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Mensagem
por cabeça de martelo » Ter Mar 27, 2007 11:25 am
Lancia Oppidana
Vale da Senhora da Póvoa (Vale de Lobo)
Serra d’Opa, Os Celtas na Serra d’Opa
Depois de termos procurado algum conhecimento sobre os Celtas, resta-nos agora fazer uma análise, ainda que sintetizada, deste povo que habitou toda a Europa.
Ficámos a saber que vieram do norte e ocuparam praticamente toda a Europa, tendo relevância na Irlanda, na Inglaterra, em França, na Alemanha, na Península Ibérica, etc. Os seus testemunhos encontram-se mais difusamente salvaguardados na Irlanda e na Inglaterra, mas aqui, na Península Ibérica, ainda podemos encontrar muitos vestígios, embora a maioria deles tenham sido apagados pelos povos que a seguir aqui chegaram.
De que há notícia, o primeiro povo aqui existente, foram os Íberos. Alguns autores dizem mesmo que Íberos e Hebreus eram o mesmo povo, mas ainda não chegaram a provas concretas. Segundo Atienza, investigador espanhol, os Íberos foram os sobreviventes da Atlântida quando esta desapareceu com o dilúvio universal.
Quando os Celtas chegaram à Península Ibérica, juntaram-se aos Iberos tendo formando um povo que passou a denominar-se de Celtiberos. De notar que os Celtas e os Íberos seriam da mesma raça, daí que não se tivessem guerreado, preferindo fundir-se num só povo. Os hábitos religiosos eram idênticos, embora os Íberos preferissem sepultar os seus mortos, os Celtas cremavam-nos. Ora se os Celtas ao expandirem-se passaram pela Índia, estes costumes funerários ainda hoje lá prevalecem. No entanto, aqui na Península Ibérica, coexistiram estes dois costumes, pois existem ainda muitos dólmenes, conhecidos em Portugal por nomes como ANTAS, ARCAS, ORCAS, MAMOAS, MAMOELAS, FURNAS, MOURAS, etc., tudo monumentos funerários, segundo a Arqueologia, embora a palavra dolmen signifique MESA DE PEDRA.
Os Celtas eram grandes conhecedores da Natureza, a sua vida era totalmente feita ao ar livre, praticando a agricultura e a pastorícia. As casas eram normalmente redondas, com uma só entrada, com telhados de colmo, à semelhança das cubatas dos indígenas africanos. Eram normalmente de pedra mas, nos locais onde esta não abundava, faziam-se também de outros materiais, tais como madeira, caliça, terra, etc.
Normalmente as cidades eram pequenas porque viviam em tribos. Mas chegaram a ter grandes cidades fortificadas a que deram o nome de LUGDUNUM.
No Santuário da Senhora da Póvoa existiu uma cidade fortificada que actualmente se encontra soterrada. Daí chamar-se Póvoa àquela área por ali ter existido um aglomerado populacional, cujo tamanho só poderá ser conhecido se um dia forem feitas escavações arqueológicas no local, e voltar a trazer à luz do dia os restos da cidade que ali se encontra.
Um engano em que muita gente incorre, é o de dizerem que os Celtas viviam nos topos das montanhas, por os castros que chegaram aos nossos dias estarem situados nesses locais. Estes castros encontram-se naqueles lugares porque, quando deixaram de ser necessários à defesa das populações, estas regressaram aos vales, onde podiam praticar a agricultura. Só se refugiaram no alto das montanhas quando tiveram períodos de guerra, essencialmente com os Romanos, que os obrigaram a refugiar-se em locais inóspitos. Estes castros não desapareceram porque nunca mais para lá voltaram, e não são propícios à agricultura.
Na área de Vale da Senhora da Póvoa podemos ainda hoje encontrar alguns vestígios dos Celtas, através dos castros aqui existentes, embora alguns já não existam hoje porque foram deliberadamente destruídos, caso do castro do Peão, da Cerca, dos Enferrujados e Vendas dos Vinhos, e da Senhora da Póvoa. No entanto, ainda está bem à vista o castro actualmente designado por Sortelha Velha.
No entanto, a maior quantidade arqueológica que aqui se pode encontrar é romana e visigótica. Foram encontradas moedas cunhadas, romanas e algumas visigóticas que, segundo me foi informado, tinham cunhadas a esfinge do Rei visigótico VITIZA, que reinou desde 700 a 710.
Aos Celtas foram atribuídos outros nomes pelos Romanos, quando dividiram a Península Ibérica em províncias. Aos Celtas que viviam no actual Portugal, na maior parte desta superfície, chamaram-lhes Lusitanos, porque eram adoradores do deus LUG, que significa LUZ, BRILHANTE. Chamaram a esta parte da Península LUSITÂNIA = TERRA DA LUZ. Os Romanos traduziram Lug para a sua língua (latim), dando origem a LUX. Então passou a ser denominada por Luxitania e os seus habitantes por luxitanos. Já este território era português, e chamava-se ainda Luzitânia e Luzitanos os seus habitantes. Os filólogos resolveram passar a escrever Lusitânia e Lusitanos, o que embaraça um pouco a compreensão das palavras por estas perderem a sua raiz etimológica.
Quando falamos dos Lusitanos, vemos que era um povo que continuava a viver em tribos, continuando a manter as mesmas tradições celtas, até à chegada dos Cartagineses, oriundos da cidade de Cartago, no norte de África, e que se encontravam em guerra com os Romanos. Os Cartagineses resolveram entrar na Europa através da Península Ibérica, para avançar sobre Roma, comandados pelo famoso general Aníbal. Este recrutou, aqui na Lusitânia, uma boa parte do seu exército, com o qual fez tremer Roma.
Os Celtas eram guerreiros bastante aguerridos, mas também, bastante indisciplinados. A Península Ibérica acaba por ser invadida pelos Romanos devido ao facto dos Cartagineses aqui fazerem os seus recrutamentos militares.
Mas, não pensemos que foi apenas por isto que os Romanos invadiram este território. Os Romanos queriam conquistar toda a Europa, a fim de obter as riquezas naturais do território e, também, para alimentar as ambições dos generais Romanos que, assim, obtinham poder sobre Roma através dos seus exércitos, aumentando as suas fortunas pessoais com os saques que realizavam nas campanhas. De notar que Júlio César, bastante ambicioso, fez a sua campanha na Hispânia, a fim de poder pagar as suas dívidas em Roma.
Os Celtas, adoradores do deus LUG = LUZ, representavam este por três formas: LOBO, CORVO e GANSO.
Foi esta forma de LOBO que veio a dar origem a Vale de Lobo, actual Vale da Senhora da Póvoa. Repare-se que Lisboa tem como símbolo o CORVO.
O GANSO, a ave, tem a ver com o feminino de LUG – LUSINE ou MELUSINE, a actual Nossa Senhora da LUZ, a Virgem sem o menino ao colo. Todas as Igrejas ou Capelas relacionadas com a Senhora da LUZ = LUSINE = ISIS, estão viradas para nascente, lugar onde nasce a luz, o Sol.
Como se pode concluir, a religião céltica era animista, portanto baseada na natureza. Os Druidas, que eram os seus sacerdotes = sábios, tinham um profundo conhecimento da Natureza, ou seja, da Terra e do Céu. Eram óptimos astrónomos, astrólogos e curadores, o que hoje chamamos de médicos. Tinham um profundo conhecimento das plantas, e até hoje em dia, cada vez mais as medicinas se estão voltando para o seu legado.
Os próprios Gregos, base actual da cultura ocidental, diziam que os Druidas eram os homens mais sábios do mundo.
Os Celtas deixaram-nos monumentos que hoje são um verdadeiro quebra-cabeças para os arqueólogos, historiadores e antropólogos.
Os Celtas, como já disse, viviam em tribos, guerreando-se entre si, tendo apenas encontrado uma unidade racial quando se tratou de combater os Romanos invasores. Aí apareceu Viriato que conseguiu unir as tribos, única forma de combater um exército poderoso como era o romano, de tal forma que, depois de oito anos de luta, os romanos tiveram de corromper os emissários de Viriato para que o matassem traiçoeiramente, tal era a qualidade de chefia deste homem. Após a morte deste, os Lusitanos ficaram sem um chefe à altura e sucumbiram facilmente às mãos dos invasores.
Viriato viria a ficar famoso e os historiadores romanos dele falaram com respeito, vendo nele um valoroso guerreiro, um homem justo e um grande estratega de guerra. Os seus estratagemas chegaram a ser estudados pelos militares romanos no tocante à verdadeira guerra de guerrilha, tão utilizada nos nossos dias, em todo o mundo.
Segundo nos conta Estrabão, os Celtas não bebiam vinho, mas sim cerveja. Por isso vemos que os povos nórdicos, ainda hoje, bebem muita cerveja, não sendo apreciadores de vinho. O vinho expandiu-se mais em todos os países que foram aculturados pelos romanos. Cultivavam trigo em pouca quantidade porque faziam pão a partir da bolota. Tinham como árvore sagrada o Carvalho. Os seus rituais religiosos eram normalmente praticados na floresta, no seio da Terra-Mãe.
Muito mais haveria para dizer sobre os Celtas, mas, fica este resumo que nos dá uma imagem de quem eram, como viviam e como sucumbiram às mãos dos romanos.
Que os Celtas estiveram na Serra d’Opa, não restam dúvidas. No entanto, quando se fala em povos antigos nesta região, fala-se muito de mouros e romanos. Vamos clarificar esta situação.
Há vestígios de vários castros Celtas ao longo desta serra:
O primeiro encontra-se a poente e chamam-lhe agora Sortelha Velha. Ainda estão visíveis os seus restos.
O segundo, no local denominado Enferrujados e Vendas dos Vinhos.
O terceiro, no Santuário da Senhora da Póvoa
O quarto, na zona do Peão, junto à fonte do Piolho (já não existe)
O quinto, junto à penha da serra, onde se encontra o talefe, num local ainda hoje denominado Cerca.
Alguns monumentos megalíticos são encontrados nesta Serra, conhecidos pelo nome de Antas, embora nesta região lhes chamem MOURAS, MAMOAS e ORCAS
Há também um alinhamento na Serra do Abrunhal, que actualmente serve de delimitação do distrito. É descrito nos Interrogatórios de 1758, pelo Padre Manuel Martins do Olival, com o nome de Breda dos Marcos (Vereda dos Marcos.
Qual a origem do nome da Serra? Creio que se deve ao nome da deusa Romana OPES ou OPAS, deusa da abundância, associada com Saturno.
"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".
O insulto é a arma dos fracos...