ESTRATÉGIA NAVAL

Assuntos em discussão: Marinha do Brasil e marinhas estrangeiras, forças de superfície e submarinas, aviação naval e tecnologia naval.

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#76 Mensagem por Marino » Sex Mai 25, 2007 10:48 pm

Vimos que os dois métodos de se obter o Controle do Mar são: O Bloqueio e a Batalha.
Como parece não ter havido dúvidas sobre o Bloqueio, vamos seguir.
Este tópico sobre a Batalha Naval é muito interessante, e apresenta uma série de conceitos que creio serem novidades absolutas para quem nunca estudou Estratégia Naval.
Estou a disposição para o debate.

6.9 - A BATALHA NAVAL

O método mais contundente e definitivo para conquistar o controle do mar é a Batalha Naval. Corbett escreveu sobre o tema:

“Seja qual for a natureza da guerra em que nos encontremos empenhados, seja limitada ou ilimitada, a condição que determina o êxito final é o domínio permanente e geral do mar. A única forma de conseguir este domínio por meios navais, consiste em obter uma decisão pela Batalha com a esquadra inimiga. Isto deve ser feito cedo ou tarde, e quanto antes se faça, tanto melhor.”

Mas este juízo lógico e, em aparência, fácil de compreensão, encerra muitas dificuldades que desembocam em critérios equivocados.
Por exemplo, certos tratadistas circunscreveram a guerra no mar à simples destruição da esquadra rival. No outro extremo, se localizaram os que negaram todo valor e significado tanto à força organizada como à Batalha. O melhor expoente de ambos conceitos, contraditórios e inaceitáveis, foi a Marinha alemã nas duas guerras mundiais. Na Primeira Guerra:

“A Marinha alemã conservou somente a vontade tática para a Batalha, concentrando todos seus treinamentos e esforços em preparar-se para o dia do encontro decisivo contra a esquadra britânica, mas sua política fundamental lhe impôs uma desesperançada defensiva e lhe impediu toda possibilidade de uma ofensiva; aquela Batalha Decisiva se transformou, para a Marinha alemã, praticamente no fim último de todas suas idéias e aspirações, um fim em si mesmo.”

No período entre a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, como antítese, em uma espécie de reação emocional ante a passividade da Esquadra de Alto Mar, se geraram no seio da Marinha do Terceiro Reich novas idéias estratégicas:

“Aquele erro não devia ser repetido de novo. Evitando, tanto como fosse possível, os encontros com as forças militares britânicas e concentrando, em troca, toda a potência de seu ataque submarino, aéreo e de superfície contra a marinha mercante, golpear-se-ia não uma força superior, mas uma vulnerabilidade, e se lutaria não por uma ilusória vantagem militar, mas pela verdadeira meta da guerra naval, o controle das comunicações marítimas.”

A Marinha de Guerra alemã se via como uma esquadra corsária, abstendo-se de lutar pela conquista do controle do mar. Se na Primeira Guerra Mundial a Alemanha sofreu a derrota por causa do bloqueio econômico, na Segunda sucumbiu à invasão proveniente do mar.
A Batalha Naval constitui um ato bélico de consentimento mútuo, ainda quando um dos participantes esteja, mais ou menos, forçado a dar seu consentimento. O choque se produz “...quando um necessita, para viver, de algo que o outro não pode dar, para não morrer ... nunca antes.” Esta situação é gerada pela disposição do mais débil em refugar o combate em um cenário desprovido de acidentes geográficos que o protejam de um inimigo superior. Por conseguinte, se não são adotadas providências adequadas, com certeza, o mais fraco se dirige ao desastre. Por tal razão a Batalha é opção do mais forte; que goza do privilégio de buscá-la quando crê que seja conveniente e necessária. Com tal propósito, deve incitar ou pressionar o inimigo. No entanto, é prudente lembrar que “...Batalhas Navais, como as demais Batalhas, são essencialmente combates de homens e não meramente choques de couraças...” , o que explica o êxito de forças mais fracas ante esquadras com superioridade incontestável, como mostra a história com diversos exemplos.
A Batalha tem relação direta com a força organizada. Esta última recebe esta denominação exatamente por estar organizada para dar Batalha. Normalmente as Marinhas em conflito concentram nas forças organizadas meios mais poderosos. Brodie aponta a razão deste proceder:

“A debilidade da teoria das Forças Operativas baseia-se simplesmente no fato de que dita esquadra pode ser derrotada por outra que seja maior e ao penetrarmos em águas inimigas nos colocamos sob a ansiedade de que o inimigo nos oponha uma força superior. A única conclusão possível nesta cadeia sem fim de encontros de forças maiores é a Batalha de forças de máximo poder, na qual uma das partes está disposta, a todo momento, a intervir no teatro da contenda com uma força superior e mais poderosa que a mais forte que possa opor-lhe a outra parte.”

No mar, a concentração de forças para a Batalha implica em menores riscos.
Por último, convém ter presente que a Batalha é um meio para alcançarmos um fim; em conseqüência requer ter um fundamento estratégico específico. Em termos mais precisos, é conduzida com o objetivo de conquistar o controle do mar, para que se ataque ou defenda as linhas de comunicações, a posição ou o território. Por tal razão, é difícil encontrar na prática a “Batalha em si”, mencionada por Wegener.
Afirma o Almirante Caminha:

“...no correr do século XIX...a concepção da Batalha Decisiva foi transformada na maneira correta e única de empregar o poder naval....Resultaram daí o perigoso menosprezo por outras concepções do emprego do Poder Naval e a ênfase no desenvolvimento dos navios de linha”.

6.10 – AMEAÇAS E INCENTIVOS

Quem deseja a Batalha, recorre a ameaças e a incentivos. Ambos são instrumentos de natureza psicológica, destinados a jogar com a vontade do inimigo. De forma deliberada, o primeiro tenta pressionar ou forçar, enquanto o segundo busca atrair ou seduzir o adversário ao campo da decisão. Seu efeito depende do grau de percepção exercido na mente do condutor adversário. Daí nasce sua relatividade. Tanto a ameaça quanto o incentivo possuem estreita vinculação com a manobra estratégica no mar.
A ameaça atua de maneira direta, pois não dissimula sua intenção de ameaçar ou atacar um objetivo estratégico do inimigo. Com isto, pretende limitar a liberdade de ação do adversário, impondo-lhe uma resolução predeterminada. A ameaça tende a colocar o inimigo ante um dilema: concorrer ao encontro decisivo ou entregar a meta disputada sem opor resistência. Quanto mais alto o valor do objetivo em perigo, maior é a ameaça, até torná-la insuportável. A ameaça tem caráter ofensivo e, em teoria, a iniciativa, em todas suas expressões, pertence ao “ameaçador”. No entanto, por causa de sua relatividade, são necessárias precauções para se evitar surpresas por parte do “ameaçado”.
Sobre as ameaças, Castex afirma:

“...poder-se-á pressionar o inimigo mediante uma grave ameaça dirigida contra seus interesses vitais. Por exemplo...estabelecer um bloqueio comercial que reduza na maior medida possível suas comunicações marítimas...Poder-se-á, também, ameaçar o inimigo por meio de uma operação dirigida contra seu território,... Em qualquer destes casos, se buscará criar para o inimigo...uma situação intolerável, que o conduza a arriscar sua esquadra...”

O incentivo é mais indireto e sutil. Pretende criar uma ilusão ao inimigo mediante um irresistível foco de atração, falso ou real, enquanto nas proximidades permanece a esquadra, oculta e pronta para destruir o incauto oportunista. O incentivo, em aparência, não coarcta a liberdade de ação do adversário, que persegue a presumida fácil recompensa. O “incentivado” supõe contar com a iniciativa em todas as suas expressões. No entanto, não é dono de seus atos, pois estes lhe estão sendo impostos desde o princípio, encurralando-o quando dá o primeiro passo. De improviso, se encontra enrodilhado e já não pode remediar a situação. O incentivo, além de sua conexão com a manobra, integra a ofensiva pseudo-geográfica, como se verá adiante.

“Pode-se, também, levá-lo a uma cilada, oferecendo-lhe um objetivo atraente e aparentemente fácil de tomar. Pode-se simular que alguém se encontra em situação perigosa, depois de havermos combinado os meios de reduzir estes perigos ao mínimo. Pode-se desguarnecer um ponto importante, expor as comunicações, etc.”

O incentivo deve ostentar uma manifesta credibilidade, caso contrário não surte efeito no adversário.

6.11 - TIPOS DE OFENSIVAS PARA IMPOR A BATALHA

O Almirante Castex sistematizou as ofensivas realizadas pela força organizada orientadas a impor a Batalha Naval ou o encontro entre forças navais adversárias. A este respeito salientou:

“ Quer se trate das comunicações ou do território, a verdadeira ofensiva, a única que pode produzir resultados completos, é a que tem como finalidade a eliminação da força organizada inimiga.”

O mencionado autor dividiu as ofensivas em três classes:
- Ofensiva de Movimento;
- Ofensiva de Base Geográfica; e
- Ofensiva Pseudo – Geográfica.

Ofensiva de Movimento
Esta ofensiva consiste, empregando termos simples, em uma caçada em perseguição. O perseguidor busca, com tenacidade, o inimigo para impor-lhe a Batalha e destruí-lo. Na aplicação deste método, faz-se necessário conhecer a localização e intenção de movimento do inimigo, caso contrário, se arrisca a vagar pelo mar sem nenhum sentido. Por conseguinte, as aeronaves e os submarinos desempenham um importante papel, tanto para detectar o adversário, determinar sua velocidade e rumo, como para desgastá-lo e reduzir sua velocidade, a fim de facilitar sua interceptação.
Cabem duas considerações sobre esta ofensiva:
1 - Este tipo de ofensiva demanda um fluxo permanente e confiável de informações sobre a força adversária.

“Para tomar a ofensiva, há que possuir um mínimo de informações sobre o inimigo: saber mais ou menos onde pode estar e qual será aproximadamente a direção de seu movimento. Em princípio, não se deve esperar a informação para atuar; mas não há que levar ao extremo o princípio. A ofensiva naval não se acha tão favorecida como a terrestre. Está exposta a não encontrar o inimigo, seja por causa da imensidão do mar, seja porque se refugie em seus portos.”

2 - A ofensiva de movimento encerra o grave perigo de deixar ao desamparo o próprio dispositivo. A esquadra, em busca do fugidio inimigo, abandona a custódia do sistema geral de comunicações, a posição e o território. Esta circunstância pode ser explorada pelo inimigo para atacar os mencionados objetivos abandonados, momentaneamente, pela força organizada.

Quanto as iniciativas:
- A iniciativa de movimento pertence ao perseguidor;
- A iniciativa estratégica pertence ao perseguidor, que obriga o perseguido a buscar seu refúgio; e
- O perseguido, enquanto mantenha sua liberdade de ação intacta, em particular para alcançar seu destino, conta com a iniciativa das operações, pois está capacitado para eludir ou travar a Batalha, e determinar o lugar onde realizar o choque, se o deseja. No entanto, ao perder ou degradar-se sua liberdade de ação, esta iniciativa muda de mão e passa ao caçador.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial - Batalha de Matapan.
Em Matapan, a esquadra britânica do Mediterrâneo Oriental se lançou em perseguição à esquadra italiana.

Ofensiva de Base Geográfica
Esta ofensiva corresponde a uma caçada em tocaia. Recebe seu nome por explorar a geografia, a qual canaliza os movimentos do inimigo. A esquadra atacante espera pronta para o combate na área onde a força inimiga está obrigada a transitar.
Este método possui uma das características inerentes à defensiva: a espera. Parece aguardar o antagonista em uma postura passiva. Mas, em verdade, sua localização e dispositivo obedecem a uma resolução deliberada, com o objetivo de combater e, assim, conquistar o controle do mar. Esta situação induz a erro, e alguns estrategistas confundem a ofensiva de base geográfica com a defensiva estratégica. Eles esquecem que a defensiva elude a Batalha. Além disso, a defensiva estratégica não somente compreende a atitude em relação à força organizada, como, também, aos demais objetivos estratégicos naturais do cenário marítimo. Castex, referindo-se a Togo, que aplicou esta ofensiva em relação à esquadra russa de Rodjestvensky e o aguardou em Tsushima, escreve:

“Esta decisão foi a adotada pelo Grande Quartel-General japonês e o Almirante Togo... Com respeito a ela, Corbett adota a palavra defensiva. Também para o Almirante Mahan os russos operavam ofensivamente...e os japoneses defensivamente... Mas este raciocínio está baseado evidentemente em certas aparências exteriores. Em realidade, os japoneses assumiam em Tsushima uma ofensiva total, absoluta e encarniçada, mas uma ofensiva de caráter simplesmente geográfico.”

A ofensiva geográfica é aconselhável quando ocorrem as seguintes circunstâncias:
- Há relativa certeza (pelo menos, uma alta probabilidade) da passagem do inimigo em uma área bem determinada, tendo em vista que a geografia não lhe apresenta outra alternativa;
- Faltam informações fidedignas sobre a localização do adversário e há incerteza em relação a seus movimentos. Por este motivo é improvável encontrá-lo mediante perseguição; e
- Quando ao se realizar uma ofensiva de movimento corre-se grandes riscos devido às prováveis conseqüências trazidas por uma possível evasão do inimigo.

Na prática, é difícil encontrar as três circunstâncias, simultaneamente e bem entrelaçadas. Neste procedimento, o fator geográfico ostenta a prioridade relativa. Por outra parte, convém ter presente a dificuldade de apreciar cabalmente a influência da geografia nas intenções do inimigo. No entanto, quando é factível, a ofensiva da base geográfica oferece grandes êxitos, pois o atacante desfruta de vantagens positivas, entre elas, a de que conhece e pode preparar o cenário do encontro; desdobra com oportunidade seus meios de detecção e patrulha, aeronaves e submarinos, como também pode plantar campos minados, a fim de obstar e desgastar a força inimiga em seu avanço. Por último, prepara-se com antecipação para o choque e forma seu dispositivo para a Batalha no momento oportuno.
Quanto às iniciativas:
A iniciativa de movimento possui quem realiza a ofensiva. Ele se move primeiro até o lugar escolhido para travar a Batalha. A iniciativa das operações é detida pelo mesmo, pois não só seleciona a área e o momento onde tem planejado realizar o choque, mas também prepara o cenário para tirar do mesmo o máximo proveito. A iniciativa estratégica também pertence ao atacante. A geografia impõe uma direção definida aos movimentos da força objetivo, que não tem liberdade de ação.
Em resumo:

“Na forma comum da ofensiva de base geográfica, é o próprio inimigo que cria para si uma zona de atração, com a orientação que deseja imprimir às suas operações. Parece que as conduz, mas em realidade é dirigido, porque se impõe uma direção de ação que permite que o sentido geral de seus movimentos seja conhecido com antecipação e que o adversário, livre de surpresas, possa organizar sua “contramanobra” em uma base segura.”


Exemplo: Guerra russo-japonesa – Batalha de Tsushima:
“O fator geográfico determinou a solução. Rodjestvensky somente podia dirigir-se, a princípio, a Vladivostok, para colocar seus navios em condições de reunirem-se com os que já se encontravam nesse porto. Mas, para ir a Vladivostok, tinha que passar necessariamente por um dos três estreitos: Tsushima, Tsugarú ou Soya. Se os japoneses estivessem posicionados em Tsushima, lhe interceptariam, caso navegasse por esse estreito. Poderiam isolá-lo, também, antes de chegar a Vladivostok, se tomasse algum dos outros dois, porque seu deslocamento até o leste do Japão não poderia passar despercebido. Além disso, se os japoneses agiam dessa maneira, podiam concentrar no estreito de Tsushima com tempo suficiente e protegidas até o último momento, todas as unidades antigas que por seu reduzido raio de ação e más condições marinheiras não podiam intervir em operações distantes. Eles lutaram com todas as forças reunidas. Além disso, os navios avariados podiam contar com o auxílio imediato dos arsenais nacionais.”

Ofensiva Pseudo – Geográfica
Castex qualifica a ofensiva de base geográfica, sem desconhecer sua enorme eficácia, como uma manobra pouco atrativa e subordinada, pois baseia-se na influência da geografia, estática e imutável, e nas decisões do adversário, e sugere algo melhor:

“Quem a emprega, limita-se à espera dos eventos ... Criar uma desvantagem semelhante, impondo ao inimigo uma direção de atração que tenhamos escolhido deliberadamente, é ainda melhor. É uma manobra de índole superior.”

Por sua parte, outro autor complementa o pensamento de Castex:

“O polo de atração que tratamos de impor ao inimigo não pode ser somente um ponto ou uma região geográfica, senão também um objetivo em movimento, um comboio, por exemplo, que nosso adversário queira atacar. Este procedimento, apesar da diferente denominação, é muito semelhante à ofensiva de base geográfica; tem o espírito e as tendências da mesma. Como esta última, pertence geralmente ao grupo das ofensivas de “direção canalizada” para o inimigo, em que tratamos de obrigá-lo a realizar certos movimentos, com o fim de apresentá-lo a nosso próprio ataque nas condições que estimamos como mais convenientes para nossas forças. Esta forma de atuar é a que se denomina ofensiva pseudo – geográfica.”

Em síntese, este método apoia-se, em aparência, na geografia. Recorrendo às ameaças e aos incentivos, criamos um polo de atração ao adversário até uma área determinada. Com isto, pretendemos canalizar os movimentos da força inimiga em direção da esquadra atacante, preparada e pronta para a Batalha. A ofensiva pseudo – geográfica constitui, em sua essência, uma criativa e imaginativa manobra estratégica no mar. As ameaças e incentivos relativos ao território e à posição são fixos, enquanto os constituídos pelas linhas de comunicação e a força são móveis.
Esta ofensiva é executada ante um inimigo receoso em conduzir a Batalha, quando se precisa, de forma imprescindível e imediata, conquistar o controle do mar e quando existe a possibilidade real de definir, com antecipação, a área de encontro, a fim de sejam ali concentrados, a tempo, os meios de superfície, submarinos e aéreos.
Quanto às iniciativas:
A iniciativa de movimento pertence a quem realiza a ofensiva. Ele se desloca até o lugar da Batalha que o adversário ainda não tem prevista. A iniciativa estratégica também pertence ao atacante, pois mantém o inimigo subordinado a suas intenções, ainda quando este considera ser dono de seus próprios atos.
O atacante detém a iniciativa das operações, no caso de ameaças ou incentivos relacionados com o território ou a posição. Isto muda em se tratando de objetivos móveis: “Quem se defende determina a posição do lugar para o qual convergirão os esforços de ambos bandos; quem ataca, somente pode ir ao lugar onde haja algo que atacar” . Este caso assemelha-se à caça em perseguição.

Exemplo: Segunda Guerra Mundia - Midway – ofensiva pseudo-geográfica japonesa.
“Tratava-se de enviar a quase totalidade da esquadra imperial até o Hawai, apoderar-se do ponto estratégico de Midway, provocando, assim, necessariamente a saída da esquadra americana e destruir, por fim, esta última, graças à superioridade incontestável da Marinha japonesa.”




WalterGaudério
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#77 Mensagem por WalterGaudério » Seg Mai 28, 2007 10:55 am

Marino escreveu:
Einsamkeit escreveu:Me parecia muito mais como açao contra mercantes, açoes para provocar panico, do que com algum uso militar relevante

A ação contra os mercantes pode ser justificada como ação contra um meio que contribui com o esforço bélico inimigo. Esforço tanto militar, como econômico.
Um abraço.


É o clássico emprego de caráter estratégico da arma submarina. Pois muito além de prejudicar a capacidade de emprego militar no Teatro de Operações(pois os mercantes-alvos não transportavam apenas armamento e outras provisões de emprego militar apenas) uma vez que a principal carga transportada , eram insumos para a indústria dos beligerantes, matérias primas, maquinarias de reposição etc. (e até g\~eneros de primeira nescessidade)

Ou seja, tínhamoas assim um efeito , n~/ao penas na capacidade de combate do inimigo, mas um efeito(devastador) em sua capacidade de sustentar o combate de suas forças no teratro de operações(já que sua indústria ficava sem os insumos nescessários para continuar sua produção e consequentemente apoiar o esforço de guerra nacional)

sds

Walter




Só há 2 tipos de navios: os submarinos e os alvos...

Armam-se homens com as melhores armas.
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#78 Mensagem por Marino » Seg Mai 28, 2007 7:58 pm

Estou um pouco impressionado pela falta de perguntas no último tópico.
Mas vamos seguir adiante, agora com a Disputa do Controle do Mar;

A DISPUTA DO CONTROLE DO MAR

Estas operações navais, como demonstra a história, são as mais difíceis de abordar de um modo ativo e com eficácia. Corbett faz uma interessante observação sobre sua relevância:

“A simples afirmação, que ninguém nega, de que o objeto da guerra naval é conseguir o domínio do mar, implica, em realidade, na proposição de que o domínio se encontra normalmente em disputa. Este estado de disputa é de que se preocupa mais diretamente a estratégia naval, posto que, quando o domínio tenha sido perdido ou obtido, a estratégia naval pura deixa de existir.”

Em resumo, a disputa do controle do mar abarca a essência da estratégia naval. Mas o amplo e complexo tema gera entre os tratadistas certas contradições, confundindo sua compreensão. Alguns a interpretam como sinônimo da defensiva estratégica no mar, outros a circunscrevem à esquadra em potência e, por último, há aqueles que nem sequer a mencionam ou a incluem na defensiva. Tudo isto concorre para criar desorientação e obscuridade. No entanto, o panorama se aclara ao se esquadrinhar as bases do problema: o propósito e o objetivo das operações de disputa do controle do mar.

7.1 - PROPÓSITO E OBJETIVOS

Ambos os rivais compartilham o controle do mar, e o desfrutam em proporção direta ao poder de suas respectivas forças.. O mais forte o goza em maior grau, em relação ao seu rival. O obstáculo principal, para ambos, a fim de obter um incontestável controle do mar, reside na força organizada do oponente. Por outra parte, o mais débil não está em condições de aceitar a decisão por meio do choque; por conseguinte, suas opções consistem em eludir a Batalha e desgastar a esquadra inimiga. Com isto, pretende incrementar seu nível de controle do mar e evitar que o inimigo o aproveite com plenitude.
Em conseqüência, as operações de disputa do controle do mar têm como propósito melhorar o grau de controle que se detém. Em outras palavras, conseguir as condições necessárias para, chegado o momento, travar a Batalha. O objetivo está constituído pela força organizada do inimigo. Os executores destas operações correspondem tanto à força organizada própria, como as outras unidades integrantes da força naval.

7.2 - ALCANCE DAS OPERAÇÕES DE DISPUTA DO CONTROLE DO MAR

O propósito e objetivo da disputa estão bem definidos. Porém, ainda quando as operações parecem confinadas a uma luta a respeito da força organizada, seus alcances são muito mais amplos. Os efeitos são percebidos com intensidade na totalidade do cenário marítimo. Não pode ser de outra forma, pois como a história o confirma, a guerra no mar gira ao redor das Forças Organizadas.
As operações de disputa refletem uma atitude estratégica defensiva do mais fraco a respeito da força organizada do inimigo. Aquele se encontra impossibilitado de buscar ou aceitar o choque decisivo, já que significaria sua destruição. Ao eludir a Batalha, evita a conquista do controle do mar por parte de seu adversário. Mas isso não basta pois deve interferir com o livre exercício e exploração das águas oceânicas por parte de seu inimigo. Para tal propósito, necessita reagir com freqüentes contra-ataques. Assim, esta defensiva transforma-se em algo tão dinâmico, que certos escritores a denominam defensiva-ofensiva.
Na disputa, participam não somente a força organizada, como nas operações de conquista, mas todos os meios e armas disponíveis de uma Marinha. O condutor da estratégia orienta os esforços de seus elementos de manobra para desgastar, dividir e não dar descanso à esquadra rival, até obter a ansiada paridade.
Para quem se encontra em inferioridade de meios, não é admissível cair na passividade, como ocorre com freqüência. Com a referido postura postura, entregam-se os benefícios do controle do mar ao inimigo. Portanto, requer usar de iniciativa e recorrer à manobra para ganhar liberdade de ação suficiente, a fim de alcançar o único meio que assegura o êxito: desgastar o oponente e assim ficar em condições de conquistar o controle do mar. Ao ganhar maior grau de controle do mar, se incrementam as metas a alcançar por meio da estratégia naval. O anterior corresponde a ampliar o âmbito das operações de exercício e exploração do mar. Ao mesmo tempo, faculta correr maiores riscos nas operações de disputa. Em síntese, é possível classificar a disputa, em qualidade, como uma estratégia de desgaste. Para tal efeito, sua única alternativa consiste em ações ofensivas orientadas a deteriorar a poder combatente da esquadra inimiga.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial - Teatro do Pacífico.
Bernard Brodie descreveu a disputa do domínio do mar realizada por Nimitz depois do desastre de Pearl Harbour:
“A grande recuperação e expansão da força naval americana durante 1942 trouxe uma enorme mudança na situação estratégica do Pacífico. No começo, a desesperação das ações americanas, em retirada, eram aliviadas somente por uns poucos ataques insignificantes, principalmente com aviões baseados em navios-aeródromos, sobre as ilhas Marshall e Gilbert e sobre Rabaul, Wake, Marcus, Lae e Salamaua. Estes ataques, levados a cabo por ligeiras, causaram alguns danos e perdas ao inimigo, mas afetaram muito pouco o curso da guerra. As batalhas de Mar de Coral e Midway provaram ser o ponto de inflexão da guerra no Pacífico. A primeira destas ações parou o avanço japonês para o sul, e a vitória em Midway não somente manteve os japoneses distantes das ilhas Hawai, como também infligiu as primeiras baixas consideráveis à esquadra de batalha japonesa. Estas importantíssimas vitórias defensivas foram seguidas, em 7 de agosto, pelos desembarques americanos em Guadalcanal e Ilha Florida, começando-se a campanha das Salomão.” Nesta campanha, o desgaste sofrido pela esquadra imperial foi enorme e irrecuperável.

7.3 - GRAUS DE DISPUTA DO CONTROLE DO MAR

Os beligerantes, normalmente, se abstiveram de perseguir imediatamente a decisão no teatro marítimo. Durante algum tempo, breve ou prolongado, a situação permaneceu indefinida, não sendo o mar controlado. As esquadras beligerantes, sem descuidar do adversário, dedicavam-se a cumprir tarefas de exercício e exploração do controle do mar. Naquelas circunstâncias, distinguem-se três graus de disputa, atendendo à comparação dos poderes combatentes:
1 – Forças iguais ou equilibradas;
2 – Forças desiguais ou completamente desequilibradas; e
3 – Forças quase iguais ou quase equilibradas.

Forças iguais ou equilibradas
As esquadras de ambos antagonistas, por sua equivalência combativa, estão em condições de travar a Batalha e se encontram prontas para o choque decisivo. Esmeram-se em executar tarefas de defesa e ataque às comunicações marítimas, posição estratégica e território. Quando uma delas interfere na missão da outra, ocorre o combate. Castex faz a seguinte observação:

“Devemos distinguir entre uma disputa e outra; há uma diferença de grau. Existe a disputa entre forças iguais ou quase iguais, quando não se retrocede ou quando se podia retroceder ante a Batalha decisiva. Esta é muito séria; lida com a ofensiva e não pertence já, por assim dizer, à defensiva.”

Exemplo: Segunda Guerra Mundial – Mar Mediterrâneo em 1940.
O ingresso da Itália no conflito deixou o Mar Mediterrâneo em disputa por esquadras equivalentes, que se voltaram à. proteção das respectivas linhas de comunicação marítimas:
“Cunningham pretendia ganhar o controle do mar e retê-lo. Os comboios transitavam até Malta com tropas e provisões desde Alexandria e retornavam com os muito necessitados equipamentos e serviços técnicos indispensáveis para o reparo e manutenção da esquadra na relativamente mal equipada base. O Comandante-em-Chefe considerava estes comboios como oportunos incentivos para atrair a esquadra italiana, pois os movimentos dos mesmos eram conhecidos por meio do excelente reconhecimento aéreo italiano, podendo desembocar em um encontro de forças. De fato, isto ocorreu nas cercanias da Calábria em 9 de julho de 1940, quando pareceu que uma ação da esquadra era iminente contra dois encouraçados, doze cruzadores e grande número de contratorpedeiros italianos. O navio capitânia da esquadra peninsular foi atingido pelo certeiro fogo do Warspite a 13 milhas de distância e a ação foi interrompida de imediato pelo Almirante italiano.”

Forças desiguais ou completamente desequilibradas
O desbalanceamento das capacidades de combate entre as esquadras beligerantes é tão manifesto que o mais fraco não tem esperança alguma de reverter a situação. Nenhum esforço, político ou estratégico, pode modificar, de maneira significativa, a desfavorável situação no teatro marítimo. A aludida conjuntura ocorre, normalmente, quando o afetado sofre um contundente revés no encontro para conquistar o controle do mar. Em conseqüência, somente pode produzir no inimigo os maiores danos possíveis com os meios ainda restantes. Os prejuízos devem ter valor político, estratégico e econômico. Carece de maior sentido correr alto risco para desgastar o poder naval do adversário. Por conseguinte, as ações a realizar são centradas na guerra de corso e nas ofensivas táticas contra o território rival.

“Existe também a disputa do débil contra o forte, na qual o primeiro efetua assaltos ofensivos carentes de verdadeira importância, executa combinações de valor discutível, infrutiferamente, pois não consegue modificar substancialmente uma inferioridade demasiadamente pronunciada. São as guerras de corso da antiga monarquia, ... a guerra submarina alemã, etc. Em todos os casos comparáveis a estes, a disputa do domínio marítimo, apesar de ser conduzida com energia e inteligência, não consegue dar ao partido que a conduz, na medida necessária, o uso das comunicações de superfície, e não consegue privar dele o adversário, apesar das perdas que este sofra. Molesta-se o inimigo, às vezes muito, é verdade, mas não se pode sacudir seu jugo, nem alterar a situação.”

Forças quase iguais ou quase equilibradas
O balanço das forças se encontra entre os extremos analisados anteriormente. Em tal circunstância, o mais fraco aspira, com possibilidades de êxito, equilibrar as forças, para logo pretender a conquista do controle do mar. Não pode satisfazer suas metas com uma defensiva passiva, pois assim somente conserva um desvantajoso “status quo”. Portanto, para alterar a situação, necessita agir com imaginação e iniciativa. Tenta criar as condições favoráveis para degradar a esquadra adversária. Para tal, dispõe, entre muitas, das seguintes alternativas:
Políticas: Organizar alianças orientadas a conseguir a paridade ou a superioridade de forças. “Napoleão evitou também a Batalha decisiva em sua luta contra a Inglaterra, até que por meio de alianças e outros meios conseguiu reunir força que julgou suficiente para arrebatar o domínio do mar que o ingleses detinham.” Seu projeto frustrou-se na Batalha de Trafalgar.
Estratégicas: Desgastar a esquadra inimiga por meio de vigorosos e sustentados contra-ataques; dividir a força organizada adversária recorrendo à manobra estratégica; e explorar os erros do inimigo.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial – Ataque à Taranto.
“Cunningham buscava oportunidades de obrigar a esquadra italiana a entrar em ação, ao tempo que esta se dedicava à sua tarefa de dar cobertura aos comboios, incluindo os destinados à Grécia, que havia sido invadida pelos italianos em outubro. Embora o Almirante italiano Campioni tivesse recebido, recentemente, o reforço dos novos e poderosos encouraçados Vittori Veneto e Littorio, tinha ordens de permanecer com a estratégia de não aceitar Batalha sem um objetivo posterior importante. Por isto, foi decidido atacar os italianos em Tarento e, durante a noite de 11 para 12 de novembro de 1940, uma força de 21 aeronaves Swordfish do navio-aeródromo Ilustrious atacou a esquadra italiana naquela cidade, pondo fora de combate o Littorio, o Caio Duilio e ao Conte di Cavour, este último definitivamente e os outros por 5 e 6 meses respectivamente. As possibilidades italianas de disputar o controle do Mediterrâneo central haviam desaparecido temporariamente.”

7.4 - PROCEDIMENTOS PARA REALIZAR A DISPUTA

Existem três procedimentos para realizar a disputa do controle do mar. Diferenciam-se segundo as forças participantes e a atividade realizada pela esquadra do mais fraco.
Em certas ocasiões é difícil diferenciá-los, pois, no presente, quase todas as unidades navais podem ser alocadas ou segregadas da esquadra principal. Além disso, todas as ações perseguem o mesmo objetivo: desgastar a força organizada inimiga. No entanto, existem algumas disparidades em aspectos teóricos que obrigam a diferenciá-los. Os procedimentos são os seguintes:
- Contra-ataque Maior;
- Contra-ataque Menor; e
- Esquadra em Potência.

Contra-ataque Maior
É a ação ofensiva realizada pela Força Organizada mais fraca contra uma parte da Força Organizada adversária. Como esta última é mais poderosa, é necessário dividi-la por meio da manobra ou aproveitar uma circunstância propícia fortuita. O atacante pretende gozar de uma superioridade relativa, por um tempo e espaço bem determinado, apesar de sua inferioridade integral.
Na primeira alternativa, o atacante cria as circunstâncias favoráveis, ao recorrer à manobra.
A outra alternativa, isto é, a ocorrência de circunstância propícia fortuita, depende do acaso (não está sob o controle de quem dela se beneficia) e talvez não aconteça jamais. O contra-ataque maior necessita recorrer às ameaças e aos incentivos, combinando-os, a fim de transtornar, enganar e fragmentar a força principal inimiga. No entanto, a debilidade do partido que disputa o controle do mar recomenda não provocar a Batalha com a esquadra rival concentrada. Esta restrição sempre condiciona sua ação.

Exemplo: Primeira Guerra Mundial – Marinha alemã.
Em fins de 1944, o comando naval alemão concebeu uma manobra orientada a realizar um contra-ataque maior contra a Grande Esquadra (britânica). Ela consistiu na realização de um bombardeio naval contra a costa sul inglesa, com os cinco cruzadores de batalha do Almirante Hipper. O Primeiro grupo de Exploração alemão, em sua retirada, serviria de incentivo para atrair parte da esquadra inglesa até a Esquadra de Alto Mar (alemã) concentrada ( 14 encouraçados classe Dreadnought e 8 pré-Dreadnought).
“O eficiente serviço radio-goniométrico [inglês]...detectou ...a presença das forças de reconhecimento, mas não a esquadra de batalha alemã. No entanto, o Almirante Jellicoe alertou a Segunda Esquadra de Batalha...baseada em Scapa Flow, e os cruzadores de batalha estacionados em Cromart... Além disso, a Terceira Esquadra de cruzadores recebeu ordem para suspender de Rosyth para reunir-se à Segunda Esquadra de Batalha, com o intuito de posicionar-se na retaguarda dos navios alemães, que se aproximavam das costas britânicas e cortar-lhes a retirada.
A manobra alemã produziu o efeito desejado. Sua recompensa seria o ansiado encontro entre uma parte da Grande Esquadra inglesa, muito inferior, contra a Esquadra de Alto Mar alemã, concentrada. No entanto, uma decisão equivocada do Comandante alemão pôs tudo a perder e esteve a ponto de causar um desastre:
“Os contratorpedeiros britânicos encontraram a cobertura avançada de Von Ingenohl. Convencido que se dirigia ao encontro da Grande Esquadra completa, o comandante da esquadra alemã determinou que seus encouraçados regressassem urgentemente a Jade, deixando à própria sorte os cruzadores de batalha, que fariam o bombardeio. O Derfflinger e o Von der Tann ( que haviam bombardeado Scarborough e Whitb)y, e o Seydlitz, o Moltke e o Blücher (que haviam infligidos danos à Hartleppol), tiveram suas rotas de fuga, através dos campos minados da Costa Este, cortadas. Hipper escolheu a brecha central no qual os quatro cruzadores de batalha de Beatty, com oito Dreadnoughts comandados pelo Vice-Almirante Warrender estavam esperando.”
Os cruzadores de batalha de Hipper escaparam sem danos, evadindo as forças britânicas. Mas também se desvaneceu a ocasião favorável apresentada à Marinha alemã para equilibrar as forças organizadas. Ao conhecer a oportunidade perdida, o Almirante Von Tirpitz afirmou: “Em 16 de dezembro, Ingenohl teve em mãos o destino da Alemanha.”

Contra-ataque Menor
É a ação ofensiva realizada por meios não integrantes da Força Organizada contra a esquadra inimiga. Para executar este ataque precisam da surpresa, pois sua manifesta vulnerabilidade lhes impede de realizar um enfrentamento aberto. Os contra-ataques menores estão associados a meios ligeiros ou forças especiais, que por suas características, não podem fazer parte da esquadra principal de maneira permanente.
Geralmente, estas ofensivas avariam os alvos sem conseguir sua completa destruição. A execução exige um cuidadoso planejamento e pessoal especializado muito treinado. Otto Groos comenta:
“Em todos os tempos a guerra de guerrilha tem exercido uma certa atração sobre o mais fraco dos beligerantes. Sempre que uma potência naval se torna inferior a rival, de uma maneira que não é possível nem sequer tentar comprometer o domínio do mar do mais forte por meio de operações da esquadra, opta pela esperança de bater por frações o inimigo por meio de guerra de guerrilhas, e de obter com vitórias parciais a equivalência de forças ... Mas é inerente à natureza mesma das questões bélicas, que subsistisse no ânimo do beligerante menos forte a esperança de vencer, em épocas como a atual, em que os avanços técnicos com suas invenções e descobrimentos pusessem a sua disposição novas armas capazes de abater e anular as formidáveis meios navais em que repousa precisamente a superioridade do adversário.”

Por vezes, os contra-ataques menores obtêm ressonantes êxitos táticos, mas sem transcender o campo estratégico. Portanto, para terem real valor na guerra no mar, não devem constituir atos heróicos isolados sem estarem incluídos dentro de uma manobra global da esquadra. Assim, a soma dos êxitos táticos se transforma em um êxito estratégico capaz de conseguir a ansiada paridade entre as esquadras.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial – Ataque de Submarinos “X” contra o Tirpitz
Os britânicos construíram vários submarinos de assalto denominados “X”. Tais unidades deslocavam cerca de 30 toneladas e estavam armadas com duas cargas explosivas de 2 toneladas de amatol cada uma. Estas armas eram depositadas no fundo do mar nas proximidades do navio alvo. A Armada Real montou um ataque contra o encouraçado Tirpitz em 1943. “Em fins de setembro penetraram 3 submarinos britânicos de bolso dentro do fiorde de Alta. Dois deles, o X7 e o X5, foram destruídos por nossa defesa. O terceiro, o X6, conseguiu colocar uma mina especial sob a popa do Tirpitz. A explosão produziu avarias tão graves nos hélices e no leme, que o reparo exigiu seus bons cinco meses.”

A realização de ações que configuram o que Corbett chama de contra-ataques (maiores ou menores) é a aplicação do que alguns autores denominam de estratégia de desgaste, a respeito da qual assim se manifesta o Almirante Caminha:
“O Poder Naval pode ser empregado em operações de pequeno vulto que visem a desgastar progressivamente os elementos do Poder Marítimo do inimigo e obter o domínio do mar, seja por transferência paulatina desse domínio, seja mediante um golpe maior quando o desgaste houver criado condições favoráveis."

Esquadra em Potência
É um dos temas mais confusos da estratégia naval. Os estrategistas o analisam com profusão e, no entanto, lhe conferem distintos significados e alcances. Alguns confundem a esquadra em potência com a defensiva estratégica. Há aqueles que incluem nesse procedimento os contra-ataques maiores e as operações de exercício e de projeção realizadas pela força organizada mais fraca. Por último, Geoffrey Till fala da estratégia da esquadra em potência. Mas todos concordam em que é parte da disputa do controle do mar, para uns uma atitude ativa e para outros passiva.

“Para Castex a esquadra em potência é uma defensiva puramente passiva, que não busca a manobra, enquanto que para Colomb, Corbett, Ruge e outros adeptos da teoria, a esquadra em potência não deve permanecer inativa, mas deve demonstrar agressividade se quer obter resultados. Mahan não expressa outra coisa quando escreve que uma esquadra inferior, mas com muita mobilidade e atividade, pode molestar consideravelmente seu adversário.”

Corbett e Otto Groos contemplavam os contra-ataques maiores, considerando estas ações como atitudes da esquadra em potência.
De sua parte, Castex, depois de uma extensa análise da guerra no mar, afirmou:

“O erro da doutrina integral da esquadra em potência, consistiu em chegar a supor que a pura existência de uma esquadra semelhante bastasse para produzir efeito, ainda no caso de manter-se quase completamente inativa, e que dela resultaria, necessariamente, a paralisação total de um adversário superior e senhor do mar. Esta idéia sonora e vazia, que em certas épocas se converteu em um verdadeiro lugar comum, criou assim uma ilusão perigosa. Em troca, jamais influiu no espírito de quem esteve decidido a atuar prescindindo da esquadra em potência, dos que tiveram os meios para fazê-lo e souberam aproveitá-los.”

Em resumo, a esquadra em potência constitui um método de disputa do controle do mar. Seu efeito se produz pelo mero fato de existir e, assim, entravar a ação da força rival superior. Sua influência depende da atividade desenvolvida pela esquadra em questão, variando desde uma postura passiva, até uma dinâmica atitude defensiva. Mas, em todo caso, elude a Batalha decisiva. Em expressão mais concreta, a Força Organizada realiza operações de exercício e de projeção; estas últimas, geralmente, são ofensivas táticas orientadas a causar danos, perturbar e dividir o inimigo. Ao conseguir resultados positivos a esquadra tem que renunciar a seu papel passivo e inerte frente a força de combate inimiga. Para tal, deve arriscar-se nos contra-ataques maiores, não cabendo uma atitude passiva.
Como a história demonstra, uma esquadra superior, animada por uma vigorosa vontade estratégica, atua com plena liberdade de ação e iniciativa na perseguição de seus objetivos estratégicos. No transcurso das operações não lhe importa criar ameaças intoleráveis, pois se a força organizada mais fraca se interpõe, está preparada para afastá-la de seu caminho mediante a Batalha.
Uma esquadra em potência passiva mal pode influir no controle do mar, pois, encerrada em seu refúgio, entrega as águas oceânicas ao inimigo. Assim, a esquadra em potência se rebaixa à defensiva tática, já que se limita a proteger-se. Um dos inconvenientes mais prejudiciais a uma esquadra em potência reside em sua passividade. Esta inércia corrói a vontade estratégica e o espírito ofensivo dos comandos e repercute de modo negativo no moral das tripulações.
Sobre o tema, expressa-se o Almirante Caminha:

“Em essência, a concepção estratégica da Esquadra em Potência consiste em conter ou divertir o inimigo pela ameaça do Poder Naval. A aplicação com sucesso da Esquadra em Potência depende da constituição da força naval, dos pontos estratégicos ou bases de onde ela atua, bem como de sua agressividade.”

O papel básico da força organizada está voltado para a conquista do controle do mar. Com tal propósito é criada, treinada e mantida. Uma esquadra em potência imóvel em seu fundeadouro, em busca de segurança, não influi na decisão no mar.
Quando, por manifesta inferioridade de meios, deficiente posição ou falta de vontade estratégica, uma esquadra perde a capacidade de disputar o controle do mar, também perde a esperança de intervir decisivamente no destino da guerra. Entrega ao inimigo os benefícios do domínio do mar sem que este incorra em maiores sacrifícios ou esforços. A história registra os casos da Esquadra de Alto Mar alemã na Primeira Guerra Mundial, da esquadra Italiana na Segunda Guerra Mundial e da Argentina, no conflito das Malvinas.
A esquadra em potência, salvo contadas exceções, constitui um procedimento inaceitável que deve ser rechaçado. Ela constitui a negação da guerra no mar.




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#79 Mensagem por Rui Elias Maltez » Ter Mai 29, 2007 11:51 am

O bloqueio e a batalha?

Primeiro há que ter uma estratégia, e depois ter os instrumentos para que a estratégia seja materializada e instrumento de uma politica externa.

Será que a Argentina tinha uma boa estratégia e os meios para sustentar a sua aventura nas Malvinas?

Bloqueio só faz sentido se for para evitar que se faça a reposição de stok's sejam militares ou alimentares a um nação em guerra e sob ataque.

Como os alemães tentaram fazer na II Grande Guerra.

Mas não resultou, porque a sua estratégia era reducionista.

Apostaram tudo nos submarinos e em menos de meia dúzia de bizarmas facilmente afundáveis.

Por falta de meios, nunca conseguiram manter no mar uma força de superfície que lhes desse a supremacia naval e aérea, ao contrário do que aconteceu com a Inglaterra e EUA.

Uma guerra naval seja a média ou longa distância não se pode fazer só com fragatas, ou cruzadores e submarinos.

Há que ter os meios para a projecção de poder (submarinos, fragatas, destroieres ou cruzadores, e se for caso disso, CV's) mas é importante que essa força seja sustentável a prazo.

Daí a necessidade de uma estratégia e de uma politica do Estado para materializar com meios a estratégia.

E para isso existam as cadeias logisticas, por mar, através de um corredor de navios reabastecedores, ou por ar, caso teham por peto uma base amiga.

E depende de para quê a batalha, ou o cerco/bloqueio.

Se para invadir, e aí sem navios de desembarque e aviões estratégicos, nada feito, ou se for para um simples bloqueio como o que se fez recentemente no Adriático.

Para isso 2 ou 3 submarinos para dissuadir, e 5 fragatas servem.

Mas podemos desenvolver esta discussão.

É que só agroa é que vi este tópico :oops:




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#80 Mensagem por Marino » Ter Mai 29, 2007 3:27 pm

Caro Rui
Seu posicionamento está essencialmente correto, com algumas alterações de nomenclatura.
Deixe-me explicar:
1) existe nos Estados a Política Nacional, com "P" maiúsculo, ou "GRANDE POLÍTICA", que define os Objetivos Nacionais Permanentes perseguidos por um Estado, independendo do governo de plantão. Ela define "O QUE" um Estado busca;
2) existe a "GRANDE ESTRATÉGIA", ou o "COMO" um Estado vai tentar obter seus Objetivos Nacionais Permanentes. Ela pode ser Direta, ou Indireta, usando a terminologia de Beaufre (e aqui caberia um grande tópico a parte);
3) e existem as outras Estratégias, das quais a Estratégia Naval é somente uma.
Então, meu objetivo aqui é muito humilde, somente mostrar a Estratégia Naval (uma pequena parte dela).
Não tenho dúvida que recuperar as Malvinas é um dos Objetivos Nacionais Permanentes argentinos, mas a "GRANDE ESTRATÉGIA" para obter este objetivo foi a correta? Acho que não. Que dirá então da Estratégia Militar.
O Bloqueio é um instrumento usado (um deles, o outro é a Batalha), depois da decisão Política, da Grande Estratégia definir a Guerra como meio de obtenção do Objetivo Nacional Permanente, e da Estratégia Naval buscar o Controle do Mar.
Nas duas guerras mundiais a Alemanha foi a bloqueada pelos ingleses desde Scapa Flow (Posição Estratégica inglesa).
Não se esqueça da dualidade Força + Posição.
Na IGM os alemães criaram uma magnífica força de superfície, a Esquadra de Alto Mar, e buscavam, por doutrina, a Batalha a qualquer custo, mas não tinham a Posição. Como os ingleses sempre negaram a Batalha, com exceção da Jutlândia, de nada adiantou aquela Esquadra.
Na IIGM, vendo que não adiantaria possuirem Força sem posição, partiram para a negação do uso do mar, com os submarinos. Ao conquistarem a França, obtiveram a Posição de que precisavam para gravitar no Atlântico, mas não tinham Força.
Quanto ao restante de seu post, de acordo, é a "Esquadra Balanceada" de que eu tanto escrevo.
Estou a disposição para continuarmos.
Forte abraço




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#81 Mensagem por Marino » Qua Mai 30, 2007 3:45 pm

Caros foristas, nenhuma pergunta?
Posso seguir adiante despreocupado?




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#82 Mensagem por Marino » Qui Mai 31, 2007 6:16 pm

Sigamos, então.
Já vimos a obtenção do controle do Mar, a Disputa do Controle do Mar e agora vamos ver o Exercício do Controle do Mar. Aqui muitas perguntas sobre os NM estarão respondidas, como prometi.
É um tópico muito grande, mas decidi posteá-lo de uma só vez.
Tenham paciência na leitura.


O EXERCÍCIO DO CONTROLE DO MAR

As operações de exercício do controle do mar conformam as atividades de maior alcance no mar. Enlaçam a estratégia naval com as necessidades do nível político de condução da guerra e com as estratégias terrestre e aérea. Em termos simples, consistem nas ações conexas ao uso do mar na transferência de carga desde um porto de origem até seu destino, durante um conflito. A carga pode ser de natureza econômica ou militar, gerando as respectivas linhas de comunicação.
Corbett, que sistematizou as operações navais, expressou:

“Dentro dos métodos empregados para exercer o controle, se incluem todas as operações que não se atenham diretamente à obtenção do mesmo, ou a impedir que o inimigo possa consegui-lo. Exercemos o domínio sempre que conduzimos operações não dirigidas contra a esquadra de batalha inimiga, senão que buscam utilizar para nossos próprios fins as comunicações marítimas, ou dificultar seu uso pelo inimigo. Estas operações, enquanto que logicamente de importância secundária, têm constituído, sempre, a maior parte da guerra naval ... Usamos o mar ou dificultamos seu uso pelo inimigo.”

Otto Groos assim resumiu o pensamento de Corbett:

“Se vamos nos ater à definição de Corbett, os métodos para exercer o domínio do mar compreendem todas aquelas operações que não são requeridas para a conquista do mesmo. Exercemos o domínio do mar com todas aquelas operações que não estão dirigidas diretamente contra a esquadra adversária, mas que vão encaminhadas a fiscalizar as rotas marítimas em proveito próprio e em prejuízo do adversário.”

Castex e Brodie falaram sobre a defesa e ataque das comunicações. O primeiro autor, mais extenso e explícito, explicou:

“As operações marítimas têm por objeto conquistar, ou pelo menos disputar, o domínio do mar, ou seja, o controle das comunicações vitais de superfície, únicas que realmente interessam. Tal é o objetivo, a razão de ser, o fim último da guerra naval. Por trás dos meios múltiplos e diversos, o objetivo supremo é uma questão de comunicações. Tudo se resume em reservar-se seu uso exclusivo, privando-as ao inimigo, se for possível, ou, no pior dos casos, não ficar privado totalmente das mesmas e prejudicar o inimigo nesse sentido.”

Coutau-Bégarie referiu-se a uma guerra de comunicações paralela e independente da guerra entre as forças organizadas:

“A primeira deixa de ser um anexo à segunda para transformar-se em um tipo de guerra naval suscetível de produzir resultados decisivos, independentemente da evolução da guerra entre forças organizadas. O senhor da superfície pode perder a liberdade de ir e vir, ainda quando sua força organizada não é destruída.”

As definições dos diversos autores mencionados não estabelecem com nitidez o objeto nem o objetivo das operações de exercício de controle do mar. Limitam-se a definir atividades atinentes a seu desenvolvimento: a defesa e o ataque das linhas de comunicações marítimas. Além disso, tampouco se referem com precisão a sua função mais importante: realizar o transporte através do mar em tempo de conflito. Em ocasiões, o transporte de carga, em particular a militar, reveste-se de tal importância que algumas marinhas o denominam “transporte estratégico”, agregando uma redundante área de missão. Além disso, existem outros fatores tendentes a confundir esta operação naval.
Em primeiro lugar, certos estudiosos têm a propensão de atribuir um sentido material às linhas de comunicações marítimas, característica completamente divorciada da realidade:

“A origem deste conceito equivocado foi semântico. Sir John Colomb com suas “Imperial Water Road’s” teve certa responsabilidade por seu estabelecimento. Também Mahan, especialmente por sua descrição do mar como “uma vasta extensão de propriedade comum por onde o homem pode trasladar-se em todas as direções; só que a freqüência de certos trajetos tem feito que existam poderosas razões para optarmos com preferência por determinados caminhos ou derrotas”. Como analogia ilustrativa, a referência a trilhas, caminhos ou estradas do mar, ou as celebradas rotas marítimas, provavelmente causam pouco dano. Mas, como conceito operativo, conduz ao desastre. Oficiais navais com tais pensamentos deveriam ser exorcizados. Os prejuízos desta terminologia explicam porque muitos escritores preferem evitar tais abstrações, como comunicações marítimas, e em troca falam sobre a proteção dos navios mercantes.”

Por último, grande quantidade de estrategistas englobam, dentro do exercício do controle do mar, a invasão e a defesa contra a invasão através do mar. Na concepção atualizada da estratégia marítima, as citadas operações e atividades, por sua transcendência e características específicas, estão compreendidas dentro das operações de projeção e defesa de litoral.

8.1 – PROPÓSITO, OBJETIVOS E CONSIDERAÇÕES GERAIS

O propósito das operações de exercício do controle do mar é garantir ou impedir o transporte de carga através dos oceanos, realizado por navios mercantes ou unidades navais auxiliares, que navegam, em conjunto ou isolados, desde seus portos de origem até seus destinos. O comando naval, para assegurar sua chegada, necessita proteger os cargueiros, enquanto o adversário tenta capturá-los ou destruí-los. O objetivo a defender ou a atacar está constituído pelos navios transporte, os quais materializam as linhas de comunicações marítimas.
Nas operações de exercício de controle do mar é possível distinguir três atividades diferentes, ainda estreitamente entrelaçadas:
- O transporte da carga;
- A defesa das comunicações marítimas; e
- O ataque às comunicações marítimas.
Sem transporte não faz sentido se falar em exercício do controle do mar, nem tampouco defesa e ataque às comunicações marítimas. Em outras palavras, ele origina as operações de exercício do controle do mar.
O exercício de controle do mar é realizado indistintamente pelo mais forte ou pelo mais fraco. No entanto, suas metas devem compatibilizar-se com o grau de domínio detido. Enquanto as forças organizadas dos adversários, normalmente, se dedicam a executar tarefas de disputa ou de conquista, paralelamente se levam a cabo atividades do exercício. Por esta razão, diz-se que o exercício do controle do mar coexiste com a disputa ou a conquista, segundo seja o caso.
As operações para disputa ou conquista são, essencialmente, navais e delas participam, quase com exclusividade, os meios navais dos beligerantes. Por outro lado, nas operações para o exercício do controle do mar intervêm, de forma direta ou indireta, os principais componentes do poder marítimo nacional (forças navais, navios mercantes, pesqueiros, terminais marítimos, etc.), além de elementos da força aérea e, muito raramente, da força terrestre.

8.2 - O TRANSPORTE DE CARGA

A carga, sujeito do transporte marítimo, possui valor econômico ou militar. No entanto, na guerra, esta divisão tem somente significado teórico, sem maior transcendência. Os alimentos, matérias primas, combustíveis e insumos para a indústria e serviços contribuem para incrementar o poder militar de uma nação em armas. Além disso, as exportações fortalecem suas finanças e, em conseqüência, sua faculdade em adquirir elementos bélicos. Castex, referindo-se à guerra, escreve:

“Nesta classe de conflitos, deve-se atacar o comércio do adversário, mesmo que destinado a sua população civil, porque alcançando esta, ataca-se a frente. Como dizia o jurisconsulto inglês Arthur Garfield Hays: “Não há distinção lógica entre o abastecimento de víveres dos civis e o das forças armadas; quanto mais tenham os civis, mais haverá disponível para as forças” ... Portanto, o navio mercante que abastece a nação de toda classe de artigos pode ser atacado por todos os meios.”

Portanto, há amparo jurídico para se apodera ou destruir carga destinada ao adversário, ou os bens que este pretenda vender em ultramar. Ao mesmo tempo, faz-se imperativo assegurar o livre trânsito das próprias cargas, até ou desde o país.

“É evidente que se o objeto e o fim da guerra naval é o controle das comunicações, deve implicar o direito de proibir, se for possível, o trânsito de propriedade, tanto pública como privada, no mar. Assim, os únicos meios de impor tal controle sobre as comunicações comerciais no mar são, como último recurso, a captura ou destruição da propriedade transportada pelo mar. Esta captura ou destruição é a penalidade que imporemos a nosso inimigo por tentar utilizar comunicações sobre as quais não exerce controle. Na linguagem jurídica, isto constitui a sanção final da interdição que tratamos de impor.”

Os veículos de transporte da carga no mar são os navios mercantes ou as unidades navais auxiliares, que podem pertencer aos beligerantes ou aos neutros, que ao navegarem pelas águas dos beligerantes, assumem graves riscos. As companhias seguradoras reconhecem esta situação e elevam, de forma considerável, o seguro dos navios comerciais que transitem em áreas hostis. Castex, aludindo aos navios mercantes beligerantes assinalou:

“Em vista do papel tão importante que desempenha na luta, o navio mercante adquire o caráter inegável de navio de guerra. Na atualidade, se volta a armá-lo e, por isso, pode ser atacado diretamente com torpedos como se fosse uma unidade de guerra ... Outra conseqüência é que o pessoal do navio mercante é combatente. Possui um caráter nato militar, como o pessoal das estradas de ferro em tempo de guerra, e efetua como ele operações de primordial importância desde o ponto de vista da luta empreendida.”

Estes mesmos juízos são aplicáveis aos navios neutros que ingressam em águas declaradas perigosas pelos países em guerra.
Os navios transformam em realidade as linhas de comunicações marítimas que, em suas ausências, se transformam em meros conceito teóricos. As linhas de comunicações se cortam ou protegem atacando ou defendendo navios reais.

“Tudo de interesse era o que transitava sobre o mar. Como o Almirante Gretton destacou: “Os navios são os que devem ser protegidos, não linhas traçadas sobre a cartas.” O posicionamento dos escoltas deveria refletir esse fato básico.”

As linhas de comunicações marítimas em seu conjunto formam o chamado transporte estratégico, o qual se inicia, geralmente, antes do rompimento das hostilidades. Portanto, as operações de defesa e ataque das comunicações começam no primeiro dia de guerra e cessam no último.

Os terminais marítimos são parte integrante das comunicações marítimas. A localização dos portos, segurança oferecida ante a ameaça do inimigo, rapidez de transferência de carga, etc., tem uma enorme incidência na eficiência do transporte.
Por último, os estaleiros também influem no transporte, ao repararem com rapidez os navios danificados tanto por acidentes como por avarias causadas por ação inimiga.

8.3 - ATAQUE ÀS COMUNICAÇÕES MARÍTIMAS

Quando um dos beligerantes não tem condições de disputar o controle do mar, deve tentar evitar que o inimigo se beneficie do controle que exerce. Neste caso, diz-se que o mais fraco negará o uso do mar pelo inimigo, que detém o controle.
Uma das formas de negar ao inimigo o uso do mar é a adoção da guerra de corso.

8.3.1 – A Guerra de Corso

A guerra de corso constitui a forma típica de ataque às comunicações marítimas mediante o emprego de unidades navais de superfície, submarinas e aéreas, operando de maneira independente ou em pequenos grupos.
Até 1856, os Estados outorgavam cartas de corso a particulares que armavam e dotavam seus navios para atacar (amparados pelo pavilhão governamental), os navios mercantes inimigos O corso uma atividade lícita e lucrativa. O valor das presas era repartido entre o Estado, armador e tripulação. Se o corsário era capturado ou destruído, os membros das dotações recebiam o tratamento de prisioneiros de guerra, em vez de piratas e o dono perdia seu barco. A declaração de Paris de 1856 aboliu o corso como método para realizar a guerra no mar.

“Se ainda falamos de corsários é por causa de um hábito antigo e também porque o termo é breve, expressivo e cômodo. Atualmente, as patentes de corso não existem e as unidades encarregadas do ataque às comunicações devem ser navios de guerra ou navios mercantes armados (cruzadores auxiliares). Uns e outros são navios muito mais importantes e de valor individual muito maior que antes. Em troca, seu número é muito mais reduzido.”

O efeito psicológico dos corsários tem sido, normalmente, desproporcional aos meios empregados e resultados obtidos. Sua presença ou mera ameaça sempre repercutiu com intensidade no nível político-estratégico das potências marítimas.
A conseqüência estratégica mais grave da ação corsária reside na dispersão dos meios do inimigo, com o conseqüente enfraquecimento da esquadra de combate. O caso mais típico registrado pela história moderna ocorreu depois de Coronel, na Primeira Guerra Mundial: “Este desastre produziu uma reação imediata por parte de Lord Fisher. Os cruzadores de batalha Inflexible e Invencible foram enviados ao Atlântico Meridional.” O primeiro Lorde do Mar não vacilou em diminuir a Grande Esquadra para dar caça ao esquadrão corsário de Von Spee. No entanto, a Esquadra de Alto Mar não aproveitou a situação favorável, pois não existia uma idéia de manobra central das operações navais alemães.
A ação deslocadora dos corsários é maior no começo das hostilidades, quando o dispositivo defensivo das comunicações marítimas se encontra em fase embrionária. Por causa disso, os comandos responsáveis ainda carecem de experiência e, em conseqüência, a guerra de corso deve iniciar-se com o maior vigor desde o início das hostilidades.
A guerra de corso, até a presente data, não tem obtido resultados decisivos. Castex, sobre este tema, aclarou:

“Não se deve exagerar, como é natural, os efeitos das operações desta índole. Eram manifestações isoladas, de importância muito secundária para produzir resultados apreciáveis. Os corsários somente destruíam alguns navios mercantes, quando teria sido necessário aniquilar esquadras de guerra; os navios alemães, por sua vez, transportavam cargas insignificantes em relação às necessidades da nação. E tem sido suficiente manter a uns e a outros nesta situação para obter, a longo prazo, o efeito desejado.”

O corsário não pretende obter o controle do mar, mas negar seu uso. A meta consiste em obstar o tráfego inimigo para impedir-lhe que goze dos indiscutíveis benefícios do uso do mar. Não busca a decisão e ademais existem métodos para anular sua ação. Assim mesmo, é uma atividade eventual.
Nos conflitos mundiais, a Alemanha levou a cabo uma cruenta guerra de corso. Os Aliados, em particular a Inglaterra, experimentaram dolorosas perdas. Mas, estes se sobrepuseram e derrotaram o inimigo. Na Primeira Guerra Mundial, alcançaram a vitória por meio do bloqueio econômico e, na Segunda, projetaram seu poder militar através do mar contra o coração da Europa. Por outra parte, no Pacífico, o ataque às comunicações marítimas japonesas colaborou de maneira categórica à derrubada do Império.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial – Efeito do ataque às comunicações japonesas.
“ Nos fins deste último mês (julho), o tráfego inimigo havia sido levado a um ponto morto, sua economia era um caos, suas indústrias estavam a ponto de parar e sua população esfomeada; mas exatamente como ocorreu no conflito de 1914-18 contra a Alemanha, não nos demos conta de quão mortífero havia sido nosso bloqueio, até que a guerra terminou e fomos capazes de entrar no país inimigo para constatar os resultados, por nós mesmos. Se o efeito do bloqueio houvessem sido comprovados antes (e um estudo científico sobre as conseqüências da destruição de toda sua marinha mercante haveria demostrado com toda segurança sua incapacidade para prosseguir a guerra) parece provável que a decisão de utilizar a bomba atômica houvesse sido contemplada de outra forma.”

Do estudo das comunicações marítima do adversário, se depreendem suas zonas de confluência e áreas focais. A maior densidade de tráfego torna rentável o ataque realizado por unidades que exploram a surpresa: o avião e o submarino. Um aproveita a velocidade e o outro sua capacidade de ocultar-se sob a água. Os corsários de superfície possuem poucas possibilidades de atuar nestas áreas e, por conseguinte, se posicionam em zonas distantes, mas com certo tráfego inimigo. As operações de ataque ao tráfego marítimo inimigo, para que se revistam de significado transcendente, devem estar integradas à manobra estratégica da Marinha.

“A guerra de corso, concebida de modo racional, pode prestar uma grande ajuda à força organizada, da qual depende o êxito geral e definitivo da guerra. A ação dos corsários contra pontos sensíveis, sua ameaça contra interesses de considerável valor, podem criar poderosas diversões, obrigando o inimigo a deslocar importantes efetivos para fazer-lhes frente e, em conseqüência, dispersar seus elementos.”

A direção e coordenação dos meios integrados em um sistema de operações exige um comando naval único e responsável pela totalidade da guerra no mar, em um teatro de operações marítimos. Uma organização que não respeite essa necessidade convida ao desastre.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial – O Comando Alemão no Atlântico.
A Marinha e a Aviação alemãs, na prática, realizaram o ataque às comunicações marítimas de modo independente e sem coordenação, inclusive com dificuldades no o reconhecimento aéreo em proveito da esquadra. O Almirante Raeder comentou esta anômala situação: “Em todas as grandes Marinhas havia a opinião de que a guerra naval deveria ser dirigida de um comando com critério único e total, mesmo que se tratasse de combates de superfície, submarinos ou aéreos. Isto tornava indispensável que algumas unidades da aviação atuassem em estreita dependência da Esquadra. Neste sentido, a frase favorita da pequena corte de Goering era: “tudo o que voa é assunto nosso”. As vantagens que trazia a concentração ou a centralização de tudo na Luftwaffe se justificava nos aspectos de instrução de vôo, progresso e aperfeiçoamento de motores, fomento da indústria aeronáutica e outros aspectos semelhantes ... O que não compreendiam, os que defendiam tais idéias, era que a atuação dos aviões e esquadrilhas diferem muito nas guerras terrestre e naval.” “Hitler terminou por admitir, em 1943, que havia cometido um erro ao não criar uma aviação puramente naval, mas estimou que uma mudança de organização em plena guerra seria mais prejudicial que útil.”

8.3.2 – O Papel da Força Organizada

O ataque às comunicações marítimas constitui uma tarefa preferencial dos meios que não integram a Força Organizada que, no entanto pode participar ativamente destas atividades ofensivas. Sua atuação depende de diversos fatores, sendo os de maior importância: a posição estratégica, seu poder combatente em relação à força organizada adversária e a situação estratégica vigente.
Com referência a posição estratégica:

“A guerra de comunicações está dominada ironicamente pela geografia. Esta pode facilitar ou, pelo contrário, complicar em grandes proporções o problema do ataque e da defesa das comunicações. Uma e outra dependem em alto grau da posição das rotas marítimas em relação as costas e as bases, nossas ou inimigas.”

Uma boa posição é a chave imprescindível para implantar um rigoroso bloqueio econômico sustentado pela esquadra. A fim de levá-lo a cabo, esta última requer ser mais forte ou, ao menos, equilibrada a respeito da força inimiga. Se o bloqueado tentar romper o cerco utilizando sua esquadra, é travada a Batalha e o inimigo destruído.
Com forças iguais ou quase iguais e uma posição não tão favorável, ambos podem atacar as comunicações contrárias, seja por exigência da situação estratégica, como parte de uma manobra ou, por último, para criar uma ameaça.
Com forças completamente desequilibradas, não importando a qualidade da posição, o partido mais fraco fica quase obrigado a realizar guerra de corso com todas suas forças navais, incluindo a esquadra principal.

“Um plano de guerra que tem como objetivo primordial a destruição do comércio, supõe que o partido que o adota se encontra em condições de inferioridade no mar. Se tivesse supremacia, seu objetivo seria converter essa superioridade em um domínio efetivo, seja mediante a Batalha ou o bloqueio. Portanto, excetuando os casos pouco freqüentes em que as forças contrárias são iguais, devemos supor que o beligerante que faz da destruição do comércio seu objetivo primordial, terá que se haver com uma esquadra superior.”

Outro autor complementa o juízo anterior de Corbett:

“A orientação necessariamente defensiva de quem não possui uma esquadra capaz de enfrentar a adversária, não exclui as veleidades ofensivas destinadas a impedir o dono dos mares de gozar aprazivelmente e sem travas seu domínio. Para isto, há uma estratégia simples e econômica: o corso. Navios incursores são enviados isoladamente ou, mais raramente, em pequenos grupos aos oceanos, com a missão de acossar o comércio, rechaçando o combate. Se conta com os prejuízos que eles ocasionam, mas também com o impacto psicológico, para perturbar o tráfego adversário.”

Em síntese, a força organizada adota diversas linhas de ação em relação ao ataque às comunicações marítimas inimigas. De acordo com o grau de disputa vigente, a localização da posição e a situação estratégica do momento, impõe o bloqueio econômico, provoca ameaças integradas dentro da manobra estratégica e, por último, utiliza o corso como último recurso ante um desequilíbrio irreversível entre as esquadras.
Vale destacar o paradoxo da guerra marítima. O mais fraco carece de outra alternativa rentável que não tomar a ofensiva, de forma vigorosa, contra as comunicações de um adversário mais forte, enquanto quem possui o controle do mar está obrigado a defendê-las.

Exemplo: Primeira Guerra Mundial - Bloqueio econômico da Alemanha.
O bloqueio econômico efetuado pela Grã-Bretanha desde Scapa Flow foi determinante para o colapso alemão: “O bloqueio afetou os homens, mulheres e crianças, as fábricas e as granjas dos países inimigos e, chegado o verão de 1918, as potências centrais se viriam forçadas a capitular como conseqüência da fome, não fosse pelo trigo procedente da Romênia e Ucrânia ... Calculou-se, também, que durante os dois últimos anos do bloqueio, 800 mil não combatentes morreram na Alemanha, de fome ou de enfermidades derivadas de uma alimentação precária.”
Exemplo: Segunda Guerra Mundial - O Plano “Z” alemão.
O plano da esquadra alemã baseava-se no ataque ao comércio britânico. “Nossos planos se sustentavam nas seguintes bases estratégicas: era conveniente opor ao tráfego inglês não somente submarinos e cruzadores auxiliares, mas também grupos de cruzadores de batalha e de outros cruzadores. Desta sorte, a esquadra inglesa se veria forçada a escoltar seus comboios com algo mais que unidades ligeiras adequadas à luta anti-submarino e cruzadores auxiliares. Querendo ou não, teria que protegê-los com navios de grande tonelagem e poder de fogo e não lhe restaria outra solução que fracionar seus efetivos navais, dispersar os fortes núcleos de unidades pesadas e frustrar as possibilidades de uma concentração sensata de seus efetivos. Os cruzadores rápidos alemães iriam respaldados pelos cruzadores de batalha, os quais podiam, por sua vez, se evadir dos encouraçados e navios de linha ingleses por causa de sua superior velocidade. Por último, a esquadra especial dos navios de linha alemães de motor diesel, estava chamada a constituir, com seu grande raio de ação, a espinha dorsal das forças de encouraçados e cruzadores, que seriam reforçadas, em caso de necessidade, para vencer as unidades pesadas da escolta inimiga dos comboios.” O Plano “Z” foi cumprido, inicialmente. As unidades pesadas alemães realizaram o corso com certo êxito, mas foram aniquiladas pelas forças navais aliadas muito superiores.

8.3.3 – Corsários de superfície

Por séculos, o navio de superfície realiza o corso. A declaração de Paris de 1856 obrigou a empregar no corso somente unidades das esquadras em conflito. Em ambas conflagrações mundiais, a marinha alemã utilizou como corsários navios de sua esquadra e mercantes armados como cruzadores auxiliares. O Almirante Raeder escreveu sobre o efeito conseguido por estes últimos:

“O volume de afundamentos efetuados pelos cruzadores auxiliares de 1940 a 1942 esteve ao redor do milhão de toneladas. Mas não se computaram suas vitórias somente com estes dados, que são expressivos, mas também com o transtorno e a desorganização do tráfego marítimo inimigo que se seguiam aos afundamentos, assim como o desvio de poderosos efetivos navais inimigos obrigados a montar vigilância e defesa das rotas ameaçadas.”

Existem severas limitações para os corsários. Entre as principais se destacam a obrigação de conservar sua capacidade operativa e a distância de suas bases para satisfazer as necessidades de reparos e reabastecimento. Por conseguinte, os corsários estão forçados a eludir os encontros com forças navais superiores. “E inclusive de fugir, a princípio, do combate com antagonistas mais fracos.” Sua principal arma reside na surpresa. O corsário pode empregar diversos estratagemas destinados a evitar seu reconhecimento e a encobrir seus propósitos, dentre eles: mudar seu aspecto exterior e arvorar algum pavilhão neutro. No entanto, ao atacar, tem a obrigação de identificar-se sob sua bandeira e cumprir outras normas do Direito Internacional.
A possibilidade de interdição das comunicações marítimas por corsários de superfície desperta grande temor nas potências dependentes do mar. O Comandante Roskill observa a reação do almirantado britânico antes do rompimento das hostilidades de 1939:

“O almirantado considerava as unidades principais alemães como a mais séria ameaça a nosso tráfego. Nada podia paralisar com tanto sucesso nosso sistema de abastecimento e comércio marítimo, escreveu o Primeiro Lorde do Mar pouco antes da guerra, como o ataque por corsários de superfície ... A luz do que conhecemos agora, parece surpreendente que a ameaça submarina tenha sido considerada menos perigosa que os corsários de superfície, e que o efeito dos ataques aéreos nos mercantes e o lançamento de minas em nossos canais costeiros e desembocaduras tenham sido desconsiderados.

No entanto, a presença de um corsário de superfície sempre repercute com intensidade no posicionamento das unidades do poder naval contrário. Tal circunstância redunda na dispersão das forças navais, afetando a força principal de combate.
O conceito de cruzador auxiliar, navio mercante armado, muda com o tempo. Usualmente, consiste em um navio com velocidade relativamente alta , para calar suas vítimas e evadir-se. Tem grande autonomia para permanecer longos períodos em tocaia e mudar de área de operações com freqüência. Deve ter aspecto visual que facilite seu mascaramento.

“O avanço da tecnologia tem tornado acessível uma variedade de sistemas de armas modulares em contentores que podiam, em teoria, ser instalados em navios mercantes quando e como se queira.”

Mas a tecnologia apresenta um problema muito grande para os corsários de superfície. O considerável desenvolvimento dos meios de comando, controle, comunicações e detecção o transforma em fugitivo. Os satélites e o reconhecimento aéreo tornam insustentável sua ação nas proximidades das áreas de intenso tráfego marítimo. No entanto, não se pode descartar sua operação como parte da manobra estratégica ou em zonas marginais.
Afirma o Almirante Caminha:
“...se o propósito da operação não for o de negar sistematicamente à marinha mercante inimiga o uso do mar em dada área, mas o de provocar a dispersão do Poder Naval adverso, a viabilidade do emprego das forças de superfície perdura”

8.3.4 – O submarino

O submarino tem se mostrado como um dos instrumentos ofensivos mais eficazes do poder naval. Em ambas guerras mundiais, se destacou na destruição do tráfego mercante. Além de interditar as comunicações marítimas, realiza operações de ataque à esquadra adversária, de minagem ofensiva, e especiais (desembarque de comandos e de mergulhadores, etc..)
Imerso, o submarino é imune às emissões eletromagnéticas. Desloca-se, com discrição, nas três dimensões para evadir ou atacar os meios de superfície. Tem grande autonomia. Os fatores citados concorrem para outorgar-lhe a seguinte característica:

“O grande valor estratégico do submarino consiste no fato de que é o único navio de guerra que pode operar de modo independente, durante longo tempo, em mares dominados pelo inimigo.”

Em outras palavras, constitui a unidade naval ideal para atuar como corsário. Outras observações de caráter estratégico foram feitas pelo Almirante Doenitz:

“A combatividade de um submarino não aumenta, como em geral ocorre nos demais navios de guerra, com seu tamanho. Ao contrário, muitas das propriedades que caracterizam sua peculiar condição combativa se desvirtuam quando ultrapassa um tamanho determinado.”

Durante anos, as potências marítimas predominantes, Grã-Bretanha e Estados Unidos, tentaram suprimir ou tornar inútil o submarino como corsário. Os Tratados de Washington de 1922 e de Londres de 1936 proibiram-lhe o ataque sem prévio aviso aos mercantes, obrigando-o a vir a superfície. Impuseram-lhe, ainda, outras restrições, que reduziam ou anulavam sua vantagem na guerra de corso. No entanto, muitos Estados não ratificaram as cláusulas específicas dos aludidos tratados. Na Segunda Guerra Mundial, os beligerantes, de maneira progressiva, passaram a violar as normas estabelecidas e o submarino terminou operando sem restrições.

Para fazer que os submarinos operem sem restrições, são estabelecidas zonas de guerra ou de exclusão. Ainda que o Direito Internacional não reconheça a zona de guerra, a mesma é sancionada pelo costume. Dentro da mesma se localizam as áreas de patrulha dos submarinos dedicados à destruição do tráfego comercial.
Com referencia à operação dos submarinos, têm-se cometido graves erros. Um deles consiste em formar barreiras imóveis caindo no ineficaz cordão linear.

“Deve-se evitar, tanto quanto for possível, empregar submarinos em dispositivos essencialmente defensivos, inertes, estáticos, fixados geograficamente, tais como estações em frente a bases inimigas, vigilância passiva de certas zonas, barreiras em estreitos ou braços de mar fechados, etc. E é necessário recordar energicamente este princípio, pois existem e existirão sempre muitos que não podem ver sobre o mapa um estreitamento marinho, como o passo de Calais, o Canal da Mancha, Gibraltar, o Canal da Sicília, etc., sem experimentar em seguida o irresistível desejo de pôr ali uma fração de seus submarinos.”

O submarino provoca vigorosa reação do defensor, destinada a amortecer sua ação predadora. O inimigo compromete enormes quantidades de meios, de forma desproporcional ao esforço do atacante. Para reagir ao emprego de submarinos, o lado afetado por suas ações compromete grandes quantidades de meios para reduzir os efeitos dessa arma em suas linhas de comunicações.

Apesar de a guerra de corso, em particular os submarinos, ter causado sérios prejuízos aos Aliados, não alcançou a decisão no mar. Os que detinham o controle do mar continuaram exercendo e explorando seu domínio segundo suas necessidades.

“Não há dúvida que o maior erro dos dirigentes germano-facistas foi desencadear a luta em grande escala contra as comunicações atlânticas somente alguns anos depois de começada a guerra, quando se tornou claro que seus planos em terra haviam fracassado. A eficácia desta luta se ressentiu, também, do fato de que era realizada exclusivamente pelos submarinos, sem apoio de outro tipo de forças armadas, especialmente da aviação. Devido a isto, os aliados tiveram tempo para criar, em grandes quantidades, forças e meios de defesa contra os ataques de submarinos e organizar a construção dos navios de transporte. Por isto, ainda que a luta das comunicações incidisse no curso geral da guerra, não pôde converter-se em fator decisivo.”

A ação dos submarinos contra o comércio ou o poder naval do inimigo é parte indivisível da guerra no mar não deve ser levada a cabo de forma independente, mas de modo coordenado e concorrente com ações desenvolvidas pelos outros elementos envolvidos na manobra estratégica da Marinha.

8.3.5 – As aeronaves

A aeronave, de asa fixa ou rotativa, é uma das últimas armas incorporadas à luta no mar, à qual acrescenta outra dimensão: “Tanto o instrumento como o meio em que atua são inteiramente novos. Um espaço que permanecia inacessível se abre à navegação.” Pela sua presença, na atualidade, o controle do mar compreende a superfície, profundeza e espaço aéreo correspondente. A ampliação tridimensional do controle torna ainda mais importantes suas inerentes restrições.

“O avião ... se move em um oceano que lhe é próprio e que cobre a terra e o mar e que não conhece barreiras, salvo o clima e a distância. O avião terrestre pode ser usado sobre o mar e o avião naval sobre a terra. Este fato dá à arma aérea grande elasticidade e torna difícil distinguir entre a aviação naval e outras formas de aviação, salvo se si considera seus objetivos.”

Nos espaços marítimos, ainda quando a aeronave transita pelo ar, sua maior influência está na superfície. Mas apresenta uma reduzida permanência sobre a área objetivo, afetando, assim, com severidade sua mobilidade estratégica.

“A aviação não pode manter-se muito tempo em uma zona aérea determinada; não faz mais que passar por ela. O avião não conquista nem ocupa. E esta observação é válida, não somente a respeito à terra e ao mar, o que tem grande importância, mas também a respeito do ar. A ação do avião tem um caráter essencialmente transitório e intermitente, sendo inadequado este aparato para toda operação que requeira a permanência no espaço e a continuidade no tempo.”

No oceano, a aeronave não tem permanência, portanto mobilidade estratégica. Somente quando navega embarcada em um navio onde pode operar sem restrições, ela conta com tão valiosa qualidade. O avião não substitui a unidade naval, mas a complementa. O binômio navio-aeronave multiplica as capacidades estratégicas de ambos elementos de combate.
Outra conseqüência da limitada mobilidade estratégica da aviação terrestre, em particular a de ataque, é que seu efeito sobre o mar varia de forma inversa à distância da costa. Quanto maior a distância, menor seu poder ofensivo, até anular-se por completo. Assim mesmo, apesar dos avanços tecnológicos tendentes a conceder características de qualquer tempo (QT) à aviação, ainda sofre de diversos inconvenientes por causa da meteorologia, visibilidade e acidentes geográficos. Isto redunda em sérias restrições para a operação das aeronaves, seus equipamentos e sistemas de armas em mares abertos, águas costeiras e interiores.
Antes da Segunda Guerra Mundial, os sectários da aviação tentaram suprimi-la do poder naval. Em alguns países, se eliminou a aviação naval, com nefastos resultados. Sempre que a arma aérea, baseada em terra ou a bordo, tenha por papel fundamental influir no controle do mar, deve ser considerada como um instrumento orgânico do poder naval. Portanto, essas aeronaves necessitam estar sob o comando direto do responsável pela guerra no mar.
A aviação cumpre múltiplas tarefas atinentes à guerra no mar. Entre as relacionadas com as comunicações adversárias, distinguem-se as de reconhecimento e de ataque a comunicações marítimas, a portos e terminais, a estaleiros e a outros elementos do poder marítimo inimigo.
No ataque ao tráfego marítimo, o avião enfrenta problemas semelhantes aos dos submarinos do submarino (dificuldade de identificar alvos, impossibilidade de resgatar náufragos, etc.). A solução é, também, estabelecer Zona de Guerra ou de Exclusão.
A ação aérea contra o tráfego marítimo, para ser frutífera, requer ser exercida contra as áreas focais ou de confluência adversárias, onde existe a relativa certeza (alta probabilidade) de encontrar navios mercantes em trânsito. Como complemento, para deslocar com severidade o fluxo comercial e militar inimigo, convém atacar os portos que concentram as comunicações mais vitais. Neste caso, a ofensiva se dirige, com freqüência, contra os navios surtos nestes portos. Por último, também se atacam os estaleiros com a intenção de impedir o reparo dos navios avariados e a construção naval para reposição de meios.
Depois dos satélites, a aeronave é a melhor plataforma de observação disponível para os comandos encarregados da guerra marítima. Mesmo as potências possuidoras de satélites a utilizam para suplementar os dados obtidos por sensores espaciais. A informação apresentada com antecedência é básica para apoiar os comandos navais na tomada de decisões estratégicas e táticas. O reconhecimento aéreo produz, indistintamente, informações sobre forças navais e tráfego mercante. As batalhas e ataques a navios mercantes se produzem, normalmente, como resultado dos informes proporcionados pelas aeronaves. Os condutores da guerra no mar utilizam-se das patrulhas aéreas para satisfazerem suas necessidades. A esquadra as orienta com o fim de obter informações sobre a força organizada inimiga. Os comandos corsários as destinam para localizar o tráfego marítimo inimigo. Em muitas oportunidades, os diferentes objetivos perseguidos são compatíveis entre si e, portanto, uma mesma aeronave realiza tarefas comuns. Em outras situações, os objetivos demandam execução de busca de forma independente e sob controle direto do comando interessado. A ação dos corsários de superfície e submarinos é extremamente facilitada por um eficaz reconhecimento aéreo.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial – Marinha alemã.
“O problema de encontrar os comboios devia ser resolvido. Como meio fundamental da guerra marítima, os submarinos deveriam ter recebido um serviço de reconhecimento aéreo de grande alcance. Que os submarinos, como em geral toda a Marinha de Guerra Alemã, tivessem que combater sem dispor dessa ajuda, se sentiu como uma das faltas mais graves. Mais tarde, no ano de 1943, disse à Hitler que quando se escrevesse a história, a guerra no mar durante a segunda contenda mundial será a mais estranha que se terá visto em alguma nação. Mas em um ponto estarão todos de acordo: que o comando alemão da guerra marítima, no século XX, o século da aviação, tenha tido que lutar sem contar com reconhecimento aéreo nem, geralmente, com a arma de aviação, como se não houvesse disponível um só aeroplano, parecerá inconcebível.”

8.4 - PROTEÇÃO AO TRÁFEGO MARÍTIMO

Em tempo de conflito, é de acentuada importância a segurança do tráfego marítimo.
A segurança se desdobra em controle e proteção do tráfego.
O ataque às comunicações marítimas representa uma atividade ocasional. No entanto, sua defesa é realizada de forma permanente, inclusive antes das hostilidades. Faz-se imprescindível tomar medidas de segurança do transporte militar no transcurso da preparação do país para um conflito iminente. Assim mesmo, para uma nação marítima, dependente das comunicações por mar, a defesa ostenta prioridade ante o ataque. Esta necessidade condiciona a configuração do poder naval.
A defesa das comunicações se materializa mediante dois procedimentos: a proteção indireta e a proteção direta. A primeira fica a cargo da força organizada e está orientada à proteger o sistema geral de comunicações e o litoral contra a ameaça da esquadra inimiga. A outra pretende neutralizar a ação dos corsários de superfície, submarinos e aeronaves. Ambos os métodos coexistem, se complementam e se apoiam mutuamente. Além disso, existe um procedimento muito particular, que foge da classificação anterior, e é denominado cobertura.


Proteção Direta
É o conjunto de medidas ofensivas e defensivas tendentes a dar segurança às comunicações marítimas contra a ameaça de meios inimigos não integrantes da Força Organizada. Normalmente não é efetuada pela força organizada.
A proteção depende da natureza da ameaça que se tenta evitar: superfície, submarina ou aérea. Além disso, geralmente, possui caráter pontual.
A proteção direta apresenta duas versões: a ofensiva e a defensiva. A ofensiva é ativa e se dirige até o objetivo que representa o perigo latente com a idéia de destruí-lo. A defensiva espera, de maneira passiva, que a ameaça se manifeste para anulá-la.

- Proteção Direta Defensiva
é realizada por meio das seguintes ações: armar os navios mercantes, patrulhar rotas, e estabelecer rotas evasivas e comboios, e executar contramedidas de minagem.
- Armar navios mercantes – Na Primeira Guerra Mundial, o primeiro armamento colocado nos navios mercantes aliados foi o canhão. Seu propósito principal consistia em rechaçar o ataque de submarinos na superfície, além de ser útil contra corsários de superfície. Na Segunda Guerra Mundial, as metralhadoras antiaéreas suplementaram o canhão. No conflito das Malvinas alguns navios mercantes foram equipados com armamento antiaéreo leve. Na zona de desembarque, durante os ataques aéreos, as tropas embarcadas utilizaram seu armamento orgânico. O conjunto não mostrou eficácia, mas manteve alto o moral das tripulações dos mercantes. No presente, existem lançadores de mísseis superfície-superfície e superfície-ar, fabricados de forma modular, factíveis de serem instalados em navios de qualquer tipo.
- Rotas Patrulhadas – Foram utilizadas pelos aliados na Primeira Guerra Mundial. Estabeleceram rotas, incluindo os respectivos terminais, por onde deviam transitar obrigatoriamente os navios mercantes. Desde a saída dos portos e ao largo das linhas de tráfego, os escoltas patrulhavam em contínua sucessão. “A rota patrulhada tinha o inconveniente de escalonar no mar os navios sobre uma linha que constituía um verdadeiro caminho de formigas, cuja direção indicava de imediato ao submarino a rota adotada ... Ao verem estes patrulheiros disseminados sobre milhas e milhas ao largo da rota que seguiam, eram mostradas de imediato as características principais do sistema: a disseminação, a dispersão, o cordão linear e não tem nada de estranho que a proteção fosse tão deficiente. Débil em todas as partes, forte em nenhuma; tal é a característica do cordão linear ... Por último, ao colocarmos nossos navios sobre uma linha que não variava nunca, nos imobilizávamos no espaço; nos privávamos da iniciativa de movimentos, que era abandonada ao adversário. Esta imobilização, que excluía a iniciativa das operações, é outro dos defeitos do sistema.” Apesar de seu fracasso, existem partidários do sistema. Argumentam que ante o submarino nuclear, o comboio se encontra obsoleto. Além disso, a rota patrulhada permite usar os sistemas de detecção anti-submarinos de grande alcance, com os encontros se realizando à distância dos ruidosos navios mercantes. Finalmente, a navegação independente dos mercantes aumentaria a eficiência do transporte. “A rota poderia, talvez, ser de 50 milhas de largura. No meio, haveria duas direções opostas de navios independentes em trânsito, cobertas por navios, helicópteros, submarinos e aviões de patrulha.” Em termos mais concisos, se outorga segurança a uma área geográfica, em vez de aos navios mercantes.
- Rotas Evasivas – Aproveita o espaço que proporciona segurança. Esta característica é utilizada pelo CNTM. Na Segunda Guerra Mundial, os navios mercantes aliados de alta velocidade, entre eles os grandes transatlânticos, navegavam sem escolta anti-submarino por rotas evasivas. Bernard Brodie faz interessante consideração sobre as rotas evasivas: “Existem alguns autores sobre assuntos de estratégia, que se referem à rota evasiva como se fosse uma alternativa do comboio. Com isto, querem referir-se a separação dos navios em sua jornada através do oceano, de modo que, se um corsário os ataca, não pode afundar mais que um ou dois. Durante a paz, o comércio marítimo se leva a cabo por rotas bem conhecidas e definidas dos mares, rotas que tendem a conformar-se com o círculo máximo que existe entre os terminais, ou seja, os portos de saída e chegada. Em época de guerra os corsários inimigos podem colocar-se nestas rotas para destruir, um a um, os navios a medida que se aproximam ... Ainda quando o círculo máximo é a distância mais curta entre dois pontos do globo, os navios que empreendem uma longa viagem podem desviar-se da mesma centenas de milhas, sem com isto alargar sua jornada desproporcionalmente. Isto torna possível uma grande separação dos navios que navegam entre os mesmos portos. O perigo desta separação individual dos navios é que tende a sacrificar algumas embarcações com o fim de que a maioria possa chegar ao destino. Se há um corsário nos arredores, um ou dois navios tropeçariam com ele precisamente pelo fato de estarem separados.” As rotas evasivas, tampouco, elimina a passagem obrigatória por zonas de confluência ou áreas focais.
- Comboios – Roskill define o comboio da seguinte forma: “Um ou mais navios mercantes navegando sob a proteção de um ou mais navios de guerra.” Logo comenta: “Em outras palavras, duas condições devem ser satisfeitas antes de dizermos que navios navegam em comboio: devem estar operando em um grupo organizado e têm que estar acompanhados de uma escolta ... É um infortúnio que o termo comboio sem escolta fosse usado durante os primeiros meses da guerra.” Em resumo, um comboio está composto por navios mercantes e a escolta. O efeito desejado da escolta é a segurança do comboio e seu objetivo os próprios navios mercantes. A essência da missão dos navios de guerra que defendem o comboio é defensiva. Ao materializar-se a ameaça, a escolta reage de modo ofensivo. Sua ação se prolonga até que o incursor deixa de ser um perigo para o objetivo protegido. Se é possível evadir ao inimigo, isto será feito.
- Operações de contramedidas de minagem – a serem executadas em portos e áreas de trânsito

- Proteção Direta Ofensiva - é realizada por meio das seguintes ações: patrulha, caça de corsários e ataque às bases de corsários.

- Patrulha – Estabelece-se em uma área geográfica, bem definida e determinada, onde se tem a certeza relativa (alta probabilidade) do trânsito de corsários. Uma vez na área, os meios participantes patrulham prontos para interceptar o inimigo e entrar em combate. É similar à ofensiva de base geográfica, pois corresponde a uma caçada em tocaia.
- Caça de corsários – Ao evidenciar-se a ameaça de um corsário, se forma um grupamento para caçá-lo. Equipara-se com a ofensiva de movimento. A força necessita estar bem posicionada e ter velocidade suficiente para interceptar o objetivo.
- Ataque às Bases dos Corsários – As aeronaves constituem a melhor arma para levar a cabo esta tarefa. No entanto, também existem importantes exemplos de operações de projeção realizadas por forças de superfície orientadas a neutralizar as bases de submarinos e corsários de superfície. Entre elas se encontram as ofensivas táticas executadas pela Armada Real contra Zeebrugge e Ostende, em 22 de abril de 1918 e Saint Nazaire, em 28 de maio de 1942.

Proteção Indireta
Consiste na segurança proporcionada pela Força Organizada ao sistema geral de comunicações marítimas e ao litoral, contra a ameaça da esquadra inimiga. Esta proteção tem caráter permanente e exige que a força principal esteja sempre pronta para travar a Batalha. A proteção indireta exerce efeitos estratégicos, enquanto a direta efeitos táticos. Assim mesmo, o resguardo proporcionado pela força organizada compreende o cenário marítimo completo, ou grande parte do mesmo; a direta, com seus outros meios, somente atua no nível local. Castex faz uma interessante analogia sobre a matéria:

“A força naval inspira um temor análogo ao que provoca o “gendarme”, quel não impede os roubos, mas prende os ladrões. Além disso, a sociedade não encontrou meio melhor para garantir a propriedade do que inspirar um saudável temor aos que querem atacá-la, do mesmo modo os militares somente podem assegurar-se contra certas eventualidades expondo o inimigo a correr riscos superiores aos danos que pode causar ... isto é o que se convencionou chamar de proteção indireta.”

A amplitude do conceito se presta a equívocos ou mal entendidos. Quanto à forma, Geoffrey Till o associa com o efeito do bloqueio a distância e, comentando a guerra de independência americana, expressa:

“Posto que este dispositivo único da esquadra oferecia uma efetiva defesa indireta a todos os interesses da Armada bloqueadora, Mahan opinava, que este era um procedimento muito mais econômico do que tratar de defender aqueles interesses diretamente, como ele pensava que a Armada Real havia erroneamente tentado fazer na guerra de independência americana. Em vez disto, os britânicos deveriam ter se concentrado no lugar decisivo, a distância das principais bases da esquadra principal inimiga.”

Rosinski, mais explícito, também incorpora a proteção indireta em função do bloqueio. Ao analisar a decisão britânica sobre a formação de comboios na Primeira Guerra Mundial, assinala:

“Não obstante, sem a proteção indireta contra a interferência dos corsários de superfície germânicos, proporcionada a todo o sistema de comboios através do domínio exercido pela Grande Esquadra desde Scapa Flow, a tarefa de encontrar escoltas teria sido insolúvel. Foi somente porque não esperavam enfrentar algo mais que submarinos, que a escolta era composta de navios (contratorpedeiros e unidades menores) tão débeis, os quais estavam disponíveis em quantidade suficiente, ainda que escassa. Se, além disso, os comboios necessitassem de proteção contra o ataque de cruzadores, é difícil ver como teria sido possível satisfazer a demanda.”

Em verdade, a força organizada britânica realizava um bloqueio econômico. A proteção indireta não necessariamente se relaciona com o bloqueio.

“Qualquer força naval, que esteja posicionada em uma situação favorável, pode dar uma proteção geral ao comércio marítimo contra todas as forças inimigas que sejam inferiores.”

Com tal propósito, a esquadra encarregada de tal atividade precisa permanecer entre a força organizada adversária e o dispositivo defendido. Essa circunstância a permite interceptar o adversário, no caso deste tentar algum ataque. Uma boa posição proporciona eficácia ao cumprimento da tarefa.
A proteção indireta inicia-se, se possível, no primeiro dia da guerra. Cessa quando algum dos beligerantes conquista de forma indiscutível o domínio do mar, ou quando, por qualquer razão pode despreocupa-se com esquadra adversária. Além do litoral, protege as linhas de comunicações marítimas econômicas e militares. Ou seja, protege sem distinções as de caráter permanente, periódicas e eventuais. Assim mesmo, apesar de ser defensiva, encerra uma manifesta intenção ofensiva (Castex classifica-a como ofensiva). A força organizada está disposta, de forma permanente, a travar Batalha se o inimigo interfere com sua missão. Mas a proteção indireta não significa passividade. A força, enquanto espera, pode realizar diversas tarefas sempre que permaneça interposta e vigilante ante seu inimigo. Por último, não exclui a proteção direta e a defesa de costa.

“A proteção indireta, que é de caráter ofensivo, porque se baseia na ameaça que a ofensiva constitui para o inimigo e seus planos, não exclui a proteção direta, que não é outra ciosa que a defensiva, para certos objetivos particularmente importantes, cuja captura ou destruição pelo inimigo (comboios ou costa) teria sérias conseqüências ... Não somente não a exclui, senão que a requer como complemento, porque como já temos feito notar a propósito da economia de forças, a proteção indireta apresenta perigosas lacunas e não se deve depositar na mesma uma confiança exagerada. Sua debilidade resulta da imperfeição e relatividade do domínio do mar, das possibilidades que possui um inimigo ativo de infiltrar-se por entre os claros, aproveitando as condições geográficas, as distâncias, a extensão marítima, etc, esquivando-se da força encarregada da proteção indireta. A prudência impõe, pois, que não se descuide da proteção indireta, mas sem exagerá-la.”

Exemplo: Segunda Guerra Mundial - Ofensiva estratégica japonesa.
O grosso da Esquadra Combinada do Japão não interveio nas operações de projeção destinadas a conquistar a Área de Co-Prosperidade Asiática. Se manteve alerta em suas bases, dando proteção indireta ao avanço dos exércitos imperiais: “Esta esquadra, era a força protetora invisível, mas dominante, que protegia e iniciava toda as invasões japonesas. Não atacava costas hostis, mas impedia que a esquadra americana do Pacífico, muito inferior depois do desastre de Pearl Harbour, pudesse evitar as invasões. Enquanto seu poder se mantivesse, os japoneses dominavam o Pacífico Ocidental. É lógico supor que os encouraçados japoneses se mantinham fora do alcance da artilharia de costa e de forças aéreas poderosas, não por razão de que não podiam levar a cabo tarefas dos navios mais ligeiros, senão porque seu valor militar era demasiado grande para serem arriscados em tais tarefas, especialmente enquanto a força organizada americana seguisse ameaçando no futuro. Os japoneses puderam enviar comboios fortemente escoltados através da Malásia, das Índias Orientais e desembarcar seus exércitos sem o temor de encontrar uma força inimiga. A força organizada japonesa se manteve pronta para intervir em tal caso, e os EUA não tinham forças suficientes para derrotar esta esquadra.”

8.5 - COBERTURA

É a segurança brindada pela Força Organizada a um objetivo particular, em trânsito ou estacionário, contra a eventual ação da esquadra adversária. Seu efeito desejado é a segurança do comboio, ou força protegida, ante a ameaça da esquadra inimiga e o objetivo está constituído pelos navios sob sua proteção.
Corbett, Groos e a maioria dos escritores relacionam a cobertura com os assaltos anfíbios:

“A tarefa das Marinhas era dar cobertura à força contra a interceptação hostil da esquadra inimiga principal, quando se deslocava pelo mar. Esta cobertura devia ser plena se a proteção era a primeira prioridade; se não, a cobertura podia ser simplesmente geral. O Esquadrão, a cargo dos transportes, deveria proteger a força de ataques locais ou menores. Era o pensamento geral ser absolutamente essencial manter estas duas funções separadas, a esquadra de cobertura tinha que ser deixada em liberdade para ações navais independentes. O temível destino do Almirante Persano na batalha de Lissa era uma lição objetiva do que ocorria a quem descuidasse desta norma.”

No entanto, a cobertura não é exclusiva para forças tarefas anfíbias. Também é adotada quando há comboios de grande relevância estratégica a serem resguardados.
A cobertura nasce da necessidade de assegurar o controle do mar a um objetivo particular, em trânsito ou estacionário. Como a maior ameaça reside na força organizada inimiga, torna-se imprescindível contar com a presença da própria força organizada, a fim de neutralizá-la. Esta é estacionada em relação ao objetivo a ser protegido, de maneira conveniente, garantindo sua imunidade ante a circunstância de ataque da esquadra inimiga.

“A fim de que a esquadra de cobertura preste proteção aos transportes com seus canhões, homens e embarcações, será conveniente que se situe o mais próximo possível dos mesmos; mas, por outra parte, para evitar que o inimigo possa surpreender os transportes com um ataque, é normalmente mais conveniente situá-la em uma posição tão avançada quanto possível. Há dois pontos nos quais pode situar-se a esquadra de cobertura para ter a maior segurança de poder impor a Batalha ao inimigo antes que este possa atentar contra os transportes: ou nas proximidades da base inimiga, ou nas proximidades dos próprios transportes.”

Em caso de aproximação da base inimiga, é preciso considerar os fatores atinentes ao bloqueio. Para um posicionamento próximo, convém ter em conta o alcance das armas e o espaço de manobra. Avaliam-se, entre outros, os seguintes elementos de juízo:
- As informações sobre a situação da esquadra inimiga;
- Os fatores de tempo e espaço; e
- A conformação da força organizada inimiga.
A cobertura não exige um dispositivo rígido. Ao contrário, pode adotar qualquer forma, em especial em relação à ameaça. No entanto, a força de cobertura tem muito restringida sua liberdade de ação. Sua missão demanda proteger seu objetivo e reagir, enquanto a esquadra inimiga constituir um perigo para o objetivo protegido.
A importância estratégica de uma força de transportes é revestida de tal magnitude, que o inimigo, por lógica, deve tentar sua destruição, pondo em jogo sua força principal. O procedimento mais promissor por parte do inimigo é a execução de uma manobra destinada a evadir a esquadra de cobertura. O comando responsável desta tarefa defensiva deve ter presente tal possibilidade, com o objetivo de prevenir tão perigosa contingência.
A cobertura de uma força tarefa anfíbia demanda uma exigência adicional:

“Ainda depois de um desembarque feliz, a missão da esquadra atacante não terminou, até que tenham sido asseguradas as comunicações para o abastecimento das tropas desembarcadas contra as possíveis agressões das forças navais do defensor.”

A responsabilidade de decidir sobre a cobertura, normalmente, recai sobre a maior autoridade naval envolvida, uma vez que implica no abandono, pela força organizada, da proteção indireta ao sistema geral de comunicações e ao litoral. E, mais importante, leva implícito o desígnio de afrontar a Batalha decisiva, pois o objetivo protegido, com certeza, constitui um poderoso incentivo ou ameaça para o inimigo.

8.6 - A GUERRA DE MINAS

As minas têm sido empregadas, indistintamente, no ataque ou na defesa das comunicações marítimas. Por suas características não somente foram utilizadas nas guerras, mas também nas crises, como na Nicarágua e no golfo Pérsico.

“...são taticamente efetivas mesmo na ausência das embarcações que as lançaram. Portanto, a mina possui uma função estratégica como arma independente.”

Alguns autores afirmam que estas armas alteram a geografia. São empregadas para dificultar ou impedir a passagem de navios adversários por uma determinada área, com propósitos defensivos ou ofensivos.
O controle do mar exerce grande influência sobre a minagem e a varredura de minas. Castex comenta dita circunstância no transcurso da Primeira Guerra Mundial:

“Como os aliados tinham completa liberdade de ação na superfície do mar, plantavam suas minas com precisão, no lugar desejado e em quantidades enormes. Os alemães somente podiam lançar minas com ajuda de submarinos, furtivamente, e em quantidades reduzidas. Os aliados realizavam suas operações de varredura a vontade, quase em todas as partes onde desejavam fazê-lo. Os alemães não podiam varrer senão uma franja estreita próxima a suas costas. O partido que possui o domínio da superfície do mar é, pois, o que conduz a guerra de minas com a maior eficácia.”

As operações de minagem podem ser ofensivas ou defensivas, e de caráter tático ou estratégico.
As operações de minagem defensiva são realizadas em águas controladas por quem as executa e têm como efeito desejado o impedimento ou a dificuldade de trânsito de navios inimigos por uma área determinada. Os campos minados defensivos podem contribuir para a defesa de costa, em particular em frente a terminais marítimos, águas interiores e pontos de importância estratégica do litoral. Para manter sua eficácia, o campo minado tem que estar sob proteção, evitando ser varrido.
As operações de minagem ofensiva são realizadas em águas em disputa ou controladas pelo inimigo e, na maioria dos casos, têm o propósito de infligir danos ao tráfego marítimo, comercial ou militar, do adversário. Podem contribuir para o bloqueio imposto ao inimigo.
O planejamento de operações de minagem exige cuidados especiais. Entre outros:
- deve-se verificar se há outras operações, em andamento ou previstas, afim de evitar interferência da operação de minagem;
- devem ser levadas em conta as restrições impostas pelo direito internacional e a interferência com países neutros;

8.7 - COMENTÁRIOS FINAIS

O transporte de carga, o ataque e a defesa das comunicações marítimas não constituem atividades independentes. Ao contrário, estão tão entrelaçadas que se faz impossível separá-las. Há que se decidir quanto a ênfase a ser dada ao ataque ou à defesa. Para as nações marítimas, manter seu intercâmbio pelo mar significa sobrevivência. Em conseqüência, a proteção recebe destaque. Esta circunstância, indo ao extremo, reflete-se na composição e no emprego do poder naval. Grã-Bretanha e Japão são exemplos nítidos desta necessidade.
O exercício do controle do mar deve corresponder a uma das mais altas preocupações do nível político. O alcance econômico das linhas de comunicações marítimas repercute com intensidade no campo interno. Com muito maior força impacta nos países insulares.
As linhas de comunicação marítimas não se cortam, pois carecem de expressão física. São destruídos ou protegidos navios reais, juntamente com suas cargas e tripulação. Não se pode esquecer deste fato, para que o mesmo não conduza a trágicos erros. O carregamento tem tanto valor, algumas vezes crítico para a sorte do conflito, que os beligerantes não vacilam em correr o risco de transportá-lo através de mares que não controlam. É, essencialmente, da Marinha a responsabilidade de evitar ou assegurar sua chegada ao porto de destino.
Os conceitos de proteção direta, ofensiva ou defensiva, incluindo a escolta, a proteção indireta e a cobertura, são proveitosos elementos de juízo teóricos, mas não amarram em absoluto o condutor da guerra no mar. Em particular quando se pretende proporcionar segurança a um comboio ou a somente um navio com carga vital. A teoria não impõe rigidez, mas ajuda a encontrar a melhor solução, que deverá ser fruto de um pensar estratégico para cada nova situação de crise ou de guerra que se apresente como desafio.




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#83 Mensagem por Rui Elias Maltez » Sex Jun 01, 2007 7:36 am

Este ultimo texto (muito longo) está na base da táctica para que qualquer estratégia tenha exito.

A projecção de forças e de poder tem sempre que ser sustentada, quer para manter uma guerra territorial com invasão, ou para intervenções militares a partir do mar.

As cadeias logísticas, a sua protecção, a sustentabiliade de forças em qualquer região do globo.

Hoje em dia os interesses de um estado já não se defendem em primeira mão na fronteira como antigamente, a menos que se trate de 2 vizinhos em conflito.

Para que um estado, só, ou em aliança defenda o seu posicionamento político no mundo, ou os seus interesses geo-estratégicos, tem que ter a sua própria capacidade expedicionária.

Mesmo em aliança, se tem uma estratégia regional ou global, se tem interesse geo-estratégicos, independentemente de estar inegrado numa alinaça militar, tem que ter imperiosamente a sua própria capacidade autónoma, porque nem sempre os interesses de um estado são suficientes para mobilizar toda a aliança em que esteja integrado.

Como eu escrevi acima, não bastam fragatas, ou cruzadores e submarinos para se ser um potencia naval.

Nem sequer CV's, para quem os tem.

Há que estabelecer, já ao nível da táctica no terreno as bases, ainda que flutuantes para que a sustentabilidade de forças seja uma realidade.

Desse modo o recurso a navios de projecção, sejam eles os clássicos LPD's ou LHD's, os navios de desembarque anfíbio, ou ainda Ro-Ro's para além de capacidade de reabastecimento, como através de AOR's e ainda escoltas para esses navios é essencial para que a táctica de uma acção militar que pode por vezes ser demorada resulte e possa sustentar o esforço de guerra, esse sim já através dos meios de projecção de poder.

No fundo, para que tudo isso seja possivel, é necessário que numa Marinha haja o conceito da hamoniosidade, ou seja, complementaridade e diversidade de plataformas, para que organicamente hajam como um todo.

Cada navio deve ser o mais especializado possivel na sua tarefa, e todos em conjunto havem organicamente como um só corpo.

Claro que a especialização só está ao alcançe financeiro de muito poucos países do mundo, e hoje em dia estão muito em voga as fragatas e destroieres chamados "multi-usos" ou seja, polivalentes QB, mas pouco eficazes em determinadas missões.

É essa hoje em dia, e desde a II Grande Guerrra a grande vantagem que os EUA apresentam perante os restantes países, nomeadamete a extinta URSS que tinha uma doutrina defensiva a esse nível, sem capacidade expedicionária relevante, e que baseou a sua doutrina na negação, através de submarinos, e na ameaça nuclear.




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#84 Mensagem por Marino » Sex Jun 01, 2007 8:42 am

Este ultimo texto (muito longo) está na base da táctica para que qualquer estratégia tenha exito.

Tudo a seu tempo. [100]

Como eu escrevi acima, não bastam fragatas, ou cruzadores e submarinos para se ser um potencia naval.

No fundo, para que tudo isso seja possivel, é necessário que numa Marinha haja o conceito da hamoniosidade, ou seja, complementaridade e diversidade de plataformas, para que organicamente hajam como um todo.

Uma Marinha BALANCEADA. [100]




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#85 Mensagem por Rui Elias Maltez » Sex Jun 01, 2007 10:24 am

Marino:

"balanceada" é que que nós chamamos de Marinha Harmoniosa?

Foi com base neste conceito que recentemente em Portugal quando se discutiu o futuro da nossa força de submarinos, e em que se chegou a equacionar o deixar cair essa capacidade, alguns sectores da Marinha, defenderam o conceito da "harmoniosidade" para defender que os nossos actuais submarinos deveriam ser subttituidos por outros.

Desse modo, o governo de então acabou por lançar o concurso, e acabou por encomendar 2 U-209PN, que na verdade são U-214, com opção para mais um.

Entregas a partir de 2009.




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#86 Mensagem por Marino » Sex Jun 01, 2007 2:02 pm

Rui Elias Maltez escreveu:Marino:

"balanceada" é que que nós chamamos de Marinha Harmoniosa?

Foi com base neste conceito que recentemente em Portugal quando se discutiu o futuro da nossa força de submarinos, e em que se chegou a equacionar o deixar cair essa capacidade, alguns sectores da Marinha, defenderam o conceito da "harmoniosidade" para defender que os nossos actuais submarinos deveriam ser subttituidos por outros.

Desse modo, o governo de então acabou por lançar o concurso, e acabou por encomendar 2 U-209PN, que na verdade são U-214, com opção para mais um.

Entregas a partir de 2009.

Caro Rui
Eu escrevi anteriormente sobre as 4 Tarefas Básicas do Poder Naval, que são:
- Controlar Área Marítima;
- Negar o Uso do Mar;
- Projetar Poder sobre Terra; e
- Contribuir para a Dissuasão.
Para cada Tarefa existem os meios específicos.
P.ex, um submarino nega o uso do mar, não controla área marítima; um navio controla área, mas não nega o uso do mar, etc.
Ter os meios para cumprir com as 4 Tarefas significa que uma Marinha está "Balanceada", ou "Harmônica", como em Portugal.
Não possuir, a marinha está manca de uma perna, ou "desbalanceada" ou "desarmônica".
Por isso a preocupação da Marinha portuguesa em não perder a capacidade de operar submarinos, ou de Negar o Uso do Mar.
Forte abraço




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#87 Mensagem por Marino » Seg Jun 04, 2007 7:20 pm

Sem mais dúvidas, sigo adiante.
Como prometi ao Naval, agora leremos sobre as Operações de Projeção.

OPERAÇÕES DE PROJEÇÃO E A DEFESA DO LITORAL

9.1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS OPERAÇÕES DE PROJEÇÃO

A ação do mar contra a terra nasceu antes da reação da terra contra o mar. Nos albores da humanidade, os primeiros povos navegantes realizaram incursões dedicadas à pilhagem, de nações ribeirinhas. Mais adiante, os homens dos mares transformaram os navios em plataformas de transporte para os exércitos.

“A potência naval tem tido uma influência decisiva na guerra desde tempos muito antigos. Em suas guerras contra os persas, os atenienses compreenderam que não podiam bater ao inimigo enquanto a esquadra persa pudesse transportar homens e apetrechos através do mar Egeu para desembarcá-los a vontade ao largo da costa grega. Realizando um supremo esforço, Atenas construiu sua força naval e derrotou os persas na batalha marítima de Salamina, no ano 480 a.C. e um ano depois concluía a campanha persa. E a Grécia dominou o Mediterrâneo Oriental, desfrutando uma era de prosperidade comercial e produzindo uma grande civilização.”

Tucídedes relatou o prolongado conflito entre um estado marítimo (Atenas) e um continental (Esparta). Em seu transcurso, efetuaram-se incontáveis operações contra a costa do adversário. O mesmo aconteceu nas Guerras Púnicas. Roma derrotou Cartago quando desembarcou suas legiões no litoral africano, nas proximidades da capital inimiga.
Em tempos mais modernos, o problema persiste:

“Durante as numerosas guerras do século XVIII a ação favorita da Inglaterra foi despojar seus inimigos de colônias, que conservava para si, ou que utilizava para trocá-las durante a paz para diminuir as perdas de seu próprio território, ou de seus aliados no continente europeu. A Inglaterra pôde fazer isto não somente com exércitos pequenos, mas com esquadras pequenas, já que a parte mais considerável de sua Marinha, ao bloquear os portos inimigos, defendia ao mesmo tempo as costas inglesas e impedia ao inimigo de despachar reforços a suas possessões em ultramar. Isto explica como a Inglaterra, que sempre foi um país pequeno, com exércitos fracos, chegou a fazer-se, as expensas das grandes potências militares inimigas, um império que contém muitas das regiões mais cobiçadas da terra.”

É permanente dialética entre o mar e a terra. O primeiro ataca; a segunda resiste. A vantagem um ou outra oscila dependendo da evolução da tecnologia. Em certas épocas se inclina, favorecendo aos homens do mar, e ,em outras ocasiões, beneficia os defensores das margens. Este vai e vem produz sérios exageros e desvios de critério, em ambos os sentidos. Castex cita seu compatriota Ramatuelle como exemplo da deformação conceitual vigente na marinha francesa do século XVIII, obcecada pela conquista de territórios:

“A marinha francesa tem preferido sempre a glória de assegurar ou de conservar uma conquista, a mais brilhante quiçá, mas menos real quanto a seus efeitos, de apoderar-se de alguns navios.”

O citado excesso é ainda mais nocivo ao depreciar, inclusive, o papel da força organizada no destino da guerra marítima.
Em outro extremo, se localiza o pensamento estratégico de depois da Primeira Guerra Mundial. Com o desastre de Gallipolli ainda fresco na memória, geopolíticos e militares apressaram-se em prognosticar o término da influência do poder naval nas guerras. O mar havia perdido sua faculdade de penetrar pela força em território adversário e intervir de modo direto na sorte dos conflitos. Para sustentar seu audaz juízo, os profetas do poder terrestre se basearam na eficiência alcançada pelo transporte ferroviário e rodoviário para concentrar tropas em um lugar ameaçado a partir do mar. Além disso, o avião, o torpedo, o submarino e a mina impossibilitariam as forças navais de se aproximarem das costas. No final, os continentes teriam se imposto ao mar, ficando imunes à sua ação. Mahan e seus seguidores deveriam ser esquecidos e suas obras relegadas aos arquivos históricos. Os autores destas falsas reflexões não levaram em conta os erros cometidos pelos condutores do infausto assalto contra os estreitos turcos e, também, a flexibilidade do poder naval para incorporar a seu inventário as modernas armas proporcionadas pela tecnologia. As Marinhas dos EUA e Japão não escutaram os pregadores terrestres e prosseguiram aperfeiçoando as técnicas anfíbias, aglutinando as potencialidades oferecidas pelo mar e pela terra, para golpear com vigor o coração do inimigo.
A Segunda Guerra Mundial dissipou as falaciosas predições dos teóricos continentais. As supostas impenetráveis muralhas costeiras desmoronaram impotentes ante a belicosa maré que surgia do horizonte oceânico. A ofensiva japonesa assombrou o mundo por sua rapidez e amplitude. Todo um quadrante do imenso Pacífico caiu sob o domínio do Sol Nascente. Mas logo as potências marítimas mais poderosas reagiram.

“A entrada na luta dos norte-americanos inverteu a relação de forças e permitiu aos aliados lançar operações combinadas de grande magnitude, inicialmente contra os flancos, na África do Norte, logo na Sicília e na Itália, antes de realizar o decisivo desembarque na Normandia. A mesma estratégia foi aplicada no Pacífico, onde os norte-americanos saltaram de ilha em ilha, de Guadalcanal às Filipinas.”

A arma nuclear renovou as dúvidas sobre a capacidade da Marinha de atacar o território rival. Nos EUA, as vacilações terminaram com a Guerra da Coréia e o êxito do desembarque anfíbio de Inchon. Os dirigentes soviéticos, com seu marcante critério continental, demoraram mais para resolver suas dúvidas. Khruschev qualificava os navios como verdadeiros ataúdes flutuantes e em relação aos mesmos afirmou:

“Caíram na obsolescência quanto a condução de guerras em condições modernas, porque todos os meios de superfície agora são vulneráveis desde o ar como desde a costa, e podem ser destruídos pelo inimigo a grande distância.”

A crise de Cuba retirou o véu dos olhos do ditador comunista, mas também colaborou para sua queda. O Almirante Sergei Georgevich. Gorshkov aproveitou a conjuntura para iniciar o fortalecimento do poder naval soviético em uma escala impressionante. Além disso, foi o criador do expressão “Armada contra a Costa”, que com sólidos argumentos e concluiu:

“Nas condições atuais, as formas e métodos de emprego das forças diretamente relacionadas com as operações contra a costa, exercerão uma crescente influência em todas as esferas da confrontação das forças navais. Tais ações da Marinha, ao adquirirem agora significado estratégico, prevalecem sobre todas as demais, incluídas as dirigidas à conquista do domínio do mar. E se antes a parte fundamental dos esforços da Marinha se orientavam contra a Armada inimiga, agora o objetivo principal consiste em assegurar o cumprimento de todas as missões relacionadas com as operações contra os objetivos terrestres do inimigo e com a defesa do território frente aos ataques das esquadras adversárias.”

Esta afirmativa, possivelmente, foi muito influenciada pela capacidade de bombardeio nuclear das forças navais americanas.

9.2 - ALCANCE DAS OPERAÇÕES DE PROJEÇÃO

Existia certa multiplicidade de expressões e definições relativas às operações ofensivas desde o mar para a terra, apesar desta ser uma das principais formas de explorar o controle do mar e, talvez, a mais decisiva. Então apareceu o termo “Projeção de Poder”. A expressão foi uma criação da Marinha americana, quando a princípios de 1974, o Almirante Stansfield Turner ordenou e sistematizou as áreas de missão das forças navais de seu país. Referiu-se a “projeção” como:

“O impacto das forças navais sobre as forças terrestres”

A expressão englobou a ação do poder militar de uma nação sobre o território adversário por meio do poder naval, em suas diferentes manifestações. Logo este original conceito se generalizou no léxico da estratégia marítima. As diversas Marinhas adaptaram-no a suas particulares necessidades e realidades. Por exemplo, a União Soviética (URSS) adotou a vocábulo “Armada contra a Costa”, como anteriormente mencionado.
Geralmente, a projeção abarcou as operações anfíbias, o bombardeio naval e o bombardeio aeronaval.
Afirmou G. Till:

“as operações contra a costa geralmente abarcam uma escala desde invasões substanciais para conquistar territórios, em um extremo da escala, a danos menores por incursões ou bombardeio naval, no outro. Variam, consideravelmente, em termos de propósito, esforços e impacto no resultado da guerra.”

A projeção de poder naval sobre terra colocou em justo relevo um dos papeis principais desempenhados pelas forças navais no desenlace da maioria das guerras de característica marítima. Sem seu concurso, teria sido impossível a vitória. Uma vez conquistado o controle do mar, a potência marítima vitoriosa adquiriu liberdade para explorá-lo em seu máximo efeito. Pôde trasladar toda a potência ofensiva da nação, ou coalizão, para a costa inimiga. Assim, permitiu aos exércitos de terra e do ar operarem contra o núcleo de resistência no território do inimigo, até quebrá-lo. O Poder Naval, e não outro, tornou possível o triunfo dos aliados nas duas guerras mundiais, da Índia sobre o Paquistão e dos britânicos nas Malvinas.
Por último, as operações de projeção, por essência ofensivas, sempre causam impactos morais extraordinários nem sempre proporcionais aos danos produzidos. Na Primeira Guerra Mundial os ineficazes bombardeios realizados pelos cruzadores de batalha alemães contra a costa britânica comoveram a opinião pública do país e obrigaram a um reposicionamento da Grande Esquadra, prejudicando seu comando e controle. Na Segunda Guerra Mundial, o bombardeio de B-25 proveniente de uma força de porta-aviões americanos transtornou o comando japonês e foi um argumento decisivo para a aprovação da conquista de Midway, operação que levou ao desastre a Marinha imperial.

9.3 – PROPÓSITOS E OBJETIVOS DA PROJEÇÃO

Os objetivos que interessam às operações de projeção estão situados em território controlado pelo inimigo e podem ter caráter geográfico. Alguns são objetivos naturais da estratégia naval. Outros decorrem de interferências.
As operações de projeção se materializam através de ofensivas táticas e estratégicas. As últimas, destinadas a ocupar uma área geográfica e a permanecer na mesma, são denominadas assalto anfíbio. As incursões anfíbias, bombardeios navais e bombardeios aeronavais consistem, qualquer que seja seu efeito, em ofensivas táticas, pois pretendem atacar e logo retrair. Com estes antecedentes em mente, é possível abordar a determinação dos propósitos e objetivos das operações de projeção.

9.3.1 -Propósitos e objetivos conexos com a guerra no mar e as interferências

O único fator geográfico atinente à estratégia naval é na posição. Se não se conta com a mesma, ou é muito deficiente, necessita-se melhorá-la ou conquistá-la, a fim de fortalecer o próprio poder naval. Seu usufruto permite: ficar em condições favoráveis para controlar as comunicações marítimas, destruir ou desgastar a força organizada inimiga e atacar seu território. Com o objeto de conquistar ou melhorar a posição, é requerido, normalmente, realizar uma ofensiva estratégica consistente com uma operação anfíbia. Seu objetivo, por lógica, se constitui da posição estratégica adversária ou um componente da mesma. Se o propósito se limita a neutralizar ou negar o uso da posição ao inimigo, executam-se ofensivas táticas correspondentes a incursões anfíbias, bombardeios navais e bombardeios aeronavais ou operações especiais.
Em relação ao território, também se distinguem duas categorias de efeitos desejados. O mais ambicioso se traduz na obtenção de uma cabeça de praia destinada a ser o ponto de partida de uma campanha aeroterrestre ou ocupar, de maneira permanente, uma área geográfica por causa de seu valor político, militar, econômico, moral, etc. Em conseqüência, isto obriga a realização de uma ofensiva estratégica, materializada por uma operação anfíbia. Mas se o efeito desejado se reduz à destruição ou provocação de danos a instalações civis e forças militares, sem importar sua magnitude, sua obtenção se alcança mediante ofensivas táticas contra os objetivos selecionados. Tais ofensivas se traduzem em incursões anfíbias, bombardeios navais e bombardeios aeronavais e ataques de mísseis..

9.4 - OPERAÇÕES ANFÍBIAS

9.4.1 – Conceitos gerais

Existe uma volumosa literatura sobre a matéria, em particular detalhes sobre seus aspectos técnicos. Por conseguinte, se resumirá o tema ao campo estratégico.

“As operações anfíbias e as operações das forças de Fuzileiros Navais, geralmente, têm estado situadas em um marco ofensivo, basicamente fundamentado no fator geográfico, dentro do conceito do que conhecemos como projeção do poder militar contra o território adversário por intermédio do poder naval.”

9.4.2 -Assalto anfíbio

O assalto anfíbio é, na prática, o sinônimo de ofensiva estratégica realizada pelo poder naval.
Nas operações anfíbias se amalgamam a potência ofensiva do mar e da terra com efeitos multiplicadores. A grande mobilidade das forças navais, somada ao poder de um exército embarcado, atemoriza o inimigo de forma desproporcional aos meios comprometidos. Obriga-o a desdobrar tropas em todas as partes diante de uma ameaça tão flexível. Hitler, como Napoleão, desperdiçou seus soldados no velho continente, com conseqüências desastrosas.

“A começos de junho de 1944 e antes que houvesse tido qualquer outro desembarque aliado, apenas 55% (165 divisões) do exército alemão permanecia na frente oriental, combatendo contra os russos, enquanto que cerca de 45% (133 divisões) haviam sido levadas até o oeste e ao sul, como prevenção da ameaça que significava uma invasão anglo-americana ... Este total de 83 divisões, subtraídas da frente de combate, respondia à necessidade de poder enfrentar com êxito a ameaça de uma possível operação anfíbia realizada pelos aliados ocidentais... Tão vasta diversão de efetivos, aproximadamente 30% do total dos recursos alemães, foi um tremendo testemunho do efeito produzido pela flexibilidade proporcionada pela ação anfíbia.”

As operações anfíbias estão em íntima relação com o controle do mar, entendido em suas três dimensões, e as operações tendentes a sua conquista. Se o objetivo estratégico escolhido se reveste de um significado transcendente para o curso da guerra, o inimigo não tem outra alternativa senão reagir com o máximo vigor, a fim de impedir a operação anfíbia. Em tal sentido, o primeiro elemento de manobra comprometido é a força organizada. Nesse comprometimento se encontra implícita a decisão do controle do mar, ou seja, a Batalha.

“Ainda quando sempre existam exceções, como a invasão alemã da Noruega em 1940, as Marinhas, ao conduzirem operações anfíbias em grande escala, geralmente têm tratado de ganhar primeiro um alto grau de controle do mar. A capacidade de usar o mar como meio de projetar o poder sobre terra, portanto, é geralmente considerado como um dos principais benefícios de deter o controle do mar.”

Ao menos, se ainda não se conquistou o controle do mar por meio da Batalha ou do Bloqueio, deve-se contar com um controle local adequado e tomar medidas para enfrentar a esquadra inimiga, caso a mesma tente impor-se.

“Pode assegurar-se sem exageros que a maioria dos choques de combate entre grandes forças das Marinhas contidos nesta guerra, estão precisamente relacionados nesta direção. Assim foram com os combates na ilha de Midway, no Mar das Filipinas e na região das ilhas Wake, Rabaul e Moresby, e outros, todos como parte integrante das operações de desembarque no Oceano Pacífico.”

Convém ter presente que a força organizada responsável pela segurança da operação anfíbia está com sua iniciativa e liberdade de ação limitadas com severidade. O efeito desejado da missão de cobertura reside na proteção dos transportes da força de desembarque, aos quais não há desculpas para abandoná-los a própria sorte. Ademais, a operação é executada com programas e prazos definidos com certa rigidez. Isto é para evitar qualquer demora, pois esta dá ao inimigo um tempo precioso para concentrar forças terrestres e aéreas no lugar do assalto, cuja localização torna-se clara a cada momento com maior nitidez.


9.4.3 -Elementos de um assalto anfíbio

Uma operação de projeção, ainda quando consista de uma demonstração, exerce importantes efeitos no inimigo. No entanto, alcança sua maior expressão estratégica ao constituir uma ação destinada a conquistar solo inimigo.
A força naval que realiza a operação é denominada Força Tarefa Anfíbia (ForTarAnf) e pode ser constituída por diversos grupamentos componentes. Além da força de fuzileiros, (Força de Desembarque - ForDbq) e o grupamento de transportes que a transporta, poderá ter (ou não) grupamentos de controle, de apoio de fogo, de cobertura, de minagem e contramedidas de minagem, de reconhecimento e demolição submarina, de demonstração e administrativos.
Cada um desses grupamentos executa tarefas específicas.
Podem existir, também, Forças de Apoio, não subordinadas à ForTarAnf que, entretanto, executam tarefas em seu proveito, isto é, lhe dão cobertura.
Sobre o tema Otto Groos escreve:

“Uma expedição de tropas por via marítima é algo mais complexo; não se limita aos elementos constitutivos dos comboios escoltados, mas consiste em um conjunto mais complicado e heterogêneo, de que participam quatro elementos diferentes: As tropas; a esquadra de transporte e a flotilha de desembarque, que se leva a bordo ou acompanha a esquadra; uma esquadra de escolta para a proteção direta dos transportes, a qual pertencem também, entre outras coisas, flotilhas para a defesa contra os submarinos, aviões, minas e para a proteção imediata das primeiras forças desembarcadas; e uma esquadra de cobertura, que taticamente separada das demais forças da expedição, assumirá a defesa da mesma contra as forças principais do inimigo.”

A ForTarAnf ao avançar pelo mar até a área objetivo, utiliza suas águas como linha de operações. Logo, estas se convertem em linhas de comunicações orientadas a alimentar o dispositivo situado na cabeça de praia.
Quando a meta da operação anfíbia consiste em uma ofensiva estratégica correspondente ao início de uma campanha terrestre, também se embarcam nos transportes o exército expedicionário ou parte dele. A força terrestre concentra-se e desdobra-se na área conquistada pelos fuzileiros navais. Em seguida, inicia sua progressão no território adversário em proveito de seus objetivos estratégicos A cabeça de praia serve como sua base de operações.
Os transportes são unidades navais de desembarque e navios mercantes comerciais. Os últimos necessitam ser aptos para descarregar elementos pesados em portos abertos e sem utilizar apoio de terra.
As unidades da escolta, além de dar esse tipo de proteção direta aos transportes contra a ameaça aérea, submarina e, eventualmente, de superfície, têm a responsabilidade de realizar Apoio de Fogo Naval (AFN). A ForDbq, no momento do assalto, não conta com artilharia orgânica. Esta é suprida, durante a fase crítica, pelos canhões dos navios da escolta e aeronaves embarcadas.
Na opinião do Almirante Gorshkov, os combates mais importantes da Segunda Guerra Mundial foram provocadas por operações anfíbias. A ameaça de invasão foi uma ameaça insuportável para a marinha afetada. Com o propósito de afastá-la, o defensor comprometeu sua esquadra. Por conseguinte, a força organizada adversária sempre representou o maior perigo para uma ForTarAnf e a destruição dos transportes sempre se constituiu na pior possibilidade para o comando da força anfíbia.
A Força de Apoio, que dá cobertura, tem como efeito desejado a segurança da ForTarAnf ante a presença da esquadra inimiga, e reage enquanto esta última permanecer em condições de ameaçar os transportes. Também não convém dar à força de cobertura tarefas de AFN ou outras obrigações e colocar-lhe ante um dilema frente ao súbito aparecimento da força organizada inimiga.
As operações anfíbias possuem um requisito que não pode ser deixado de lado: exigem um controle do mar adequado, incluindo o espaço aéreo correspondente. Precisamente neste ponto radica o fundamento da presença da força de cobertura: ela avaliza este controle. Normalmente os comandantes preferem desfrutar e um grande grau de controle do mar antes de empreender as aludidas operações. Outra alternativa, mais arriscada, consiste em assegurar-se, de alguma maneira, do controle local e temporário do mar, ao menos durante o trânsito e a execução do desembarque. Como exemplo disto, destacam-se a invasão da Noruega e o assalto a Guadalcanal.
A constituição de uma ForTarAnf, descrita neste item, não é uma exigência inflexível. Há circunstâncias que aconselham a modificá-la, como é demostrado pela experiência. Como exemplo, se existe a plena certeza da impossibilidade do aparecimento da força organizada rival, não é necessária a Força de Apoio.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial - Desembarque Aliado em Salerno:
“Quando as forças anglo-americanas desembarcaram em Salerno, não houve a necessidade de preocupar-se com os encouraçados inimigos, posto que a esquadra italiana estava, nesse período, em processo de rendição.” A esquadra aliada despreocupo-seu da cobertura e concentrou seus esforços nas tarefas de escolta dos transportes e apoio de fogo às forças desembarcadas.

9.4.4 -Incursões anfíbias

Incursão anfíbia é um desembarque realizado em costa hostil, envolvendo uma rápida penetração em terra ou a temporária ocupação, destruição ou neutralização de objetivos, seguida de retirada planejada.
As incursões anfíbias são ofensivas táticas realizadas através do mar. Os meios empregados são desembarcados, cumprem sua tarefa e são novamente embarcados, seguindo um plano preestabelecido. Pode ter variados efeitos desejados, como neutralizar uma posição estratégica, obter informações, etc.
Neste tipo de operação, as unidades navais comprometidas se encontram sob a ação do inimigo durante o processo de aproximação, na área objetivo e na evacuação. Além disso, estão sujeitas à ameaça de encontrarem forças muito superiores nas proximidades de seu objetivo. Por conseguinte, é necessário satisfazermos alguns requisitos para esse tipo de operação. A surpresa é fundamental e envolve rapidez na execução do ataque, a fim de evitar reação do inimigo. Os objetivos a alcançar, em especial os que devem ser destruídos, devem estar muito bem definidos e localizados. Por último, os meios devem estar em perfeita concordância com os fins. A inteligência desempenha um papel crítico no êxito destas ofensivas táticas.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial – Incursão a Saint-Nazaire, Neutralização de uma Posição.
Em 1942, a Marinha Real estava inquieta ante a possibilidade do Tirpitz, ainda em prontificação, irromper no Atlântico operando como corsário. O único porto com capacidade de docá-lo era Saint-Nazaire. O Almirantado resolveu impedir o uso do porto como posição do encouraçado alemão e montou uma incursão anfíbia integrada por 611 comandos embarcados em um contratorpedeiro e 18 torpedeiras. O velho contratorpedeiro Campbeltown deveria investir contra a comporta do dique e, um par de horas depois, detonar 4,5 toneladas de explosivos instalados em sua proa. “A incursão foi, não obstante, concebida e planejada com um importante objetivo estratégico, prevenir o uso do porto pelo Tirpitz, e, efetivamente, isto foi conseguido. As demolições levadas a cabo pelos comandos desembarcados do Campbeltown nas salas de máquinas e bombas de ambos os lados do dique, provavelmente causaram suficiente dano para pô-lo fora de serviço por longo tempo. Quando o Campbeltown explodiu, a destruição do dique foi assegurada.”

9.4.5 -Demonstrações anfíbias

A Demonstração Anfíbia constitui-se da aproximação de uma força do território inimigo com o propósito de confundir o inimigo e induzi-lo a empreender ações que nos sejam favoráveis. Constitui parte de um estratagema cujo fim é enganar ou dissuadir eventuais adversários, simulando a manifesta resolução de realizar um Assalto Anfíbio. Esta operação tem diversos propósitos e toma diferentes formas. É utilizada desde a estratégia em seu nível máximo, até o nível tático. Se aplica na crise como no conflito. Sua natureza está ligada ao campo psicológico e seu efeito deve, também, impactar psicologicamente, a mente do comando adversário, para induzi-lo a cometer erros. Por conseguinte, um aspecto fundamental é a credibilidade da demonstração. Este fator depende da qualidade das unidades integrantes da presumida ForTarAnf, da conduta a ser seguida pela força e da magnitude do objetivo ameaçado.
O usual é que a demonstração forme parte de uma ampla manobra política, estratégica ou tática. No político, uma de suas metas principais corresponde a dissuasão. No estratégico, é empregada em favor tanto da guerra terrestre como da guerra no mar. No primeiro caso, pretende divertir forças do ponto de decisão até a presumida área ameaçada pela ForTarAnf. Para a guerra no mar, a demonstração, geralmente, tenta criar ameaças ou incentivos com o propósito de deslocar a força organizada rival a uma área determinada para conduzirmos a Batalha.

9.4.6 -Retiradas anfíbias

Retirada anfíbia é a retirada de força, por mar, de uma costa hostil, de forma ordenada e coordenada. São executadas com o propósito de resgatar meios isolados pelo inimigo. As forças comprometidas estão em condições críticas e um tanto desarticuladas. A rapidez e capacidade de organização constituem requerimentos básicos para assegurar o êxito da operação. O pessoal combatente goza de absoluta prioridade ante o material. A reação da terra sobre o mar se manifesta com extraordinário vigor. O Almirante Cunningham, que dirigiu a evacuação de Creta e da Grécia, se referiu a esta difícil tarefa nos seguintes termos: “Estávamos prontos e ansiosos em prosseguir a evacuação, compreendendo que era contra todas as tradições da Marinha deixar deliberadamente tropas em mãos do inimigo.”

9.5 - BOMBARDEIO NAVAL

O bombardeio naval compreende dois grupos de atividades bem diferenciadas:
- Apoio de Fogo Naval (AFN) nos Assaltos Anfíbios; e
- Ataques a objetivos terrestres.
O bombardeio naval é realizado por meio de canhões e mísseis, lançados de plataformas navais.

O AFN é efetuado antes, durante e depois de um assalto anfíbio. As unidades navais executoras do AFN são as integrantes ForTarAnf, obedecendo a necessidade de evitar a imposição de tarefas à Força de Apoio, a fim de não reduzir sua liberdade de ação para prover cobertura ante uma eventual concorrência da esquadra rival.
A destruição de objetivos terrestres é uma operação efetuada contra a posição ou o território inimigo. No primeiro caso, procura causar danos ou neutralizar a posição inimiga, objetivo natural da guerra no mar, enquanto o segundo caso pode se voltar para objetivos decorrentes de interferências.

9.6 - BOMBARDEIO AERONAVAL

A arma aérea do poder naval se projeta contra a posição ou o território inimigo, em pról dos seguintes efeitos desejados:
- Neutralização da posição estratégica;
- Desgaste e destruição da parte do potencial bélico inimigo;
- Participação em operações terrestres mediante apoio aéreo direto ou para interromper o fluxo logístico ao inimigo; e
- Oposição a esforços similares por parte do inimigo contra nossos objetivos.
Na consecução das metas aludidas participam a aviação naval embarcada e a baseada em terra, com aeronaves de asa fixa ou rotativa. O primeiro dos propósitos assinalados é atinente à estratégia naval e os restantes obedecem as interferências da política ou das estratégias terrestre e aérea.

Os bombardeios aeronavais podem ser classificados em:
Interdição profunda – destinada a destruir ou neutralizar o potencial inimigo, antes de ser empregado. Os objetivos selecionados são de caráter estratégico. Nela se incluem a neutralização da posição e das bases inimigas;
Interdição no campo tático – também denominada apoio aéreo direto. Sua tarefa é restringir a capacidade do inimigo em trasladar abastecimentos, reforços e manobrar suas forças. Os alvos escolhidos tem caráter tático e importância imediata;
Apoio aéreo estreito – é o proporcionado às forças terrestres. Necessita de estreita coordenação com a artilharia orgânica; e
Operações de defesa aérea e de ataque contra a defesa antiaérea inimiga – pretendem neutralizar a capacidade aérea e antiaérea do inimigo, com a intenção de minimizar o desgaste de nossas forças.

9.7 - A DEFESA DO LITORAL

O perigo proveniente desde o mar provoca no homem um terror ancestral. O povo se angustia ante a ameaça, difusa mas terrível, que surge de improviso no horizonte oceânico. Com o ânimo de conjurá-la, exige defesas visíveis, pois não confia em esquadras distantes e ocultas. Esta reação irracional altera o bom tino dos governantes, introduzindo graves perturbações de critério. Assim, em certas ocasiões, repercute no desenvolvimento e emprego do poder naval. Se recorre ao impotente cordão defensivo nas praias e a Marinha se transforma em guarda-costas, auxiliar das forças terrestres.

“No domínio silencioso e estreito de uma Marinha de defesa de costas, não penetra nenhum pensamento estratégico. As posições estratégicas e a luta pelo domínio das rotas comerciais oceânicas são assuntos que estão fora de sua capacidade de ação e portanto de seu raciocínio ... A esquadra em questão, incapaz de manter-se no mar, não pode conseguir absolutamente nada, ainda que seja dona da melhor posição.”

Wegener fez estas reflexões, pensando na errada condução da guerra no mar por parte do comando alemão. Mas também os EUA incorreram no mesmo erro. Até o começo do século XX, sua Marinha manteve-se como uma força guarda-costas, sem poder adentrar-se aos oceanos para defender ou atacar objetivos estratégicos de real valor. Mahan analisou este tema:

“Nos países em que a Marinha tenha uma missão permanente defensiva, é natural que se requeira um grande número de unidades pequenas ... Nossos antigos monitores de uma torre, que eram pequenos e de pouco custo, relativamente, podiam ser numerosos e por isto prestavam-se, facilmente, para um plano defensivo, exclusivamente no qual se distribuíam os navios em uma zona de grande extensão; isto representava, em matéria naval, a política do cordão, atualmente em descrédito.”

9.7.1 – Componentes da defesa de litoral

Os ataques procedentes do mar, operações de projeção, são repelidos por meio da defesa de litoral.
A defesa contra a invasão se opõe à ofensiva estratégica.
A defesa de costa e a defesa de porto e de área marítima restrita se opõem à ofensiva tática.
Em suma, a defesa do litoral compreende atividades de natureza estratégica e tática, entrelaçadas entre si, que se complementam e que, com uma adequada correlação, surtem seu maior efeito: destruir o inimigo embarcado antes que alcance a praia.
A defesa do litoral também tem estreito contato com o controle do mar. O melhor antídoto contra a invasão, em um conflito marítimo, é a obtenção de um alto grau do controle do mar. Por outra parte, a invasão é uma ameaça poderosa para o poder naval afetado e obriga, normalmente, o aparecimento da esquadra para dar Batalha.
Finalmente, uma defesa de costa eficaz proporciona liberdade de ação à força organizada para o cumprimento de suas tarefas, como também às outras forças responsáveis pelo exercício e disputa do controle do mar.

9.7.2 – A defesa contra a invasão

Seu propósito é impedir a ofensiva estratégica adversária através do mar. O objetivo da defesa contra a invasão é a Força Tarefa Anfíbia inimiga e seus grupamentos componentes, cujos elementos principais são os transportes e a força de cobertura. Os primeiros trazem os meios de desembarque e a ForDbq, enquanto a ForCob possibilita o controle do mar, imprescindível para se realizar a operação. Se um destes elementos for destruído a ofensiva se torna inexequível.
A invasão, por seus transcendentes efeitos no desenlace da guerra, não somente compromete o poder naval, mas também o Exército e a Força Aérea. O ideal consiste em aniquilar a ForTar Anf durante seu trânsito para a área objetivo anfíbio, mas devemos destacar que o momento mais vulnerável de uma operação anfíbia reside na fase do assalto.
Existem dois métodos extremos para opor-se a invasão. O primeiro consiste em concentrar todos os meios de manobra da Marinha, aéreos, de superfície e submarinos, em uma área determinada. Com isto, pretende –se saturar a defesa adversária com ameaças provenientes de distintas direções. A alternativa resultante corresponde a um sistema concêntrico previsto pela Marinha da ex-URSS:

“A solução ao problema parece ser um sistema defensivo composto por uma série de arcos concêntricos, com foco nas áreas vulneráveis da União Soviética, como a península de Kola. Estes arcos compreendem frações de diferentes forças defensivas. O exercício de defesa do solo pátrio de 1983 demonstrou muito bem o conceito. Enquanto uma força de porta-aviões/ invasão simulada se aproximava da URSS, foi atacada com torpedos e mísseis de cruzeiro lançados por submarinos e logo por aeronaves baseadas em terra. Se a força houvesse sobrevivido para navegar mais ao norte, haveria sido atacada então por unidades de superfície maiores operando em grupamentos específicos e, finalmente, por uma considerável força costeira formada por pequenas unidades armadas com mísseis, como as lanchas das classes Osa e Nanuchka. Em resumo, quanto mais se aproxima um inimigo da URSS, o mesmo encontra maior densidade e diversidade na defesa marítima.”

O procedimento assemelha-se a uma assimilação da doutrina do exército da ex-URSS vermelho de defesa em profundidade. Sua falha, na adaptação à guerra no mar, consiste na possibilidade de destruição por partes dos meios de manobra, pois facilita a aplicação desta linha de ação.
Há muito existe uma polêmica sobre a prioridade no ataque e destruição dos elementos que participam de um assalto anfíbio: a Força de Apoio (força de cobertura) ou os Transportes? Ante este dilema, destacados autores ofereceram opiniões discrepantes, entre eles Corbett e Castex. O primeiro considerou os transportes como alvo preferencial:

“No caso que devemos considerar agora, ou seja, a defesa contra a invasão, o objetivo das operações é, e sempre tem sido, o exército inimigo. Nossos planos para resistir a uma invasão sempre se basearam neste postulado, desde os dias da Invencível Armada ... Este ponto estava perfeitamente bem estabelecido na tradição da antiga Marinha. As instruções dos Almirantes insistem constantemente no fato de que os transportes constituem o objetivo principal ... Sendo inconcebível o êxito do invasor sempre que nos decidamos resolutamente a fazer do exército inimigo embarcado nos transportes nosso objetivo principal, e sempre que não nos deixemos levar a lutar insensatamente contra a escolta.”

Castex não compartilhou desta opinião, pelo contrário, criticou-a com bastante severidade. Entre suas diversas censuras, qualificou-a como a deformação do critério gerado pelo tradicional temor britânico ante a invasão continental. Referindo-se a Corbett, disse que havia sustentado:

“Com longas e especiais considerações, que em caso de ameaça de invasão, é necessário eleger como objetivo os transportes do inimigo e não sua esquadra ... Pretendeu afirmar com isto que o ataque aos comboios prevalece sobre toda outra ação, ao extremo que é necessário despreocupar-se por completo com a força organizada inimiga, estimo que se equivocou completamente ... Mas se a esquadra inimiga encontra-se nas proximidades e em condições de intervir, será necessário considerá-la como o primeiro objetivo, abandonando completamente o comboio.”

No entanto, em um apêndice a sua obra datado de 1937, revisou sua postura original e comentou:

“Se os transportes conduzem dentro de seus costados forças capazes de decidir rapidamente a sorte da guerra, se a expedição que levam a bordo constitui um perigo mortal, um perigo “de uma vez”, se é permitida a expressão, não há dúvida que é o comboio o que deve ser atacado. Morto o cachorro, desaparece a raiva. A força organizada esperará. O princípio deve ceder ante o perigo.”

Da confrontação das opiniões descritas, se depreende uma vez mais que em estratégia naval não cabem receitas rígidas. Em uma operação anfíbia, se é incapacitada a ForCob, significa abortar a ofensiva estratégica. O assalto anfíbio carece da sustentação principal para gozar do indispensável controle do mar. Assim mesmo, a destruição da força organizada acarreta a conquista do controle do mar para o partido vencedor, com todos seus benefícios. Por outra parte, os transportes, em particular os navios mercantes, não são construídos para suportar o dano das armas; portanto, são muito vulneráveis ao castigo, além de lentos em relação às ágeis unidades navais e aéreas de combate. O afundamento de um transporte acarreta a perda irreparável da tropa e armamento embarcado. Quanto maior número de naufrágios, o dispositivo geral se debilita afetando o êxito da manobra terrestre. Em resumo, o ataque a força de cobertura ou aos transportes depende da situação estratégica imperante. No entanto, uma vez escolhido o objetivo, se faz necessário criar a manobra destinada a obter o efeito desejado, com a maior eficácia e o mínimo de custo.
Concluindo, como regra geral, quando a missão exige impedir uma invasão através do mar, os transportes constituem os alvos prioritários. Se a força organizada inimiga se interpõe sem possibilidades de ser eludida, por lógica, sua destruição se torna imperativa.

9.7.3 – A defesa de costa

No Brasil, a defesa de costa é tarefa do Exército.
É importante saber que o propósito da mesma consiste em repelir as ofensivas táticas inimigas contra o litoral. Portanto, é pontual e sua ação limitada à área a proteger. Também necessita satisfazer às interferências de caráter militar, econômico e moral.
A defesa de costa, além de integrar a defesa de litoral e impedir as ofensivas táticas inimigas, colabora com o poder naval: dá segurança à posição estratégica, dá liberdade de ação à esquadra dedicada a proteção indireta, protege pontos críticos, etc.
Mas não é aceitável cair nos exageros a respeito da defesa de costa. Existe a tendência de estender estes dispositivos ao longo do litoral, até incorrermos no impotente cordão defensivo. Convém ter presente sua essência tática e estática, enquanto a guerra no mar é dinâmica, ofensiva e seus objetivos encontram-se em alto mar ou nas costas inimigas.

9.7.4 – Defesa de porto e de área marítima restrita

A MB conceitua a Operação de Defesa de Porto como aquela que visa a impedir ou neutralizar ataques contra um porto ou fundeadouro e seus acessos, por meios ou elementos inimigos (submarinos, unidades de superfície, meios de minagem, elementos transportados por submarinos ou pequenas embarcações e sabotadores)
A defesa de área marítima restrita, ou seja, a defesa de área litorânea de dimensões limitadas, que contenham instalações navais, marítimas ou industriais de valor estratégico contra ameaças imprevisíveis, mencionados no parágrafo anterior, configura um caso particular de defesa de porto, aplicando-se, portanto, os mesmos princípios e procedimentos preconizados para a defesa de porto. A defesa de porto complementa mas não deve ser confundida com o Controle de Área Marítima nem com a Defesa de Costa. Enquanto a eficácia da Defesa de Costa e o Controle de Área Marítima dependem da capacidade de atacar o inimigo antes que ele se aproxime da costa, a defesa de porto é uma operação de defesa em última instância, de uma área costeira delimitada.




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#88 Mensagem por Rui Elias Maltez » Ter Jun 05, 2007 7:20 am

Desta vez, nada tenho a acrescentar.

Apenas um realce para a importância da conjugação do meios envolvidos, que deverm actuar organicamente, cada navio com a sua especialidade, mas actuando como um unico órgão multi-funções.

Para o bombardeio aero-naval seria necessário que o país tenha capacidade de projecção de poder através de um CV o que só poucos têm.

Por isso estão agora a usarem-se fragatas ou cruzadores com peças de 127 mm que desse modo podem apoiar bem um desembarque anfíbio em território hostil, tendo tendência para desaparecerem as peças de 76 mm, e mesmo as de 100 ou 114 mm.

Isto para países que não são da "1ª divisão", porque esses terão os mísseis de cruzeiro e capacidade de bombardeamento aéreo para neutralizar defesas de costa, cortar telecomunicações, linhas de electricidade, e pontos estratégicos, como pontes e estradas.

Para os outros, a Blom & Voss apresentou recentemente uma fragata tipo MEKO destinada sobretudo a essas tarefas.

Através de plataformas navais como LPD's ou LHD's, também um apoio aéreo através de helis de ataque, ou mesmo CSAR podem ser úteis para apoiar e infiltrar elementos militares em território hostil, ou forças de operações especiais, e hoje em dia já há muito países com esse meios ou em vias de o virem a ter.




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#89 Mensagem por Marino » Qua Jun 06, 2007 9:49 am

Nenhuma dúvida/questionamento mais?
Continuo ou paro?




otaolive
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#90 Mensagem por otaolive » Qua Jun 06, 2007 9:51 am

Olá Marino.
Gostaria de expor uma dúvida, mesmo que tardia...

Quando estava lendo sobre o exercício do controle do mar, entendi que para o esforço de guerra as comunicações marítimas são vitais.
Ao mesmo tempo acredito que os navios mercantes civis são os que trazem mais insumos para o país, sejam de caráter militar ou econômico correto?

Então veio na minha cabeça uma reportagem (que não lembro aonde li) de que a maioria do tráfego marítimo comercial do Brasil são feitos por navios mercantes com bandeiras de outros países.

No caso de uma guerra, e supondo que estes países não queiram se arriscar, isso não é prejudicial ao esforço de guerra?

Seria o caso da Marinha lutar por algo neste sentido, ou isso seria uma atribuição mais civil, de algum ministério...

Abraços

Otavio




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