Reforçando a defesa
O debate que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, iniciou sobre a necessidade de reequipamento de nossas Forças Armadas trouxe para o centro das discussões um tema que continua sendo tabu desde o fim da ditadura militar. Os especialistas são unânimes em concordar com a necessidade de uma política estratégica governamental para estabelecer prioridades e, sobretudo, para finalmente conseguir que as três Forças trabalhem em regime de integração e parceria, fazendo com que tenhamos, depois de tantos anos da criação do Ministério da Defesa, uma política integrada de defesa. O Plano Estratégico Nacional de Defesa, que está em elaboração, pretende definir as tarefas a serem desempenhadas por cada uma das três Forças Armadas, e os equipamentos de que elas necessitarão.
Francisco Carlos Teixeira, professor de história contemporânea da UFRJ e professor emérito da Eceme/Escola de Comando e Estado Maior, diz que apenas por engenhosidade e abnegação dos homens das Forças Armadas o conjunto do sistema funciona. “O material/equipamento em uso é precaríssimo e, mesmo, inútil”. Ele lembra que a reposição ou revitalização do inventário militar, como um todo, ficou abaixo da meta global de 4% ao ano.
Precisamos estabelecer as prioridades “de longo prazo e coerentes”
Assim, segundo ele, teríamos que partir para a modernização, o que implica atualização tecnológica para a guerra moderna no século XXI. O segundo passo seria modificar a estrutura, em função da tecnologia alcançada com a modernização.
Para isso, deveríamos caminhar rapidamente “na direção de adequação doutrinária, estudos, jogos de guerra e intenso treinamento”. O último passo seria a mudança na forma de atuar, na doutrina.
Um item importante, na visão de Francisco Carlos Teixeira, seria a recuperação da indústria de defesa, particularmente da Imbel.
O professor Domício Proença Júnior, do Grupo de Estudos Estratégicos da Coppe/UFRJ, acha que o mais fundamental é que “carecemos de institucionalidade para que o presidente da República tenha diante de si os elementos e informação com os quais possa tomar a melhor decisão. Daí, o que se tem é uma sucessão de inércias de cada uma das forças singulares, porque nem se tem política de defesa, nem o projeto de força que materializa a política de defesa em prioridades”.
Proença Júnior acha que a definição de uma política estratégica nacional de defesa passaria “por um arranjo que integrasse a capacidade das três Forças em termos de pronta resposta, por um lado, e um sistema de reservas e mobilização robusto, por outro”.
Fazer esse arranjo, porém, dependeria de se ter “uma visão técnica do que é possível e do quanto custam as diversas alternativas de armamento e sistemas de combate, uma visão política do que sejam desafios, oportunidades e prioridades do Brasil em termos de segurança, e exercitar as possíveis decisões de como se escolhe dentre as primeiras em função das segundas”.
Já Expedito Carlos Stephani Bastos, pesquisador de assuntos militares da universidade Federal de Juiz de Fora, diz que, “se quisermos ter soberania, poder de decisão, hegemonia regional, capacidade dissuasória e uma força para proteger áreas vitais, faz-se necessário manter uma indústria de defesa sólida, que possa atender à demanda das Forças Armadas, desenvolvendo e agregando tecnologias duais, inserindo o país nos novos desafios que se vislumbram no horizonte do conturbado século XXI”.
Segundo ele, “precisamos readequar nosso parque industrial de defesa com fusões de empresas, tornando-as mais competitivas e diversificadas, como tem sido feito na Europa e Estados Unidos, criando uma maior interação entre os diversos centros de pesquisas, civis e militares, que, embora pesquisem as mesmas coisas, na atualidade funcionam como ilhas, sem comunicação uma com as outras, gerando gastos e cometendo erros reincidentes até obterem praticamente os mesmos resultados”.
Seria mais importante, para ele, fortalecer o Ministério da Defesa, “dotando-o de capacidade de decisão e visão, mostrando para que fim realmente veio, servindo de plataforma para gerar uma política de defesa nacional, real e com capacidade prática, pensando o país para os próximos 50 anos, servindo como vetor de incentivar uma industria de defesa que ajude a desenvolver o nosso crescimento, tanto para a área militar como a civil, visto que ambas estão interligadas nos países mais desenvolvidos, gerando conhecimento, divisas e empregos”.
Expedito Bastos ressalta que precisamos ter hoje uma visão estratégica “que nos faltou em décadas passadas, e compreender que produzir e desenvolver material de defesa não faz mal à sociedade, visto que, se conseguirmos dominar pontos importantes nesta área, ele trará enorme benefício a todos”.
Clóvis Brigadão, do Centro de Estudos Estratégicos da universidade Candido Mendes, reclama uma política pública de defesa orientada, com respaldo do Congresso Nacional, alicerçada em discussão pública com setores bem informados e qualificados da opinião pública, “que oriente a política de reequipamento das Forças Armadas, a fim de que elas sirvam à essa política ou ao novo Plano Nacional Estratégico de Defesa e não, como ocorre, que a demanda por equipamentos / armas seja feita através de mecanismos de lobbies do Exército, da Marinha e da Aeronáutica”.
Clóvis Brigadão destaca que “não temos uma política integrada de defesa, mas temos o Exército, a Marinha e a Aeronáutica solicitando – como pedintes – verbas para o seu reaparelhamento”.
Não temos também uma “política integrada de orçamento, nem política integrada de compras, nem de despesas”.
(Continua amanhã)
Fonte: Coluna do Merval Pereira no jornal O Globo de 24/11/2007
Coluna do Merval Pereira - Reforçando a defesa - 2
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- Edu Lopes
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Coluna do Merval Pereira - Reforçando a defesa - 2
Vou colocar aqui no Gerais mesmo.
Editado pela última vez por Edu Lopes em Sáb Dez 01, 2007 10:54 am, em um total de 3 vezes.


- alex
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Falam, falam e não ocorre nada.
Lembram deste ano?
Diziam:
- olha depois do carnaval novidades....
_ Espera a LAAD que voce vai ver o que foi adquirido...
- Ficou para o segundo semestre.....
- Vai ser no sete de setembro....
- Deve ser anunciado no dia da aviação de caça....
fala, fala , fala e fala
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- Edu Lopes
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Aqui vai a continuação do artigo do Merval.
Submarino nuclear
A parte mais polêmica da discussão em curso sobre o Plano Estratégico Nacional de Defesa é a que se refere ao projeto do submarino nuclear, que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou recentemente em seminário no Rio como imprescindível para a defesa de nosso litoral, depois da descoberta do megacampo petrolífero Tupi, na costa santista. Embora Jobim tenha deixado claro que o programa nuclear brasileiro não será usado para fins não-pacíficos, em um governo que desde os seus primórdios não esconde as críticas ao fato do Brasil ter assinado, na gestão de Fernando Henrique, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), sempre que o tema nuclear é abordado há a sensação de que se trata de preparação para uma mudança de posição.
Ainda mais que, na mesma época, o secretário de Política, Estratégia e Relações Internacionais do Ministério da defesa, general-de-exército José Benedito de Barros Moreira, defendeu em um programa de televisão que o Brasil desenvolva a tecnologia necessária para a fabricação da bomba atômica: “Nós temos que ter no Brasil a possibilidade futura de, se o Estado assim entender, desenvolver um artefato nuclear. Não podemos ficar alheios à realidade do mundo”. O descumprimento do TNP ocorreria, segundo ele, no caso hipotético de um país vizinho fabricar a bomba ou “no momento que o Estado se sentir ameaçado”. O general não foi desautorizado por ninguém do governo, mas o uso do submarino nuclear para a defesa de nossa costa provocou polêmica.
Clóvis Brigadão, do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade Candido Mendes, atribui à veia política do ministro o uso do exemplo do submarino nuclear, mas admite que “não há ninguém responsável que não afirme, diante da grandeza do Brasil e de suas exigências de defesa, que as Forças Armadas necessitam ser reaparelhadas, modernizadas, atualizadas para enfrentar situações críticas, quer em decorrência de corrida armamentista encabeçada por Hugo Chávez quer por ameaças e vulnerabilidades na Amazônia – o principal foco de atenção de defesa do país pela sua riqueza, natureza multidimencional econômico-ecológica – quer por quaisquer razões que entrem no rol de ameaças à defesa do país, como será o caso do novo campo de petróleo Tupi”.
Para Francisco Carlos Teixeira, professor de História Contemporânea da UFRJ, o novo terrorismo internacional procura “janelas” de oportunidades, visando atingir o inimigo e seus desdobramentos vitais e/ou simbólicos, tais como bases militares, empresas, franquias, embaixadas, pessoal de cooperação, etc.... “Se for difícil atingir o inimigo no núcleo duro e blindado dos centros de poder, busca-se a periferia ‘mole’.
Veja, os atentados contra a Embaixada de Israel e a AMIA, em Buenos Aires, com centenas de mortos”.
Para ele, qualquer um que diga hoje que o terrorismo é uma ilusão no nosso país e continente “ou possui uma bola de cristal ou é mesmo irresponsável”.
Francisco Carlos acha que é preciso adotar “medidas básicas de prevenção”, entre elas o submarino nuclear.
Assim como o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, um dos maiores críticos da assinatura do TNP, considera que, à medida que o país cresce de influência internacional, terá mais responsabilidades, inclusive a de defender os investimentos de empresas brasileiras no exterior, também o professor Francisco Carlos Teixeira acha que o terrorismo ou outros tipos de conflito podem atingir nossos cidadãos ou interesses em países bem mais conflitados, tais como Angola, Líbano, Bolívia.
Alem disso, a crescente relevância da nossa região off-shore, a chamada Amazônia Azul, “implica clara responsabilidade de defesa de tamanha riqueza de gás, petróleo, pesca, medidas antipoluição e conservação do santuário do Atlântico Sul, entre outras”, ressalta.
Eliezer Rizzo, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas, acha que o projeto do submarino nuclear, que existe desde os anos 80 envolvendo a Marinha e a USP, “em boa foi aberto à sociedade e às universidades, ainda naquela década. Os resultados parecem relevantes, considerando que se trata de propulsão e não de armamento nuclear.
Portanto o projeto deve ser concluído com recursos adequados e fluentes, definindo-se quantos submarinos terão estas características”.
Mas ele acha que o submarino nuclear deve atuar nas costas brasileiras, sem a missão de defender especificamente uma plataforma ou algo assim, “pois isso limitaria seu âmbito de atuação, que teria caráter estratégico, no sentido de que este instrumento de dissuasão se encontrará em permanente movimento em águas profundas”.
Outros setores da Marinha do Brasil garantiriam a segurança da produção de petróleo, pesca, etc...
Como não se tratará de atitude agressiva com relação a qualquer Estado, para Rizzo “nada impedirá que o Brasil abra a países como Argentina e Chile, se houver interesse, alguma forma de participação em etapas futuras”. O mesmo poderá ocorrer com o Sivam e o programa aeroespacial, lembra ele, acrescentando: “Se temos cooperação com a China, por que não com vizinhos respeitados e democráticos?”
Já Expedito Carlos Stephani Bastos, pesquisador de Assuntos Militares da Universidade Federal de Juiz de Fora, acha que, ao invés de termos um submarino nuclear, “extremamente caro e complexo”, seria melhor termos “uma frota de vinte ou mais submarinos convencionais, modernos, fabricados localmente com tecnologia externa que fosse sendo agregada e absorvida, como foi feita em um passado recente”. Nesse caso, sim, teríamos, para o especialista, “uma frota com capacidade dissuasória em nossas águas territoriais, criando condições para mantermos itens e fluxos importantes e estratégicos ao país”.
Fonte: Coluna do Merval Pereira no jornal O Globo de 25/11/2007


- Tigershark
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Notas Estratégicas - Strategic Notes
DEFESA@NET 29 Novembro 2007
O Globo 29 Novembro 2007
A reboque
Merval Pereira
A Junta de Defesa do Continente, que o presidente Lula pretende propor na 3ª reunião de chefes de Estado da União Sul-Americana de Nações, em Cartagena, na Colômbia, nada mais é do que uma das principais linhas da política militar de Hugo Chávez. O governo brasileiro estaria assumindo essa iniciativa como sua para retirá-la do contexto da política antiamericana chavista, segundo versões oficiais, ou, de acordo com seus críticos, estaria simplesmente validando a escalada militar bolivariana na região.
O grupo seria formado pelos ministros da Defesa de todos os países, teria como principal missão proteger a Região Amazônica e as fronteiras marítimas, e substituiria, este é o temor, a Junta Inter-Americana de Defesa, da qual participa os Estados Unidos.
Segundo o cientista político Amaury de Souza, em artigo para a revista "Digesto Econômico" da Associação Comercial de São Paulo, "para contra-arrestar a ameaça militar norte-americana, três linhas de ação vêm sendo implementadas: 1) uma nova visão estratégica de defesa nacional no marco de uma guerra assimétrica; 2) a defesa integral da nação com base em uma aliança cívico-militar; 3) o fortalecimento e a preparação da Força Armada Nacional, com a modernização de seu equipamento e a criação de uma força conjunta para a defesa da América do Sul".
O deputado federal Raul Jungmann, do PPS, membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, não concorda com a postura do governo brasileiro na região. Segundo ele, o Brasil adota um "pragmatismo de shopping" diante das graves crises políticas que se desenrolam no continente, "assistindo a tudo e abrindo mão de sua liderança". Jungmann define a postura brasileira diante da exportação da "revolução bolivariana" pelo continente como de "paralisia pela ideologização" e critica o fato de "uma certa esquerda enquistada no governo ter a Venezuela de Chávez como paradigma".
O que tem sido menos perceptível no esquema militar chavista, segundo Amaury de Souza, "são os esforços em prol de uma integração militar e geopolítica paralela à integração econômica da região e do desenvolvimento de um pensamento militar autóctone".
Segundo ele, "tem-se travado nas organizações militares do continente um debate sobre as vantagens de um esquema hemisférico de defesa, com a participação dos Estados Unidos, e de esquemas regionais, que não requerem necessariamente sua participação".
Estes últimos enfatizam a cooperação multilateral de defesa com especial atenção às particularidades de cada país e da América do Sul, sem excluir ou hostilizar os Estados Unidos. "Precisamente o contrário foi proposto no âmbito da defesa dos membros da ALBA (Cuba, Nicarágua, Venezuela e Bolívia). Trata-se de um pacto militar para a defesa conjunta contra os Estados Unidos".
Consequência grave dessa tendência é a tentação de intervir militarmente em um país vizinho, adverte Amaury de Souza, lembrando que acordo de cooperação militar entre a Venezuela e a Bolívia concede à primeira o direito de acantonar tropas e construir bases militares nas fronteiras da Bolívia.
Prevê-se a construção de um porto da Marinha em Puerto Quijarro, no departamento de Santa Cruz de la Sierra, a 200 quilômetros de Corumbá e da fronteira com o Paraguai, e de um forte militar em Riberalta, no departamento de Beni, próximo à fronteira com o Brasil.
Essa militarização pode ensejar conflitos com países vizinhos, ou até incentivar aventuras externas para galvanizar a opinião pública em apoio ao governo, comenta Amaury de Souza. "Não por acaso, as novas bases se localizam em áreas onde é forte a oposição ao governo de Evo Morales, deixando entrever a possibilidade de que as tropas sejam usadas para reprimir manifestações políticas", analisa o cientista político.
Também o deputado Raul Jungmann, que visitou a Bolívia recentemente, garante que a segurança pessoal do presidente Evo Morales é feita por agentes venezuelanos. Para Jungmann, além do fator ideológico que rege nossa política externa na região, depois que o conflito leste-oeste foi encerrado, a diplomacia brasileira perdeu os parâmetros da política externa, ao mesmo tempo em que a América do Sul deixou de ser do interesse dos Estados Unidos, preocupados com as questões do Oriente Médio e do terrorismo internacional.
A ousadia de Chávez e os petrodólares abundantes transformaram a Venezuela no novo pólo diplomático na região, e o Brasil está seguindo a reboque, "numa postura sindicalista", acusa Jungmann. Segundo ele, pela primeira vez depois da democratização está sendo aberta uma janela para a discussão do papel dos militares, justamente pela mudança que está havendo na região. "A América do Sul não é mais uma área pacífica e a tendência à nuclearização da região é uma ameaça concreta", diz o deputado do PPS, referindo-se aos acordos que a Venezuela está fazendo com países como o Irã, a Coréia do Norte e a Rússia.
No momento em que já não existem mais "alinhamentos automáticos" no mundo, raciocina Jungmann, cada país começa a realizar seus próprios alinhamentos, segundo interesses imediatos, e é o que está levando a Venezuela a expandir seu "socialismo do século XXI". "O Brasil, diante dessa realidade, não age como protagonista que é na região, numa política pragmática que leva em conta de um lado as supostas vantagens comerciais, e de outro a ideologia política".
Exemplo dessa incoerência é o fato de que, ao mesmo tempo que admite retomar os acordos com a Bolívia sobre o gás, mesmo depois da quebra de contratos anteriores e com a situação de crise política aguda, o Exército brasileiro já fez manobras perto da fronteira, preparando-se para a hipótese, cada vez mais presente, de haver uma guerra civil e os brasileiros terem de ser evacuados.
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A Junta de Defesa do Continente, que o presidente Lula pretende propor na 3ª reunião de chefes de Estado da União Sul-Americana de Nações, em Cartagena, na Colômbia, nada mais é do que uma das principais linhas da política militar de Hugo Chávez. O governo brasileiro estaria assumindo essa iniciativa como sua para retirá-la do contexto da política antiamericana chavista, segundo versões oficiais, ou, de acordo com seus críticos, estaria simplesmente validando a escalada militar bolivariana na região.
O grupo seria formado pelos ministros da Defesa de todos os países, teria como principal missão proteger a Região Amazônica e as fronteiras marítimas, e substituiria, este é o temor, a Junta Inter-Americana de Defesa, da qual participa os Estados Unidos.
Segundo o cientista político Amaury de Souza, em artigo para a revista "Digesto Econômico" da Associação Comercial de São Paulo, "para contra-arrestar a ameaça militar norte-americana, três linhas de ação vêm sendo implementadas: 1) uma nova visão estratégica de defesa nacional no marco de uma guerra assimétrica; 2) a defesa integral da nação com base em uma aliança cívico-militar; 3) o fortalecimento e a preparação da Força Armada Nacional, com a modernização de seu equipamento e a criação de uma força conjunta para a defesa da América do Sul".
O deputado federal Raul Jungmann, do PPS, membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, não concorda com a postura do governo brasileiro na região. Segundo ele, o Brasil adota um "pragmatismo de shopping" diante das graves crises políticas que se desenrolam no continente, "assistindo a tudo e abrindo mão de sua liderança". Jungmann define a postura brasileira diante da exportação da "revolução bolivariana" pelo continente como de "paralisia pela ideologização" e critica o fato de "uma certa esquerda enquistada no governo ter a Venezuela de Chávez como paradigma".
O que tem sido menos perceptível no esquema militar chavista, segundo Amaury de Souza, "são os esforços em prol de uma integração militar e geopolítica paralela à integração econômica da região e do desenvolvimento de um pensamento militar autóctone".
Segundo ele, "tem-se travado nas organizações militares do continente um debate sobre as vantagens de um esquema hemisférico de defesa, com a participação dos Estados Unidos, e de esquemas regionais, que não requerem necessariamente sua participação".
Estes últimos enfatizam a cooperação multilateral de defesa com especial atenção às particularidades de cada país e da América do Sul, sem excluir ou hostilizar os Estados Unidos. "Precisamente o contrário foi proposto no âmbito da defesa dos membros da ALBA (Cuba, Nicarágua, Venezuela e Bolívia). Trata-se de um pacto militar para a defesa conjunta contra os Estados Unidos".
Consequência grave dessa tendência é a tentação de intervir militarmente em um país vizinho, adverte Amaury de Souza, lembrando que acordo de cooperação militar entre a Venezuela e a Bolívia concede à primeira o direito de acantonar tropas e construir bases militares nas fronteiras da Bolívia.
Prevê-se a construção de um porto da Marinha em Puerto Quijarro, no departamento de Santa Cruz de la Sierra, a 200 quilômetros de Corumbá e da fronteira com o Paraguai, e de um forte militar em Riberalta, no departamento de Beni, próximo à fronteira com o Brasil.
Essa militarização pode ensejar conflitos com países vizinhos, ou até incentivar aventuras externas para galvanizar a opinião pública em apoio ao governo, comenta Amaury de Souza. "Não por acaso, as novas bases se localizam em áreas onde é forte a oposição ao governo de Evo Morales, deixando entrever a possibilidade de que as tropas sejam usadas para reprimir manifestações políticas", analisa o cientista político.
Também o deputado Raul Jungmann, que visitou a Bolívia recentemente, garante que a segurança pessoal do presidente Evo Morales é feita por agentes venezuelanos. Para Jungmann, além do fator ideológico que rege nossa política externa na região, depois que o conflito leste-oeste foi encerrado, a diplomacia brasileira perdeu os parâmetros da política externa, ao mesmo tempo em que a América do Sul deixou de ser do interesse dos Estados Unidos, preocupados com as questões do Oriente Médio e do terrorismo internacional.
A ousadia de Chávez e os petrodólares abundantes transformaram a Venezuela no novo pólo diplomático na região, e o Brasil está seguindo a reboque, "numa postura sindicalista", acusa Jungmann. Segundo ele, pela primeira vez depois da democratização está sendo aberta uma janela para a discussão do papel dos militares, justamente pela mudança que está havendo na região. "A América do Sul não é mais uma área pacífica e a tendência à nuclearização da região é uma ameaça concreta", diz o deputado do PPS, referindo-se aos acordos que a Venezuela está fazendo com países como o Irã, a Coréia do Norte e a Rússia.
No momento em que já não existem mais "alinhamentos automáticos" no mundo, raciocina Jungmann, cada país começa a realizar seus próprios alinhamentos, segundo interesses imediatos, e é o que está levando a Venezuela a expandir seu "socialismo do século XXI". "O Brasil, diante dessa realidade, não age como protagonista que é na região, numa política pragmática que leva em conta de um lado as supostas vantagens comerciais, e de outro a ideologia política".
Exemplo dessa incoerência é o fato de que, ao mesmo tempo que admite retomar os acordos com a Bolívia sobre o gás, mesmo depois da quebra de contratos anteriores e com a situação de crise política aguda, o Exército brasileiro já fez manobras perto da fronteira, preparando-se para a hipótese, cada vez mais presente, de haver uma guerra civil e os brasileiros terem de ser evacuados.
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Tigershark escreveu:Notas Estratégicas - Strategic Notes
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Segundo o cientista político Amaury de Souza, em artigo para a revista "Digesto Econômico" da Associação Comercial de São Paulo, "para contra-arrestar a ameaça militar norte-americana, três linhas de ação vêm sendo implementadas: 1) uma nova visão estratégica de defesa nacional no marco de uma guerra assimétrica; 2) a defesa integral da nação com base em uma aliança cívico-militar; 3) o fortalecimento e a preparação da Força Armada Nacional, com a modernização de seu equipamento e a criação de uma força conjunta para a defesa da América do Sul".
O deputado federal Raul Jungmann, do PPS, membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, não concorda com a postura do governo brasileiro na região. Segundo ele, o Brasil adota um "pragmatismo de shopping" diante das graves crises políticas que se desenrolam no continente, "assistindo a tudo e abrindo mão de sua liderança". Jungmann define a postura brasileira diante da exportação da "revolução bolivariana" pelo continente como de "paralisia pela ideologização" e critica o fato de "uma certa esquerda enquistada no governo ter a Venezuela de Chávez como paradigma".
O que tem sido menos perceptível no esquema militar chavista, segundo Amaury de Souza, "são os esforços em prol de uma integração militar e geopolítica paralela à integração econômica da região e do desenvolvimento de um pensamento militar autóctone".
Segundo ele, "tem-se travado nas organizações militares do continente um debate sobre as vantagens de um esquema hemisférico de defesa, com a participação dos Estados Unidos, e de esquemas regionais, que não requerem necessariamente sua participação".
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Consequência grave dessa tendência é a tentação de intervir militarmente em um país vizinho, adverte Amaury de Souza, lembrando que acordo de cooperação militar entre a Venezuela e a Bolívia concede à primeira o direito de acantonar tropas e construir bases militares nas fronteiras da Bolívia.
Prevê-se a construção de um porto da Marinha em Puerto Quijarro, no departamento de Santa Cruz de la Sierra, a 200 quilômetros de Corumbá e da fronteira com o Paraguai, e de um forte militar em Riberalta, no departamento de Beni, próximo à fronteira com o Brasil.
Essa militarização pode ensejar conflitos com países vizinhos, ou até incentivar aventuras externas para galvanizar a opinião pública em apoio ao governo, comenta Amaury de Souza. "Não por acaso, as novas bases se localizam em áreas onde é forte a oposição ao governo de Evo Morales, deixando entrever a possibilidade de que as tropas sejam usadas para reprimir manifestações políticas", analisa o cientista político.
Também o deputado Raul Jungmann, que visitou a Bolívia recentemente, garante que a segurança pessoal do presidente Evo Morales é feita por agentes venezuelanos. Para Jungmann, além do fator ideológico que rege nossa política externa na região, depois que o conflito leste-oeste foi encerrado, a diplomacia brasileira perdeu os parâmetros da política externa, ao mesmo tempo em que a América do Sul deixou de ser do interesse dos Estados Unidos, preocupados com as questões do Oriente Médio e do terrorismo internacional.
A ousadia de Chávez e os petrodólares abundantes transformaram a Venezuela no novo pólo diplomático na região, e o Brasil está seguindo a reboque, "numa postura sindicalista", acusa Jungmann. Segundo ele, pela primeira vez depois da democratização está sendo aberta uma janela para a discussão do papel dos militares, justamente pela mudança que está havendo na região. "A América do Sul não é mais uma área pacífica e a tendência à nuclearização da região é uma ameaça concreta", diz o deputado do PPS, referindo-se aos acordos que a Venezuela está fazendo com países como o Irã, a Coréia do Norte e a Rússia.
No momento em que já não existem mais "alinhamentos automáticos" no mundo, raciocina Jungmann, cada país começa a realizar seus próprios alinhamentos, segundo interesses imediatos, e é o que está levando a Venezuela a expandir seu "socialismo do século XXI". "O Brasil, diante dessa realidade, não age como protagonista que é na região, numa política pragmática que leva em conta de um lado as supostas vantagens comerciais, e de outro a ideologia política".
Exemplo dessa incoerência é o fato de que, ao mesmo tempo que admite retomar os acordos com a Bolívia sobre o gás, mesmo depois da quebra de contratos anteriores e com a situação de crise política aguda, o Exército brasileiro já fez manobras perto da fronteira, preparando-se para a hipótese, cada vez mais presente, de haver uma guerra civil e os brasileiros terem de ser evacuados.
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A coisa é mesmo interessante... O deputado Raul Jungmann levou muito cacete no governo FHC, não saia da mídia para "explicar" as coisas. Depois que virou oposição também virou "teórico da conspiração". Mas é tão fraquinho das idéias que não consegue acertar uma. Na verdade é o contrário, na votação da cassação do senador Renan Calheiros, além de não acertar nada, foi acertado (um direto na cara, pelos seguranças da Casa).
É o que eu digo, quem bate bumbo deve ter cuidados para não acertar os dedos. rsrsrs
Mudando um pouquinho, mas colocando "malagueta" no papo: o sr. Merval Pereira, grande jornalista (falo sério, apesar de algumas divergências), nome importante dentro das organizações Globo, ocupava um cargo importante e teve que voltar (não se trata de "rebaixamento") para ocupar esta coluna que um dia foi sua no passado (nomes "fracos" passaram por ela durante um bom tempo. A troca foi muito boa para o jornal).
Bem, ele voltou azedo em relação ao governo. Profetizou, bateu, esmagou. Nada de mais, estava correto. Porém os índices de aceitação do Presidente não caía, então resolveu bater no PT. Deu boas risadas com suas cutudas inteligentes e provocativas, colheu bons frutos com seus artigos.
O tempo passou, insistiu na tese, mas... A coisa melou internamente (resultados das pesquisas internas), algo precisava ser feito. E...
rsrsrsrs
Já observaram que o sr. Merval Pereira praticamente não escreve um artigo que seja necessário criticar o governo sem usar "nomes" e "referências"? O cara não se expõe mais. Se precisa bater, usa os "peões" exaltados, escreve as opiniões de terceiros, mas que no fundo ele compactua.
Uma tática muito boa, mas ele se esquece que quem "assina" a coluna é ele, ou seja, dá espaços para todos (democrático?), principalmente para os que falam o que ele gostaria de dizer. rsrsrs
Abraços,
Orestes
Merval Pereira e é o verdadeiro jornalista profisisonal . Jornalista não é semi-deus com conhecimentos acadêmicos em Economia , politica ...logo ele chama quem ele acha que sabe das coisas . Ele é bem eclético nas suas fontes , já chamou até economista petista para dar opinião recentemente . O problema é que ja virou moda para os pró petistas criticar qq um que fala mal do PT usando acusações como parcialidade.... Para os incautos recomendo a leitura de sua coluna sem paixões e tirar suas conclusões .
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Então são Quatro , eu e o Dieneces acompanhamos...orestespf escreveu:Wolfgang escreveu:Pode ser. Por isso sou fã do Reinaldo Azevedo. Ele não bate no governo (no que é necessário), humilha. Tanto é que tentaram inventar uma suposta falcatrua envolvendo Nossa Caixa e Primeira Leitura que não colou...
Penso como o grande amigo!!
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Malandro escreveu:Merval Pereira e é o verdadeiro jornalista profisisonal . Jornalista não é semi-deus com conhecimentos acadêmicos em Economia , politica ...logo ele chama quem ele acha que sabe das coisas . Ele é bem eclético nas suas fontes , já chamou até economista petista para dar opinião recentemente . O problema é que ja virou moda para os pró petistas criticar qq um que fala mal do PT usando acusações como parcialidade.... Para os incautos recomendo a leitura de sua coluna sem paixões e tirar suas conclusões .
E o que tem o PT nesta história? Os comentários são sobre o jornalista citado. Gostar ou não de seu trabalho é algo pessoal, então por que criticar opiniões que destoam da sua? Agressividade descabida e desnecessária, Malandro. Podia ter guardado o que escreveu no final do post (negritado) só para você.
Orestes
Ah Orestes , na boa , toda vez que você pode você sempre passa a mão na cabeça deste governo corrupto e malha quem fala mal dele . Primeiro a Miriam , agora o Merval ... Você pode até dizer que não é petista e até mesmo posso estar errado já que leio os posts em uma leitura "dinãmica"( mais pra birolho que outra coisa ) mas me dá uma impressão totalmente contrária . Concordo que o gosto do trabalho alheio é muito subjetivo mas chamar alguém de parcial é muito grave , ainda mais para um jornalista que é um dos âncoras de um dos principais jornais televisivos a cabo , O Jornal das Dez . Concluindo , se cometi alguma injustiça peço desculpas . Se não tb peço desculpas pela mimha agressividade excessiva ,conforme você reparou , pode-se dizer tudo na vida mas do modo correto . Confesso que soou grosseiro a maneira como postei , estresses pessoais , nada contigo .
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Malandro escreveu:Ah Orestes , na boa , toda vez que você pode você sempre passa a mão na cabeça deste governo corrupto e malha quem fala mal dele . Primeiro a Miriam , agora o Merval ... Você pode até dizer que não é petista e até mesmo posso estar errado já que leio os posts em uma leitura "dinãmica"( mais pra birolho que outra coisa ) mas me dá uma impressão totalmente contrária . Concordo que o gosto do trabalho alheio é muito subjetivo mas chamar alguém de parcial é muito grave , ainda mais para um jornalista que é um dos âncoras de um dos principais jornais televisivos a cabo , O Jornal das Dez . Concluindo , se cometi alguma injustiça peço desculpas . Se não tb peço desculpas pela mimha agressividade excessiva ,conforme você reparou , pode-se dizer tudo na vida mas do modo correto . Confesso que soou grosseiro a maneira como postei , estresses pessoais , nada contigo .
Olá Malandro,
não tem que se desculpar, jamais ficaria ofendido com o amigo.
Já tinha me esquecido da Míriam... rsrsrs Vamos separar um pouco os fatos. A minha birra (ou parcialidade minha?) não é com a Míriam ou com o Merval, mas é com a forma de trabalho imposta pelas Organizações Globo. Deixo claro também que não tenho nada contra a Globo, pelo contrário, só elogios. Mas esta organização tem o hábito de dizer aos seus jornalistas o que devem escrever, o que não é muito diferente das demais.
Você falou do Merval no Jornal das 10, mas ele aparece o tempo todo na Globo News. Antes dele "ancorar" os noticiários da Globo News, vi uma entrevista dele, onde explicava o motivo de ter voltado com a sua coluna no Globo. Ele foi claro, os vários jornalistas que passaram por esta coluna não estavam cumprindo as determinações do editor-chefe. Chegaram a conclusão que apenas ele poderia fazer o desejado, pois o seu pensamento de direita coincidia com o desejado pela equipe "superior" do citado jornal.
E qual o problema nisso? Só porque ele é de direita e assumido? Nenhum problema, escreve muito bem e apresenta ótimo argumentos.
Já a Míriam, sem chances, é fraquinha que dói. Durante anos ela foi responsável pela coluna de economia no Globo, dando gafes, uma atrás da outra. Aceitava sem problema algum, erros são comuns e às vezes aceitáveis. Porém a economia se "estabilizou", fala-se pouco sobre o assunto, a grande massa nem deve saber ao certo os nomes do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central. Então ela teve que diversificar. Está sendo um Deus nos acuda, pois a mesma resolver escrever sobre política na coluna de economia, além de ter se transformado em analista político na Globo e Globo News. Não é a praia dela, a todo instante ela se contradiz. E para encerrar, a Míriam militou na esquerda durante anos a fio e ainda carrega isso até hoje, mas está longe do que fazia no passado como uma radical esquerdista.
Está vendo? Minhas críticas são sobre dois jornalistas de um mesmo jornal, mas um de direita e outro com forte influência de esquerda. O problema é que a jornalista que foi de esquerda resolveu mudar para a direita, ou seja, vive em conflitos ideológicos, já que não aceita ser rotulada como se fosse de "centro". E estes conflitos ideológicos fazem com que seu trabalho "oscile" constantemente, dando uma sensação de alteração de humor.
Quanto ao Governo e o PT: não sou petista, mas já votei no PT dos meus 18 aos 24 anos. Hoje tenho 40 anos, não gosto do PT, da mesma forma que não gosto de nenhum partido brasileiro. Atualmente voto em nomes, em pessoas, não me prendo a ideologias a mais de 15 anos. Observe que eu votava no PT, mas não tinha uma ideologia de esquerda, apenas achava que seria uma forma de mudar o sistema político que existia na época.
Quando o FHC assumiu seu primeiro mandato eu confesso que fiquei empolgado, gostei das idéias, me surpreendi que a mudança de esquerda para a direita que o FHC adotou (positivamente). Vi que existiam propostas novas sendo implementadas e que eram diferentes do que o PT pregava e muito diferente do que havia no passado. Apostei minhas fichas naquele governo, mas o segundo mandato mostrou-me que ainda haviam erros e que ainda era necessário mudar.
Entra o Lula na presidência, e vários erros do governo FHC foram aos poucos sendo corrigidos. Porém este governo também introduziu erros, alguns grandes, mas que estão sendo corrigidos igualmente.
Assim sendo, não analiso governos por seus erros, mas por seus acertos. Negar que este governo vem acertando em vários pontos, muitos nevrálgicos, seria demonstração de ignorância. As coisas estão acontecendo e estão aí. Os críticos que aparecem, fazem suas análises e comentários com um viés puramente político e não técnicos, pois sabem que estão errados, não têm argumentos que se sustentem.
Este argumento de que no governo FHC houve crises mundiais que atrapalharam seu governo e que o Lula deu sorte por não passar por crises mundiais na economia é de natureza política e não técnica. Muitos não percebem isso.
Se a discussão fosse técnica, bastaria um só argumento para desconstruir isso: se a economia do País estivesse em ordem no governo FHC, não existiria crise alguma que jogasse o Brasil no fundo do poço, como ocorreu.
As crises mundiais que atingiram o Brasil serviram para mostrar duas coisas: primeiro que a economia brasileira não estava tão boa como o governo FHC dizia; segundo, se a economia não estava boa é porque a equipe econômica da época não conseguiu resolver os problemas.
O maior problema das pessoas que ocuparam cargos no setor econômico do governo FHC "sofria" por excessos de vaidades e de egos feridos. Os economistas da época não eram "estrelas", eram individualmente verdadeiras "constelações". Então...
E o que vemos neste governo atual em seus dois mandatos? Algo totalmente diferente, ministros que quase não aparece na mídia, sinal claro de que estão trabalhando.
Existem erros? Muitos! Mas se analisar friamente, não são em grande parte por culpa do governo, mas pelo partido do Presidente, este PT que mais atrapalha do que ajuda. O símbolo do PT é uma estrela porque tem várias "estrelas" lá dentro, cada uma querendo "brilhar" mais do que a outra, mas são "estrelas" que brilham menos do que luz de vela, e aí os problemas aparecem.
E as falhas que vejo neste governo não são em seus projetos, o que existem são bons e têm mostrado resultados. O problema está justamente na falta de projetos para vários setores, várias áreas que não apresentam uma política clara, não sabem o que fazer para combater. Isto se deve a um pensamento pequeno que foi levado ao governo desde o primeiro dia: não se pode resolver todos os problemas, devemos dar prioridades aos mais importantes.
Isto está correto até certo ponto, a prioridade é correta, mas não significa que os menos prioritários possam ficar sem um projeto, sem uma política. Este governo erra por ser omisso em algumas áreas, mas acerta onde ele ataca o problema de frente. Assim é que vejo esse governo Lula.
Abração,
Orestes