ESTRATÉGIA NAVAL

Assuntos em discussão: Marinha do Brasil e marinhas estrangeiras, forças de superfície e submarinas, aviação naval e tecnologia naval.

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#31 Mensagem por Marino » Sáb Mai 19, 2007 11:43 pm

Naval escreveu:Olá Capitão Marino, parabéns pelo tópico, obrigado por dividir conosco os seus conhecimentos. Uma pergunta: O senhor vai discorrer sobre operações anfíbias adiante????

Abraço.

Caro Naval, obrigado. Por favor, o Senhor está no céu.
Vou sim falar de operações anfíbias, mas estrategicamente e não sobre como fazer uma, que seria algo imenso.
Forte abraço




Avatar do usuário
Luis Asahi
Júnior
Júnior
Mensagens: 96
Registrado em: Sáb Jun 18, 2005 9:21 pm
Localização: Japan
Agradeceu: 1 vez

#32 Mensagem por Luis Asahi » Dom Mai 20, 2007 12:50 am

PRick escreveu:Acho que a maneira mais fácil de se entender a importãncia deste tipo conhecimento, é exemplificar a realidade sobre cada item proposto, sobretudo, se o exemplo for histórico.

Me parece que a Segunda Guerra Mundial, no Pacífico, é um ótimo exemplo para entendermos como uma Estratégia Superior, leva a uma compreensão superior de como se usa suas plataformas, e quais serão as prioridades para as novas construções e como será a configuração de cada plataforma.

Os equíocos estratégicos do Japão, os levaram a construção de plataformas equivocadas para a moderna guerra naval, tanto nas plataformas a serem produzidas, como na sua configuração. Ainda que, muitas fossem muito avançadas tecnologicamente falando.

A tradução dos equívocos, levaram os Japoneses a investirem na Classe Yamato, não adotarem o radar, desproteger seu tráfego marítimo e ignorar o do adversário, mesmo possuindo uma das maiores flotilhas de submarinos no início da guerra a Marinha Imperial usava-os como complemento da esquadra, não como arma independente.

É nítido que depois de Midway, houve uma mudança repentina de pensamento, mas já era tarde. :lol:

[ ]´s


Concordo!
Abraços!




Avatar do usuário
Luis Asahi
Júnior
Júnior
Mensagens: 96
Registrado em: Sáb Jun 18, 2005 9:21 pm
Localização: Japan
Agradeceu: 1 vez

#33 Mensagem por Luis Asahi » Dom Mai 20, 2007 12:52 am

Exelente topico senhor Marino!

Abraços!




Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#34 Mensagem por Marino » Dom Mai 20, 2007 10:53 am

Luis Asahi escreveu:Exelente topico senhor Marino!

Abraços!

Obrigado.
Forte abraço.




Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#35 Mensagem por Marino » Dom Mai 20, 2007 11:16 am

Considero tão importante o texto sobre o Controle do Mar que estou aguardando para ter certeza da compreensão, antes de seguir adiante.




Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#36 Mensagem por Marino » Dom Mai 20, 2007 3:06 pm

Estivemos falando sobre conquista do controle do mar, disputa do controle do mar e exercício do controle do mar (espero que o entendimento tenha sido fácil).
Esta foi uma metodologia utilizada por Corbett, para mim o mais importante escritor clássico britânico de Estratégia Naval.
Para completar seu raciocínio, o mesmo esqueceu as Operações de Projeção (Anfíbias).
Antes de lermos sobre cada um destes tópicos, vou postear alguns tópicos introdutórios:

AS OPERAÇÕES NAVAIS


4.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O propósito da guerra naval é obter controle do mar, a fim de empregá-lo em benefício próprio e negar seu uso pelo inimigo. Mas o controle do mar é dual, compartido, relativo e um meio para um fim. Por tal razão, a estratégica naval utiliza o poder naval para disputar, conquistar, exercer e explorar o controle do mar, incluindo a projeção, com o desígnio de satisfazer as necessidades da guerra. O instrumento que se opõe à consecução das citadas metas é o poder naval do adversário e seu principal elemento estratégico é sua Força Organizada. A história demonstra que, em várias oportunidades, foi necessário neutralizar ou destruir a citada força, para colher os benefícios oferecidos pelo mar.
A existência de três objetivos estratégicos relacionados, de maneira direta, com o controle do mar, mais outros derivados das interferências, demanda uma sistematização racional das operações e o estabelecimento de uma prioridade para sua realização. O primeiro requisito se satisfaz por meio do agrupamento das operações navais típicas em disputa, conquista e exercício do controle do mar, a elas se somando as operações de projeção. Para tanto, sua seqüência de execução se define através de uma ordem cronológica das operações e se materializa por meio de uma manobra estratégica.

4.2 - COMPARAÇÃO COM A GUERRA TERRESTRE

A guerra terrestre, usualmente, busca a destruição do inimigo na Batalha ou em Batalhas. Ao examinarmos em profundidade a guerra terrestre, os objetivos estratégicos de qualquer natureza são, geralmente, alcançados com a prévia derrota da força adversária. Em resumo, normalmente, o objetivo estratégico terrestre se reduz a um: a força adversária. O grande problema é COMO destruí-la. A maioria, por não dizer a totalidade dos escritores militares, concordam com esta asseveração. Alguns possuem diferenças relativas aos métodos para conduzir a Batalha, mas não na necessidade de realizá-la.
Afirma Clausewitz:

“Como regra geral, segue sendo uma verdade suprema a que as grandes Batalhas são conduzidas somente com vistas à destruição da força inimiga e que esta destruição somente pode ser obtida por meio de uma grande Batalha ... A grande Batalha deve ser considerada, em conseqüência, como a guerra concentrada, o centro de gravidade de toda a guerra ou da campanha.”
Ainda: “Não somente o conceito da guerra, mas também a experiência, nos levam a buscar a grande decisão unicamente em uma grande Batalha. Desde tempos imemoriais, somente grandes Batalhas têm conduzido a grandes vitórias ... Não somente os generais valentes, audazes e ousados são os que têm buscado completar sua tarefa correndo o risco de Batalhas decisivas, senão também todos os generais afortunados; e podemos descansar satisfeitos com a resposta que têm dado a esta vasta questão.37”

O Marechal Foch acrescenta:

“A guerra moderna para chegar a seus fins, impor a própria vontade ao inimigo, não reconhece mais que um meio: a destruição das forças organizadas do oponente. Esta destruição a empreende e a prepara a Batalha, que persegue a ruína do adversário, desorganiza o comando, a disciplina, as coesões táticas, as tropas como forças. A Batalha, único argumento da guerra, é o único objetivo que deve dar-se portanto às operações estratégicas.”

O condutor da guerra no mar, em vez de um objetivo, claro e definido, possui três de caráter natural, força organizada, posição estratégica e comunicações marítimas, mais os derivados das interferências. Em conseqüência, sua primeira obrigação consiste na definição do primeiro objetivo e logo estabelecer a ordem cronológica para atingir os outros. Mas sempre deve ter presente que sua responsabilidade básica é o controle do mar, para servir aos fins da guerra.
Na guerra terrestre, qualquer que seja o caráter do objetivo a ser obtido, sempre o meio de obtenção será a Batalha. Seu único objetivo reside no exército inimigo. Para um general com os meios adequados, o grande problema a resolver consiste em COMO, pode optar pelo QUANDO e não tem dúvidas sobre o QUÊ ou o ONDE. Isto marca uma grande diferença com a guerra marítima. O Almirante, de acordo com os meios disponíveis, encontra-se obrigado a definir o QUE, QUANDO, COMO e ONDE.

4.3 - A TEORIA DO PRIMEIRO OBJETIVO

Um dos méritos de Mahan foi destacar, com clareza, o papel desempenhado pela Força Organizada na guerra no mar, a que qualificou de “chave” para a estratégia naval. Com a Força Organizada, obter-se-ia o domínio do mar, permitindo, então, atacar as comunicações marítimas, conquistar a posição estratégica e invadir o território do adversário. Além disso, poder-se-ia proteger os mesmos objetivos da ação inimiga.
A maioria os escritores especializados da época concordou com os postulados de Mahan. Uma publicação britânica de 1901 especificou: “O objetivo principal da guerra naval é a destruição da esquadra oponente: todas as outras operações são de importância secundária. Até que a esquadra inimiga tenha sido afastada, as outras operações não podem ser empreendidas com segurança.”
O Almirante britânico Colomb, contemporâneo de Mahan, sustentou a mesma opinião, de forma ainda mais radical:

“O fim da guerra naval é obter o controle do mar ou o domínio do mar. Uma potência que se esforçasse por alcançar um fim distinto, como por exemplo o ataque aos portos, ou territórios, ou a proteção exclusiva do comércio, aceitaria a situação de uma potência naval inferior e vencida, e nunca poderia pretender causar sérios prejuízos a seu adversário enquanto mantivesse essa atitude ... É inútil tratar de obter o domínio do mar por outros meios que não seja a Batalha e esta empresa é tão grave, que nenhum outro objetivo pode comparar-se com ela.”

Em decorrência, levou-se a extremo a necessidade de destruir ou neutralizar a esquadra inimiga, o que se tornou, para muitos estudiosos da guerra naval, um dogma. Nenhuma operação podia ser realizada sem, antes, ter sido executada a citada tarefa: a força oponente era o primeiro objetivo. Assim, gerou-se a chamada “Teoria do primeiro Objetivo”. Stephen Roskill incorporou-se àqueles que a sustentavam na “Escola da Batalha Decisiva”.
Afirmou o Almirante Castex, que descreve com acerto a referida teoria:

“A Força Organizada móvel do inimigo, ou seja, a sua força militar flutuante, ocupará o primeiro plano de nosso pensamento. A ela referiremos todas as nossa ações, porque sua supressão resolve todos os problemas ... É evidente que o melhor procedimento ... consiste em destruí-la, o que se fará por meio do combate. Se o inimigo se elude do mesmo, encerrando-se em suas bases, será bloqueado nas mesmas ... A ação de deixar fora de combate a força organizada é, pois, o primeiro objetivo. Deduz-se do anterior, como corolário obrigatório, que se deve buscar o combate. Essa busca efetuar-se-á incansavelmente, da maneira mais ativa. Adotará a forma de movimentos, de perseguição, da caça a esse inimigo que queremos eliminar.”

Dessa teoria advêm várias conseqüências, das quais serão discutidas as mais importantes.
Em primeiro lugar, influi na distribuição dos meios. A existência de um objetivo exclusivo (a esquadra inimiga), obriga a que se concentre na própria Força Organizada todas as unidades navais disponíveis. Não proceder desta forma violaria o princípio de economia de forças. Por conseguinte, não seria admissível dispersar forças destinadas a realizar tarefas relativas à defesa ou ao ataque das comunicações marítimas, posição estratégica, ou ao litoral. O primeiro objetivo, por sua natureza, absorve em sua totalidade os esforços da esquadra.
Como a esquadra inimiga constitui o objetivo principal, os demais se tornam objetivos secundários. Uma vez alcançado o primeiro objetivo, há, então, condições de dividir as forças com o propósito de perseguir os outros. Esta circunstância deu origem ao que se denominou “Ordem Cronológica das Operações”.

4.4 - A ORDEM CRONOLÓGICA TEÓRICA DAS OPERAÇÕES

De acordo com a teoria, o Primeiro Objetivo estava em íntima relação com a Ordem Cronológica Teórica das Operações. O primeiro gerava o segundo. Conforme o estabelecido anteriormente, sem o domínio do mar, não se podia atacar ou defender as comunicações marítimas, a posição ou o litoral. A Força Organizada adversária corresponde ao maior obstáculo para conquistar e exercer esse controle e, por sua vez, representa a ameaça mais severa para nossa esquadra. Essas razões fundamentam a escolha da esquadra adversária como o primeiro objetivo, estabelecendo a seguinte situação:

“Abandonaremos transitoriamente toda outra preocupação, até que tenhamos logrado esta destruição tão importante, da força organizada do inimigo ... Não entorpeceremos nossa ação, sobretudo com a defesa de nossas costas e comunicações ... o que nos levaria a dispersar nossas forças e nos exporia a uma diversão de nossos esforços. Do mesmo modo vamos nos abster de empreender operações contra suas costas ou comércio ... Prescindiremos, de todas as maneiras possíveis, das exigências estranhas à estratégia propriamente dita, que os acontecimentos tendam a nos impor ... Os fatores políticos, econômicos, militares, terrestres, morais, etc., devem ser relegados a segundo plano.”

Com estas medidas, pretendia-se não entravar a liberdade de ação e tomar a ofensiva contra a esquadra inimiga da maneira mais enérgica.. Concentrar-se-iam todos os meios para o ataque sustentado até se conseguir o aniquilamento da força organizada contrária. Logo, somente depois de se conseguir o primeiro objetivo, se perseguiria a obtenção das metas postergadas. Isto é o que se entende por Ordem Cronológica Teórica das Operações. Esta forma de condução das operações, tão rígida e excludente, presta-se para provocar graves erros.

Exemplo: Guerra Hispano-Americana
Um dos exemplos mais esclarecedores sobre os nocivos efeitos da Teoria do Primeiro Objetivo e sua conseqüente Ordem Cronológica Teórica das Operações foi dado pela atitude da esquadra norte-americana frente a esquadra do Almirante espanhol Cervera. A força espanhola era inferior à do Almirante americano Sampson. Referindo-se aos norte-americanos Corbett comentou:
“Tinham a intenção de se estabelecer o quanto antes na parte ocidental de Cuba, para apoiar os insurgentes coloniais ... a configuração da área marítima que devia atravessar o exército americano era tal que, com uma atitude estritamente defensiva, ou de cobertura, efetuada pela esquadra, esses riscos podiam ser praticamente anulados. Apesar disto, os americanos estavam tão erroneamente dominados pelas máximas que recentemente haviam sido redescobertas que, quando na véspera de executar a manobra vital, se inteiraram de que uma esquadra espanhola cruzava o Atlântico, deslocaram de sua posição defensiva a força de cobertura, enviando-a numa busca à frota inimiga para destruí-la.”
A decisão esteve a ponto de abortar a insurreição, ao não contar com o reforço do exército esperado, ante a dura repressão espanhola. Corbett acrescentou:
“Ao final, somente o acaso lhes permitiu remediar o erro que haviam cometido. Se a esquadra espanhola houvesse entrado num dos portos cubanos que dispunham de comunicação ferroviária com o exército realista principal, tal como Cienfuegos ou Havana, em vez de apressar-se a entrar em Santiago, a campanha teria sido perdida, totalmente.”


4.5 - DISCREPÂNCIAS DA TEORIA COM A PRÁTICA

Em estratégia naval não cabem rigores ou determinismos, em particular no que diz respeito aos objetivos. Trava-se e coarcta sua ação ao se fixar, de modo dogmático, uma ordem cronológica das operações, fixa e inalterável. No mar, ao contrário de terra, existem vários objetivos estratégicos simultâneos. São três os relacionados de forma direta com o controle do mar: a posição, as comunicações marítimas e a força. Os três, para serem distinguidos, são denominados objetivos estratégicos naturais. O primeiro tem caráter geográfico, o segundo econômico-militar e o último bélico. Além destes, existem os objetivos originados pelas interferências. Sua natureza varia entre político, bélico, econômico, geográfico e moral. Em certas ocasiões, dois ou três dos objetivos estratégicos acham-se tão ligados entre si, que basta obter um para alcançar os restantes. No entanto, na maior parte das vezes, seu enlace é muito fraco, exigindo um escalonamento no tempo e espaço para sua obtenção.
Nesta complicada situação, o condutor da guerra no mar precisa analisar cada um dos objetivos estratégicos naturais e assim apreciar sua influência no controle do mar. Além disso, necessita avaliar outras necessidades da guerra, com o fim de estabelecer, as Interferências. Em certas ocasiões, ainda quando as mesmas desviam a estratégia naval de seu curso natural, são revestidas de tal premência, que devem receber prioridade. Com estes elementos de juízo, o Comandante tem condições de fixar a Ordem Cronológica das Operações, a ser executada para seu caso específico e único. Geralmente, a Ordem traduz-se em um conjunto de operações a serem levadas a cabo mediante uma Manobra Estratégica.
Serão analisados, em separado, cada um dos objetivos estratégicos naturais a considerar na guerra marítima.

A posição estratégica
O fator geográfico desempenha um extraordinário papel no controle do mar, em especial sobre as comunicações marítimas. Existem países com uma posição estratégica privilegiada, cujo posicionamento lhes faculta proteger seu tráfego militar e econômico, e, por sua vez, interromper o do inimigo. Sua força desdobrada na posição cumpre, assim, uma das tarefas mais importantes do poder naval. Na ausência de outros motivos mais relevantes, somente se preocupa das posições que detém. Ao contrário, existem nações com posições tão deficientes que, a partir delas, sua esquadra não tem capacidade de disputar, conquistar, ou exercer o controle do mar em áreas decisivas; tampouco de exercer o domínio sobre suas comunicações marítimas vitais. Para evitar o colapso econômico, impedir o tráfego adversário, ou alcançar qualquer outro objetivo estratégico através do mar, necessita, como requisito prévio, melhorar ou conquistar posições estratégicas.

Exemplo: Primeira Guerra Mundial
A Alemanha não percebeu a dualidade do poder naval, força e posição, despreocupando-se desta última. Sua poderosa Esquadra de Alto Mar não desempenhou um papel muito efetivo no conflito. No entanto, sua frente interna desabou, devido à fome causada pelo bloqueio econômico imposto pela Grã-Bretanha desde Scapa Flow.

As comunicações marítimas
Em inúmeras oportunidades, as comunicações marítimas revestiram-se de importância primordial ante os demais objetivos e nada foi mais relevante para o poder naval que assegurar seu trânsito, comprometendo nesta tarefa até a Força Organizada. Estas circunstâncias antecederam, geralmente, o início das hostilidades. Os exércitos encontravam-se em fase de concentração ou desdobramento. Nestes momentos, as comunicações marítimas militares polarizaram as operações navais de um ou ambos beligerantes. Em outras eventualidades, as comunicações marítimas que mantinham as forças tornaram-se críticas, e os afetados fizeram centro de gravidade nas mesmas, arriscando na ação sua esquadra ou parte da mesma. Por último, as comunicações marítimas econômicas constituíram o objetivo principal da guerra no mar. Esta situação provocou a divisão e debilitamento da esquadra do partido afetado, prejudicando sua superioridade e, desta forma, sua capacidade para travar a Batalha.

Exemplo: Primeira Guerra Mundial.
Os planos de guerra dos aliados previam a intervenção, na França, de quatro divisões de infantaria e uma de cavalaria do Reino Unido. Entre 7 e 17 de agosto de 1914, a Força Expedicionária britânica cruzou o Canal da Mancha. “O Almirantado inglês estimou que a missão principal da esquadra era apoiar e assegurar o transporte do corpo expedicionário inglês ao continente, subordinando, a princípio, a essa tarefa primordial todas as demais.”

A Força Organizada
A Batalha Naval, o choque entre Forças Organizadas, consiste em um ato tático de consentimento mútuo, em razão do cenário e dos meios. A vastidão dos oceanos, o nulo valor dos espaços marítimos, a mobilidade da força para transitar nos mares em qualquer direção, a incapacidade dos navios de ultrapassar a linha de costa e a reação da terra contra o mar concorrem para dar ao encontro naval a característica mencionada.
Em terra, ao contrário, o exército mais fraco para eludir a Batalha fica obrigado a entregar terreno, de grande valor intrínseco, e tempo. Ambos correspondem a fatores finitos e, portanto, se esgotam. Quando atacado, o exército inferior fica, praticamente, obrigado a combater.

“O objeto primordial de nossa frota de batalha é buscar a do inimigo. A primeira vista, nada pode ser mais racional ... O valor prático da máxima militar baseia-se no fato de que na guerra terrestre sempre é possível, teoricamente, atacar o exército inimigo, caso se disponha da força e do espírito para vencer os obstáculos e afrontar os riscos. No mar, ao contrário, não sucede a mesma coisa. Na guerra naval, ocorre um fato de grandes conseqüências, que é completamente desconhecido em terra. Trata-se, simplesmente, do seguinte: o inimigo pode retirar completamente sua esquadra do campo de operações. Poderá retirá-la para um porto defendido, onde permanecerá eternamente fora de nosso alcance ... Por maior que seja a força naval e o espírito ofensivo, não servirão neste caso. O resultado é que, na guerra naval, tende a apresentar-se um dilema complicado. Se dispomos de uma superioridade tal que justifique uma vigorosa ofensiva e que nos incite a buscar o inimigo com a intenção de obter uma decisão, o mais provável é que o encontremos numa posição onde não possamos atacá-lo.”

Mas quem elude a Batalha, refugiando-se em suas bases, entrega o mar a seu inimigo, com todas as conseqüências negativas previsíveis.

Exemplo: Guerra russo-japonesa.
Desde o início da guerra, a esquadra russa recusou a Batalha, abrigando-se em Porto Artur. A base russa terminou cercada por forças terrestres. A artilharia de campanha japonesa posicionou-se para atingí-la , em 7 de agosto de 1904. A Esquadra do Pacífico, composta por 18 unidades escapou rumo à Vladivostok, em 10 de agosto. Nesse mesmo dia deu-se a Batalha do Mar Amarelo. O grosso da força russa retornou a sua base e dos navios que se evadiram, nenhum chegou a seu destino, pois oito navios foram internados em portos neutros e os demais foram destruídos. “depois de seu regresso à Porto Artur, a reduzida Esquadra do Pacífico cessou de existir, mesmo como esquadra em potência. Suas baterias secundárias e grande parte das tripulações foram incorporadas às defesas de terra.”

4.6 - CONDUÇÃO PRÁTICA DAS OPERAÇÕES

Para abordar o problema relativo a uma Ordem Cronológica Prática das Operações, é necessário ter presente alguns elementos de juízo básicos. O fim da estratégia naval está no controle do mar. Sua conquista passa pela destruição ou neutralização da esquadra inimiga e seu exercício está em relação direta com o grau de controle detido. O domínio do mar depende, de uma forma ou de outra, dos três objetivos estratégicos naturais: as comunicações marítimas, a posição estratégica e a força. Esta última constitui o elemento mais significativo. Sua presença, de nossa força ou da inimiga, gera ou reduz a liberdade de ação no cumprimento das tarefas. A Força Organizada inimiga é a maior ameaça a comunicações, posição e litoral próprios e consiste no maior obstáculo ao ataque aos mesmos objetivos do adversário.
A análise da influência dos três objetivos estratégicos naturais define a prioridade e a seqüência de obtenção. Em certas eventualidades urge dar Batalha ou neutralizar a esquadra inimiga. Em outros casos, convém dar preferência à conquista ou melhora da posição estratégica. E há casos em que é mais importante garantir a realização ou interrupção do transporte marítimo. Logo, é necessário revisar as interferências.

Terminado este detalhado estudo, há condições de se estabelecer, com fundamentos, a Ordem Cronológica Prática das Operações. A primeira conseqüência disso representa a distribuição dos meios navais existentes, de forma a alcançar os objetivos estratégicos estabelecidos. Além disso, talvez o mais importante, a dita distribuição, ou ordem, desemboca em um modelo, ou sistema de operações, entrelaçado e harmônico dos elementos de manobra. Sua execução representa uma manobra estratégica em nível decisório elevado.
Nesta solução de compromisso é prudente observar que:

“Se antes de pôr fora de combate a Força Organizada do inimigo, circunstâncias graves e ameaçadoras obrigam a empreender operações de ataque ou defesa das costas, das comunicações, de transportes de tropas, etc., estas se efetuarão sem o descuido da força organizada, sem deixá-la de tê-la presente, prontos para encontrá-la e dispondo os meios de modo que possamos ser informados a tempo e possamos atacá-la nas condições mais vantajosas possíveis. Será garantida, em uma palavra, a segurança contra essa força, sem perder de vista que ela continua sendo, apesar de tudo, o fator preponderante e que acima do objeto momentâneo e circunstancial ao qual nos sacrificamos por exigências momentâneas, está o objetivo permanente e decisivo, a destruição dessa força.”

Em outros termos, se a esquadra inimiga interfere na missão, deve ser afastada ou neutralizada ou destruída mediante a Batalha.

4.7 - OPERAÇÕES NAVAIS TÍPICAS

A guerra no mar compreende duas grandes categorias de objetivos: os localizados no mar ou no espaço aéreo sobrejacente e os localizados em terra, ambos ligados pelo conceito de controle do mar. Os primeiros consistem nas unidades navais e aéreas integrantes da força organizada, navios de transporte e os navios e aeronaves destinados a sua proteção. Os segundos se referem aos objetivos geográficos ou terrestres.
O estrategista naval inglês Corbett ordenou e agrupou as operações relacionadas com os objetivos na superfície. Com isto, conseguiu sistematizar dita área da guerra no mar com extraordinária lógica. Para completar seu esquema, é indispensável agregar as operações de projeção atinentes aos objetivos geográficos.
As denominadas “Operações Navais Típicas” são, segundo Corbett, as seguintes:
- Operações para conquista do controle do mar;
- Operações para disputa do controle do mar; e
- Operações para exercício do controle do mar.
Para completar o quadro devem ser somadas as:
- Operações de projeção.
De maneira simplificada, a conquista e a disputa do controle do mar têm como propósito respectivos alcançar ou melhorar o domínio do mar, e seus objetivos são materializados as unidades da força organizada inimiga. As operações de exercício de controle do mar têm como efeito desejado a realização do tráfego marítimo, sua defesa e interrupção. Os objetivos estão representados basicamente pelos navios de transporte. Nas operações de conquista somente intervém as forças organizadas dos beligerantes. Na disputa participam as forças organizadas e as outras unidades do poder naval dos adversários. Nas de exercício do controle, concorrem as forças organizadas, os navios de transporte, e os escoltas, em resumo, quase todo o poder naval dos antagonistas. As operações de projeção têm diversos propósitos e objetivos, mas sua maior manifestação consiste na invasão do território inimigo, e compromete não somente o poder naval, mas todos os ramos da defesa. Estas “Operações Navais” serão estudadas nos próximos tópicos.




alcmartin
Sênior
Sênior
Mensagens: 3249
Registrado em: Sex Fev 23, 2007 2:17 am
Agradeceu: 64 vezes
Agradeceram: 59 vezes

#37 Mensagem por alcmartin » Dom Mai 20, 2007 9:24 pm

Marino escreveu:Antes de continuarmos, um pequeno comentário sobre uma das diferenças entre Estratégia Terrestre e Estratégia Naval.
Como lemos, a Estratégia Naval possui 4 Objetivos: a Força Organizada, as Posições Estratégicas, as Comunicações Marítimas e as Interferências.
O condutor da guerra no mar deve ter em mente sempre 4 objetivos e não negligenciar nenhum deles. Isto será melhor visto adiante.
E a estratégia Terrestre? Esta possui como objetivo o Exército inimigo, pois é este que impede o atingimento dos objetivos estratégicos a serem alcançados.
Quando um exército recua, ele cede terreno pátrio para o inimigo.
Quando ele é destruído, nada se interpõe entre o objetivo estratégico inimigo e seu exército.
Isto significa que uma Estratégia é "melhor" que outra?
NÃO, significa que são diferentes. Por este motivo as aulas de Estratégia não podem ser unificadas em uma só Escola de Altos Estudos Militares, p. ex. Que cada Força tem que aprender as suas especificidades.
Devem lutar a guerra separadamente, cada uma por si? NÃO, o que escrevi não significa esta interpretação, significa que a maneira de empregar cada FFAA é diferente, mas que todas possuem o mesmo objetivo comum traçado pelo condutor político da nação, que vão sim operar conjuntamente, cada uma de acordo com sua especificidade
, para o atingimento do objetivo político traçado pelo condutor político.


Vixi, marujo :shock: O sr. navega a 50kt!! :shock: A gente apanha, mas vai acompanhando, um pouco atrasado as aulas,he,he!! :D

Perfeita a explanação citada...o problema é fazer esse povo entender, com esse papo de reduzir estrutura, unificar e otimizar recursos... :evil:
Dá certo na hora de dar instrução sobre um helicóptero, um avião ou tanque, mas pára por aí...
Como bem disse, não é melhor nem pior, é diferente...

abs!




Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#38 Mensagem por Marino » Dom Mai 20, 2007 10:46 pm

É isso. [100]




otaolive
Intermediário
Intermediário
Mensagens: 236
Registrado em: Ter Fev 07, 2006 11:17 am

#39 Mensagem por otaolive » Seg Mai 21, 2007 3:27 pm

Olá Marino!
Se não estiver me adiantando de novo, gostaria de expor uma dúvida...

A política de defesa de um país influencia nas estratégias navais treinadas e praticadas pelas respectivas marinhas? Ou isso é independente?

Por exemplo, qual o grau de importância para uma marinha treinar uma operação de projeção em comparação a uma operação de controle do mar para um país que pensa principalmente na defesa de seu território invés de projeção de poder?

As operações de projeção têm diversos propósitos e objetivos, mas sua maior manifestação consiste na invasão do território inimigo, e compromete não somente o poder naval, mas todos os ramos da defesa.


Na primeira guerra do Iraque, houveram muitos lançamentos de mísseis a partir de meios navais correto? Isso pode ser considerado como uma operação de projeção?

Otavio




Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#40 Mensagem por Marino » Seg Mai 21, 2007 4:00 pm

A política de defesa de um país influencia nas estratégias navais treinadas e praticadas pelas respectivas marinhas? Ou isso é independente?

Por exemplo, qual o grau de importância para uma marinha treinar uma operação de projeção em comparação a uma operação de controle do mar para um país que pensa principalmente na defesa de seu território invés de projeção de poder?

Caro Otavio
Vou tentar responder sem complicar muito. Toda Marinha que se preze deve ser capaz de realizar as 4 Tarefas Básicas. Se não consegue, está manca de uma das pernas.
A nossa Política de Defesa prevê uma Estratégia de DISSUASÃO, ou seja, ter FFAA com capacidade e credibilidade para que qualquer motivação para uma aventura militar contra o Brasil seja descartada pelos custos a serem pagos pelo atacante. Este é o primeiro ponto a ser compreendido.
O segundo ponto é que uma Estratégia Dissuasória, e mesmo uma Defensiva, não abre mão de operações ofensivas. Isto significa que mesmo você querendo manter o status-quo, não tendo intenções expansionistas, querendo somente manter o que possui, será obrigado, para vencer o "atacante", a realizar operações ofensivas. Não se ganha uma guerra somente com defensiva.
Então, mesmo com uma Estratégia Dissuasória, a MB tenta manter-se como uma Marinha balanceada, capaz de executar as 4 Tarefas Básicas e, se necessário, executar operações ofensivas, como são as de Projeção de Poder.
Creio que a Ofensiva e a Defensiva no Mar será o próximo tópico a ser posteado nesta "novela" que estou escrevendo. Então as coisas ficarão mais compreensíveis.

Na primeira guerra do Iraque, houveram muitos lançamentos de mísseis a partir de meios navais correto? Isso pode ser considerado como uma operação de projeção?

Sim, perfeitamente. Quando falamos de operações de projeção de poder, o Assalto anfíbio logo nos vem a mente. Mas esta é somente uma das operações de projeção.
Assalto anfíbio, Ataque Aeronaval (aviões de PA), ataque com mísseis, Incursão anfíbia, Mergulhadores de Combate, bombardeio com canhões dos navios, creio que não estou esquecendo nada, todas são Operações de Projeção de Poder.
Seu exemplo está corretíssimo.
Forte abraço
Marino




Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#41 Mensagem por Marino » Ter Mai 22, 2007 6:29 pm

Vamos continuar nossa leitura, ou tortura, com a Ofensiva e a Defensiva no mar, dois tópicos importantíssimos para quem quer compreender a guerra no mar:

A OFENSIVA E A DEFENSIVA NO MAR

5.1 - CONCEITOS GERAIS DA OFENSIVA E DA DEFENSIVA

Na guerra só há duas classes de postura: a ofensiva e a defensiva. A primeira se realiza mediante o ataque e a segunda por meio da resistência. Não existem outras alternativas.
A ofensiva tem como meta um objetivo muito definido e não oferece dúvidas sobre seu alcance. É por essência ativa, pretendendo apoderar-se de algo em domínio do inimigo, que se nega a entregá-lo. Em conseqüência, é preciso quebrar sua vontade de lutar, por meio da força.. Assim Castex refere-se ao tema:

“Unicamente a ofensiva pode trazer esta ruptura definitiva do equilíbrio, da qual resultará a decisão, porque somente ela possui o caráter transformador necessário. Seu principal mérito, o que a justifica e eleva por sobre a defensiva, é a possibilidade que oferece de obtenção de um resultado positivo, em particular aquele que realmente interessa, ou seja, a decisão da guerra. O caráter decisivo é o fundamento da verdadeira ofensiva. Somente aquela que tem fundamento é digna deste nome, somente este caráter permite considerá-la como tal.”

A defensiva suporta e detém o ataque. Sua natureza é reativa: satisfaz-se com a manter a situação e em conservar as forças. Está obrigada a acomodar-se às ações do atacante e proteger-se em todas as direções. Na maioria das vezes, provoca inconveniente dispersão dos meios. Em terra, seus fatores de força estão no terreno, no tempo e na massa. Caracteriza-se por dois elementos inseparáveis: a espera e a reação. Esta última materializa-se em todo o seu vigor quando a defensiva tem êxito em seus propósitos de desgastar e desestabilizar o inimigo, e com o fim de explorar esta conjuntura favorável, muda de atitude lançando a contra-ofensiva decisiva.

“...a defensiva não é senão uma situação provisória para empreender a ofensiva tão logo as circunstâncias permitam. O essencial na defensiva é o contra-ataque e não a espera em estado de passividade, pois a parte débil da defensiva consiste precisamente em que se é prolongada por muito tempo, mata o espírito ofensivo. Mas levar esta idéia ao extremo e afirmar que em todos os casos o ataque é a melhor defesa, eqüivaleria a desnaturalizá-la.”

Ofensiva e defensiva, apesar de serem as únicas alternativas de postura no campo estratégico, não conformam um dilema excludente. Muito pelo contrário, ambas se necessitam e se complementam. Uma ação bélica ofensiva requer a defensiva e vice-versa. Assim mesmo, as operações são compostas por um conjunto de ações ofensivas e defensivas ordenadas tanto no espaço como no tempo. Geralmente, para distinguir a atitude do dispositivo, faz-se necessário definir a postura em relação ao objetivo estratégico perseguido, ou seja, se pretende-se conquistá-lo ou preservá-lo.

5.2 – CONCEITOS BÁSICOS SOBRE A OFENSIVA E A DEFENSIVA

Antes de iniciar o estudo da ofensiva e da defensiva no mar, convém apresentar certos conceitos, relativos a aspectos essenciais. Seu significado contribui para a melhor compreensão do tema a ser abordado.

Ofensiva Estratégica - Persegue a conquista do território adversário e a permanência no mesmo. O fator geográfico está, sempre, presente.
Ofensiva Tática - Caracteriza-se por, partindo de um ponto, golpear e regressar. O fator geográfico pode estar presente, mas não existe a intenção de permanência no território. Existem ofensivas táticas com efeitos estratégicos.
Defensiva Estratégica - Elude a decisão na espera de circunstâncias favoráveis para passar à ofensiva.
Defensiva Tática - Persegue a defesa de um objetivo específico e não pretende um efeito posterior.

5.3 - OBJETIVOS PARA METERIALIZAR A OFENSIVA E A DEFENSIVA NO MAR

A estratégia naval desenvolve-se em um vasto cenário, único e indivisível. Por conseguinte, as ações ofensivas ou defensivas, ainda que distantes, repercutem em todo o teatro.
Sua meta é o controle do mar e sua conquista é função direta dos três objetivos estratégicos naturais. Os dois primeiros correspondem, principalmente, a navios, ou seja, elementos móveis com capacidade de trânsito nas águas oceânicas. Por sua vez, a posição tem caráter geográfico, estático e permanente. Os três objetivos constituem os ingredientes básicos para a guerra no mar. Por conseguinte, o condutor da estratégia naval os conjuga, por meio do ataque e da defesa, para disputar, conquistar e exercer o domínio do mar. A materialização das ações ofensivas e defensivas a respeito dos navios, são levadas a cabo mediante as operações navais típicas, enquanto a posição consiste executar ou impedir operações de projeção.
O controle do mar não representa um fim em si mesmo, mas um meio destinado ao apoio da “Estratégia Total” ou da do “Campo de Ação Bélico”. Esta circunstância origina as Interferências navais, já descritas. As referidas a objetivos estratégicos situados em terra, de caráter geográfico, ao alcance da capacidade ofensiva e defensiva do poder naval, se solucionam recorrendo às operações de projeção.

“Os azares da guerra naval obrigam, às vezes, a orientar os esforços não para a força móvel do inimigo, mas para certos lugares que pertencem ao adversário, tais como um porto, uma ilha, uma colônia, um território qualquer. Segundo uma expressão consagrada pelo costume, diz-se, então, que se persegue um objetivo geográfico.”

Em conseqüência, os objetivos estratégicos sobre os quais se manifestam a ofensiva e a defensiva no mar são: Força, Comunicações Marítimas, Posição e Território.
Os quatro objetivos, por sua vez, são compostos por múltiplas partes, em particular as comunicações marítimas. Esta particularidade levou Castex a fazer a seguinte reflexão:

“No que concerne à guerra naval, a questão é muito mais complicada por causa da grande diversidade de objetivos que se apresentam nesta guerra, e da considerável variedade de meios que se empregam na mesma e que são completamente distintos um dos outros. Convém, pois, que nos entendamos. Na guerra naval existem diferentes ofensivas, ou melhor dito, há tantas classes de ofensivas quanto o número de combinações existentes entre os objetivos e os meios utilizados para alcançá-los.”

As circunstâncias enumeradas dão extraordinária relevância aos requisitos da ofensiva. No entanto, ao agruparmos os objetivos estratégicos de acordo com seu caráter, torna-se factível simplificarmos o problema.
Os navios, elementos componentes dos dois primeiros objetivos, são atacados apelando-se para as operações navais típicas de caráter ofensivo, as quais podemos comparar às ofensivas táticas.
Os objetivos geográficos são atacados por meio de ofensivas estratégicas e táticas, conforme se deseje permanecer nos mesmos ou não. Essas ofensivas implicam em projeção de poder sobre terra.
A defensiva tática de navios se realiza por meio de coberturas, patrulhas, escoltas e outros métodos similares. A defensiva tática dos objetivos geográficos é realizada pela defesa de litoral. Por fim, a defensiva estratégica, ao eludir a decisão sobre o controle do mar, está enlaçada com o conjunto dos três objetivos estratégicos naturais e, por conseguinte, é de complexa aplicação na estratégia naval.
Outro problema que apresenta graves dificuldades é a definição de uma atitude estratégica no cenário da guerra marítima:

Não é factível nem necessário tentar definir uma atitude estratégica única, básica e geral para as forças navais, pois isto depende das missões, dos objetivos, das forças disponíveis e das zonas de operação e suas características próprias ... Elementos tais como a posição, as comunicações marítimas e as operações de projeção, por originar, salvo contadas exceções, operações de uma duração que pode ser limitada, não permitem assinalar senão atitudes estratégicas parciais, diferentes, simultâneas, segundo sejam as forças participantes e suas áreas de operações.”

5.4 - A OFENSIVA NO MAR

A ofensiva no mar possui quatro objetivos onde centrar o ataque. A cada um deles corresponde uma operação específica. Mas a ofensiva contra um alvo determinado pode envolver a intenção de comprometer um ou mais dos outros objetivos estratégicos. Por exemplo, uma ofensiva estratégica contra a posição geralmente tem incluída, de forma tácita, o propósito de interromper as linhas de comunicação adversárias e proteger as próprias. Além disso, existe a possibilidade que se pretenda atrair a força organizada inimiga para a Batalha.
A Força Organizada – A atitude estratégica ofensiva em relação à força organizada adversária traduz-se em operações de conquista do controle do mar. Seus métodos consistem no Bloqueio e na Batalha. O primeiro é uma solução temporária e o segundo procura ser uma solução definitiva.
As Comunicações Marítimas – A ofensiva é representada pelas operações de exercício do controle do mar, destinadas a destruir as comunicações do antagonista. Por meio do ataque ao tráfego marítimo, tenta-se impedir que o adversário use o mar com fins militares e econômicos. Alguns tratadistas denominam os ataques às comunicações controle negativo do mar.
A Posição – Para melhorar ou conquistar a posição é requerida uma ofensiva estratégica. Para tal objeto, leva-se a cabo uma operação de projeção. No caso de se buscar somente a neutralização da posição inimiga, realizam-se ofensivas táticas materializadas em: incursão anfíbia, bombardeio naval e aeronaval.
O Território – quando se necessita estabelecer uma cabeça de praia orientada para iniciar uma campanha terrestre, é preciso efetuar uma ofensiva estratégica. Esta sé levada a efeito por meio de uma operação de projeção correspondente a uma operação anfíbia. Em caso de se propor a destruição de instalações terrestres, executam-se ofensivas táticas, normalmente, incursão anfíbia, bombardeio naval e aeronaval.

5.5 - A DEFENSIVA NO MAR

Na atitude defensiva, verificam-se, com maior transparência, as substanciais diferenças entre a guerra no mar e em terra.
À força organizada mais débil é impossível, em alto-mar, proteger-se aproveitando-se de acidentes geográficos, que ali não existem. Em conseqüência, deve evitar a decisão em relação ao controle do mar e assim impedir sua destruição. Com isto, impede o inimigo de gozar os benefícios correspondentes mas, com o fim de melhorar o grau de controle ou disputa existente, precisa desgastar a esquadra rival. Não é factível esperar de maneira passiva condições favoráveis. Deve-se criá-las. Por último, o controle do mar, objeto da estratégia naval, não só depende da força, mas também da posição, da capacidade de proteger o próprio tráfego marítimo e de atacar o do inimigo.
A Força Organizada – Ainda quando a esquadra principal elude a Batalha, para que o inimigo não conquiste o controle do mar, está forçada a atacar a força inimiga por meio de operações de disputa do controle do mar. Esta atividade não concerne somente a força organizada, mas a todas unidades navais e aeronavais. Os métodos aplicados consistem nos contra-ataques maiores, contra-ataques menores e esquadra em potência, que serão vistos adiante.
As Comunicações Marítimas – A proteção do próprio tráfego marítimo é concernente às operações defensivas de exercício do controle do mar. Elas pretendem eludir ou destruir as ameaças às comunicações marítimas provenientes da superfície, do ar e submarinas. De novo se apresenta um tipo de paradoxo. A ação negativa, uma defensiva, desemboca no efeito positivo de permitir o trânsito do transporte marítimo econômico e militar para sustentar o esforço de guerra. Em outras palavras, com a defensiva se exerce o controle do mar.
A Posição Estratégica e o Território – Ambas apresentam situações similares para sua defesa. Ambas são protegidas meio da defesa de litoral, que compreende a defesa contra a invasão e a defesa de costa. Uma possui caráter estratégico e a outra tático. Em termos mais claros, a primeira opõe-se a ofensivas estratégicas e a segunda a ofensivas táticas. Pela transcendência e repercussões, a defesa contra a invasão compromete as três forças armadas, enquanto a defesa de costa corresponde a uma defensiva tática e pontual, em sua mais pura expressão.

5.6 - OFENSIVA E DEFENSIVA EM CONJUNTO

Nos parágrafos precedentes, analisaram-se a ofensiva e a defensiva, em separado. Na prática, para a estratégia naval, esta divisão é impossível, por causa da variedade de objetivos suscetíveis de serem atacados ou protegidos de maneira simultânea, ou escalonados no tempo. Além disso, ambas as atitudes estratégicas fundamentais coexistem e se respaldam. Por conseguinte, o Comandante naval, para abordar a condução da guerra, tem como única alternativa a manobra, cuja luz orientadora reside no controle do mar. Suas previsões, neste sentido, tomam a forma de um sistema de operações com uma ordem cronológica bem fundamentada. Integram-se, nos parâmetros a considerar, os três objetivos naturais, mais os gerados pelas interferências, a ofensiva e a defensiva, o tempo e os meios a empregar. Desta maneira, as ofensivas e defensivas se mesclam com fluidez e harmonia em proveito dos objetivos propostos. A harmonia é alcançada pelo adequado planejamento das ações.

“Pode dar-se, assim, o caso de uma força que opere ofensivamente contra as comunicações marítimas vitais adversárias, a qual pode buscar, ademais, criar desse modo uma ameaça para atrair a força inimiga, a fim de destruí-la. Esta concepção ofensiva se apresentaria como defensiva a respeito das próprias comunicações marítimas, se seu propósito básico é proporcionar-lhe proteção indireta.”

O condutor da guerra no mar, ao empreender qualquer operação, necessita precaver-se da possível intervenção da força organizada inimiga. Esta providência permite estabelecer as disposições adequadas, orientadas a destruir o inimigo ou anular sua ação. Geralmente, a história demonstra que as forças navais antagonistas dedicam-se a cumprir as tarefas atribuídas e se o inimigo tenta obstar sua execução, é neutralizado ou destruído.

5.7 - DEFINIÇÃO DA ATITUDE ESTRATÉGICA NO MAR

Os altos níveis de condução da guerra, apesar das dificuldades inerentes, podem achar-se na obrigação de estabelecer a atitude estratégica de um comando naval em um cenário específico e por um período determinado. Tais circunstâncias requerem definir, com absoluta claridade, a postura a ser sustentada frente aos objetivos afetados, ou seja, quais deles se pretende atacar ou defender. Não existem maiores dificuldades para se estabelecer uma atitude estratégica única em relação a força organizada, posição e território. Mas não ocorre o mesmo com as comunicações marítimas, pois quase sempre se realizam, de maneira simultânea, ataques contra o tráfego marítimo adversário e operações defensivas em apoio ao próprio tráfego. Nesta situação, a melhor solução reduz-se a assinalar a prioridade que se dá ao ataque e a defesa. Por último, cabe recordar o seguinte:

“O elemento de maior importância para determinar a atitude estratégica é a Batalha e a resolução de buscar ou eludir a decisão contida na mesma.”

5.8 - COMENTÁRIOS FINAIS

A condução da guerra no mar é um problema de objetivos múltiplos. Se não está clara sua prioridade, o ataque ou a defesa, faz-se impossível a concorrência e a coordenação dos meios para alcançá-los. Por tal razão, os movimentos das forças têm que obedecer à obtenção de uma meta específica e justificada. O Almirante britânico Dudley Pound comentou: “São somente os políticos que imaginam que os navios não ganham seu pão, a não ser que estejam correndo loucamente pelos mares.” Em conseqüência, as ordens dos altos níveis estratégicos em relação ao mar devem especificar com exatidão os objetivos a alcançar em uma ordem cronológica preestabelecida. Em outros termos, é imprescindível uma manobra estratégica para articular, de maneira concorrente e harmônica, os esforços dos órgãos envolvidos. Isto não significa estabelecer um sistema rígido; ao contrário, os comandos subordinados devem gozar de ampla liberdade de ação para desenvolverem iniciativas sustentadas por uma sólida doutrina.

Exemplo: Segunda Guerra Mundial - Teatro do Pacífico.
A avaliação do desenvolvimento da situação em um teatro de natureza marítima como o do Pacífico, serve para apreciar a dificuldade de estabelecer uma atitude estratégica única. Os analistas e historiadores navais discordam em suas opiniões.
O Almirante King admite quatro períodos :
- defensivo (que vai até a batalha de Mar de Coral);
- defensivo-ofensivo, (Mar de Coral e Midway);
- ofensivo-defensivo, (Campanha das Salomão); e
- ofensivo (após a campanha das Salomão).
O Chefe do Estado-Maior Geral da Marinha japonesa, Almirante Nagano, divide-a em dois períodos:
- ofensivo (até a evacuação de Guadalcanal); e
- defensivo (depois da evacuação).




Avatar do usuário
faterra
Sênior
Sênior
Mensagens: 5096
Registrado em: Qui Dez 15, 2005 10:25 pm
Localização: Belo Horizonte - MG
Agradeceu: 89 vezes
Agradeceram: 79 vezes

#42 Mensagem por faterra » Ter Mai 22, 2007 11:09 pm

Maravilha de tópico Marino.
Louvo o despreendimento em ceder seu tempo e nos proporcionar tal aprendizado.
Espero que mais e mais foristas sigam seu exemplo e nos repasse um pouco de seus conhecimentos.
Isto só nos enriquece e engrandece.
[078] [009]




Imagem

Um abraço!
Fernando Augusto Terra
Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#43 Mensagem por Marino » Qua Mai 23, 2007 7:49 am

faterra escreveu:Maravilha de tópico Marino.
Louvo o despreendimento em ceder seu tempo e nos proporcionar tal aprendizado.
Espero que mais e mais foristas sigam seu exemplo e nos repasse um pouco de seus conhecimentos.
Isto só nos enriquece e engrandece.
[078] [009]

Obrigado caro amigo.
Aqui a semente cai em terra fértil, então vale a pena.
Forte abraço




orestespf
Sênior
Sênior
Mensagens: 11430
Registrado em: Ter Out 17, 2006 5:43 pm
Agradeceu: 2 vezes
Agradeceram: 1 vez

#44 Mensagem por orestespf » Qua Mai 23, 2007 9:44 am

É... Meu amigo Marino está conseguindo semear sobre pedras... E está conseguindo fazer germinar suas plantações. Plantou conhecimentos e está colhendo flores!

A humildade em compartilhar conhecimentos torna-se gratificante quando se vê o aumento dos índices de conscientização do coletivo. Achar todo mundo acha, mas induzir a pensar é para poucos. A arte do pensar é difícil é às vezes dolorosa. Por isso alguns preferem opinar sobre o vazio ou sobre opiniões de terceiros, ou seja, opiniões pré-concebidas. O processo de dar as informações básicas e frias, levando o indivíduo a analisar e concluir, tem um nome: Educação de Qualidade.

Abraços mestre Marino,

Orestes




Avatar do usuário
Marino
Sênior
Sênior
Mensagens: 15667
Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
Agradeceu: 134 vezes
Agradeceram: 630 vezes

#45 Mensagem por Marino » Qua Mai 23, 2007 11:13 am

orestespf escreveu:É... Meu amigo Marino está conseguindo semear sobre pedras... E está conseguindo fazer germinar suas plantações. Plantou conhecimentos e está colhendo flores!

A humildade em compartilhar conhecimentos torna-se gratificante quando se vê o aumento dos índices de conscientização do coletivo. Achar todo mundo acha, mas induzir a pensar é para poucos. A arte do pensar é difícil é às vezes dolorosa. Por isso alguns preferem opinar sobre o vazio ou sobre opiniões de terceiros, ou seja, opiniões pré-concebidas. O processo de dar as informações básicas e frias, levando o indivíduo a analisar e concluir, tem um nome: Educação de Qualidade.

Abraços mestre Marino,

Orestes

Caro Professor Doutor
O texto acima, vindo de alguem com sua experiência e capacidade, só aumenta minha responsabilidade.
Espero, com sinceridade, que as sementes estejam germinando. Estou um pouco preocupado com as poucas perguntas. Ou tudo está muito claro, ou não estou conseguindo passar o importante.
Obrigado mais uma vez.
Marino




Responder