Estivemos falando sobre conquista do controle do mar, disputa do controle do mar e exercício do controle do mar (espero que o entendimento tenha sido fácil).
Esta foi uma metodologia utilizada por Corbett, para mim o mais importante escritor clássico britânico de Estratégia Naval.
Para completar seu raciocínio, o mesmo esqueceu as Operações de Projeção (Anfíbias).
Antes de lermos sobre cada um destes tópicos, vou postear alguns tópicos introdutórios:
AS OPERAÇÕES NAVAIS
4.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O propósito da guerra naval é obter controle do mar, a fim de empregá-lo em benefício próprio e negar seu uso pelo inimigo. Mas o controle do mar é dual, compartido, relativo e um meio para um fim. Por tal razão, a estratégica naval utiliza o poder naval para disputar, conquistar, exercer e explorar o controle do mar, incluindo a projeção, com o desígnio de satisfazer as necessidades da guerra. O instrumento que se opõe à consecução das citadas metas é o poder naval do adversário e seu principal elemento estratégico é sua Força Organizada. A história demonstra que, em várias oportunidades, foi necessário neutralizar ou destruir a citada força, para colher os benefícios oferecidos pelo mar.
A existência de três objetivos estratégicos relacionados, de maneira direta, com o controle do mar, mais outros derivados das interferências, demanda uma sistematização racional das operações e o estabelecimento de uma prioridade para sua realização. O primeiro requisito se satisfaz por meio do agrupamento das operações navais típicas em disputa, conquista e exercício do controle do mar, a elas se somando as operações de projeção. Para tanto, sua seqüência de execução se define através de uma ordem cronológica das operações e se materializa por meio de uma manobra estratégica.
4.2 - COMPARAÇÃO COM A GUERRA TERRESTRE
A guerra terrestre, usualmente, busca a destruição do inimigo na Batalha ou em Batalhas. Ao examinarmos em profundidade a guerra terrestre, os objetivos estratégicos de qualquer natureza são, geralmente, alcançados com a prévia derrota da força adversária. Em resumo, normalmente, o objetivo estratégico terrestre se reduz a um: a força adversária. O grande problema é COMO destruí-la. A maioria, por não dizer a totalidade dos escritores militares, concordam com esta asseveração. Alguns possuem diferenças relativas aos métodos para conduzir a Batalha, mas não na necessidade de realizá-la.
Afirma Clausewitz:
“Como regra geral, segue sendo uma verdade suprema a que as grandes Batalhas são conduzidas somente com vistas à destruição da força inimiga e que esta destruição somente pode ser obtida por meio de uma grande Batalha ... A grande Batalha deve ser considerada, em conseqüência, como a guerra concentrada, o centro de gravidade de toda a guerra ou da campanha.”
Ainda: “Não somente o conceito da guerra, mas também a experiência, nos levam a buscar a grande decisão unicamente em uma grande Batalha. Desde tempos imemoriais, somente grandes Batalhas têm conduzido a grandes vitórias ... Não somente os generais valentes, audazes e ousados são os que têm buscado completar sua tarefa correndo o risco de Batalhas decisivas, senão também todos os generais afortunados; e podemos descansar satisfeitos com a resposta que têm dado a esta vasta questão.37”
O Marechal Foch acrescenta:
“A guerra moderna para chegar a seus fins, impor a própria vontade ao inimigo, não reconhece mais que um meio: a destruição das forças organizadas do oponente. Esta destruição a empreende e a prepara a Batalha, que persegue a ruína do adversário, desorganiza o comando, a disciplina, as coesões táticas, as tropas como forças. A Batalha, único argumento da guerra, é o único objetivo que deve dar-se portanto às operações estratégicas.”
O condutor da guerra no mar, em vez de um objetivo, claro e definido, possui três de caráter natural, força organizada, posição estratégica e comunicações marítimas, mais os derivados das interferências. Em conseqüência, sua primeira obrigação consiste na definição do primeiro objetivo e logo estabelecer a ordem cronológica para atingir os outros. Mas sempre deve ter presente que sua responsabilidade básica é o controle do mar, para servir aos fins da guerra.
Na guerra terrestre, qualquer que seja o caráter do objetivo a ser obtido, sempre o meio de obtenção será a Batalha. Seu único objetivo reside no exército inimigo. Para um general com os meios adequados, o grande problema a resolver consiste em COMO, pode optar pelo QUANDO e não tem dúvidas sobre o QUÊ ou o ONDE. Isto marca uma grande diferença com a guerra marítima. O Almirante, de acordo com os meios disponíveis, encontra-se obrigado a definir o QUE, QUANDO, COMO e ONDE.
4.3 - A TEORIA DO PRIMEIRO OBJETIVO
Um dos méritos de Mahan foi destacar, com clareza, o papel desempenhado pela Força Organizada na guerra no mar, a que qualificou de “chave” para a estratégia naval. Com a Força Organizada, obter-se-ia o domínio do mar, permitindo, então, atacar as comunicações marítimas, conquistar a posição estratégica e invadir o território do adversário. Além disso, poder-se-ia proteger os mesmos objetivos da ação inimiga.
A maioria os escritores especializados da época concordou com os postulados de Mahan. Uma publicação britânica de 1901 especificou: “O objetivo principal da guerra naval é a destruição da esquadra oponente: todas as outras operações são de importância secundária. Até que a esquadra inimiga tenha sido afastada, as outras operações não podem ser empreendidas com segurança.”
O Almirante britânico Colomb, contemporâneo de Mahan, sustentou a mesma opinião, de forma ainda mais radical:
“O fim da guerra naval é obter o controle do mar ou o domínio do mar. Uma potência que se esforçasse por alcançar um fim distinto, como por exemplo o ataque aos portos, ou territórios, ou a proteção exclusiva do comércio, aceitaria a situação de uma potência naval inferior e vencida, e nunca poderia pretender causar sérios prejuízos a seu adversário enquanto mantivesse essa atitude ... É inútil tratar de obter o domínio do mar por outros meios que não seja a Batalha e esta empresa é tão grave, que nenhum outro objetivo pode comparar-se com ela.”
Em decorrência, levou-se a extremo a necessidade de destruir ou neutralizar a esquadra inimiga, o que se tornou, para muitos estudiosos da guerra naval, um dogma. Nenhuma operação podia ser realizada sem, antes, ter sido executada a citada tarefa: a força oponente era o primeiro objetivo. Assim, gerou-se a chamada “Teoria do primeiro Objetivo”. Stephen Roskill incorporou-se àqueles que a sustentavam na “Escola da Batalha Decisiva”.
Afirmou o Almirante Castex, que descreve com acerto a referida teoria:
“A Força Organizada móvel do inimigo, ou seja, a sua força militar flutuante, ocupará o primeiro plano de nosso pensamento. A ela referiremos todas as nossa ações, porque sua supressão resolve todos os problemas ... É evidente que o melhor procedimento ... consiste em destruí-la, o que se fará por meio do combate. Se o inimigo se elude do mesmo, encerrando-se em suas bases, será bloqueado nas mesmas ... A ação de deixar fora de combate a força organizada é, pois, o primeiro objetivo. Deduz-se do anterior, como corolário obrigatório, que se deve buscar o combate. Essa busca efetuar-se-á incansavelmente, da maneira mais ativa. Adotará a forma de movimentos, de perseguição, da caça a esse inimigo que queremos eliminar.”
Dessa teoria advêm várias conseqüências, das quais serão discutidas as mais importantes.
Em primeiro lugar, influi na distribuição dos meios. A existência de um objetivo exclusivo (a esquadra inimiga), obriga a que se concentre na própria Força Organizada todas as unidades navais disponíveis. Não proceder desta forma violaria o princípio de economia de forças. Por conseguinte, não seria admissível dispersar forças destinadas a realizar tarefas relativas à defesa ou ao ataque das comunicações marítimas, posição estratégica, ou ao litoral. O primeiro objetivo, por sua natureza, absorve em sua totalidade os esforços da esquadra.
Como a esquadra inimiga constitui o objetivo principal, os demais se tornam objetivos secundários. Uma vez alcançado o primeiro objetivo, há, então, condições de dividir as forças com o propósito de perseguir os outros. Esta circunstância deu origem ao que se denominou “Ordem Cronológica das Operações”.
4.4 - A ORDEM CRONOLÓGICA TEÓRICA DAS OPERAÇÕES
De acordo com a teoria, o Primeiro Objetivo estava em íntima relação com a Ordem Cronológica Teórica das Operações. O primeiro gerava o segundo. Conforme o estabelecido anteriormente, sem o domínio do mar, não se podia atacar ou defender as comunicações marítimas, a posição ou o litoral. A Força Organizada adversária corresponde ao maior obstáculo para conquistar e exercer esse controle e, por sua vez, representa a ameaça mais severa para nossa esquadra. Essas razões fundamentam a escolha da esquadra adversária como o primeiro objetivo, estabelecendo a seguinte situação:
“Abandonaremos transitoriamente toda outra preocupação, até que tenhamos logrado esta destruição tão importante, da força organizada do inimigo ... Não entorpeceremos nossa ação, sobretudo com a defesa de nossas costas e comunicações ... o que nos levaria a dispersar nossas forças e nos exporia a uma diversão de nossos esforços. Do mesmo modo vamos nos abster de empreender operações contra suas costas ou comércio ... Prescindiremos, de todas as maneiras possíveis, das exigências estranhas à estratégia propriamente dita, que os acontecimentos tendam a nos impor ... Os fatores políticos, econômicos, militares, terrestres, morais, etc., devem ser relegados a segundo plano.”
Com estas medidas, pretendia-se não entravar a liberdade de ação e tomar a ofensiva contra a esquadra inimiga da maneira mais enérgica.. Concentrar-se-iam todos os meios para o ataque sustentado até se conseguir o aniquilamento da força organizada contrária. Logo, somente depois de se conseguir o primeiro objetivo, se perseguiria a obtenção das metas postergadas. Isto é o que se entende por Ordem Cronológica Teórica das Operações. Esta forma de condução das operações, tão rígida e excludente, presta-se para provocar graves erros.
Exemplo: Guerra Hispano-Americana
Um dos exemplos mais esclarecedores sobre os nocivos efeitos da Teoria do Primeiro Objetivo e sua conseqüente Ordem Cronológica Teórica das Operações foi dado pela atitude da esquadra norte-americana frente a esquadra do Almirante espanhol Cervera. A força espanhola era inferior à do Almirante americano Sampson. Referindo-se aos norte-americanos Corbett comentou:
“Tinham a intenção de se estabelecer o quanto antes na parte ocidental de Cuba, para apoiar os insurgentes coloniais ... a configuração da área marítima que devia atravessar o exército americano era tal que, com uma atitude estritamente defensiva, ou de cobertura, efetuada pela esquadra, esses riscos podiam ser praticamente anulados. Apesar disto, os americanos estavam tão erroneamente dominados pelas máximas que recentemente haviam sido redescobertas que, quando na véspera de executar a manobra vital, se inteiraram de que uma esquadra espanhola cruzava o Atlântico, deslocaram de sua posição defensiva a força de cobertura, enviando-a numa busca à frota inimiga para destruí-la.”
A decisão esteve a ponto de abortar a insurreição, ao não contar com o reforço do exército esperado, ante a dura repressão espanhola. Corbett acrescentou:
“Ao final, somente o acaso lhes permitiu remediar o erro que haviam cometido. Se a esquadra espanhola houvesse entrado num dos portos cubanos que dispunham de comunicação ferroviária com o exército realista principal, tal como Cienfuegos ou Havana, em vez de apressar-se a entrar em Santiago, a campanha teria sido perdida, totalmente.”
4.5 - DISCREPÂNCIAS DA TEORIA COM A PRÁTICA
Em estratégia naval não cabem rigores ou determinismos, em particular no que diz respeito aos objetivos. Trava-se e coarcta sua ação ao se fixar, de modo dogmático, uma ordem cronológica das operações, fixa e inalterável. No mar, ao contrário de terra, existem vários objetivos estratégicos simultâneos. São três os relacionados de forma direta com o controle do mar: a posição, as comunicações marítimas e a força. Os três, para serem distinguidos, são denominados objetivos estratégicos naturais. O primeiro tem caráter geográfico, o segundo econômico-militar e o último bélico. Além destes, existem os objetivos originados pelas interferências. Sua natureza varia entre político, bélico, econômico, geográfico e moral. Em certas ocasiões, dois ou três dos objetivos estratégicos acham-se tão ligados entre si, que basta obter um para alcançar os restantes. No entanto, na maior parte das vezes, seu enlace é muito fraco, exigindo um escalonamento no tempo e espaço para sua obtenção.
Nesta complicada situação, o condutor da guerra no mar precisa analisar cada um dos objetivos estratégicos naturais e assim apreciar sua influência no controle do mar. Além disso, necessita avaliar outras necessidades da guerra, com o fim de estabelecer, as Interferências. Em certas ocasiões, ainda quando as mesmas desviam a estratégia naval de seu curso natural, são revestidas de tal premência, que devem receber prioridade. Com estes elementos de juízo, o Comandante tem condições de fixar a Ordem Cronológica das Operações, a ser executada para seu caso específico e único. Geralmente, a Ordem traduz-se em um conjunto de operações a serem levadas a cabo mediante uma Manobra Estratégica.
Serão analisados, em separado, cada um dos objetivos estratégicos naturais a considerar na guerra marítima.
A posição estratégica
O fator geográfico desempenha um extraordinário papel no controle do mar, em especial sobre as comunicações marítimas. Existem países com uma posição estratégica privilegiada, cujo posicionamento lhes faculta proteger seu tráfego militar e econômico, e, por sua vez, interromper o do inimigo. Sua força desdobrada na posição cumpre, assim, uma das tarefas mais importantes do poder naval. Na ausência de outros motivos mais relevantes, somente se preocupa das posições que detém. Ao contrário, existem nações com posições tão deficientes que, a partir delas, sua esquadra não tem capacidade de disputar, conquistar, ou exercer o controle do mar em áreas decisivas; tampouco de exercer o domínio sobre suas comunicações marítimas vitais. Para evitar o colapso econômico, impedir o tráfego adversário, ou alcançar qualquer outro objetivo estratégico através do mar, necessita, como requisito prévio, melhorar ou conquistar posições estratégicas.
Exemplo: Primeira Guerra Mundial
A Alemanha não percebeu a dualidade do poder naval, força e posição, despreocupando-se desta última. Sua poderosa Esquadra de Alto Mar não desempenhou um papel muito efetivo no conflito. No entanto, sua frente interna desabou, devido à fome causada pelo bloqueio econômico imposto pela Grã-Bretanha desde Scapa Flow.
As comunicações marítimas
Em inúmeras oportunidades, as comunicações marítimas revestiram-se de importância primordial ante os demais objetivos e nada foi mais relevante para o poder naval que assegurar seu trânsito, comprometendo nesta tarefa até a Força Organizada. Estas circunstâncias antecederam, geralmente, o início das hostilidades. Os exércitos encontravam-se em fase de concentração ou desdobramento. Nestes momentos, as comunicações marítimas militares polarizaram as operações navais de um ou ambos beligerantes. Em outras eventualidades, as comunicações marítimas que mantinham as forças tornaram-se críticas, e os afetados fizeram centro de gravidade nas mesmas, arriscando na ação sua esquadra ou parte da mesma. Por último, as comunicações marítimas econômicas constituíram o objetivo principal da guerra no mar. Esta situação provocou a divisão e debilitamento da esquadra do partido afetado, prejudicando sua superioridade e, desta forma, sua capacidade para travar a Batalha.
Exemplo: Primeira Guerra Mundial.
Os planos de guerra dos aliados previam a intervenção, na França, de quatro divisões de infantaria e uma de cavalaria do Reino Unido. Entre 7 e 17 de agosto de 1914, a Força Expedicionária britânica cruzou o Canal da Mancha. “O Almirantado inglês estimou que a missão principal da esquadra era apoiar e assegurar o transporte do corpo expedicionário inglês ao continente, subordinando, a princípio, a essa tarefa primordial todas as demais.”
A Força Organizada
A Batalha Naval, o choque entre Forças Organizadas, consiste em um ato tático de consentimento mútuo, em razão do cenário e dos meios. A vastidão dos oceanos, o nulo valor dos espaços marítimos, a mobilidade da força para transitar nos mares em qualquer direção, a incapacidade dos navios de ultrapassar a linha de costa e a reação da terra contra o mar concorrem para dar ao encontro naval a característica mencionada.
Em terra, ao contrário, o exército mais fraco para eludir a Batalha fica obrigado a entregar terreno, de grande valor intrínseco, e tempo. Ambos correspondem a fatores finitos e, portanto, se esgotam. Quando atacado, o exército inferior fica, praticamente, obrigado a combater.
“O objeto primordial de nossa frota de batalha é buscar a do inimigo. A primeira vista, nada pode ser mais racional ... O valor prático da máxima militar baseia-se no fato de que na guerra terrestre sempre é possível, teoricamente, atacar o exército inimigo, caso se disponha da força e do espírito para vencer os obstáculos e afrontar os riscos. No mar, ao contrário, não sucede a mesma coisa. Na guerra naval, ocorre um fato de grandes conseqüências, que é completamente desconhecido em terra. Trata-se, simplesmente, do seguinte: o inimigo pode retirar completamente sua esquadra do campo de operações. Poderá retirá-la para um porto defendido, onde permanecerá eternamente fora de nosso alcance ... Por maior que seja a força naval e o espírito ofensivo, não servirão neste caso. O resultado é que, na guerra naval, tende a apresentar-se um dilema complicado. Se dispomos de uma superioridade tal que justifique uma vigorosa ofensiva e que nos incite a buscar o inimigo com a intenção de obter uma decisão, o mais provável é que o encontremos numa posição onde não possamos atacá-lo.”
Mas quem elude a Batalha, refugiando-se em suas bases, entrega o mar a seu inimigo, com todas as conseqüências negativas previsíveis.
Exemplo: Guerra russo-japonesa.
Desde o início da guerra, a esquadra russa recusou a Batalha, abrigando-se em Porto Artur. A base russa terminou cercada por forças terrestres. A artilharia de campanha japonesa posicionou-se para atingí-la , em 7 de agosto de 1904. A Esquadra do Pacífico, composta por 18 unidades escapou rumo à Vladivostok, em 10 de agosto. Nesse mesmo dia deu-se a Batalha do Mar Amarelo. O grosso da força russa retornou a sua base e dos navios que se evadiram, nenhum chegou a seu destino, pois oito navios foram internados em portos neutros e os demais foram destruídos. “depois de seu regresso à Porto Artur, a reduzida Esquadra do Pacífico cessou de existir, mesmo como esquadra em potência. Suas baterias secundárias e grande parte das tripulações foram incorporadas às defesas de terra.”
4.6 - CONDUÇÃO PRÁTICA DAS OPERAÇÕES
Para abordar o problema relativo a uma Ordem Cronológica Prática das Operações, é necessário ter presente alguns elementos de juízo básicos. O fim da estratégia naval está no controle do mar. Sua conquista passa pela destruição ou neutralização da esquadra inimiga e seu exercício está em relação direta com o grau de controle detido. O domínio do mar depende, de uma forma ou de outra, dos três objetivos estratégicos naturais: as comunicações marítimas, a posição estratégica e a força. Esta última constitui o elemento mais significativo. Sua presença, de nossa força ou da inimiga, gera ou reduz a liberdade de ação no cumprimento das tarefas. A Força Organizada inimiga é a maior ameaça a comunicações, posição e litoral próprios e consiste no maior obstáculo ao ataque aos mesmos objetivos do adversário.
A análise da influência dos três objetivos estratégicos naturais define a prioridade e a seqüência de obtenção. Em certas eventualidades urge dar Batalha ou neutralizar a esquadra inimiga. Em outros casos, convém dar preferência à conquista ou melhora da posição estratégica. E há casos em que é mais importante garantir a realização ou interrupção do transporte marítimo. Logo, é necessário revisar as interferências.
Terminado este detalhado estudo, há condições de se estabelecer, com fundamentos, a Ordem Cronológica Prática das Operações. A primeira conseqüência disso representa a distribuição dos meios navais existentes, de forma a alcançar os objetivos estratégicos estabelecidos. Além disso, talvez o mais importante, a dita distribuição, ou ordem, desemboca em um modelo, ou sistema de operações, entrelaçado e harmônico dos elementos de manobra. Sua execução representa uma manobra estratégica em nível decisório elevado.
Nesta solução de compromisso é prudente observar que:
“Se antes de pôr fora de combate a Força Organizada do inimigo, circunstâncias graves e ameaçadoras obrigam a empreender operações de ataque ou defesa das costas, das comunicações, de transportes de tropas, etc., estas se efetuarão sem o descuido da força organizada, sem deixá-la de tê-la presente, prontos para encontrá-la e dispondo os meios de modo que possamos ser informados a tempo e possamos atacá-la nas condições mais vantajosas possíveis. Será garantida, em uma palavra, a segurança contra essa força, sem perder de vista que ela continua sendo, apesar de tudo, o fator preponderante e que acima do objeto momentâneo e circunstancial ao qual nos sacrificamos por exigências momentâneas, está o objetivo permanente e decisivo, a destruição dessa força.”
Em outros termos, se a esquadra inimiga interfere na missão, deve ser afastada ou neutralizada ou destruída mediante a Batalha.
4.7 - OPERAÇÕES NAVAIS TÍPICAS
A guerra no mar compreende duas grandes categorias de objetivos: os localizados no mar ou no espaço aéreo sobrejacente e os localizados em terra, ambos ligados pelo conceito de controle do mar. Os primeiros consistem nas unidades navais e aéreas integrantes da força organizada, navios de transporte e os navios e aeronaves destinados a sua proteção. Os segundos se referem aos objetivos geográficos ou terrestres.
O estrategista naval inglês Corbett ordenou e agrupou as operações relacionadas com os objetivos na superfície. Com isto, conseguiu sistematizar dita área da guerra no mar com extraordinária lógica. Para completar seu esquema, é indispensável agregar as operações de projeção atinentes aos objetivos geográficos.
As denominadas “Operações Navais Típicas” são, segundo Corbett, as seguintes:
- Operações para conquista do controle do mar;
- Operações para disputa do controle do mar; e
- Operações para exercício do controle do mar.
Para completar o quadro devem ser somadas as:
- Operações de projeção.
De maneira simplificada, a conquista e a disputa do controle do mar têm como propósito respectivos alcançar ou melhorar o domínio do mar, e seus objetivos são materializados as unidades da força organizada inimiga. As operações de exercício de controle do mar têm como efeito desejado a realização do tráfego marítimo, sua defesa e interrupção. Os objetivos estão representados basicamente pelos navios de transporte. Nas operações de conquista somente intervém as forças organizadas dos beligerantes. Na disputa participam as forças organizadas e as outras unidades do poder naval dos adversários. Nas de exercício do controle, concorrem as forças organizadas, os navios de transporte, e os escoltas, em resumo, quase todo o poder naval dos antagonistas. As operações de projeção têm diversos propósitos e objetivos, mas sua maior manifestação consiste na invasão do território inimigo, e compromete não somente o poder naval, mas todos os ramos da defesa. Estas “Operações Navais” serão estudadas nos próximos tópicos.