Vou tentar, com cuidado, escrever sobre Estratégia Naval e buscar, se conseguir, tirar as dúvidas que aparecerem.
Para iniciar, alguem pode dizer o que fazer se começar uma guerra no mar?
Destruir a Esquadra inimiga? Com qual objetivo? E depois?
Somente a Esquadra?
Vamos começar por este tópico.
ELEMENTOS BÁSICOS DA ESTRATÉGIA NAVAL
São quatro os elementos básicos da Estratégia Naval:
- A Força Organizada;
- A Posição Estratégica;
- As Comunicações Marítimas; e
- As “Interferências”.
Os três primeiros são, também, objetivos naturais da estratégia naval e quem a concebe e aplica é obrigado a conjugá-los, com o propósito, entre outros, de alcançar o controle do mar. Qualquer outro objetivo consiste em uma interferência imposta a seu condutor.
Vamos discutir primeiro a Força Organizada, passando depois para os outros tópicos.
2.1 - A FORÇA ORGANIZADA
2.1.1 - Considerações gerais
O emprego da força corresponde ao campo operacional.
No âmbito estratégico, a força corresponde a chamada “Força Organizada”, que recebe este nome por estar organizada para enfrentar a força correspondente do inimigo.
Para os antigos estrategistas, a Força Organizada era integrada pelos navios capitais, que formavam a linha de batalha, por ocasião dos combates. Como exemplo de navios capitais, podem ser citados os encouraçados. Outros meios, não integrantes da Força Organizada, contribuíam para seu êxito, incluídos dentro da manobra ou produzindo a diversão de meios adversários. Estas últimas ações somente eram efetivas quando desviavam maiores forças que as empregadas na diversão.
Se o combate acarretar perdas e avarias de tal monta que incapacitem quem as sofreu para qualquer ação posterior significativa, é denominado de batalha decisiva.
2.1.2 – Validade do conceito de Força Organizada
O conceito de Força Organizada ainda é válido, apesar da incorporação de novas armas e unidades ao Poder Naval. As inovações, apenas, influem e alteram os procedimentos estratégicos adotados para seu emprego.
Até a Segunda Guerra Mundial o canhão era a arma principal e decisiva, e a linha de batalha (formatura em coluna) se constituía na formação mais eficaz para o combate, pela sinergia de concentrar o poder de fogo sobre o inimigo. O aparecimento do navio-aeródromo transformou os combates navais em aeronavais. Como conseqüência, modificaram-se as formaturas e dispositivos para a batalha, a fim de facilitar ou contrapor a ação das aeronaves, cujas bombas e torpedos passaram a ser o armamento principal para o engajamento.
Depois daquela guerra, surgiram as armas nucleares e os mísseis. Outra vez se desenvolveram novos procedimentos e dispositivos, orientados para atacar ou defender as unidades com os ditos engenhos, ou executar outras tarefas. Todavia, controlar o mar continua a ser uma das tarefas da Força Organizada. Entretanto, as dimensões da área controlada ficaram condicionadas pelas especificidades do teatro de operações e pela capacidade combatente das forças em oposição.
A tarefa da Marinha norte-americana de “Controle do Mar” e da então Marinha soviética de “Armada contra Armada”, parecem confirmar a assertiva anterior.
“A Batalha, cujo fim é eminentemente estratégico, em sua materialização é essencialmente tática. Este fato determina que a forma em que se desenvolve é extraordinariamente variável de acordo com as novas tecnologias introduzidas nas unidades navais e em seu armamento, controle e características gerais, o que tende a confundir as formas com o fim”.
As Forças Organizadas, hoje integradas por unidades de superfície, submarinas e aéreas, podem variar os procedimentos para o combate, mas perdura através dos tempos a necessidade de controlar o mar, para usá-lo em proveito próprio e negar seu uso ao inimigo.
Um exemplo de Força Organizada são as forças norte-americanas nucleadas em navios-aeródromos (“carrier battle group”)
2.1.3 – Características intrínsecas das forças navais
Forças navais possuem características próprias, que as tornam o instrumento preferencial de emprego de força em apoio à política externa, na paz, em crise ou na guerra.
“Sua importância desde a paz é facilmente apreciável e o respaldo à política exterior do Estado é exercido permanentemente por sua existência, por sua presença em áreas de interesse, o que resulta exeqüível unicamente para o poder naval, em conseqüência de seus atributos”
As características desembocam em um simbolismo político-estratégico e concedem aos dirigentes políticos a capacidade de graduação de poder de extraordinário valor. A presença de uma força naval, carregada de simbolismo, demonstra a disposição do governo de proteger os interesses nacionais afetados e influir nos acontecimentos como protagonista e não como espectador. O estado tem a faculdade de graduar a violência a ser utilizada para dissuadir um adversário ou levá-lo à mesa de negociações. Hoje, mais do que nunca, é válida a frase do Almirante Wegener: “A Marinha e o Ministério de Relações Exteriores se convertem em verdadeiros irmãos gêmeos para a causa da estratégia”.
Depois de tentar sanar qualquer dúvida, como escrevi em vermelho no texto, seguimos adiante.