Oposição dá ultimato de 72 horas a Morales
Opositores do governo do presidente da Bolívia, Evo Morales, deram-lhe prazo de 72 horas para atender às suas reivindicações, sob ameaça de reagirem com uma greve geral de 24 horas, no sábado, além de manifestações em todo o país.
Eles também anunciaram “greve geral de fome”, a partir da próxima segunda-feira.
Atualmente, segundo estimativas da imprensa boliviana, pelo menos 270 pessoas já aderiram à dieta de líquidos em diferentes pontos da Bolívia, incluindo grupos de mulheres do departamento (Estado) de Santa Cruz de la Sierra.
O ultimato contra Evo Morales foi decidido por oito dos nove “Comitês Cívicos” bolivianos, durante reunião nesta segunda-feira, em Cochabamba.
Estes comitês reúnem médicos, advogados e ruralistas, entre outros, e vêm protestando há mais de dois meses contra medidas do governo Morales, empossado em janeiro passado.
Os comitês costumam ter a simpatia dos partidos de oposição a Morales, como o “Podemos” (Poder Democrático).
"Situação dramática"
Num documento com cinco tópicos, eles definiram a atual situação da Bolívia como “dramática” e destacaram as diferenças pontuais com o governo: o projeto de lei de reforma agrária, as regras para aprovação das iniciativas na Assembléia Constituinte, o projeto de lei oficial que permite a “censura” (demissão) dos prefeitos (governadores), o pedido de "respeito às autonomias" dos departamentos do governo central, aprovado num referendo realizado em julho último.
Para a oposição, os projetos da nova constituinte devem ser aprovados por dois terços, evitando que o governo (que tem a maioria) termine redigindo, como afirmaram integrantes do “Podemos”, a carta “sozinho”.
O documento, divulgado nesta segunda-feira, foi assinado pelos comitês cívicos de La Paz, Beni, Chuquisaca, Oruro, Santa Cruz de la Sierra, Tarija, Pando e Santa Cruz de la Sierra.
O mesmo grupo já tinha realizado duas reuniões, em setembro, para definir a “estratégia de ação”, como afirmou à BBC Brasil Daniel Castro, porta-voz do Comitê Pró-Santa Cruz. “Não podemos deixar o governo atuar de forma autoritária e sem ouvir nossas opiniões e preocupações”, disse, antes da reunião desta segunda-feira.
“Vexame”
Nesta queda de braço entre oposição e governo, o vice-ministro de Terras, Alejandro Almaraz, voltou a divulgar nomes dos ruralistas de diferentes pontos do país que teriam recebido, gratuitamente, terras durante governos anteriores.
“Não se pode esconder esse vexame do povo boliviano”, disse Almaraz, segundo a Agência Boliviana de Informaçao (ABI), que é oficial.
Ele declarou ainda que muitos destes proprietários não as tornaram produtivas e chegaram a vendê-las.
Foi por isso, disse, que os senadores decidiram suspender, há cerca de dez dias, as sessões no parlamento e não votar o projeto de lei de reforma agrária, já aprovado na Câmara dos Deputados.
Muitos dos parlamentares, argumentou, são donos das terras presenteadas no passado.
Poucas horas antes, o ministro da Presidência da Bolívia, Juan Ramón Quintana, criticou a postura da oposição, quando ainda não se sabia qual seria o resultado do encontro em Cochabamba.
“O objetivo dos partidos de oposição é evitar o desenvolvimento da Assembléia Constituinte e, para isso, usam como desculpa a rejeição às mudanças na lei de reforma agrária e a fiscalização aos prefeitos”, disse.
Confrontos
De acordo com estimativas do governo, cerca de 2,5 mil pessoas chegarão nesta terça-feira a La Paz, após vários dias de caminhada.
Com bandeiras de diferentes movimentos indígenas e do campo, eles pretendem cercar o Senado pedindo aprovação da lei de reforma agrária.
Num clima tenso, integrantes da Associação dos Jovens para o Desenvolvimento da Bolívia (ADJIBOL), que ajudam grupos indígenas, denunciaram que foram agredidos por representantes do partido opositor “Podemos”.
A foto da que seria uma das vítimas foi publicada na página da ABI.
Por sua vez, em Santa Cruz de la Sierra e em Cochabamba, integrantes dos respectivos comitês cívicos denunciaram que seus seguidores também teriam sido agredidos por simpatizantes do governo Morales.
A coisa vai esquentar...