Correios poderão ter aviões de carga
Daniel Rittner e Cristiano Romero
O governo planeja criar uma companhia aérea, subsidiária da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), para fazer o transporte de cartas e encomendas postais. Com esse objetivo, está em negociações com a Embraer para comprar até 19 aeronaves. A fabricante de jatos já desenvolveu um modelo cargueiro, batizado inicialmente de C-390, que usa estrutura e equipamentos tecnológicos adotados no E-190, da nova família de aviões para passageiros.
A idéia da subsidiária surgiu porque os Correios gastam anualmente R$ 450 milhões com o pagamento de transporte aéreo de cargas a empresas como Skymaster, Beta e VarigLog - alvos de investigações na CPI dos Correios, em 2005 - e porque há dificuldades na renovação dos contratos, que deve ser feita todos os anos. Nos últimos meses, a ECT e o Ministério das Comunicações, pasta à que a estatal é vinculada, propuseram parcerias com TAM, Gol e com a própria VarigLog, mas não houve interesse. Passou-se então ao planejamento de uma nova empresa, que daria mais agilidade à entrega de encomendas postais e poderia impulsionar a Rede Postal Noturna, serviço que funciona durante a madrugada.
A nova companhia funcionaria como uma empresa privada, mas de controle acionário da ECT, a exemplo do que fez o Banco do Brasil com suas seguradoras. O governo buscaria um sócio privado, teria a maior fatia do capital total da nova empresa e, por meio de um acordo de acionistas, manteria a prerrogativa de nomear seus gestores. Livre das amarras da Lei 8.666 (que regula as licitações no serviço público), esse modelo asseguraria, segundo o ministro das Comunicações, Hélio Costa, uma gestão profissional e ágil.
"Não podemos ficar reféns de um operador [de transporte aéreo de cargas]", afirmou ao Valor o presidente dos Correios, Carlos Henrique Almeida Custódio. "É uma empresa de logística, que no futuro pode englobar outros modais, como ferrovias, e já nasce com faturamento anual perto de R$ 500 milhões", completou.
Para o ministro Hélio Costa, o projeto - que faz parte do PAC das Comunicações e depende ainda da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ataca a possibilidade de um "apagão postal" no futuro e busca aproveitar novos nichos criados pelo crescimento do comércio eletrônico (que, no primeiro semestre, segundo a e-bit, chegou a R$ 2,6 bilhões, 49% a mais do que no mesmo período de 2006). Com uma empresa dedicada exclusivamente à logística de transporte, a ECT ganharia mais rapidez para a entrega de produtos comprados pela internet, argumentou o ministro. "Queremos transformar o comércio eletrônico em carro-chefe dos Correios", disse.
A preocupação do ministro é modernizar a ECT num ambiente competitivo e que passa por profunda transformação. Costa chegou a conversar sobre uma possível parceria com a VarigLog, mas a empresas anunciou na semana passada uma associação com a americana Fedex . Em outro negócio, a TNT Express, transportadora de cargas pertencente ao correio holandês, comprou a gaúcha Mercúrio, maior companhia de transportes rodoviários do país.
As conversas com a Embraer tiveram início há cerca de quatro meses. O ministério foi apresentado ao projeto da empresa para produzir um avião cargueiro, mas recebeu da fabricante de jatos a informação de que o protótipo precisa de uma lista de encomendas para ganhar viabilidade comercial. Os Correios comunicaram a disposição de adquirir 19 aviões para sua nova empresa de logística.
Numa comparação com o Boeing 737-700, concorrente do C-390 em uma eventual encomenda, o cargueiro da Embraer sai em vantagem no quesito produtividade. A carga total do avião, segundo informações repassadas à ECT, é de 16.982 quilogramas. A carga total do 737-700 alcança 12.004 kg. Ou seja, a capacidade do C-390 da Embraer é 41% maior. Se optasse pelo avião da Boeing, a ECT teria que comprar 23 aviões, em vez de 19, indicam estudos aos quais o Valor teve acesso.
De acordo com o presidente dos Correios, o protótipo brasileiro tem uma vantagem adicional: pode pousar em todos os aeroportos do país, inclusive em pistas curtas e não-pavimentadas do interior, sem que haja comprometimento da segurança. O protótipo do C-390 possui, por exemplo, uma rampa traseira para transportar os mais variados tipos de carga. Pode ser usado como uma aeronave militar.
Hélio Costa informou que o governo, por meio dos Ministérios das Comunicações e da Defesa, pretende dar um empurrão inicial à viabilização do projeto. O avião poderia estar voando em aproximadamente dois anos. "Ele terá um custo 30% menor do que seu correspondente no mercado", estimou o ministro.
Com a frota de aviões próprios, a ECT poderá dedicar-se também à entrega de encomendas internacionais, principalmente na América do Sul, e fazer frente à competição cada vez maior que sofre de empresas como TNT e DHL (da Alemanha). "A crise acabou gerando também oportunidades", afirmou Custódio, referindo-se à CPI que atingiu a ECT e abalou o país.
Não sei se isso vai pra frente, mas se a FAB emendar nessa idéia o pedido de algumas unidades é bem provável que o projeto deslanche.