Faterra escreveu:O foco do debate era o desenvolvimento da indústria bélica que o Brasil havia conseguido até aquela data e depois perdeu. Esta perda jamais deveria ter acontecido. É público e notório que todos os governos civis nunca quiseram investir nas FA's.
Isso não é verdade. Sarney investiu, e muito. Comprou mais de 500 caminhões da Engesa para o Exército (que nunca foram entregues, apesar de pagos), bancou o AMX, o programa de submarinos, as corvetas, eliminou a cavalaria hipomóvel de combate... Por outro lado, as FFAA gastaram mal o dinheiro, enquanto havia o que gastar.
Predominava a "mentalidade de engenheiro", ou seja, o dinheiro era disperso em pesquisas pararalelas, sem se preocupar com a aplicação prática. Vou dar um exemplo. Na área nuclear, a Marinha pesquisava o enriquecimento de urânio por ultracentrifugação, a Aeronáutica trabalhava um método por laser e o Exército trabalhava em uma pilha atômica! Todos esses recursos poderiam ser aplicados na modernização das forças, afinal de contas, o único programa com perspectiva de sucesso era o da Marinha.
Além disso, houve uma profusão de programas mal-gerenciados, como o MAA-1 (seria melhor comprar tecnologia de Israel), o AM-X, o Tamoio e o Osório. Programas fora da realidade financeira do país, que concorriam no exterior em uma faixa extremamente disputada do mercado.
Faterra escreveu:Resquícios da ditadura que influiu inclusive na Constituição de 88. Foram empurrando com a barriga e o resultado deste descaso é o que estávamos presenciando até recentemente - o sucateamento das FA's - e que hoje mal e porcamente estamos tentando remediar. Se houvesse comprometimento com a Defesa Nacional por parte dos governos civis, o desenvolvimento tecnológico da indústria bélica teria prosseguido com ou sem dinheiro, com ou sem dívida - temos toneladas de exemplos espalhados pelo mundo a fora.
Quem demoliu a indústria militar brasileira foi Collor. Não tente espalhar essa mancha por outros governos. Quando FHC assumiu, a indústria militar brasileira já estava extinta.
Faterra escreveu:Os projetos ficaram nas mãos das FA's. A MB toca sozinha e a duras penas o projeto do SNB e vejam o que já se conseguiu. É pouco? Sim, mas se dependessemos dos governos civis não teríamos nem isso. Imaginem se o governo tivesse dado apoio financeiro. Em que pé ela estaria com este projeto?
No mesmo lugar em que está. Consumiu-se mais de US$ 3 bi, MAIS DE METADE PROVIDO PELO CNPQ. Como a Marinha tentou desenvolver, ao mesmo tempo, o domínio do ciclo completo do combustível, o reator, o processo de miniaturização e a propulsão, dispersou recursos e teve poucos resultados práticos em relação ao submarino (pelo contrário, perdeu espaço em tecnologias já conquistadas, como a fabricação de cascos de submarino). O normal é um aproach passo-a-passo. Conquista-se uma fase, para passar a outra.
Faterra escreveu: Irresponsável? Pode até ser, mas, em um país sério, que respeita a si próprio garante-se primeiro (ou paralelamente, na pior das hipóteses) a sua soberania - caso contrário para que o esforço de se equilibrar financeiramente, de se tornar cada vez mais próspero, se não teremos a garantia de que sustentaremos estas conquistas?
Não existe soberania quando a economia é frágil. Isso ficou claro depois que Sarney foi obrigado a decretar a moratória. FHC queria aplicar nas FFAA, mas tinha de reconstruir o país destroçado pela inflação e pelo endividamento externo. A bem da verdade, Lula, tão execrado aqui, aplicou mais nas FFAA que todos os seus antecessores somados, com a exceção de Sarney.
Faterra escreveu: A meu ver isto é estratégico e crucial para a soberania do país, portanto, todo e qualquer esforço é válido.
Não há mais esforço possível. Estamos praticamente na estaca zero.
Faterra escreveu: E, finalmente, devo esclarecer que execro a ditadura com toda a desgraceira que ela patrocinou e infligiu ao Brasil. Nunca fiz e jamais farei apologia à este regime. Mas se ela fez alguma coisa boa e útil porque não se aproveitou? Estava contaminada? Por que se endividou? Por que o modelo para financiar esse crescimento foi equivocado? Então este desenvolvimento, embora em curto espaço de tempo, foi inútil e não valeu a pena pelo sacrifício a que o Brasil foi submetido posteriormente e por isso vamos passar a borracha.
Não. Devemos analisá-lo PARA NÃO REPETIR O MESMO ERRO CRASSO. É como viajar de Brasília para o Rio em um Mercedes, com pouca gasolina no tanque e sem postos na estrada. O modelo ERA INSUSTENTÁVEL, e por isso implodiu.
Faterra escreveu: No meu modo de pensar é por isso que deveriam ter dobrado todos os esforços para dar prosseguimento a este desenvolvimento, embora com menor rítmo. Grande parte do que se fez naquele período negro é que garante o parco e vergonhoso crescimento que hoje o país tem.
Era impossível. A gasolina acabou no meio da estrada e tivemos de empurrar o Mercedes. seria melhor adquirir um modelo mais econômico, simples e barato, para que sobrasse dinheiro para a gasolina.
Faterra escreveu: Quanto se roubou neste país, quanto se sonegou, sem o governo nunca tomar qualquer tipo de providência? Quanto em dinheiro se jogou fora, fazendo obras inúteis, eleitoreiras e megalomaníacas?
Pois é... Ferrovia do Aço; a Ponte Rio-Niterói; a Transamazônica (que liga nada a lugar nenhum); o Programa Nuclear Brasil-Alemanha (com um processo de enriquecimento caro, puramente experimental e falho); Itaipu (inviabilizou um projeto de construção de 20 usinas ao longo dos afluentes do Iguaçu, que iriam gerar o dobro de Itaipu, com 30% do seu impacto ambiental)... Isso sim era roubalheira! Sonegação? Corria solto! Além de tudo, metia-se a mão no caixa da Previdência e do FGTS sem qualquer prurido.
Faterra escreveu: Quando houve honestidade, discernimento e aproveitamento em cada centavo gasto? Quanto disto tudo continua acontecendo hoje? Com que cara podemos dizer realmente que o país não tem dinheiro ou recursos para bancar o que quer que seja?
Foi uma gota, diante do oceano de corrupção e malversação de verbas do período militar!
Pepê