#4964
Mensagem
por EDSON » Qui Nov 22, 2007 3:05 pm
Precisamos valorizar nossas forças armadas
19 de Novembro de 2007 às 18:22
O Brasil precisa comprar e vender armas para fazer política externa? Precisa. A gente goste ou não, aspectos militares fazem parte da projeção internacional de qualquer país que pretende ter sua voz mais ouvida, como é o caso do Brasil.
As recentes compras de armamentos feitas por Hugo Chávez foram um bom pretexto para os militares brasileiros chamarem mais uma vez a atenção de seus chefes civis. As três forças foram sucateadas nas últimas décadas – especialmente Marinha e Aeronáutica, confrontadas com a rápida evolução tecnológica de equipamentos caros e complexos, têm grandes dificuldades em se dizerem “modernas”.
Há pouco mais de 20 anos, o Brasil sentiu o sabor de praticar política externa vendendo armamentos – e acabou com um gostinho amargo na boca. O País especializou-se em explorar os nichos de mercado de equipamentos menos sofisticados e, portanto, mais baratos e fáceis de serem utilizados (carros blindados leves, lança mísseis convencionais). Mas teve com um de seus clientes preferenciais – Saddam Hussein – uma péssima experiência.
A indústria de armamentos brasileira tinha, então, um forte componente estatal e à falência do Estado brasileiro como principal investidor seguiu-se a infalível cobrança feita pelos países que detêm tecnologias avançadas (seja até as que servem para revestimentos de foguetes ou de panelas de cozinha): se vocês, brasileiros, querem acesso ao que existe de mais moderno, então se comportem de acordo com certas regras.
As principais delas, resumidas para o público não especializado, estão contidas em dois acordos internacionais dos quais o Brasil resolveu fazer parte. Um deles (o TNP) regula a transferência de tecnologia nuclear, especialmente a que pode chegar a ser usada para fabricação de material para bombas. O segundo (o MTCR) estipula a cessão, comercial ou não, de conhecimentos e tecnologias que possam ser usadas para foguetes e mísseis (o que inclui, por exemplo, computadores que normalmente se usa para previsão de tempo).
É um velho dogma entre militares brasileiros o de que os atestados de boa conduta (o “bom mocismo”, como eles gostam de dizer) obtidos pelo Brasil – nunca mais nos metemos a armar ditadores – não necessariamente nos trouxeram benefícios em termos de acesso a tecnologias e equipamentos. Arrisco afirmar, contudo, que o fato do Brasil manter-se bastante atrasado em relação aos grandes centros produtores de armas e sistemas de defesa se deve em primeiro lugar ao atraso geral do País, à sua incapacidade notória (principalmente no que depende de políticas e ações públicas, em particular do atual governo) de organizar e explorar os próprios recursos, e à falta de visão de que lugar pretende ocupar no mundo.
Em outras palavras, não é conseqüência dos tratados que assinamos mas, sim, culpa de sucessivos governos. Há sinais encorajadores em relação ao atual time de plantão no Planalto? Infelizmente, não. O apagão aéreo mostrou graves insuficiências na Aeronáutica, que estão sendo corrigidas da mesma maneira como se mandou tapar buracos em estradas em ano de eleição.
Chávez comprou aviões russos de última geração, perto dos quais nossas mais modernas aeronaves de combate parecem obsoletas? Então vamos ressuscitar o programa de compra de caças. É importante destacar, neste contexto, que a compra dos aviões e a transferência de tecnologia de fabricação não bastam. Como ficou suficientemente comprovado no caso da transferência de tecnologia nuclear (assinada há mais de 30 anos…) com a Alemanha, essencial é a formação de pessoal e a existência de uma estrutura acadêmica e industrial capaz de absorver e propagar o que se adquiriu.
Descobriu-se um campo de petróleo como o de Tupi? Aí volta à moda falar de um submarino de propulsão nuclear (talvez a maior conquista em todos os tempos da tecnologia bélica nacional), que precisa apenas daquilo que o governo mais desperdiça – dinheiro – para se converter em realidade. Quem visita o centro de pesquisas da Marinha em Iperó, no interior de São Paulo, sente-se ao mesmo tempo orgulhoso em verificar o trabalho desenvolvido e penalizado em constatar quanta coisa ficou inacabada, por culpa de crônico desinteresse por parte das autoridades.
O governo promete para daqui a 10 meses um plano estratégico nacional. Seria interessante saber o quanto ele se articula com propostas de política externa. Se depender da atual, é bem provável que o Brasil acabe, de novo, vendendo material de segunda para países de terceira e comprando baratinho equipamento velho com pintura nova.