos os rumores de uma guerra contra o Irã, a questão pode não chegar a nenhum plano específico dos Estados Unidos em lançar um ataque preventivo. Uma guerra pode estourar sem nenhuma ação americana. Os iranianos poderiam iniciar uma ação por sua própria conta. Os israelenses podem lançar um ataque tal como ameaçaram fazê-lo no passado. De qualquer modo, as conseqüências seriam essencialmente as mesmas para os EUA. Uma guerra mais ampla começaria e as forças americanas permaneceriam fixadas no Oriente Médio.
Como esse resultado poderia ser evitado?
Um conflito entre dois modos de vida diferentes, entre duas civilizações, pode ser inevitável se aceitarmos a noção de que o Irã representa a civilização islâmica e os Estados Unidos representam a civilização ocidental. Os iranianos propugnam que a sua civilização merece as vantagens da posse de armamentos nucleares. Por que o Ocidente deveria ter poder de veto sobre os armamentos iranianos? Os americanos, britânicos, franceses e israelenses temem um Irã com armas nucleares porque temem a natureza radical do pensamento religioso islâmico. É evidente ao primeiro olhar que nenhum lado pode admitir a razão do outro. Os iranianos não podem admitir que a sua religião torne-os inadequados para possuir armas nucleares. Ao mesmo tempo, o Ocidente (e especialmente Israel) teme um Irã armado nuclearmente.
Seria o Ocidente arrogante quando busca evitar que a tecnologia bélica nuclear seja conquistada pelo Irã? No fim das contas o que importa é o fato do conflito iminente. Nesta questão, mesmo que os americanos estejam paralisados e incapazes de atacar o Irã, os israelenses olham para os passado e lembram-se de Hitler e do Holocausto e não vêem outra escolha. Eles precisam lançar um ataque às instalações nucleares do Irã. A lógica do lado israelense deveria ser óbvia a todos. Portanto, uma séria crise militar e econômica deve se seguir.
Não deveríamos esperar uma solução pacífica.
[*] Sobre essa possibilidade, ver os artigos publicados pelo MSM: Jatos Israelenses versus Armas Nucleares Iranianas e Os preparativos e a estratégia de guerra no Oriente Médio
© 2007 Jeffrey R. Nyquist
Publicado por Financialsense.com
http://www.midiasemmascara.org/artigo.p ... anguage=pt
Situação iraniana prestes a piorar
por Jeffrey Nyquist em 13 de novembro de 2007
© 2007 MidiaSemMascara.org
Os Estados Unidos irão bombardear o Irã para evitar que os iranianos venham a ter armas nucleares? A fraqueza da atual administração e a impopularidade, na Europa e no Oriente Médio, de um ataque preventivo americano, estão entre os fatores que pesam contra um evento dessa natureza. Aqueles que mais alto gritaram contra o imperialismo americano e a maldade da atual administração, não obstante, são os que têm feito circular rumores e cenários nos quais um ataque americano parece iminente. Os rumores que ouvimos em outubro de 2006, repetem-se, apenas com novos detalhes: ex-agentes da CIA murmuram incoerentemente acerca de planos de ataque enquanto jornalistas franceses têm as informações ultra confidenciais e Dick Cheney agora desempenha o papel de Príncipe das Trevas. O velho e surrado script, agora já manchado de café, mas com novos diálogos, é empurrado adiante mais uma vez. Mas um ataque americano ao Irã irá mesmo finalmente materializar-se?
Os EUA estão claramente fazendo preparativos de guerra contra o Irã. Mas isto significa que a administração Bush irá atacar? Não necessariamente. Construir uma ameaça crível é uma boa estratégia de negociação. Infelizmente, as negociações falharam. Os iranianos não arredaram o pé e o analista arguto, tomando o pulso islâmico, pode dizer, sem medo de contradição, que o Irã não está desistindo de seu programa nuclear. Eles estão determinados a fabricar armas nucleares. Eles estão determinados a se transformar numa ameaça nuclear. A Europa e os Estados Unidos não podem convencê-los a desistir na base da conversa.
Acrescente a isso o fato que de George Bush tornou-se um presidente muito fraco, um líder bastante impopular, e sua reputação ao redor do mundo é pior do que nos EUA. Apesar de as pessoas em muitos países ainda admirarem os Estados Unidos ou de gostarem dos americanos, é fácil ouvi-las dizer o quanto odeiam o presidente Bush. No Oriente Médio, a aventura iraquiana irritou aliados importantes, tais como a Turquia e a Arábia Saudita. Aliados europeus também expressaram sua contrariedade. A invasão ao Iraque trouxe problemas novos a uma região já inundada de problemas. Acrescentar ainda mais uma palha às costas do camelo sobrecarregado, i.e., uma guerra com o Irã, só ampliaria a desordem. Por enquanto, parece que não está bem entendido que tal ampliação poderia estourar os limites locais e iniciais e se alastrar pela Ásia toda. Isto tem a ver com as estratégias mais sinistras da China e da Rússia.
Dada a fraqueza da presidência de Bush e os muitos fatores que refreiam a sua administração quanto a um ataque ao Irã, os israelenses[*] podem tomar o porrete e lançar eles mesmos um ataque preventivo contra o Irã. Militarmente menos capazes de fazer um serviço completo, os israelenses podem, não obstante, causar danos muito sérios à infra-estrutura nuclear iraniana. Este é o cenário mais provável à medida que o tempo avança e as negociações provam-se inúteis. Diante disso, a melhor estratégia iraniana seria a de lançar ataques imediatos contra navios americanos e contra as forças terrestres americanas no Iraque. Ao retaliar contra alvos americanos, os iranianos atrairiam os EUA e Israel para uma posição conjunta, lado a lado, numa série de confrontos militares conectados. Os israelenses e americanos seriam então vistos operando em conjunto, numa nefanda conspiração contra a Nação Islâmica. Isto poderia ter um efeito poderoso e eletrizante sobre toda a região.
Se o sentimento antiamericano for inflamado dessa forma, se a imaginação islâmica for suficientemente agitada pela mistura de Israel com forças americanas lutando contra o mesmo país islâmico, estados chave tais como o Egito e Arábia Saudita não mais seriam aliados confiáveis. Ainda outra desestabilização da região pode ser esperada. Os iranianos podem também tentar fechar o Estreito de Ormuz, através do qual fluem 40% do petróleo que o Ocidente consome. Nas palavras do líder supremo do Irã, Seyyed Ali Khamenei: “Se os americanos fizerem um movimento errado na direção do Irã, o suprimento de petróleo certamente enfrentaria perigo, e os americanos não seriam capazes de proteger a oferta de energia na região”.
Mesmo com todos os rumores de uma guerra contra o Irã, a questão pode não chegar a nenhum plano específico dos Estados Unidos em lançar um ataque preventivo. Uma guerra pode estourar sem nenhuma ação americana. Os iranianos poderiam iniciar uma ação por sua própria conta. Os israelenses podem lançar um ataque tal como ameaçaram fazê-lo no passado. De qualquer modo, as conseqüências seriam essencialmente as mesmas para os EUA. Uma guerra mais ampla começaria e as forças americanas permaneceriam fixadas no Oriente Médio.
Como esse resultado poderia ser evitado?
Um conflito entre dois modos de vida diferentes, entre duas civilizações, pode ser inevitável se aceitarmos a noção de que o Irã representa a civilização islâmica e os Estados Unidos representam a civilização ocidental. Os iranianos propugnam que a sua civilização merece as vantagens da posse de armamentos nucleares. Por que o Ocidente deveria ter poder de veto sobre os armamentos iranianos? Os americanos, britânicos, franceses e israelenses temem um Irã com armas nucleares porque temem a natureza radical do pensamento religioso islâmico. É evidente ao primeiro olhar que nenhum lado pode admitir a razão do outro. Os iranianos não podem admitir que a sua religião torne-os inadequados para possuir armas nucleares. Ao mesmo tempo, o Ocidente (e especialmente Israel) teme um Irã armado nuclearmente.
Seria o Ocidente arrogante quando busca evitar que a tecnologia bélica nuclear seja conquistada pelo Irã? No fim das contas o que importa é o fato do conflito iminente. Nesta questão, mesmo que os americanos estejam paralisados e incapazes de atacar o Irã, os israelenses olham para os passado e lembram-se de Hitler e do Holocausto e não vêem outra escolha. Eles precisam lançar um ataque às instalações nucleares do Irã. A lógica do lado israelense deveria ser óbvia a todos. Portanto, uma séria crise militar e econômica deve se seguir.
Não deveríamos esperar uma solução pacífica.
[*] Sobre essa possibilidade, ver os artigos publicados pelo MSM: Jatos Israelenses versus Armas Nucleares Iranianas e Os preparativos e a estratégia de guerra no Oriente Médio
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http://www.midiasemmascara.org/artigo.p ... anguage=pt
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rodrigo escreveu:O Irã pode fazer alguém morrer, de rir.Nossa, quer dizer que o IRÃ vai por a PIQUE A 5.ª FROTA.
Isso me faz lembrar do tal livro de KENEDY (não sei qual) em que ele dizia que NA DÉCADA DE 90 a URSS seria a POTÊNCIA ECONOMICA DO MUNDO, e 3 anos depois NÃO EXISTIA MAIS URSS, assim como me lembro dos ALARMES de que o IRAQUE iria causar a verdadeira derrocada total das forças americanas, ACABOU SENDO A MAIOR VITORIA MILITAR DA HISTORIA.
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Eu nunca me esqueço das estórias que diziam que quando os americanos chegassem à Bagdá, até as baratas iriam lutar contra os invasores. O que se viu foram os iraquianos se vendendo por um prato de comida, fria...Isso me faz lembrar do tal livro de KENEDY (não sei qual) em que ele dizia que NA DÉCADA DE 90 a URSS seria a POTÊNCIA ECONOMICA DO MUNDO, e 3 anos depois NÃO EXISTIA MAIS URSS, assim como me lembro dos ALARMES de que o IRAQUE iria causar a verdadeira derrocada total das forças americanas, ACABOU SENDO A MAIOR VITORIA MILITAR DA HISTORIA.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
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ademir escreveu:Crise no seio do estado maior inter-armas dos Estados Unidos
A Casa Branca sacrificaria a 5ª Frota para justificar a destruição nuclear do Irão?
por Michael Salla
O plano de ataque ao Irão pelos Estados Unidos prevê sacrificar a Quinta Frota a fim de justificar uma réplica nuclear. Não se trata de um cenário hipotético, mas de uma opção discutida no seio do estado maior inter-armas estado-unidense. Segundo nossas informações, o almirante William Fallon fez saber que se uma tal ordem fosse dada, ele recusar-se-ia a segui-la e apresentaria a sua demissão, assim como aquela do conjunto do estado maior do Centcom. Por enquanto é a resistência dos oficiais superiores da Armada e do Exército que impediram os neoconservadores e a Força Aérea de lançar as operações.
A administração Bush oculta e ignora deliberadamente análises táctica iconoclastas (baseadas na teoria dos jogos) provenientes do Pentágono, as quais sugerem que um ataque conta as instalações nucleares ou militares do Irão conduzirá directamente à liquidação da Quinta Fronta da US Navy, atracada actualmente no Golfo Pérsico. O tenente-general Paul Van Riper simulou assim o papel do chefe de um Estado hipotético do Golfo Pérsico, num cenário desenvolvido no quadro do jogo estratégico 2002 Millenium Challenge, e a partida terminou com a destruição total da Quinta Frota [1] . Sua experimentação e suas conclusões acerca da vulnerabilidade desta frota num conflito armado assimétrico e das consequência de uma guerra eventual contra o Irão foram ignoradas. Os neoconservadores da administração Bush estão em vias de fazer uma promoção agressiva de operações armadas contra o Irão, que culminarão no ataque, por este país, da Quinta Frota da U.S. Navy por meio de mísseis de cruzeiro ar-mar refinados. Eles ignoram deliberadamente as experiências desenvolvidas por Van Riper no decorrer da simulação Millenium Challenge, e suas semelhanças perigosamente sugestivas com o actual contencioso nuclear com o Irão.
O Irão dispõe de uma quantidade de mísseis de cruzeiro perfeitamente suficiente para destruir grande parte, senão a totalidade, da Quinta Frota, que se encontra ao alcance dos lançadores de mísseis móveis iranianos – estrategicamente instalados ao longo da sua cadeia montanhosa que domina as costas do Golfo Pérsico. A administração Bush minimisa deliberadamente a vulnerabilidade da Quinta Fronta à tecnologia avançada do Irão em matéria de mísseis, os quais foram comprados à Rússia e à China no fim dos anos 1990. Os mais refinados destes mísseis iranianos são os "Sunburn" (queimadura de sol) e os "Yakhonts". Trata-se de mísseis contra os quais os vasos de guerra estado-unidenses não têm resposta eficaz, advertem todos os peritos militares. Ao provocar deliberadamente represálias iranianas contra uma intervenção armada americana, os neoconservadores preparam-se para sacrificar com pleno conhecimento de causa uma grande parte, senão a totalidade, da Quinta Frota. Isto arrisca-se a resultar num novo Pearl Harbor, o que criaria o ambiente político adequado tendo em vista uma guerra total contra o Irão e acções armadas estendendo-se ao conjunto da região do Golfo Pérsico.
A vulnerabilidade da Quinta Frota ao arsenal dos mísseis ar-mar iranianos
A Quinta Frota da US Navy tem o seu QG no Estado do Bahrein, no golfo. Este QG é responsável pela vigilância por meio de patrulhas do Golfo Pérsico, do Mar da Arábia, do Canal de Suez, assim como de certas partes do Oceano Índico. Actualmente, esta frota inclui uma flotilha de porta-aviões e dois porta-helicópteros. Sua dimensão atingiu um máximo de cinco porta-aviões e de seis porta-helicópteros durante a invasão do Iraque. A esquadra é dirigida pelo USS Enterprise (CVN-65), o primeiro porta-aviões a propulsão nuclear construído em 1961, o qual participou, dia 2 deste mês (Novembro de 2007), num exercício naval no Golfo Pérsico.
A base da Quinta Frota, no Bahrein, está a apenas 150 milhas marítimas [278 km] da costa iraniana, e ela própria estaria ao alcance de uma nova geração de mísseis ar-mar iranianos. Aliás, não importa qual embarcação da Navy, no terreno de operação confinado do Golfo Pérsico, teria dificuldades em manobrar e encontrar-se-ia a pouca distância da costa rochosa e em dentes de serra do Irão, ao longo de todo o Golfo Pérsico e até o Mar da Arábia.
O Irão começou a comprar tecnologia militar à Rússia pouco depois de esta retractar-se, em 2000, do Protocolo Gore- Chernomyrdin, o qual limitava as vendas de equipamento militar da Rússia ao Irão. Na sequência do que a Rússia pôs-se a vender ao Irão tecnologia militar susceptível de ser utilizada em não importa qual conflito com os Estados Unidos, nomeadamente sistemas de defesa anti-aérea e mísseis terra-mar, equipamentos nos quais a Rússia se havia especializado precisamente a fim de contra-balancear a esmagadora superioridade marítima dos Estados Unidos.
O míssil SS-N-22, dito "Sunburn", atinge a velocidade de mach 2,5, ou seja, 1500 milhas/hora [2414 km/h]. Ele utiliza tecnologia furtiva e seu alcance atinge as 130 milhas [209 km]. Transporta uma cabeça explosiva convencional de 750 libras [340 kg], capaz de destruir a maior parte das embarcações de guerra. Mais preocupante ainda é o SSN-X.26 de fabricação russa, dito "Yakhont". É um míssil de cruzeiro com um alcance de 185 milhas [298 km], que torna vulneráveis todas as embarcações da US Navy presentes no Golfo Pérsico. Mais grave: os Yakhonts foram ajustados especificamente para serem utilizados contra porta-aviões, e foram vendidos pela Rússia nos mercados internacionais de armamentos.
Tanto os mísseis Yakhont como os mísseis Sunburn são concebidos para esquivarem-se aos radares de vigilância Aegis, actualmente utilizados nas embarcações da US Navy, graças à sua tecnologia furtiva e às suas manobras de voo em altitude muito baixa, que seguem as asperezas do terreno. Na sua aproximação terminal, estes mísseis adoptam trajectórias esquivas que lhes permitem escapar aos tiros anti-mísseis terra-mar. Tão importante é a ameaça representada pelos Sunburn, pelos Yakhonts e outros mísseis desenvolvidos pela Rússia e por ela vendidos à China, ao Irão e a outros países, que o serviço de testagem de armas do Pentágono tomou a decisão, este ano, de cessar a produção de todos os novos tipos de porta-aviões enquanto uma defesa anti-míssil eficaz não tiver sido preparada.
Os jogos de estratégia Millenium Challenge
O "Millenium Challenge" foi o jogo de guerra mais importante já efectuada até agora. Este exercício implicou 13500 soldados, repartidos em mais de 17 regiões do globo. Os jogos estratégicos implicam uma utilização intensa das simulações informáticas, estendendo-se num período de três semanas, a um custo de 250 milhões de dólares. O Millenium Challenge punha em jogo uma guerra assimétrica entre as forças armadas americanas, sob o comando do general William Kernan, e um país não especificado do Golfo Pérsico. Segundo o general Kernan, estes jogos estratégicos "deviam servir para testar uma série de novos conceitos operacionais recentemente desenvolvidos pelo Pentágono". Tendo recorrido a um conjunto de ataques assimétricos, a estratégias utilizando navios civis maquilhados a fim de lançar ofensivas, aviões para ataques kamikazes, e mísseis de cruzeiro Silkworm, foi a quase totalidade da Quinta Frota que foi ao fundo. As simulações revelaram até que ponto estratégias assimétricas eram susceptíveis de tirar proveito da vulnerabilidade da Quinta Frota face a mísseis de cruzeiro terra-mar, em particular nas águas confinadas do Golfo Pérsico.
Tomando uma decisão eminentemente discutível, o Pentágono escolheu, muito simplesmente, "repor a flutuar" a Quinta Frota a fim de prosseguir o exercício, que conduziu, no fim, à derrota do país fictício escolhido no Golfo Pérsico. O envio para o fundo da Quinta Frota foi um episódio infeliz rapidamente esquecido, e o exercício foi declarado um êxito para os "novos conceitos de conduta da guerra" adoptados pelo general Kernan. Isto levou o tenente-general Paul Van Riper, comandante do mítico Estado do Golfo, a qualificar os resultados oficiais deste exercício de "slogans vazios". No decorrer de uma entrevista televisiva realizada pouco após, o general Riper declarou: "os conceitos que estavam a ser testados pelo comando não se tendo revelado à altura, o comando pôs-se a reescrever o cenário do exercício ao seu modo, a fim de demonstrar a validade dos seus conceitos hipotéticos de partida. É nisto que incide essencialmente a minha queixa".
Mais graves foram as afirmações do general Riper quanto à eficiência da tecnologia de mísseis de cruzeiro reformados, os mísseis Silkworm, que haviam sido utilizados para afundar um porta-aviões e dois porta-helicópteros carregados de Marines, no total das dezasseis embarcações enviadas para o fundo. Quando foi pedido para confirmar as alegações de Riper, o general Kernar respondeu: "Oh, você sabe... não sei. Para ser franco consigo, não tive oportunidade de avaliar o que se passou. Mas é uma possibilidade... Quanto às especificidades deste tipo particular de míssil de cruzeiro... não posso realmente responder a esta pergunta. Deveremos retornar a ela ulteriormente".
Os jogos estratégicos Millenium Challenge demonstraram claramente a vulnerabilidade da 5ª Frota a ataques de mísseis Silkworm. Tratou-se de uma reposição em cena da experiência vivida em 1980 pelos britânicos durante a guerra das Malvinas (Falklands), na qual dois navios de guerra britânicos foram afundados por três mísseis Exocet. Tanto os mísseis de cruzeiro Exocet como os mísseis de cruzeiro Silkworm faziam parte de uma geração obsoleta de tecnologia de mísseis anti-navios, pois foram ultrapassados pelos mísseis Sunburn e Yakhont. Se o Millenium Challenge foi bem parametrizado a fim de corresponder a uma repetição tendo em vista uma guerra assimétrica com o Irão, a quase-totalidade da Quinta Fronta seria destruída. Não é espantoso, portanto, que o Millenium Challenge tenha sido no fim das contas modificado de modo a que este facto aborrecido fosse ocultado. Até o dia de hoje, a opinião pública tem muito pouca consciência da vulnerabilidade da Quinta Frota estacionada no Golfo Pérsico. Parece que a administração Bush preparou para os jogos estratégicos uma saída que promoveria a sua agenda neoconservadora no Médio Oriente.
A estratégia neoconservadora de ataque ao Irão
Os neocons têm em comum uma filosofia política a qual pretende que a dominação dos Estados Unidos sobre o sistema internacional, na sua qualidade de super-potência única, deva prolongar-se no século XXI e até uma data indeterminada. No princípio de 2006, os neocons que trabalhavam na administração Bush começaram a fazer uma promoção vigorosa de uma nova arma de guerra contra o Irão, devido à alegada ameaça que representaria o programa nuclear este país. O Irão repetiu constantemente que o seu desenvolvimento nuclear é perfeitamente legal e que respeita o Tratado da Não Proliferação Nuclear (TNP). Desde 2004, a administração Bush cita dados provenientes dos seus serviços de informação segundo os quais o Irão desenvolveria armas atómicas, e que em hipótese alguma isto lhe seria permitido.
A maior parte do desenvolvimento nuclear do Irão teria sido efectuado em fábricas subterrâneas construídas a uma profundidade de 70 pés [21,3 m] com estruturas de betão armado que as protegem de quaisquer ataques com armas convencionais conhecidas. Isto levou a administração Bush a pretender, no princípio de 2006, que deveria ser utilizadas armas nucleares tácticas a fim de eliminar as instalações nucleares iranianas [2] . Este facto provocou uma controvérsia inflamada entre neoconservadores de primeira categoria, como Dick Cheney e Donald Rumsfeld, e os chefes dos estados maiores conjuntos, que se opuseram categoricamente a esta eventualidade. O jornalista de investigação Seymour Hersh escreveu, em Maio de 2006, acerca desta oposição destes chefes dos estados maiores conjuntos.
Esforços subsequentes dos neoconservadores, visando justificar um ataque militar multinacional, foram seriamente prejudicados por um cepticismo amplamente difuso na opinião pública quanto à ameaça representada pelo programa nuclear iraniano, assim como pelo respeito, por parte do Irão, do Tratado de Não Proliferação, reafirmado por Mohamed El-Baradei, responsável pela Agência Internacional de Energia Atómica. Este cita avaliações mlitares estado-unidenses segundo as quais o Irão não estará em condições de produzir combustível nuclear suficientemente puro que possa ser utilizado em bombas nucleares antes de alguns anos. A administração Bush, frustrada por esta dupla oposição aos seus planos, em simultâneo no próprio interior da sua burocracia, nas suas forças armadas e na comunidade internacional, adoptou uma estratégia em três plataformas a fim de por o Irão "fora do jogo".
A primeira plataforma consiste em suscitar percepções, na opinião pública, de uma crise de segurança internacional, pondo em guarda contra uma Terceira Guerra Mundial, caso não se chegasse a por um fim ao programa nuclear do Irão. Durante uma conferência de imprensa, a 17 de Outubro de 2007, o presidente Bush declarou: "Se está interessado em evitar a Terceira Guerra Mundial, sem dúvida deveria estar interessado em impedi-los [os iranianos] de ter o conhecimento necessário para fabricar uma arma nuclear". A retórica assustadora de Bush foi seguida logo após pela do vice-presidente Cheney, em 23 de Outubro, quando advertiu num discurso que os EUA e seus aliados estavam "preparados para impor sérias consequências" sobre o Irão.
A segunda estratégia consiste num deslizamento, a ênfase sendo posta menos na necessidade de privar o Irão das suas instalações nucleares, e mais sobre o apoio deste país ao terrorismo. Dada a oposição, militar e política, muito ampla contra ataques às instalações nucleares iranianas, a administração Bush desde então apresenta o Irão como um apoiante do terrorismo no Iraque.
Esta mudança na estratégia foi fortemente corroborada por uma passagem da Emenda Kyle-Lieberman, no Senado, a 26 de Setembro de 2008, designou "o corpo dos Guardas da Revolução Iranianos como uma organização terrorista estrangeira". Isto iria permitir à administração Bush autorizar ataques contra as casernas do Guardas da Revolução no interior do território iraniano, com o pretexto de que eles apoiariam os grupos terroristas iraquianos que atacam as forças americanas.
A terceira estratégia – a mais perigosa – a que recorre a administração Bush consiste em acelerar uma missão encoberta que criaria o ambiente político necessário para uma guerra contra o Irão. Isto foi evidenciado aquando do infame incidente do B-52 "Bent Spear", onde foram descobertos cinco mísseis com ogivas nucleares em vias de serem encaminhados para o Médio Oriente, no quadro de um golpe sujo dos serviços secretos [3] . As ogivas nucleares tinham cargas que variavam de 5 a 150 quilotoneladas, e elas idealmente teriam podido servir para destruir as fábricas subterrâneas do Irão, ou a uma operação com falsa bandeira que seria atribuída ao Irão. Contudo, pessoal da US Air Force recusou-se a obedecer a ordens "ilegais" que vinham muito provavelmente da Casa Branca, evitando assim o que poderia ter implicado a explosão de uma ou de várias bomba(s) nuclear(es) na região do Golfo Pérsico.
As consequências de um ataque contra o Irão
Pretendendo intimidar o Irão, a administração Bush manobrou permanentemente duas formações de porta-aviões no Golfo Pérsico. A amplitude e o calendário de eventuais ataques contra as instalações nucleares ou/e militares do Irão determinariam a rapidez e a amplitude de uma retaliação iraniana. A retaliação iraniana previsivelmente terá como consequência uma escalada militar culminando no recurso, pelo Irão, aos seus mísseis de cruzeiro anti-navios contra a Quinta Frota dos Estados Unidos, e o encerramento do Estreito de Ormuz a toda a navegação. A capacidade do Irão de esconder e lançar mísseis de cruzeiro a partir das suas posições nas montanhas, ao longo do Golfo Pérsico, tornará vulneráveis as embarcações da Quinta Frota que ali manobram. Esta ficaria presa na armadilha, e incapaz de partir para mares mais seguros. Os jogos de guerra do Millenium Challenge, em 2002, assistiram aos afundamento da quase totalidade desta frota. Se um ataque contra o Irão devesse acontecer antes do fim deste ano (2007), ele implicaria a destruição do USS Enterprise e a morte dos 5000 homens que servem neste navio. Quanto às perdas ulteriores em termos de cruzadores de apoio e de outras forças navais pertencentes à Quinta Frota no Golfo Pérsico, elas seriam catastróficas. Um ataque por mísseis de cruzeiro iranianos reeditaria as perdas registadas em Pearl Harbor, onde o envio para o fundo de cinco navios, a destruição de 188 aviões e a morte de 2333 soldados americanos implicou muito rapidamente a declaração de uma guerra total contra o Japão pelo Congresso dos Estados Unidos.
A declaração de uma guerra total contra o Irão pelo Congresso dos EUA implicaria uma campanha de bombardeamentos intensos e uma eventual invasão armada, a fim de provocar uma mudança de regime político no Irão. A mobilização seria decretada nos Estados Unidos a fim de obter o pessoal necessário para uma invasão do Irão, e sustentar as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão, que seriam imediatamente submetidas a uma pressão acrescida.
As tensões experimentariam rapidamente uma escalada com as outras grandes potências, como a Rússia e a China, que forneceram ao Irão sistemas de armas refinados susceptíveis de serem utilizados contra os postos avançados militares americanos. O encerramento do Estreito de Ormuz a toda a navegação e o estado de guerra máximo nos Estados Unidos implicaria um afundamento da economia mundial e um aumento da erosão das liberdades civis nos Estados Unidos, empenhados desde então numa guerra total.
Conclusões
O cenário que acabámos de descrever é altamente plausível, dadas as capacidades militares do Irão em matéria de mísseis de cruzeiro anti-navios, e da vulnerabilidade da US Navy face a estes mísseis, no caso de ela passar à acção no Golfo Pérsico. A administração Bush escondeu à opinião pública estado-unidense a gravidade da vulnerabilidade de Quinta Fronta, bem como a maneira como ela se arrisca a ficar presa na armadilha e ser destruída, no caso de um conflito de grande amplitude com o Irão. Isto ficou particularmente bem evidenciado pela decisão controversa de minimizar os resultados reais dos jogos estratégicos de simulação Milleniu Wargames, e pelas opiniões contrárias expressas pelo tenente-general Van Riper acerca das lições a retirar. Tais opiniões culminaram na assinatura, pelo general Van Riper, de uma petição de generais americanos na reforma apelando à demissão de Donald Rumsfeld.
Os neoconservadores da administração Bush têm perfeita consciência da vulnerabilidade da Quinta Frota e contudo, em várias ocasiões, tentaram afectar até três flotilhas de porta-aviões no Golfo Pérsico, que não faria senão aumentar as perdas estado-unidenses em caso de guerra contra o Irão, seja qual for o tipo. Contudo, a administração Bush continuou a avançar nos seus projectos de ataque nuclear, convencional ou/e subreptício, contra o Irão, que não faria senão precipitar o cenário espantoso acima descrito.
Uma conclusão razoável a tirar disto é que os neoconservadores da administração Bush estão prontos a sacrificar o grosso – até mesmo a totalidade – da Quinta Frota dos EUA ao provocar militarmente o Irão a puxar do seu arsenal de mísseis anti-navios, a fim de justificar uma "guerra total" contra o Irão, e impor uma mudança de regime a este país. Pode-se evitar este novo Pearl Harbor exigindo responsabilidades aos oficiais da administração Bush prontos a sacrificar a Quinta Frota no altar da sua agenda neoconservadora.
Notas
[1] "La grande simulation de la guerre en Irak. Apocalypse Tomorrow ", Réseau Voltaire, 26 septembre 2002.
[2] "L'Iran doit se tenir prêt à contrer une attaque nucléaire", par Général Leonid Ivashov, Réseau Voltaire, 16 février 2007.
[3] "L'affaire du B52 de la base de Minot. La mise en place de bombes nucléaires états-uniennes contre l'Iran?", par Larry Johnson, Horizons et débats, 17 septembre 2007.
[*] Investigador em política internacional, resolução de conflitos, política externa dos EUA e no novo campo da "exopolítica". É autor/editor de cinco livros e possui postos académicos na School of International Service, no Center for Global Peace, American University, Washington DC (1996-2004); no Department of Political Science, Australian National University, Canberra, Australia (1994-96); e na Elliott School of International Affairs, George Washington University, Washington D.C., (2002). Tem um Ph.D em Governo da Universidade de Queensland, Australia, e um M.A. em Filosofia da Universidade de Melbourne, Australia. Efectuou investigação e trabalho de campo em conflitos étnicos em Timor Leste, Kosovo, Macedonia, e Sri Lanka, e organizou iniciativas de paz envolvendo participantes nestes conflitos.
A versão em francês encontra-se em http://www.voltairenet.org/article153012.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Essa foi ótima hahaha!
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E eu nunca me esqueci das estórias de que a Guerra no Vietnã durariam duas semans.
Ou mesmo no Iraque ou no Afeganistão.
Claro que destruir uma frota que possui armas nucleares táticas é outros 500.
Ou mesmo no Iraque ou no Afeganistão.
Claro que destruir uma frota que possui armas nucleares táticas é outros 500.
Editado pela última vez por EDSON em Sex Nov 30, 2007 4:54 pm, em um total de 1 vez.
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Como Washington atiça o Irã
Um analista destacado da política norte-americana em relação à Ásia descreve a série de iniciativas em curso contra Teerã – de apoio a grupos terroristas a boicote econômico. Conclusão: a ação dos EUA ajuda a sustentar a linha-dura iraniana, ao permitir que atribua seus próprios erros ao "inimigo externo"
Selig S. Harrison
Na luta que se trava no seio do governo Bush, em relação à política face ao Irã, dois campos se definem com clareza. De um lado, o vice-presidente Richard Cheney e seus aliados no Pentágono e no Congresso, com o incentivo do Comitê Israelense-Americano de Assuntos Públicos, não só desejam que os EUA bombardeiem a unidade de enriquecimento de urânio em Natanz mas também apóiam ataques aéreos a bases militares iranianas próximas da fronteira com o Iraque. De outro lado, a secretária de Estado Condoleezza Rice deseja continuar na via diplomática, reforçando e alargando as negociações com Teerã, iniciadas no final de maio, em Bagdá. Porém, o preço que Condoleezza teve que pagar por adiar a ação militar foi participar de um compromisso perigoso: a intensificação de operações clandestinas destinadas a desestabilizar a República Islâmica, formalizadas por meio de decreto presidencial no final de abril.
Ações clandestinas para derrubar o regime de Teerã foram colocadas em prática de forma intermitente ao longo da última década. No entanto, até este momento, a CIA operara sem decretos, utilizando-se de subterfúgios. Por exemplo, o Paquistão e Israel forneciam armas e fundos a grupos insurgentes no sudeste e noroeste do Irã, onde as minorias étnicas baluque e curda, muçulmanas sunitas, há tempos combatem o poder central, persa e xiita. A autorização presidencial de abril permite a intensificação das operações “não-letais” conduzidas diretamente por agências norte-americanas. Além da transmissão de propaganda, de uma campanha midiática de desinformação e do uso de exilados iranianos, baseados nos EUA e na Europa, em protestos políticos, o novo programa privilegia a guerra econômica — principalmente a manipulação das taxas cambiais e outras medidas destinadas a perturbar as atividades bancárias e comerciais do Irã.
Considerada confidencial, a nova estratégia não se manteve secreta por muito tempo, depois de informada aos comitês de inteligência das duas câmaras do Congresso, como determina a lei. Em minha recente estada em Teerã, esse era o assunto de todas as rodas. Para minha surpresa, tanto os conservadores quanto os reformistas concordavam que o decreto surgiu em um momento bastante impróprio, diante de uma real oportunidade de cooperação com os Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão. Membros graduados do Ministério das Relações Exteriores, do Conselho de Segurança Nacional e do gabinete do presidente Mahmud Ahmadinejad, bem como instituições de pesquisas simpáticas ao governo, estimam que a estabilidade no Iraque e no Afeganistão é de interesse do Irã e que a cooperação com os Estados Unidos é possível. Mas somente se, em contrapartida, houver um acordo gradual entre Washington e Teerã, com o fim das políticas norte-americanas direcionadas à “mudança do regime” iraniano.
No Iraque, “os EUA são como uma raposa presa em uma armadilha”, observou Amir Mohiebian, editor do diário conservador Reselaat. “Por que libertarmos a raposa, se ela pode acabar nos comendo? Claro que, se os EUA alterarem sua política, existe espaço para cooperação”. No outro lado do espectro jornalístico, Mohammed Adrianfar, editor do Hammihan, que apóia o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani [1], disse que “a atmosfera está propícia para dar início a negociações e relações”. E prosseguiu: “O povo quer estabilidade. O slogan ‘Morte aos EUA’ não funciona, e nossos líderes sabem disso. É irônico que dois governos inimigos tenham tantos interesses em comum no Iraque e no Afeganistão.”
Embora não se discuta se o Irã ajuda as milícias xiitas no Iraque — e, caso ajude, quais delas — Alaeddin Borujerdi, chefe do Comitê de Relações Exteriores do Majlis (Parlamento), criticou a indulgência dos EUA para com os afiliados do partido Baath e outros sunitas. Deixou claro que Teerã espera uma predominância xiita, como pré-requisito para estabilidade em Bagdá e para um eventual acordo com Washington.
Entre as provocações, apoio a grupos classificados como "terroristas"
Segundo os dois editores citados e várias autoridades, a melhor forma de os norte-americanos começarem a retroceder de sua política de “mudança de regime” seria o fim da milícia persa de exilados, conhecida como Mujahidin-e-Khalq (MEK), baseada no Iraque e apoiada pelos EUA. A MEK apoiou Saddam Hussein na guerra entre o Iraque e o Irã, de 1980 a 1988, e seus 3.600 combatentes, muitos deles mulheres, permaneceram em território iraquiano. Conforme fontes dos EUA, desde a invasão do Iraque, as agências de inteligência norte-americanas desarmaram os combatentes, mas mantiveram intactas as bases da MEK próximas à fronteira iraniana, usando espiões da organização para missões de sabotagem e espionagem no Irã e para interrogar iranianos acusados de ajudar as milícias xiitas do Iraque. A MEK também é responsável pela transmissão de propaganda política por rádio e TV. Até pouco tempo, suas estações transmitiam para o Irã, a partir do Iraque. Porém a pressão iraniana sobre o governo de Bagdá forçou a mudança para Londres. Ironicamente, quando o moderado Mohammed Khatami foi eleito presidente do Irã, em 1997, o Departamento de Estado norte-americano protagonizou um gesto conciliador, listando a MEK como organização terrorista e imputando-lhe violações em massa dos direitos humanos – imputação que ainda permanece.
A desmobilização das forças paramilitares da MEK seria uma maneira eficaz de mostrar que Washington está pronto para dar início a um acordo com Teerã, sugere Abbas Maleki, consultor do Conselho de Segurança Nacional. Pois a organização é o único grupo exilado militarizado que tenta derrubar a República Islâmica, e também o preferido do lobby para “mudanças de regime no Irã” ativo em Washington. Alireza Jaffarzadeh, líder do Conselho Nacional de Resistência do Irã, a fachada política da MEK, aparece regularmente no canal conservador Fox News, como especialista em Irã, com um papel similar ao de Ahmad Chalabi durante os preparativos para a invasão do Iraque: o de mobilizar o apoio do Congresso e da mídia para uma ação militar contra o Irã.
Como ficou demonstrado pela classificação da MEK entre as organizações terroristas, o governo Clinton esperava uma abertura diplomática em direção ao Irã. Assim, quando Newt Gingrich, então presidente republicano da Câmara dos Representantes, conseguiu a aprovação de um crédito de US$18 milhões para ações clandestinas “não-letais” destinadas a “forçar a substituição do regime no Irã”, a Casa Branca chamou a CIA à prudência. Porém, o governo Bush rapidamente mudou o curso dos acontecimentos. Cheney concordava com a meta de “mudança de regime” de Gingrich, e convenceu aqueles que duvidavam dessa meta de que a pressão sobre Teerã fortaleceria os EUA nas negociações para pôr fim ao programa iraniano de enriquecimento do urânio. Primeiro, o governo reacendeu e expandiu os planos dormentes para ações clandestinas “não-letais”, contidas no plano de Gingrich. Em seguida, em fevereiro de 2006, conseguiu a aprovação do Congresso para a liberação de uma verba de US$75 milhões a ser usada em um programa aberto do Departamento de Estado destinado a “promover a abertura e a liberdade” no Irã. Por fim, determinou meios secretos de atacar o regime militarmente, sem a necessidade de um decreto presidencial formal.
O modo mais simples de se conseguir isso era fazer com que o Paquistão e Israel armassem e financiassem grupos insurgentes já existentes nas áreas balúchis e curdas, por meio de relações bem enraizadas entre os EUA, o Serviço Secreto Paquistanês (ISI – Interservices Intelligence Directorate) e o serviço secreto israelense (Mossad).
Movimento mais recente: Washington arma grupos dissidentes e separatistas
O ISI canalizou o envio de armas e capital a um grupo dissidente balúchi já estabelecido, o Jundullah, que causou alto número de baixas em uma série de ataques contra unidades da Guarda Revolucionária Iraniana, ocorridos em Zahedan e áreas do sudeste iraniano em 2006 e 2007. Os EUA não tentaram esconder seu apoio ao Jundullah. Em 2 de abril de 2007, o programa Voz da América entrevistou o líder da milícia, Abdulmalek Rigi, apresentando-o como “líder do movimento de resistência popular no Irã”.
Como autor de um livro sobre os balúchis [2], tenho muitos contatos com esse povo, e, em recente encontro em Dubai, alguns dos meus conhecidos apresentaram diversos fatos que comprovam a ligação de Rigi com o ISI. Correspondentes da rede de televisão norte-americana ABC, em reportagem no território paquistanês, informaram que “fontes da inteligência dos EUA e do Paquistão reconheceram o apoio do ISI ao Jundullah” [3].
De sua parte, o Mossad possui contatos há cinco décadas nas áreas curdas do Irã e do Iraque. E, durante o reinado do xá Reza Pahlevi, utilizou seus agentes no Irã para desestabilizar os territórios curdos iraquianos. Considerando-se tal cenário, é possível acreditar nas informações de Seymour Hersh, de que o Mossad oferece “equipamento e treinamento” ao grupo curdo do Irã Pejak [4] – mesmo que o Pejak esteja ligado ao grupo curdo da Turquia PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), rotulado por Washington e Ancara como organização terrorista. Jon Lee Anderson entrevistou uma antiga autoridade curda do Iraque, que disse que o Pejak opera a partir de bases no Curdistão iraquiano, e realiza ataques no Irã com o “apoio secreto dos EUA” [5].
Em termos econômicos, a mais importante ameaça latente contra Teerã é a província sudoeste do Khuzestão, responsável por 80% da produção petrolífera do país. Os xiitas árabes do Khuzestão têm a mesma identidade étnica e religiosa dos xiitas árabes da bacia de Shatt-al-Arab no Iraque, e sua capital, Ahwaz, está a apenas 120 quilômetros a leste de Basra, onde as forças britânicas no Iraque estão aquarteladas. Considerando-se a história, não é surpreendente que Teerã acuse a Grã-Bretanha de usar Basra como base de inteligência para disseminar o descontentamento no Khuzestão. Com o apoio das forças e dos interesses britânicos em relação ao petróleo, os príncipes árabes do Khuzestão separaram-se da Pérsia, em 1897, e estabeleceram um protetorado controlado pela Grã-Britânica (o Arabistão), que a Pérsia reconquistou somente em 1925. Segundo acusações de grupos separatistas, embora a maior parte da receita petrolífera do Irã seja produzida no Khuzestão, Teerã rejeita oferecer uma participação em recursos para o desenvolvimento econômico à província. Até o momento, as facções separatistas não criaram uma força militar unificada, como o Jundullah do Baluchistão, e não há evidências de ajudas estrangeiras. No entanto, essas mesmas facções ensaiam, periodicamente, ataques a instalações de segurança do governo e bombardeiam unidades de produção de petróleo. Muitas, ainda, transmitem propaganda política em árabe a partir de pontos no exterior que não são claramente identificados.
Como a ação dos EUA favorece... a linha-dura iraniana
O Movimento Nacional pela Liberação de Ahwaz, que defende a independência, opera a Ahwaz TV, canal por satélite cuja tela exibe um número de fax que tem o código de área da Califórnia [6]. Outro canal por satélite, a Al-Ahwaz TV, igualmente transmitida por exilados iranianos na Califórnia, está ligada à Sociedade de Amizade entre Grã-Bretanha e Ahwaz, que defende a autonomia regional para a província, em um Irã federativo [7].
Aproximadamente metade (US$36 milhões) da verba de US$75 milhões liberada em 2006, nos EUA, é usada nos programas operados pelos EUA Voz da América e Radio Farda e nas instalações de transmissões anti-regime, como a Ahwaz TV, administradas por exilados iranianos nos EUA, Canadá e Grã-Bretanha. Outros US$20 milhões são gastos com entidades não-governamentais de defesa de direitos humanos no Irã e nos EUA. O subsecretário de Estado dos EUA, Nicholas Burns, afirmou que, devido à “dificuldade de entrada de recursos dos EUA no Irã”, resultado do “rígido tratamento do governo iraniano ao povo iraniano”, os Estados Unidos estão “atuando junto a organizações árabes e européias para apoiar os grupos democráticos no interior do país” [8]. Conforme relatou um iraniano, que no ano passado participou de seminário com apoio dos EUA, em Dubai, o evento “parecia um acampamento de treinamento para revolucionários, no estilo James Bond” [9]. Quatro participantes iranianos foram presos posteriormente.
Minha impressão em Teerã foi de que os esforços, secretos ou não, para desestabilizar a República Islâmica e pressioná-la economicamente em prol do abandono do programa nuclear foram contra-producentes por quatro motivos:
1. Deram, aos conservadores da linha-dura, uma desculpa para atacar tanto iranianos que trabalham internamente, buscando liberalizar o regime, quanto indivíduos com dupla cidadania, iraniana e norte-americana, como Haleh Esfandiari, do Centro Internacional de Acadêmicos Woodrow Wilson, que permaneceu preso por três meses, sob vagas acusações de espionagem;
2. Com a ajuda à insurgência de minorias étnicas, os EUA permitiram que o presidente Ahmadinejad se mostrasse defensor da maioria persa (as minorias constituem 44 % da população, sendo que a maior delas, a dos Azeris – 24 % –, passou pelo processo de assimilação, enquanto que os rebeldes – baluques, curdos e árabes do Khuzestão – estão dolorosamente divididos entre separatistas e aqueles que defendem a reestruturação em um Irã federativo);
3. Ahmadinejad pôde culpar as pressões econômicas externas pelos problemas econômicos que são, principalmente, resultado de sua má administração;
4. A negociação de compromissos para a estabilização do Iraque e do Afeganistão é possível, mas com a condição de que se ponha fim aos esforços de subversão e que o presidente Bush não coloque em execução sua ameaça de 28 de agosto, de “responder às atividades mortíferas de Teerã” no Iraque.
"Qual a vantagem de agitar o pano vermelho, como numa tourada"?
Porém, mesmo se a pressão diminuir, um compromisso nuclear definitivo é pouco provável, diante da ausência de mudanças na postura de segurança dos EUA no Golfo Pérsico. Uma suspensão das atividades de enriquecimento de urânio pelos iranianos em Natanz poderá ser obtida, se Israel aceitar a interrupção simultânea de seu reator em Dimona [10].
“Como podemos negociar a desnuclearização, se vocês enviam ao Golfo porta-aviões que, até onde sabemos, estão equipados com armas nucleares táticas?”, perguntou Alireza Akbari, ministro adjunto da Defesa no governo moderado de Khatami. “Como podem esperar que negociemos se vocês não discutem Dimona?”
As pressões, secretas ou não, que até agora foram aplicadas ao Irã servem apenas para enfurecer os iranianos de todas as tendências, fortalecendo os conservadores da linha-dura. É certo que as pressões econômicas são mais eficientes do que a ajuda secreta aos insurgentes. Porém, dos 40 bancos europeus e asiáticos que fazem negócios com o Irã, somente sete cortaram relações com o país, em resposta às sanções dos EUA. De qualquer forma, o Irã vem, cada vez mais, conduzindo seus negócios internacionais por meio de 400 instituições financeiras baseadas em Dubai — em sua maioria árabes. Considerando que as transações entre o Irã e os Emirados Árabes Unidos, incluindo Dubai, chegaram a quase US$11 bilhões neste ano, o subsecretário do Tesouro dos EUA, Stuart Levey, falou em vão quando ameaçou, com represálias, as empresas que faziam negócios com o Irã, em discurso proferido em Dubai, no dia 7 de março. O governo tenta colocar em prática medidas mais contundentes contra as empresas ligadas à Guarda Revolucionária e às bonyads — fundações dirigidas por clérigos. Porém, seu impacto até o momento foi limitado.
Comparando os EUA ao toureiro em uma tourada, um respeitado embaixador europeu que reside há anos em Teerã perguntou tristemente: “Qual é o objetivo disso tudo? Qual é a vantagem de se agitar o pano vermelho? Só enfurece o touro, cada vez mais. Não o mata”.
[1] No início de setembro de 2007, Rafsanjani foi eleito dirigente da assembléia de religiosos encarregada de designar o Guia Supremo (atualmente o ayatollah Ali Khamenei) e supervisionar sua ação.
[2] Afghanistan’s Shadow: Baluch Nationalism and Soviet Temptations, Carnegie Endowment for International Peace, 1980
[3] Brian Ross e Christopher Isham, ABC News, 3 de abril de 2007
[4] Seymour Hersh: “The Next Act,” The New Yorker, 27 de novembro de 2006.
[5] Jon Lee Anderson: “Mr. Big,” The New Yorker, 5 de fevereiro de 2007.
[6] BBC World Media Monitoring, 4 de janeiro de 2006.
[7] Al-Ahwaz News , British-Ahwaz Friendship Society, 11 de fevereiro de 2006
[8] Conselho de Relações Exteriores, Nova York, 11 de outubro de 2006.
[9] Negar Azimi: “The hard realities of soft power”, New York Times Magazine, 24 de junho de 2007.
[10] Para saber mais sobre o compromisso nuclear no Irã, ver Selig Harrison: “The Forgotten Bargain”, World Policy Journal, 2006.
Um analista destacado da política norte-americana em relação à Ásia descreve a série de iniciativas em curso contra Teerã – de apoio a grupos terroristas a boicote econômico. Conclusão: a ação dos EUA ajuda a sustentar a linha-dura iraniana, ao permitir que atribua seus próprios erros ao "inimigo externo"
Selig S. Harrison
Na luta que se trava no seio do governo Bush, em relação à política face ao Irã, dois campos se definem com clareza. De um lado, o vice-presidente Richard Cheney e seus aliados no Pentágono e no Congresso, com o incentivo do Comitê Israelense-Americano de Assuntos Públicos, não só desejam que os EUA bombardeiem a unidade de enriquecimento de urânio em Natanz mas também apóiam ataques aéreos a bases militares iranianas próximas da fronteira com o Iraque. De outro lado, a secretária de Estado Condoleezza Rice deseja continuar na via diplomática, reforçando e alargando as negociações com Teerã, iniciadas no final de maio, em Bagdá. Porém, o preço que Condoleezza teve que pagar por adiar a ação militar foi participar de um compromisso perigoso: a intensificação de operações clandestinas destinadas a desestabilizar a República Islâmica, formalizadas por meio de decreto presidencial no final de abril.
Ações clandestinas para derrubar o regime de Teerã foram colocadas em prática de forma intermitente ao longo da última década. No entanto, até este momento, a CIA operara sem decretos, utilizando-se de subterfúgios. Por exemplo, o Paquistão e Israel forneciam armas e fundos a grupos insurgentes no sudeste e noroeste do Irã, onde as minorias étnicas baluque e curda, muçulmanas sunitas, há tempos combatem o poder central, persa e xiita. A autorização presidencial de abril permite a intensificação das operações “não-letais” conduzidas diretamente por agências norte-americanas. Além da transmissão de propaganda, de uma campanha midiática de desinformação e do uso de exilados iranianos, baseados nos EUA e na Europa, em protestos políticos, o novo programa privilegia a guerra econômica — principalmente a manipulação das taxas cambiais e outras medidas destinadas a perturbar as atividades bancárias e comerciais do Irã.
Considerada confidencial, a nova estratégia não se manteve secreta por muito tempo, depois de informada aos comitês de inteligência das duas câmaras do Congresso, como determina a lei. Em minha recente estada em Teerã, esse era o assunto de todas as rodas. Para minha surpresa, tanto os conservadores quanto os reformistas concordavam que o decreto surgiu em um momento bastante impróprio, diante de uma real oportunidade de cooperação com os Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão. Membros graduados do Ministério das Relações Exteriores, do Conselho de Segurança Nacional e do gabinete do presidente Mahmud Ahmadinejad, bem como instituições de pesquisas simpáticas ao governo, estimam que a estabilidade no Iraque e no Afeganistão é de interesse do Irã e que a cooperação com os Estados Unidos é possível. Mas somente se, em contrapartida, houver um acordo gradual entre Washington e Teerã, com o fim das políticas norte-americanas direcionadas à “mudança do regime” iraniano.
No Iraque, “os EUA são como uma raposa presa em uma armadilha”, observou Amir Mohiebian, editor do diário conservador Reselaat. “Por que libertarmos a raposa, se ela pode acabar nos comendo? Claro que, se os EUA alterarem sua política, existe espaço para cooperação”. No outro lado do espectro jornalístico, Mohammed Adrianfar, editor do Hammihan, que apóia o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani [1], disse que “a atmosfera está propícia para dar início a negociações e relações”. E prosseguiu: “O povo quer estabilidade. O slogan ‘Morte aos EUA’ não funciona, e nossos líderes sabem disso. É irônico que dois governos inimigos tenham tantos interesses em comum no Iraque e no Afeganistão.”
Embora não se discuta se o Irã ajuda as milícias xiitas no Iraque — e, caso ajude, quais delas — Alaeddin Borujerdi, chefe do Comitê de Relações Exteriores do Majlis (Parlamento), criticou a indulgência dos EUA para com os afiliados do partido Baath e outros sunitas. Deixou claro que Teerã espera uma predominância xiita, como pré-requisito para estabilidade em Bagdá e para um eventual acordo com Washington.
Entre as provocações, apoio a grupos classificados como "terroristas"
Segundo os dois editores citados e várias autoridades, a melhor forma de os norte-americanos começarem a retroceder de sua política de “mudança de regime” seria o fim da milícia persa de exilados, conhecida como Mujahidin-e-Khalq (MEK), baseada no Iraque e apoiada pelos EUA. A MEK apoiou Saddam Hussein na guerra entre o Iraque e o Irã, de 1980 a 1988, e seus 3.600 combatentes, muitos deles mulheres, permaneceram em território iraquiano. Conforme fontes dos EUA, desde a invasão do Iraque, as agências de inteligência norte-americanas desarmaram os combatentes, mas mantiveram intactas as bases da MEK próximas à fronteira iraniana, usando espiões da organização para missões de sabotagem e espionagem no Irã e para interrogar iranianos acusados de ajudar as milícias xiitas do Iraque. A MEK também é responsável pela transmissão de propaganda política por rádio e TV. Até pouco tempo, suas estações transmitiam para o Irã, a partir do Iraque. Porém a pressão iraniana sobre o governo de Bagdá forçou a mudança para Londres. Ironicamente, quando o moderado Mohammed Khatami foi eleito presidente do Irã, em 1997, o Departamento de Estado norte-americano protagonizou um gesto conciliador, listando a MEK como organização terrorista e imputando-lhe violações em massa dos direitos humanos – imputação que ainda permanece.
A desmobilização das forças paramilitares da MEK seria uma maneira eficaz de mostrar que Washington está pronto para dar início a um acordo com Teerã, sugere Abbas Maleki, consultor do Conselho de Segurança Nacional. Pois a organização é o único grupo exilado militarizado que tenta derrubar a República Islâmica, e também o preferido do lobby para “mudanças de regime no Irã” ativo em Washington. Alireza Jaffarzadeh, líder do Conselho Nacional de Resistência do Irã, a fachada política da MEK, aparece regularmente no canal conservador Fox News, como especialista em Irã, com um papel similar ao de Ahmad Chalabi durante os preparativos para a invasão do Iraque: o de mobilizar o apoio do Congresso e da mídia para uma ação militar contra o Irã.
Como ficou demonstrado pela classificação da MEK entre as organizações terroristas, o governo Clinton esperava uma abertura diplomática em direção ao Irã. Assim, quando Newt Gingrich, então presidente republicano da Câmara dos Representantes, conseguiu a aprovação de um crédito de US$18 milhões para ações clandestinas “não-letais” destinadas a “forçar a substituição do regime no Irã”, a Casa Branca chamou a CIA à prudência. Porém, o governo Bush rapidamente mudou o curso dos acontecimentos. Cheney concordava com a meta de “mudança de regime” de Gingrich, e convenceu aqueles que duvidavam dessa meta de que a pressão sobre Teerã fortaleceria os EUA nas negociações para pôr fim ao programa iraniano de enriquecimento do urânio. Primeiro, o governo reacendeu e expandiu os planos dormentes para ações clandestinas “não-letais”, contidas no plano de Gingrich. Em seguida, em fevereiro de 2006, conseguiu a aprovação do Congresso para a liberação de uma verba de US$75 milhões a ser usada em um programa aberto do Departamento de Estado destinado a “promover a abertura e a liberdade” no Irã. Por fim, determinou meios secretos de atacar o regime militarmente, sem a necessidade de um decreto presidencial formal.
O modo mais simples de se conseguir isso era fazer com que o Paquistão e Israel armassem e financiassem grupos insurgentes já existentes nas áreas balúchis e curdas, por meio de relações bem enraizadas entre os EUA, o Serviço Secreto Paquistanês (ISI – Interservices Intelligence Directorate) e o serviço secreto israelense (Mossad).
Movimento mais recente: Washington arma grupos dissidentes e separatistas
O ISI canalizou o envio de armas e capital a um grupo dissidente balúchi já estabelecido, o Jundullah, que causou alto número de baixas em uma série de ataques contra unidades da Guarda Revolucionária Iraniana, ocorridos em Zahedan e áreas do sudeste iraniano em 2006 e 2007. Os EUA não tentaram esconder seu apoio ao Jundullah. Em 2 de abril de 2007, o programa Voz da América entrevistou o líder da milícia, Abdulmalek Rigi, apresentando-o como “líder do movimento de resistência popular no Irã”.
Como autor de um livro sobre os balúchis [2], tenho muitos contatos com esse povo, e, em recente encontro em Dubai, alguns dos meus conhecidos apresentaram diversos fatos que comprovam a ligação de Rigi com o ISI. Correspondentes da rede de televisão norte-americana ABC, em reportagem no território paquistanês, informaram que “fontes da inteligência dos EUA e do Paquistão reconheceram o apoio do ISI ao Jundullah” [3].
De sua parte, o Mossad possui contatos há cinco décadas nas áreas curdas do Irã e do Iraque. E, durante o reinado do xá Reza Pahlevi, utilizou seus agentes no Irã para desestabilizar os territórios curdos iraquianos. Considerando-se tal cenário, é possível acreditar nas informações de Seymour Hersh, de que o Mossad oferece “equipamento e treinamento” ao grupo curdo do Irã Pejak [4] – mesmo que o Pejak esteja ligado ao grupo curdo da Turquia PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), rotulado por Washington e Ancara como organização terrorista. Jon Lee Anderson entrevistou uma antiga autoridade curda do Iraque, que disse que o Pejak opera a partir de bases no Curdistão iraquiano, e realiza ataques no Irã com o “apoio secreto dos EUA” [5].
Em termos econômicos, a mais importante ameaça latente contra Teerã é a província sudoeste do Khuzestão, responsável por 80% da produção petrolífera do país. Os xiitas árabes do Khuzestão têm a mesma identidade étnica e religiosa dos xiitas árabes da bacia de Shatt-al-Arab no Iraque, e sua capital, Ahwaz, está a apenas 120 quilômetros a leste de Basra, onde as forças britânicas no Iraque estão aquarteladas. Considerando-se a história, não é surpreendente que Teerã acuse a Grã-Bretanha de usar Basra como base de inteligência para disseminar o descontentamento no Khuzestão. Com o apoio das forças e dos interesses britânicos em relação ao petróleo, os príncipes árabes do Khuzestão separaram-se da Pérsia, em 1897, e estabeleceram um protetorado controlado pela Grã-Britânica (o Arabistão), que a Pérsia reconquistou somente em 1925. Segundo acusações de grupos separatistas, embora a maior parte da receita petrolífera do Irã seja produzida no Khuzestão, Teerã rejeita oferecer uma participação em recursos para o desenvolvimento econômico à província. Até o momento, as facções separatistas não criaram uma força militar unificada, como o Jundullah do Baluchistão, e não há evidências de ajudas estrangeiras. No entanto, essas mesmas facções ensaiam, periodicamente, ataques a instalações de segurança do governo e bombardeiam unidades de produção de petróleo. Muitas, ainda, transmitem propaganda política em árabe a partir de pontos no exterior que não são claramente identificados.
Como a ação dos EUA favorece... a linha-dura iraniana
O Movimento Nacional pela Liberação de Ahwaz, que defende a independência, opera a Ahwaz TV, canal por satélite cuja tela exibe um número de fax que tem o código de área da Califórnia [6]. Outro canal por satélite, a Al-Ahwaz TV, igualmente transmitida por exilados iranianos na Califórnia, está ligada à Sociedade de Amizade entre Grã-Bretanha e Ahwaz, que defende a autonomia regional para a província, em um Irã federativo [7].
Aproximadamente metade (US$36 milhões) da verba de US$75 milhões liberada em 2006, nos EUA, é usada nos programas operados pelos EUA Voz da América e Radio Farda e nas instalações de transmissões anti-regime, como a Ahwaz TV, administradas por exilados iranianos nos EUA, Canadá e Grã-Bretanha. Outros US$20 milhões são gastos com entidades não-governamentais de defesa de direitos humanos no Irã e nos EUA. O subsecretário de Estado dos EUA, Nicholas Burns, afirmou que, devido à “dificuldade de entrada de recursos dos EUA no Irã”, resultado do “rígido tratamento do governo iraniano ao povo iraniano”, os Estados Unidos estão “atuando junto a organizações árabes e européias para apoiar os grupos democráticos no interior do país” [8]. Conforme relatou um iraniano, que no ano passado participou de seminário com apoio dos EUA, em Dubai, o evento “parecia um acampamento de treinamento para revolucionários, no estilo James Bond” [9]. Quatro participantes iranianos foram presos posteriormente.
Minha impressão em Teerã foi de que os esforços, secretos ou não, para desestabilizar a República Islâmica e pressioná-la economicamente em prol do abandono do programa nuclear foram contra-producentes por quatro motivos:
1. Deram, aos conservadores da linha-dura, uma desculpa para atacar tanto iranianos que trabalham internamente, buscando liberalizar o regime, quanto indivíduos com dupla cidadania, iraniana e norte-americana, como Haleh Esfandiari, do Centro Internacional de Acadêmicos Woodrow Wilson, que permaneceu preso por três meses, sob vagas acusações de espionagem;
2. Com a ajuda à insurgência de minorias étnicas, os EUA permitiram que o presidente Ahmadinejad se mostrasse defensor da maioria persa (as minorias constituem 44 % da população, sendo que a maior delas, a dos Azeris – 24 % –, passou pelo processo de assimilação, enquanto que os rebeldes – baluques, curdos e árabes do Khuzestão – estão dolorosamente divididos entre separatistas e aqueles que defendem a reestruturação em um Irã federativo);
3. Ahmadinejad pôde culpar as pressões econômicas externas pelos problemas econômicos que são, principalmente, resultado de sua má administração;
4. A negociação de compromissos para a estabilização do Iraque e do Afeganistão é possível, mas com a condição de que se ponha fim aos esforços de subversão e que o presidente Bush não coloque em execução sua ameaça de 28 de agosto, de “responder às atividades mortíferas de Teerã” no Iraque.
"Qual a vantagem de agitar o pano vermelho, como numa tourada"?
Porém, mesmo se a pressão diminuir, um compromisso nuclear definitivo é pouco provável, diante da ausência de mudanças na postura de segurança dos EUA no Golfo Pérsico. Uma suspensão das atividades de enriquecimento de urânio pelos iranianos em Natanz poderá ser obtida, se Israel aceitar a interrupção simultânea de seu reator em Dimona [10].
“Como podemos negociar a desnuclearização, se vocês enviam ao Golfo porta-aviões que, até onde sabemos, estão equipados com armas nucleares táticas?”, perguntou Alireza Akbari, ministro adjunto da Defesa no governo moderado de Khatami. “Como podem esperar que negociemos se vocês não discutem Dimona?”
As pressões, secretas ou não, que até agora foram aplicadas ao Irã servem apenas para enfurecer os iranianos de todas as tendências, fortalecendo os conservadores da linha-dura. É certo que as pressões econômicas são mais eficientes do que a ajuda secreta aos insurgentes. Porém, dos 40 bancos europeus e asiáticos que fazem negócios com o Irã, somente sete cortaram relações com o país, em resposta às sanções dos EUA. De qualquer forma, o Irã vem, cada vez mais, conduzindo seus negócios internacionais por meio de 400 instituições financeiras baseadas em Dubai — em sua maioria árabes. Considerando que as transações entre o Irã e os Emirados Árabes Unidos, incluindo Dubai, chegaram a quase US$11 bilhões neste ano, o subsecretário do Tesouro dos EUA, Stuart Levey, falou em vão quando ameaçou, com represálias, as empresas que faziam negócios com o Irã, em discurso proferido em Dubai, no dia 7 de março. O governo tenta colocar em prática medidas mais contundentes contra as empresas ligadas à Guarda Revolucionária e às bonyads — fundações dirigidas por clérigos. Porém, seu impacto até o momento foi limitado.
Comparando os EUA ao toureiro em uma tourada, um respeitado embaixador europeu que reside há anos em Teerã perguntou tristemente: “Qual é o objetivo disso tudo? Qual é a vantagem de se agitar o pano vermelho? Só enfurece o touro, cada vez mais. Não o mata”.
[1] No início de setembro de 2007, Rafsanjani foi eleito dirigente da assembléia de religiosos encarregada de designar o Guia Supremo (atualmente o ayatollah Ali Khamenei) e supervisionar sua ação.
[2] Afghanistan’s Shadow: Baluch Nationalism and Soviet Temptations, Carnegie Endowment for International Peace, 1980
[3] Brian Ross e Christopher Isham, ABC News, 3 de abril de 2007
[4] Seymour Hersh: “The Next Act,” The New Yorker, 27 de novembro de 2006.
[5] Jon Lee Anderson: “Mr. Big,” The New Yorker, 5 de fevereiro de 2007.
[6] BBC World Media Monitoring, 4 de janeiro de 2006.
[7] Al-Ahwaz News , British-Ahwaz Friendship Society, 11 de fevereiro de 2006
[8] Conselho de Relações Exteriores, Nova York, 11 de outubro de 2006.
[9] Negar Azimi: “The hard realities of soft power”, New York Times Magazine, 24 de junho de 2007.
[10] Para saber mais sobre o compromisso nuclear no Irã, ver Selig Harrison: “The Forgotten Bargain”, World Policy Journal, 2006.
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Bolovo escreveu:ademir escreveu:Crise no seio do estado maior inter-armas dos Estados Unidos
A Casa Branca sacrificaria a 5ª Frota para justificar a destruição nuclear do Irão?
por Michael Salla
O plano de ataque ao Irão pelos Estados Unidos prevê sacrificar a Quinta Frota a fim de justificar uma réplica nuclear. Não se trata de um cenário hipotético, mas de uma opção discutida no seio do estado maior inter-armas estado-unidense. Segundo nossas informações, o almirante William Fallon fez saber que se uma tal ordem fosse dada, ele recusar-se-ia a segui-la e apresentaria a sua demissão, assim como aquela do conjunto do estado maior do Centcom. Por enquanto é a resistência dos oficiais superiores da Armada e do Exército que impediram os neoconservadores e a Força Aérea de lançar as operações.
A administração Bush oculta e ignora deliberadamente análises táctica iconoclastas (baseadas na teoria dos jogos) provenientes do Pentágono, as quais sugerem que um ataque conta as instalações nucleares ou militares do Irão conduzirá directamente à liquidação da Quinta Fronta da US Navy, atracada actualmente no Golfo Pérsico. O tenente-general Paul Van Riper simulou assim o papel do chefe de um Estado hipotético do Golfo Pérsico, num cenário desenvolvido no quadro do jogo estratégico 2002 Millenium Challenge, e a partida terminou com a destruição total da Quinta Frota [1] . Sua experimentação e suas conclusões acerca da vulnerabilidade desta frota num conflito armado assimétrico e das consequência de uma guerra eventual contra o Irão foram ignoradas. Os neoconservadores da administração Bush estão em vias de fazer uma promoção agressiva de operações armadas contra o Irão, que culminarão no ataque, por este país, da Quinta Frota da U.S. Navy por meio de mísseis de cruzeiro ar-mar refinados. Eles ignoram deliberadamente as experiências desenvolvidas por Van Riper no decorrer da simulação Millenium Challenge, e suas semelhanças perigosamente sugestivas com o actual contencioso nuclear com o Irão.
O Irão dispõe de uma quantidade de mísseis de cruzeiro perfeitamente suficiente para destruir grande parte, senão a totalidade, da Quinta Frota, que se encontra ao alcance dos lançadores de mísseis móveis iranianos – estrategicamente instalados ao longo da sua cadeia montanhosa que domina as costas do Golfo Pérsico. A administração Bush minimisa deliberadamente a vulnerabilidade da Quinta Fronta à tecnologia avançada do Irão em matéria de mísseis, os quais foram comprados à Rússia e à China no fim dos anos 1990. Os mais refinados destes mísseis iranianos são os "Sunburn" (queimadura de sol) e os "Yakhonts". Trata-se de mísseis contra os quais os vasos de guerra estado-unidenses não têm resposta eficaz, advertem todos os peritos militares. Ao provocar deliberadamente represálias iranianas contra uma intervenção armada americana, os neoconservadores preparam-se para sacrificar com pleno conhecimento de causa uma grande parte, senão a totalidade, da Quinta Frota. Isto arrisca-se a resultar num novo Pearl Harbor, o que criaria o ambiente político adequado tendo em vista uma guerra total contra o Irão e acções armadas estendendo-se ao conjunto da região do Golfo Pérsico.
A vulnerabilidade da Quinta Frota ao arsenal dos mísseis ar-mar iranianos
A Quinta Frota da US Navy tem o seu QG no Estado do Bahrein, no golfo. Este QG é responsável pela vigilância por meio de patrulhas do Golfo Pérsico, do Mar da Arábia, do Canal de Suez, assim como de certas partes do Oceano Índico. Actualmente, esta frota inclui uma flotilha de porta-aviões e dois porta-helicópteros. Sua dimensão atingiu um máximo de cinco porta-aviões e de seis porta-helicópteros durante a invasão do Iraque. A esquadra é dirigida pelo USS Enterprise (CVN-65), o primeiro porta-aviões a propulsão nuclear construído em 1961, o qual participou, dia 2 deste mês (Novembro de 2007), num exercício naval no Golfo Pérsico.
A base da Quinta Frota, no Bahrein, está a apenas 150 milhas marítimas [278 km] da costa iraniana, e ela própria estaria ao alcance de uma nova geração de mísseis ar-mar iranianos. Aliás, não importa qual embarcação da Navy, no terreno de operação confinado do Golfo Pérsico, teria dificuldades em manobrar e encontrar-se-ia a pouca distância da costa rochosa e em dentes de serra do Irão, ao longo de todo o Golfo Pérsico e até o Mar da Arábia.
O Irão começou a comprar tecnologia militar à Rússia pouco depois de esta retractar-se, em 2000, do Protocolo Gore- Chernomyrdin, o qual limitava as vendas de equipamento militar da Rússia ao Irão. Na sequência do que a Rússia pôs-se a vender ao Irão tecnologia militar susceptível de ser utilizada em não importa qual conflito com os Estados Unidos, nomeadamente sistemas de defesa anti-aérea e mísseis terra-mar, equipamentos nos quais a Rússia se havia especializado precisamente a fim de contra-balancear a esmagadora superioridade marítima dos Estados Unidos.
O míssil SS-N-22, dito "Sunburn", atinge a velocidade de mach 2,5, ou seja, 1500 milhas/hora [2414 km/h]. Ele utiliza tecnologia furtiva e seu alcance atinge as 130 milhas [209 km]. Transporta uma cabeça explosiva convencional de 750 libras [340 kg], capaz de destruir a maior parte das embarcações de guerra. Mais preocupante ainda é o SSN-X.26 de fabricação russa, dito "Yakhont". É um míssil de cruzeiro com um alcance de 185 milhas [298 km], que torna vulneráveis todas as embarcações da US Navy presentes no Golfo Pérsico. Mais grave: os Yakhonts foram ajustados especificamente para serem utilizados contra porta-aviões, e foram vendidos pela Rússia nos mercados internacionais de armamentos.
Tanto os mísseis Yakhont como os mísseis Sunburn são concebidos para esquivarem-se aos radares de vigilância Aegis, actualmente utilizados nas embarcações da US Navy, graças à sua tecnologia furtiva e às suas manobras de voo em altitude muito baixa, que seguem as asperezas do terreno. Na sua aproximação terminal, estes mísseis adoptam trajectórias esquivas que lhes permitem escapar aos tiros anti-mísseis terra-mar. Tão importante é a ameaça representada pelos Sunburn, pelos Yakhonts e outros mísseis desenvolvidos pela Rússia e por ela vendidos à China, ao Irão e a outros países, que o serviço de testagem de armas do Pentágono tomou a decisão, este ano, de cessar a produção de todos os novos tipos de porta-aviões enquanto uma defesa anti-míssil eficaz não tiver sido preparada.
Os jogos de estratégia Millenium Challenge
O "Millenium Challenge" foi o jogo de guerra mais importante já efectuada até agora. Este exercício implicou 13500 soldados, repartidos em mais de 17 regiões do globo. Os jogos estratégicos implicam uma utilização intensa das simulações informáticas, estendendo-se num período de três semanas, a um custo de 250 milhões de dólares. O Millenium Challenge punha em jogo uma guerra assimétrica entre as forças armadas americanas, sob o comando do general William Kernan, e um país não especificado do Golfo Pérsico. Segundo o general Kernan, estes jogos estratégicos "deviam servir para testar uma série de novos conceitos operacionais recentemente desenvolvidos pelo Pentágono". Tendo recorrido a um conjunto de ataques assimétricos, a estratégias utilizando navios civis maquilhados a fim de lançar ofensivas, aviões para ataques kamikazes, e mísseis de cruzeiro Silkworm, foi a quase totalidade da Quinta Frota que foi ao fundo. As simulações revelaram até que ponto estratégias assimétricas eram susceptíveis de tirar proveito da vulnerabilidade da Quinta Frota face a mísseis de cruzeiro terra-mar, em particular nas águas confinadas do Golfo Pérsico.
Tomando uma decisão eminentemente discutível, o Pentágono escolheu, muito simplesmente, "repor a flutuar" a Quinta Frota a fim de prosseguir o exercício, que conduziu, no fim, à derrota do país fictício escolhido no Golfo Pérsico. O envio para o fundo da Quinta Frota foi um episódio infeliz rapidamente esquecido, e o exercício foi declarado um êxito para os "novos conceitos de conduta da guerra" adoptados pelo general Kernan. Isto levou o tenente-general Paul Van Riper, comandante do mítico Estado do Golfo, a qualificar os resultados oficiais deste exercício de "slogans vazios". No decorrer de uma entrevista televisiva realizada pouco após, o general Riper declarou: "os conceitos que estavam a ser testados pelo comando não se tendo revelado à altura, o comando pôs-se a reescrever o cenário do exercício ao seu modo, a fim de demonstrar a validade dos seus conceitos hipotéticos de partida. É nisto que incide essencialmente a minha queixa".
Mais graves foram as afirmações do general Riper quanto à eficiência da tecnologia de mísseis de cruzeiro reformados, os mísseis Silkworm, que haviam sido utilizados para afundar um porta-aviões e dois porta-helicópteros carregados de Marines, no total das dezasseis embarcações enviadas para o fundo. Quando foi pedido para confirmar as alegações de Riper, o general Kernar respondeu: "Oh, você sabe... não sei. Para ser franco consigo, não tive oportunidade de avaliar o que se passou. Mas é uma possibilidade... Quanto às especificidades deste tipo particular de míssil de cruzeiro... não posso realmente responder a esta pergunta. Deveremos retornar a ela ulteriormente".
Os jogos estratégicos Millenium Challenge demonstraram claramente a vulnerabilidade da 5ª Frota a ataques de mísseis Silkworm. Tratou-se de uma reposição em cena da experiência vivida em 1980 pelos britânicos durante a guerra das Malvinas (Falklands), na qual dois navios de guerra britânicos foram afundados por três mísseis Exocet. Tanto os mísseis de cruzeiro Exocet como os mísseis de cruzeiro Silkworm faziam parte de uma geração obsoleta de tecnologia de mísseis anti-navios, pois foram ultrapassados pelos mísseis Sunburn e Yakhont. Se o Millenium Challenge foi bem parametrizado a fim de corresponder a uma repetição tendo em vista uma guerra assimétrica com o Irão, a quase-totalidade da Quinta Fronta seria destruída. Não é espantoso, portanto, que o Millenium Challenge tenha sido no fim das contas modificado de modo a que este facto aborrecido fosse ocultado. Até o dia de hoje, a opinião pública tem muito pouca consciência da vulnerabilidade da Quinta Frota estacionada no Golfo Pérsico. Parece que a administração Bush preparou para os jogos estratégicos uma saída que promoveria a sua agenda neoconservadora no Médio Oriente.
A estratégia neoconservadora de ataque ao Irão
Os neocons têm em comum uma filosofia política a qual pretende que a dominação dos Estados Unidos sobre o sistema internacional, na sua qualidade de super-potência única, deva prolongar-se no século XXI e até uma data indeterminada. No princípio de 2006, os neocons que trabalhavam na administração Bush começaram a fazer uma promoção vigorosa de uma nova arma de guerra contra o Irão, devido à alegada ameaça que representaria o programa nuclear este país. O Irão repetiu constantemente que o seu desenvolvimento nuclear é perfeitamente legal e que respeita o Tratado da Não Proliferação Nuclear (TNP). Desde 2004, a administração Bush cita dados provenientes dos seus serviços de informação segundo os quais o Irão desenvolveria armas atómicas, e que em hipótese alguma isto lhe seria permitido.
A maior parte do desenvolvimento nuclear do Irão teria sido efectuado em fábricas subterrâneas construídas a uma profundidade de 70 pés [21,3 m] com estruturas de betão armado que as protegem de quaisquer ataques com armas convencionais conhecidas. Isto levou a administração Bush a pretender, no princípio de 2006, que deveria ser utilizadas armas nucleares tácticas a fim de eliminar as instalações nucleares iranianas [2] . Este facto provocou uma controvérsia inflamada entre neoconservadores de primeira categoria, como Dick Cheney e Donald Rumsfeld, e os chefes dos estados maiores conjuntos, que se opuseram categoricamente a esta eventualidade. O jornalista de investigação Seymour Hersh escreveu, em Maio de 2006, acerca desta oposição destes chefes dos estados maiores conjuntos.
Esforços subsequentes dos neoconservadores, visando justificar um ataque militar multinacional, foram seriamente prejudicados por um cepticismo amplamente difuso na opinião pública quanto à ameaça representada pelo programa nuclear iraniano, assim como pelo respeito, por parte do Irão, do Tratado de Não Proliferação, reafirmado por Mohamed El-Baradei, responsável pela Agência Internacional de Energia Atómica. Este cita avaliações mlitares estado-unidenses segundo as quais o Irão não estará em condições de produzir combustível nuclear suficientemente puro que possa ser utilizado em bombas nucleares antes de alguns anos. A administração Bush, frustrada por esta dupla oposição aos seus planos, em simultâneo no próprio interior da sua burocracia, nas suas forças armadas e na comunidade internacional, adoptou uma estratégia em três plataformas a fim de por o Irão "fora do jogo".
A primeira plataforma consiste em suscitar percepções, na opinião pública, de uma crise de segurança internacional, pondo em guarda contra uma Terceira Guerra Mundial, caso não se chegasse a por um fim ao programa nuclear do Irão. Durante uma conferência de imprensa, a 17 de Outubro de 2007, o presidente Bush declarou: "Se está interessado em evitar a Terceira Guerra Mundial, sem dúvida deveria estar interessado em impedi-los [os iranianos] de ter o conhecimento necessário para fabricar uma arma nuclear". A retórica assustadora de Bush foi seguida logo após pela do vice-presidente Cheney, em 23 de Outubro, quando advertiu num discurso que os EUA e seus aliados estavam "preparados para impor sérias consequências" sobre o Irão.
A segunda estratégia consiste num deslizamento, a ênfase sendo posta menos na necessidade de privar o Irão das suas instalações nucleares, e mais sobre o apoio deste país ao terrorismo. Dada a oposição, militar e política, muito ampla contra ataques às instalações nucleares iranianas, a administração Bush desde então apresenta o Irão como um apoiante do terrorismo no Iraque.
Esta mudança na estratégia foi fortemente corroborada por uma passagem da Emenda Kyle-Lieberman, no Senado, a 26 de Setembro de 2008, designou "o corpo dos Guardas da Revolução Iranianos como uma organização terrorista estrangeira". Isto iria permitir à administração Bush autorizar ataques contra as casernas do Guardas da Revolução no interior do território iraniano, com o pretexto de que eles apoiariam os grupos terroristas iraquianos que atacam as forças americanas.
A terceira estratégia – a mais perigosa – a que recorre a administração Bush consiste em acelerar uma missão encoberta que criaria o ambiente político necessário para uma guerra contra o Irão. Isto foi evidenciado aquando do infame incidente do B-52 "Bent Spear", onde foram descobertos cinco mísseis com ogivas nucleares em vias de serem encaminhados para o Médio Oriente, no quadro de um golpe sujo dos serviços secretos [3] . As ogivas nucleares tinham cargas que variavam de 5 a 150 quilotoneladas, e elas idealmente teriam podido servir para destruir as fábricas subterrâneas do Irão, ou a uma operação com falsa bandeira que seria atribuída ao Irão. Contudo, pessoal da US Air Force recusou-se a obedecer a ordens "ilegais" que vinham muito provavelmente da Casa Branca, evitando assim o que poderia ter implicado a explosão de uma ou de várias bomba(s) nuclear(es) na região do Golfo Pérsico.
As consequências de um ataque contra o Irão
Pretendendo intimidar o Irão, a administração Bush manobrou permanentemente duas formações de porta-aviões no Golfo Pérsico. A amplitude e o calendário de eventuais ataques contra as instalações nucleares ou/e militares do Irão determinariam a rapidez e a amplitude de uma retaliação iraniana. A retaliação iraniana previsivelmente terá como consequência uma escalada militar culminando no recurso, pelo Irão, aos seus mísseis de cruzeiro anti-navios contra a Quinta Frota dos Estados Unidos, e o encerramento do Estreito de Ormuz a toda a navegação. A capacidade do Irão de esconder e lançar mísseis de cruzeiro a partir das suas posições nas montanhas, ao longo do Golfo Pérsico, tornará vulneráveis as embarcações da Quinta Frota que ali manobram. Esta ficaria presa na armadilha, e incapaz de partir para mares mais seguros. Os jogos de guerra do Millenium Challenge, em 2002, assistiram aos afundamento da quase totalidade desta frota. Se um ataque contra o Irão devesse acontecer antes do fim deste ano (2007), ele implicaria a destruição do USS Enterprise e a morte dos 5000 homens que servem neste navio. Quanto às perdas ulteriores em termos de cruzadores de apoio e de outras forças navais pertencentes à Quinta Frota no Golfo Pérsico, elas seriam catastróficas. Um ataque por mísseis de cruzeiro iranianos reeditaria as perdas registadas em Pearl Harbor, onde o envio para o fundo de cinco navios, a destruição de 188 aviões e a morte de 2333 soldados americanos implicou muito rapidamente a declaração de uma guerra total contra o Japão pelo Congresso dos Estados Unidos.
A declaração de uma guerra total contra o Irão pelo Congresso dos EUA implicaria uma campanha de bombardeamentos intensos e uma eventual invasão armada, a fim de provocar uma mudança de regime político no Irão. A mobilização seria decretada nos Estados Unidos a fim de obter o pessoal necessário para uma invasão do Irão, e sustentar as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão, que seriam imediatamente submetidas a uma pressão acrescida.
As tensões experimentariam rapidamente uma escalada com as outras grandes potências, como a Rússia e a China, que forneceram ao Irão sistemas de armas refinados susceptíveis de serem utilizados contra os postos avançados militares americanos. O encerramento do Estreito de Ormuz a toda a navegação e o estado de guerra máximo nos Estados Unidos implicaria um afundamento da economia mundial e um aumento da erosão das liberdades civis nos Estados Unidos, empenhados desde então numa guerra total.
Conclusões
O cenário que acabámos de descrever é altamente plausível, dadas as capacidades militares do Irão em matéria de mísseis de cruzeiro anti-navios, e da vulnerabilidade da US Navy face a estes mísseis, no caso de ela passar à acção no Golfo Pérsico. A administração Bush escondeu à opinião pública estado-unidense a gravidade da vulnerabilidade de Quinta Fronta, bem como a maneira como ela se arrisca a ficar presa na armadilha e ser destruída, no caso de um conflito de grande amplitude com o Irão. Isto ficou particularmente bem evidenciado pela decisão controversa de minimizar os resultados reais dos jogos estratégicos de simulação Milleniu Wargames, e pelas opiniões contrárias expressas pelo tenente-general Van Riper acerca das lições a retirar. Tais opiniões culminaram na assinatura, pelo general Van Riper, de uma petição de generais americanos na reforma apelando à demissão de Donald Rumsfeld.
Os neoconservadores da administração Bush têm perfeita consciência da vulnerabilidade da Quinta Frota e contudo, em várias ocasiões, tentaram afectar até três flotilhas de porta-aviões no Golfo Pérsico, que não faria senão aumentar as perdas estado-unidenses em caso de guerra contra o Irão, seja qual for o tipo. Contudo, a administração Bush continuou a avançar nos seus projectos de ataque nuclear, convencional ou/e subreptício, contra o Irão, que não faria senão precipitar o cenário espantoso acima descrito.
Uma conclusão razoável a tirar disto é que os neoconservadores da administração Bush estão prontos a sacrificar o grosso – até mesmo a totalidade – da Quinta Frota dos EUA ao provocar militarmente o Irão a puxar do seu arsenal de mísseis anti-navios, a fim de justificar uma "guerra total" contra o Irão, e impor uma mudança de regime a este país. Pode-se evitar este novo Pearl Harbor exigindo responsabilidades aos oficiais da administração Bush prontos a sacrificar a Quinta Frota no altar da sua agenda neoconservadora.
Notas
[1] "La grande simulation de la guerre en Irak. Apocalypse Tomorrow ", Réseau Voltaire, 26 septembre 2002.
[2] "L'Iran doit se tenir prêt à contrer une attaque nucléaire", par Général Leonid Ivashov, Réseau Voltaire, 16 février 2007.
[3] "L'affaire du B52 de la base de Minot. La mise en place de bombes nucléaires états-uniennes contre l'Iran?", par Larry Johnson, Horizons et débats, 17 septembre 2007.
[*] Investigador em política internacional, resolução de conflitos, política externa dos EUA e no novo campo da "exopolítica". É autor/editor de cinco livros e possui postos académicos na School of International Service, no Center for Global Peace, American University, Washington DC (1996-2004); no Department of Political Science, Australian National University, Canberra, Australia (1994-96); e na Elliott School of International Affairs, George Washington University, Washington D.C., (2002). Tem um Ph.D em Governo da Universidade de Queensland, Australia, e um M.A. em Filosofia da Universidade de Melbourne, Australia. Efectuou investigação e trabalho de campo em conflitos étnicos em Timor Leste, Kosovo, Macedonia, e Sri Lanka, e organizou iniciativas de paz envolvendo participantes nestes conflitos.
A versão em francês encontra-se em http://www.voltairenet.org/article153012.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Essa foi ótima hahaha!
Realmente estes caras são ótimos humoristas....
¨Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão ¨- Eça de Queiroz