Palestina - Noticias de Guerra

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Spetsnaz
Sênior
Sênior
Mensagens: 1967
Registrado em: Qua Fev 19, 2003 10:30 pm

Palestina - Noticias de Guerra

#1 Mensagem por Spetsnaz » Seg Nov 03, 2003 1:23 pm

Bom galera estou abrindo este tópico para postarmos noticias diarias sobre a situação na Palestina.. em Inglês ou Portugues...




Spetsnaz
Sênior
Sênior
Mensagens: 1967
Registrado em: Qua Fev 19, 2003 10:30 pm

#2 Mensagem por Spetsnaz » Seg Nov 03, 2003 1:24 pm

Segunda, 3 de novembro de 2003, 13h01
Europeus consideram Israel maior ameaça à paz

Israel é o país que representa a maior ameaça para a paz mundial, segundo uma pesquisa realizada entre os países da União Européia e publicada hoje pela Comissão Européia em Bruxelas.

A pesquisa "Iraque e a paz no mundo" verificou que 59% dos 7.515 europeus consultados na União Européia em outubro passado consideram que Israel é o país que mais ameaça o mundo, contra 37% que opinaram que Israel não ameaça a estabilidade internacional.

Israel lidera a lista destes países na frente do Irã, Coréia do Norte, Estados Unidos (53%), Iraque (52%), Afeganistão (50%) e Paquistão (48%). A Holanda é o país cujo maior número de consultados expressou a opinião negativa sobre Israel, com 74%.

AFP




Spetsnaz
Sênior
Sênior
Mensagens: 1967
Registrado em: Qua Fev 19, 2003 10:30 pm

#3 Mensagem por Spetsnaz » Seg Nov 03, 2003 1:25 pm

Segunda, 3 de novembro de 2003, 12h49
Adolescente palestino realiza atentado suicida

Um adolescente palestino detonou explosivos presos a seu corpo perto de soldados israelenses na Cisjordânia hoje sem conseguir fazer vítimas além de si mesmo. A ação aconteceu horas depois de o grupo Hamas ter descartado a idéia de um cessar-fogo total com os israelenses.

"O terrorista suicida explodiu a si mesmo perto de um veículo blindado do Exército e feriu levemente um soldado", afirmou o ministro de Defesa de Israel, Shaul Mofaz. Mofaz disse que as forças de segurança invadiram o vilarejo de Azoun, perto da cidade de Qalqilya, após terem recebido informações sobre um possível atentado a bomba.

Parentes identificaram o palestino como Sabi Abbu Saoud, 17 anos, da cidade de Nablus, na Cisjordânia. O adolescente seria membro das Brigadas de Mártires de Al-Aqsa, um grupo ligado ao movimento Al-Fatah.

Horas antes do atentado, o principal porta-voz do Hamas, Abdel Aziz Al Rantissi, falou sobre as condições para participar de um diálogo com o primeiro-ministro palestino, Ahmed Qurie, sobre cessar-fogo. Rantissi disse que o grupo extremista poderia discutir a suspensão dos atentados dentro de Israel, mas continuaria a atacar os colonos judeus na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, territórios reivindicados pelos palestinos.

Tal condição seria inaceitável para Israel, que considera os ataques contra soldados e colonos como atos de terrorismo. Dore Gold, assessor do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, descartou a proposta do Hamas.

Reuters




Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

#4 Mensagem por Clermont » Seg Dez 08, 2003 8:47 pm

Um doloroso lembrete das terríveis deformações morais e espirituais que o estado de guerra prolongado inflige aos participantes, de ambos os lados. Também serve de reflexão para os riscos de a sociedade perder o controle sobre aqueles que portam armas em seu nome.

Além disso, serve muito bem para explicar algumas das atrocidades cometidas por forças policiais, em todo o mundo, especialmente no Brasil.



"EU BATI NO ROSTO DE UM ÁRABE".

Por Gideon Levy - Ha'aretz - 29 November , 2003

O Sargento-Ajudante (Staff-Sergeant ou 2º Sargento) reformado, Liran Ron Furer não pode mais continuar com sua vida rotineira. Ele é assombrado pelas imagens de seus três anos de serviço militar em Gaza e o pensamento de que ele pode ser vítima de uma síndrome que aflige todos que serviram em “checkpoints” (PC Tran, ou postos de controle de trânsito) não lhe dá sossego. Próximo a completar seus estudos em desenho, na Academia Bezalel de Arte e Desenho, ele decidiu jogar tudo para cima e devotar todo o seu tempo para o livro que queria escrever. Os maiores editores, a quem ele levou sua obra, recusaram a publicá-la. A editora que, finalmente, aceitou (Gevanim) disse que a rede de livrarias Steimatzky se negou a distribuí-la. Mas Furer está determinado a chamar a atenção do público para o seu livro.

“Você pode adotar as mais comuns posições políticas de linha dura, mas nenhum pai irá concordar que seu filho se torne um ladrão, um criminoso ou uma pessoa violenta,” diz Furer. “O problema é que isso nunca é apresentado dessa maneira. O garoto não se apresenta desse modo para sua família quando volta dos territórios. Ao contrário – ele é recebido como um herói, como alguém que está fazendo o importante trabalho de ser um soldado. Ninguém pode ser indiferente ao fato de que há tantas famílias nas quais, num certo sentido, já há duas gerações de criminosos. O pai passou por isso e agora o filho também está passando e ninguém fala sobre isso na mesa do jantar.

Furer está certo de que isso que aconteceu com ele não é uma exclusividade. Aqui está ele – um criativo, sensível graduado da Escola Secundária de Artes Thelma Yellin, que se tornou um animal nos “checkpoints”, um sádico violento que espancava palestinos porque eles não lhe demonstravam o necessário respeito, que atirava nos pneus de carros porque seus donos estavam ouvindo rádio muito alto, que abusou de um adolescente retardado que jazia, algemado, no chão de um jipe, só porque ele tinha de descontar sua raiva em alguém. “Síndrome do Checkpoint” (também o título deste livro), gradualmente, transforma cada soldado num animal, ele afirma, não importando que valores ele traga de casa. Ninguém escapa de sua comtaminação. Em um lugar onde quase tudo é permitido e a violência é percebida como um comportamento normativo, cada soldado testa seus próprios limites de capacidade para a violência em suas vítimas – os palestinos.

Seu livro não é de fácil leitura. Escrito em uma prosa, concisa e ferina, no linguagem carregada dos soldados, ele reconstrói cenas dos anos em que serviu em Gaza (1996-1999), anos que, é bom que se lembre, foram relativamente calmos. É descrito como ele e seus camaradas forçaram alguns palestinos a cantar “Elinor” – “realmente, era algo para ser visto, aqueles árabes cantando uma canção de Zohar Argov, como num filme”; as emoções que os palestinos despertavam nele – “Algumas vezes esses árabes, realmente, me revoltavam, especialmente os que tentavam nos adular – os velhos, que vinham até o posto com um sorriso nos rostos”; as reações que eles incitavam – “Se eles realmente nos irritassem, nós achávamos um meio de prendê-los no posto por umas poucas horas. Algumas vezes, eles perdiam um dia de trabalho por causa disso, mas era a única forma para eles aprenderem.” Ele descreve como eles obrigavam crianças a limpar o posto antes das inspeções; como um soldado chamado Shahar inventou um jogo: “Ele checava a carteira de identidade de alguém, e ao invés de devolvê-la, ele a jogava fora. Ele se divertia vendo o árabe ter de sair do carro para procurar sua carteira de identidade... era um jogo para ele, e ele podia fazer isso o dia todo”; como eles humilharam um anão que vinha todo o dia ao posto em sua carroça: “Eles o obrigavam a tirar um retrato sobre o cavalo, o agrediam e o degradavam por uma boa meia hora e o deixavam ir apenas quando os carros chegavam ao posto. O pobre sujeito, ele realmente não merecia aquilo”; como eles tinham uma foto de lembrança, tirada com árabes manietados, ensanguentados que eles haviam espancado; como Shahar mijou na cabeça de um árabe porque ele teve a audácia de rir do soldado; como Dado forçou um árabe a ficar de quatro e latir como um cachorro; e como eles roubaram terços de orações e cigarros – “Miro queria que eles lhes dessem seus cigarros, os árabes recusaram e Miro quebrou a mão de um deles, e Boaz rasgou os pneus de seus carros.”


ARREPIANTE CONFISSÃO.

A mais assustadora de todas as confissões pessoais: “Eu corri até eles e soquei um árabe bem no rosto. Eu nunca esmurrei alguém assim. Ele desabou na estrada. Os oficiais disseram que nós tinhamos de revistar seus documentos. Nós colocamos suas mãos nas costas e eu as prendi com algemas plásticas. Nós o vendamos para que ele não visse que estava num jipe. Eu o recolhi da estrada. O sangue escorria de seus lábios para o queixo. Eu o levei até o jipe e o joguei lá dentro, seus joelhos bateram contra o tronco e ele caiu lá dentro. Nós sentamos atrás, pisando no árabe... Nosso árabe jazia ali, quieto, apenas chorando baixo para si mesmo. Seu rosto estava voltado para mim, e ele sangrava fazendo uma espécie de espuma de sangue e saliva, e isso me enojou e me enfureceu, assim agarrei-o pelos cabelos e virei sua cabeça para o outro lado. Ele chorou mais alto e para fazê-lo parar, nós pisamos cada vez mais forte sobre suas costas. Isto o acalmou por enquanto e então ele começou de novo. Concluimos que ele ou era louco ou retardado.

“O comandante da companhia nos informou pelo rádio que nós tinhamos de trazê-lo para a base. ‘Bom trabalho, tigres,’ disse ele, nos elogiando. Todos os outros soldados estavam esperando para ver o que havíamos pego. Quando chegamos com o jipe, eles assobiavam e aplaudiam vivamente. Nós colocamos o árabe próximo à guarda. Ele não parava de gritar e alguém que entendia árabe disse que suas mãos estavam sendo machucadas pelas algemas. Um dos soldados se aproximou e o chutou no estômago. O árabe se dobrou e urrou e, nós todos rimos. Era engraçado... eu o chutei realmente forte na bunda e ele voou para a frente, como eu esperava. Eles gritavam que eu estava completamente doido, e ele riam... e eu me sentia feliz.

Nosso árabe era, somente, um garoto de 16 anos de idade, retardado mental.”

No andar de cima do apartamento de sua irmã em Tel Aviv, onde ele vive agora, Furer, 26, parece um jovem inteligente e pensativo. Ele cresceu em Givatayim, após seus pais imigrarem da União Soviética nos anos 1970. Antes do assassínio de Yitzhak Rabin, sua mãe era uma ativista da extrema-direita, mas ele diz que o lar deles não era politizado. Ele queria estar numa unidade de combate do Exército, e serviu em duas unidades de infantaria de elite. Ele cumpriu todo o seu serviço militar na Faixa de Gaza.

Depois do Exército, ele viajou para a Índia, como muitos outros. “Agora, eu estava livre. As loucas energias de Goa e os Chakras abriram minha mente... Vocês me colocaram naquela fedorenta Gaza e antes que vocês lavassem meu cérebro com seus fuzis e suas marchas, vocês me transformaram num trapo que não raciocinava mais,” ele escreveu de Goa. Mas foi só depois, quando ele estava estudando em Bezalel, que as experiências do seu serviço militar começaram a afetá-lo.

“Eu finalmente compreendi que havia um padrão imutável aqui,” diz ele. “Foi o mesmo na primeira intifada, nos período que eu servi, em que estava calmo, e na segunda intifada. Se tornou uma realidade permanente. Eu começei a me sentir muito inconfortável com o fato de que tais assuntos carregados não fossem discutidos em público. As pessoas ouvem as vítimas e ouvem os políticos, mas essa voz que diz: Eu fiz aquilo, nós fizemos coisas que eram erradas – crimes, na verdade – essa voz não é ouvida. A razão por que ela não se faz ouvir era uma combinação de repressão – justo como eu a reprimi e a ignorei – de profundo sentimento de culpa.

“Tão logo você saia do serviço militar, a realidade da política e da imprensa em volta de você não está pronta para ouvir sua voz. Eu me lembro que fiquei surpreso por nenhum soldado ter vindo à público com isso ainda. Tudo se dissolve no debate sobre a legitimidade dos assentamentos nos territórios, sobre a ocupação – contra ou favor – e nada ligado à rotina de manter a ocupação aparece na imprensa ou nas artes.


NÃO É UM CASO INDIVIDUAL

Furer está longe de provar que isso é uma síndrome e não uma coleção de casos isolados, individuais. Eis porquê ele deletou uma porção de detalhes pessoais do manuscrito original, em ordem para sublinhar a natureza geral do que descreve. “Durante meu serviço militar, eu acreditava que eu era atípico, porque eu provinha de um fundo de arte e criatividade. Eu era considerado um soldado moderado – mas eu caí na mesma armadilha em que caem a maioria dos soldados. Eu fui levado pela possibilidade de agir da maneira mais impulsiva e primária, sem temor de punição e sem vigilância. Você fica tenso no começo, mas como você fica mais confortável no posto com o tempo, o comportamento se torna mais natural. Pessoas gradualmente testam os limites de seu conhecimento para com os palestinos. Gradualmente se torna cada vez mais selvagem. “Quanto mais confiante eu ficava com a situação, tão logo chegávamos à conclusão – cada um em seu próprio momento – de que éramos os governantes, éramos os mais fortes, e quando sentíamos nosso poder, cada um começava a esticar os limites mais e mais, de acordo com sua personalidade. Tão logo o serviço no ‘checkpoint’ se tornava rotina, todas as espécies de comportamento desviante tornavam-se normais. Começava com ‘coleção de souvenirs’: nós confiscávamos os terços de oração e então os cigarros e não parávamos mais. Se tornava o comportamento normal.

“Após isso vinha o jogo do poder. Nós recebemos a mensagem de cima de que devíamos projetar seriedade e contenção aos árabes. Violência física se tornou normal. Nós nos sentíamos livres para punir qualquer palestino que não seguisse o ‘código apropriado de comportamento’ no posto de controle. Qualquer um que achássemos que não era educado o bastante ou que tentasse bancar o esperto – era severamente punido. Era um abuso deliberado sob os mais triviais pretextos.

“Durante meu serviço militar, não houve um só incidente que nos fizesse refletir, ou fizesse nossos comandantes interferir. Ninguém falava sobre o que era permitido e o que não era. Era uma questão de rotina. Em retrospecto, a maior causa de sentimentos de culpa para mim não aconteceu no ‘checkpoint’, mas no cerca de Gush Katif, onde pegamos o garoto retardado. Eu exibi o mais extremo comportamento. Era minha chance de pegar alguém – o mais perto que cheguei de pegar um terrorista, uma chance de descarregar toda a pressão e impulsos que haviam sido formados dentro de nós. Botar pra fora como queríamos. Estávamos acostumados a dar tapas, a algemar, a dar alguns chutes, um leve espancamento, e aqui estava uma situação na qual se justificava agir livremente. E, também, o próprio oficial que estava conosco era muito violento. Nós demos uma verdadeira surra no garoto e, tão logo voltamos ao posto, me lembro de sentir um grande orgulho, por ter sido tratado como alguém realmente forte. Eles disseram, ‘Que osso duro você é, como você é maluco’, o que significava dizer, ‘Como você é forte.’

“Nos ‘Checkpoints’, jovens tinham a chance de serem mestres e de usarem a força e, portanto, a violência se tornou legítima – e isso é um impulso muito mais básico do que as visões políticas e valores que você leva de casa. Tão logo o uso da força se torna legítimo, e mesmo recompensador, a tendência é leva-la tão longe quanto possa, explorá-la tanto quanto possível. Para satisfazer esses impulsos além do que a situação exigiria. Hoje em dia, eu chamaria isso de impulsos sadistas...
“Nós não éramos criminosos ou pessoas especialmente violentas. Éramos um grupo de bons garotos, um grupo, relativamente, de ‘alta-qualidade’, e para todos nós – e nós ainda falamos sobre isso, algumas vezes – o ‘checkpoint’ se tornou um lugar para testar nossos limites pessoais. Como duros, insensíveis, e loucos poderíamos ser – e nós pensávamos nisso de um ponto de vista positivo. Alguma coisa sobre a situação – estar num lugar esquecido por Deus, muito longe de casa, longe da vista – justificava isso... A linha sobre o quê era proibido nunca foi traçada com precisão. Ninguém jamais foi punido e eles apenas nos deixavam continuar.

“Hoje, eu sinto confiança em dizer que mesmo as mais altas patentes – o comandante de brigada, o comandante de batalhão – estavam cientes do poder que os soldados tinham nesta situação e o que eles faziam com ele. Como poderia um comandante não estar ciente disso, se quanto mais loucos e durões seus soldados fossem, mais calmo seu setor era? O quadro mais complexo dos efeitos de longo prazo desse comportamento violento é alguma coisa que você só se torna consciente quando está longe do ‘checkpoint’.

“Hoje fica claro para mim que o menino cujo pai foi humilhado pela mais ínfima das razões irá crescer odiando qualquer um que represente o que foi feito à seu pai. Eu tenho a definitiva compreensão dos motivos deles agora. Nós somos cruéis, nós somos o poder. Estou certo que sua resposta é afetada pelos elementos relacionados a sociedade deles – um desrespeito pela vida humana e uma prontidão para sacrificar vidas – mas o desejo básico para resistir, o ódio em si, o medo – eu sinto que são completamente justificados e legítimos, mesmo se é arriscado dizer isso.
“É impossível incorrer em tal estado emocional e voltar para casa de licença e se destacar dele. Eu era muito insensível com os sentimentos de minha namorada na época. Eu era um animal, mesmo quando estava de licença. Isso fica com você, mesmo depois do serviço. Eu vi os restos da síndrome na Índia – alguma coisa sobre estar no Terceiro Mundo, entre pessoas de pele escura, trouxe para fora o pior do ‘israelense malvado’, que é como os israelenses são vistos. Ou o modo como você reage diante de uma risada: quando os palestinos sorriam para mim, no ‘checkpoint’, eu ficava tenso e defensivo. Quando alguém sorria para mim na Índia, eu imediatamente ficava na defensiva.

Eu era um soldado mediano,” diz ele. “Eu era o gozador do grupo. Agora vejo que eu era, com freqüencia, o que tomava a frente nas situações violentas. Com freqüencia, aquele que dava o tapa, era eu. Era eu quem vinha com todo tipo de idéia como esvaziar os pneus. Isso parece pervertido agora, mas nós, realmente, admirávamos qualquer um que pudesse espancar algum sujeito que, supostamente merecesse. O oficial que admirávamos mais, era aquele que disparava sua arma em toda a oportunidade. Todos com quem tenho conversado, tem me deixado com os maiores sentimentos de culpa... um amigo do Exército leu o livro e disse que eu estava certo, que nós tinhamos feito coisas más, mas éramos garotos. E ele disse que era uma vergonha que eu levasse isso tão à sério.




Editado pela última vez por Clermont em Sáb Set 15, 2007 9:14 pm, em um total de 1 vez.
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

#5 Mensagem por Clermont » Seg Abr 05, 2004 7:26 pm

AS QUATRO GUERRAS ENTRE ISRAEL E PALESTINOS.

Michal Walzer - Folha de São Paulo, 28 de março de 2004.

Não há "uma" guerra em curso entre Israel e Palestina, e não há apenas uma oposição entre certo e errado, justo e injusto. Quatro guerras entre israelenses e palestinos estão sendo travadas agora.

A primeira é uma guerra palestina para destruir o Estado de Israel.

A segunda é uma guerra palestina pela criação de um Estado independente contíguo a Israel, com o fim da ocupação israelense na Cisjordânia e na faixa de Gaza.

A terceira é uma guerra israelense pela segurança do país no interior de suas fronteiras de 1967.

A quarta é uma guerra israelense pela manutenção de um Grande Israel, pelas colônias e pelos territórios ocupados.

Não é fácil dizer qual das guerras está sendo travada a cada dado momento; em certo sentido, são todas simultâneas. Pessoas diferentes estão combatendo cada uma das quatro guerras, ao mesmo tempo. Tomadas separadamente, duas das guerras são justas e duas são injustas. Mas elas não existem no "mundo real" de forma separada. É possível começar analisando cada uma delas em separado, mas não devemos nos limitar a isso.

1. A guerra contra Israel. Essa é a guerra que é "declarada" a cada vez que um terrorista ataca civis israelenses. O que quer os terroristas tenham a dizer sobre suas atividades, em termos individuais, a intenção que sinalizam ao mundo, e acima de tudo às suas vítimas, é radical e assustadora: uma política de massacre, ou remoção, ou subjugação. O objetivo do terrorismo é uma vitória total, a rendição incondicional do inimigo.

Os cidadãos judeus de Israel têm de presumir que algo semelhante é o objetivo dos atuais terroristas palestinos: o fim do Estado judaico, a remoção dos judeus. A linguagem da incitação - sermões em mesquitas palestinas, funerais nos quais o "martírio" dos terroristas suicidas é celebrado - torna clara essa intenção, e esses são os objetivos explícitos das principais organizações terroristas, Hamas e Jihad Islâmico. Mas será que se pode dizer que é esse o objetivo do movimento palestino como um todo? É isso que Iasser Arafat realmente procura?

Não é fácil interpretá-lo. Talvez Arafat ache que esteja usando os terroristas; talvez tenha a esperança de um dia matá-los ou exilá-los, depois da independência. Mas, neste momento, ele é no mínimo cúmplice do terrorismo. As perfunctórias condenações oferecidas como expiação depois de cada ataque há muito deixaram de ser convincentes.

A primeira das guerras é uma guerra real, mesmo que pareça estar fadada à derrota, com conseqüências terríveis para o povo palestino, mesmo que alguns (ou muitos) dentre os palestinos acreditem estar combatendo em um conflito diferente.

2. A guerra por um Estado independente: essa é a guerra que simpatizantes esquerdistas na Europa e nos Estados Unidos usualmente alegam que os palestinos estão travando, porque é a guerra que eles acreditam que os palestinos deveriam estar travando.

Não tenho dúvida quanto ao direito dos palestinos a um Estado, ainda que acredite que a ocupação original da Cisjordânia e da faixa de Gaza fosse justificada. Em 1967, os árabes travaram uma guerra do primeiro tipo em minha lista, contra a existência de Israel. Mas os territórios que Israel passou a controlar ao final de sua vitoriosa defesa supostamente deveriam ser usados (era isso que os líderes do país diziam à época) como ferramentas para a negociação de uma paz futura.

Quando, em lugar disso, o governo israelense começou a patrocinar e sustentar colônias instaladas além da antiga fronteira (a linha verde), conferiu legitimidade a um movimento de resistência cujo objetivo era a libertação. E quanto mais longa a ocupação, quanto mais as colônias prosperaram e se expandiram, mais forte o movimento se tornou.

De modo que estabelecer um Estado próprio é um objetivo legítimo para os militantes palestinos. A primeira Intifada (1987), com suas crianças atirando pedras, parecia ser uma luta por um Estado desse tipo, limitado à Cisjordânia e à faixa de Gaza, onde as crianças viviam. Não era exatamente uma luta não-violenta, mas seus protagonistas pareciam reconhecer a existência de limites: o objetivo não era ameaçar os israelenses de seu lado da linha verde, onde vivia a maior parte da população de Israel. E é por isso que a revolta teve sucesso em avançar o processo de paz.

A Intifada renovada iniciada em 2000 é uma luta violenta, e não se confina aos territórios ocupados. Ainda assim, as entrevistas conduzidas por jornalistas com muitos dos combatentes sugerem que eles (ou pelo menos alguns deles) consideram estar combatendo pelo fim da ocupação; o objetivo que expressam é criar um Estado independente, vizinho a Israel.

Assim, essa segunda guerra é também uma guerra verdadeira, se bem que uma vez mais não fique claro até que ponto Arafat esteja comprometido com ela.

3. A guerra pela segurança de Israel: não se sabe quantos soldados israelenses acreditam que essa seja a guerra que estão travando, mas é um número certamente elevado. A convocação de reservistas que precedeu as "incursões" israelenses à Cisjordânia em março e abril de 2002 teve resultado espantoso: mais de 95% dos soldados se apresentaram. Eles não acreditavam estar combatendo pelos territórios ocupados e pelas colônias. Os reservistas acreditavam estar lutando por seu país ou, talvez melhor, pela sobrevivência e pela segurança de seu país. A terceira guerra é uma guerra real, e moralmente uma guerra muito importante, em defesa de lares e famílias. Mas alguns lares e famílias israelenses estão localizados do lado errado da linha verde, onde defendê-los se torna moralmente problemático.

4. A guerra pelos territórios ocupados: a direita israelense está definitivamente comprometida com esse objetivo, mas o apoio de que desfruta no país é (uma vez mais) incerto. O primeiro-ministro Ehud Barak, na conferência de Camp David, em 2000, acreditava ser capaz de vencer um referendo defendendo uma retirada quase completa, caso isso fosse parte de um acordo negociado para resolver o conflito como um todo.

Uma retirada feita sob pressão de ataques terroristas provavelmente não contaria com apoio semelhante. O terrorismo palestino é um desastre para a esquerda israelense porque, diante do terror, se torna difícil aos seus líderes mobilizar resistência contra as colônias. E isso abre caminho para que os políticos de direita defendam a colonização.

Mas a luta pelas colônias garante que não existirá paz real. Pois o movimento colonizador é o equivalente prático das organizações terroristas. Apresso-me a acrescentar que não se trata de um equivalente moral. Os colonos não são assassinos, embora haja entre eles um pequeno número de terroristas.

Mas a mensagem da atividade de colonização, para os palestinos, é muito semelhante à mensagem do terrorismo para os israelenses: queremos que vocês saiam dessas terras, ou que vocês aceitem uma posição de radical subordinação em seu próprio país. O objetivo dos colonos é criar um Grande Israel, e a realização desse objetivo implicaria na impossibilidade de existência de um Estado palestino. É nesse sentido apenas que eles se assemelham aos terroristas: querem tudo. A quarta guerra é uma guerra real.

O grande erro de dois primeiros-ministros de centro-esquerda recentes de Israel, Yitzhak Rabin e Ehud Barak, foi o de não se posicionarem firmemente como adversários da colonização, desde o começo. Se tivessem congelado as colônias e escolhido alguns assentamentos isolados para remoção, teriam provocado uma batalha política que, estou certo, seriam capazes de vencer. Como isso não aconteceu, os radicais palestinos conseguiram convencer muitos de seus conterrâneos de que um compromisso era impossível.

Preciso dizer alguma coisa sobre o "direito ao retorno", provavelmente um dos fatores cruciais para o fracasso das negociações em Camp David, no terceiro trimestre de 2000. Quanto a esse ponto, no entanto, existe desacordo entre os participantes: Arafat estava insistindo na aceitação simbólica do direito ou em um retorno efetivo dos exilados?

A maior parte dos israelenses optou por interpretar a posição de maneira literal, argumentando que aceitar esse direito abriria as portas para o retorno de centenas de milhares de palestinos, o que reverteria a atual maioria de população judaica em Israel. O retorno, alegam eles, significaria a criação de dois Estados palestinos. Entre os palestinos, apenas Sari Nuseibeh, representante da Autoridade Nacional Palestina em Jerusalém, se dispôs a afirmar de maneira clara que a renúncia ao direito de retorno é o preço da criação de um Estado.

Essa posição me parece correta, já que defender o retorno na verdade reacende o conflito de 1947-48, o que não é uma boa idéia mais de meio século mais tarde. Hoje, se os palestinos desejam vencer sua guerra pela independência, precisam reconhecer que Israel já fez o mesmo. Talvez um certo número de refugiados retorne a Israel, e um número maior à Palestina. Os demais terão de ser assentados em outros países. É hora de tratar de sua miséria prática, e não de seus direitos e aspirações simbólicos.

De que maneira se poderia julgar as quatro guerras? Que espécie de juízo podemos fazer quanto a quem apoiar ou combater, e quando? Muito depende de questões que não respondi. Quantos israelenses, quantos palestinos, endossam cada uma das guerras?

Ou, talvez melhor, deveríamos perguntar o que aconteceria se cada um dos lados vencer sua guerra justa. Se os palestinos puderem criar um Estado de seu lado da linha verde, será que encarariam ou pelo menos será que uma maioria suficiente deles encararia a situação como uma realização de suas aspirações nacionalistas? Aceitariam um Estado desse tipo como ponto final do conflito? O comportamento de Arafat não sugere uma resposta esperançosa.

E será que a defesa israelense de seu Estado se limitaria à linha verde? O comportamento de Sharon no poder também não oferece resposta esperançosa.

A primeira guerra precisa ser derrotada ou abandonada em definitivo. Os críticos de Israel na Europa e nas Nações Unidas cometeram um erro terrível, tanto moral quanto político, ao não reconhecer a necessidade dessa derrota. Condenaram cada ataque terrorista aos civis israelenses, mas ainda não reconheceram, quanto mais condenaram, os ataques como um todo como uma guerra injusta contra a existência de Israel. Houve muitas desculpas para o terrorismo, esforços demais para "compreender" o terrorismo como resposta à opressão dos ocupantes.

Vencer a segunda das guerras, pelo estabelecimento de um Estado palestino, depende de perder ou de renunciar à primeira. Essa dependência, em minha opinião, é moralmente clara; mas nem sempre foi clara politicamente. Se um dia houver uma intervenção estrangeira no conflito entre Israel e os palestinos, uma das metas deveria ser esclarecer a relação entre a primeira e a segunda guerras (e entre a terceira e a quarta). Os palestinos só poderão ter um Estado quando tornarem claro aos israelenses que o Estado que desejam seria um vizinho, e não um substituto, de Israel. A relação entre a terceira e a quarta guerras é simétrica à que existe entre as duas primeiras: a quarta, por um Grande Israel, precisa ser perdida ou abandonada, se o objetivo é vencer a terceira guerra, pela existência de Israel.

Os ataques de março e abril de 2002 às cidades da Cisjordânia, e o retorno de soldados israelenses a essas cidades em junho e julho do mesmo ano, seriam muito mais fáceis de justificar caso estivesse claro que o objetivo não era manter a ocupação, mas reduzir ou pôr fim à ameaça terrorista. Nenhum país pode renunciar a defender a vida de seus cidadãos. Mas é um prelúdio moralmente necessário a vencer essa guerra que o governo Sharon declare seu compromisso político para com o fim da ocupação e a remoção dos colonos.

Quase todo mundo tem um plano de paz: uma paz para quatro guerras. E o plano de todos (exceto dos palestinos e israelenses que lutam para ganhar tudo) é mais ou menos o mesmo. É preciso que haja dois Estados, divididos por uma fronteira próxima à linha verde, com mudanças definidas por acordo mútuo. Sobre como chegar a esse ponto, e como garantir que os dois lados lá se mantenham, há profundo desacordo, inclusive no interior de ambas as comunidades.

Os palestinos precisam renunciar ao terrorismo; os israelenses precisam renunciar à ocupação. De fato, renúncias não parecem prováveis, se levarmos em conta as lideranças existentes dos dois lados. Mas existe um significativo movimento pacifista em Israel, e diversos partidos políticos que aceitam renunciar aos territórios. Entre os palestinos, se bem que não exista movimento comparável, há pelo menos alguns pequenos sinais de oposição aos ataques terroristas. Os possíveis avanços talvez precisem surgir independentemente, dos dois lados, e inicialmente vindos de fora daquilo que costumamos designar como "círculos dirigentes".

Em última análise, os envolvidos nas guerras dois e três precisam derrotar os envolvidos nas guerras um e quatro. O caminho para a paz começa com essas duas batalhas internas. Existe uma forma de envolvimento internacional, mais ideológica que militar, que poderia ser genuinamente útil. É extremamente importante que os colonos e os terroristas percam sua legitimidade. Mas é preciso que isso aconteça ao mesmo tempo, e com uma certa dose de inteligência moral.

Só quando os críticos europeus de Israel estiverem preparados para dizer aos palestinos que não haverá assistência a uma Autoridade Nacional Palestina cúmplice do terrorismo será possível que solicitem aos críticos americanos dos palestinos que transmitam mensagem semelhante ao governo israelense. Os intelectuais dedicados ao internacionalismo poderiam servir a essa causa explicando e defendendo as duas mensagens simultaneamente.

Tentei refletir a complexidade do conflito entre Israel e os palestinos. Não posso me pretender perfeitamente objetivo. O crucial é que a existência de quatro guerras seja reconhecida.

A maior parte dos analistas não o faz, e produz caricaturas ideológicas do conflito. É fácil ridicularizar essas caricaturas, mas o efeito delas é letal. Pois elas encorajam palestinos e israelenses a persistir na primeira e na quarta guerras. Aqueles que se preocupam com o Oriente Médio têm a obrigação de não agir assim.


QUEM É O AUTOR

Um dos mais respeitados filósofos norte-americanos, Michael Walzer, 68, nasceu no Bronx, bairro nova-iorquino, filho de pais judeus do Leste Europeu. Por ser de esquerda, considera-se um "peixe fora d'água" na comunidade intelectual americana.

Walzer é professor da Universidade Princeton (Nova Jersey) e pesquisador do independente Instituto de Estudos Avançados.
Crítico da invasão americana do Iraque, Walzer é autor de "Guerras Justas e Injustas" (lançado no Brasil no ano passado pela Martins Fontes), livro que se tornou referência entre estudiosos de conflitos bélicos.
Autor de mais de 20 livros, o escritor, acadêmico e ativista de direitos civis também é co-editor da revista de esquerda "Dissent" (http://www.dissentmagazine.org <http://www.dissentmagazine.org/>).




Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

#6 Mensagem por Clermont » Seg Mai 17, 2004 8:45 pm

TIRANIA DAS MINORIAS.

Por Thomas L. Friedman

16 de maio de 2004, NYT.


Questão: o quê o líder extremista xiita Moktada al-Sadr e seu Exército do Mahdi tem em comum com os colonos extremistas em Israel? Resposta: mais do que você pensa. Ambos movimentos combinam messianismo religioso, e uma prontidão para sacrificar seus seguidores e outros por visões absolutas, junto com um certo desdém por leis feitas pelos homens, como opostas àquelas de Deus. A grande questão, tanto em Israel quanto no Iraque, hoje, é similar: irão as maiorias silenciosas em ambos os países, finalmente se voltar contra essas minorias extremistas para salvar o seu futuro?

Em 2 de maio, os colonos judeus mobilizaram membros o suficiente da ala direita do Partido Likud para derrotar o plano do Primeiro-Ministro Ariel Sharon de uma retirada unilateral da Faixa de Gaza de todos os seus assentamentos judeus (7.500 israelenses vivem em 35 % de Gaza, enquanto 1,3 milhão de palestinos estão espremidos nos outros 65 %). Pesquisas em Israel, consistentemente, mostram que uma larga maioria dos israelenses querem sair de Gaza. Entretanto, Sharon, por enquanto, se submeteu ao voto do Partido Likud - mesmo sendo o Likud uma única facção em sua coalizão de governo e sua coalizão representa, somente, uma pouco mais que a metade do país.

A habilidade da minoria de colonos para impor sua vontade sobre a maioria israelense, significa que Israel não está permanecendo em Gaza para defender-se - seu próprio ministro da defesa disse que seria mais seguro sair. Está permanecendo em Gaza para preservar uma fantasia colonizadora - a de que Israel pode e deve manter cada assentamento por todas os lugares.

Como Ari Shavit, ensaísta do Haaretz, escreveu na sexta-feira: "A atual guerra foi redefinida desde os eventos de 2 de maio. Nesse dia, a atual guera cessou de ser uma guerra ao terror. Cessou de ser uma guerra pela existência de Israel. Em 2 de maio de 2004, ela se tornou uma guerra pela não cessão-de-um-único-assentamento. Os jovens da Givati (uma unidade do Exército israelense) que foram explodidos com sua viatura blindada de transporte de pessoal, terça-feira em Gaza, diferem de todos seus camaradas que foram mortos desde setembro de 2000. Eles diferem, porque não são mais vítimas do extremismo islâmico. Não são mais as vítimas da insanidade de Arafat. Eles são vítimas do empreendimento colonizador. A tentativa do movimento organizado dos assentamentos para impor sobre os cidadãos de Israel uma guerra que não é a sua, é imperdoável."

A maioria silenciosa israelense está, agora, indo às ruas sob o estandarte: "Só a Maioria Decide." A questão é: irá Sharon, o patrono do movimento colonizador, retirar os colonos em nome dessa maioria israelense e de modo a salvar Israel? Meir Sheetrit, um ministro do gabinete do Likud que está instando Sharon a levar à cabo seu plano, de qualquer jeito, me falou que seu conselho a Sharon foi claro: "Ou você faz a história, ou você será história." Um editorial no Haaretz foi igualmente claro: "Um zelosa minoria, messiânica e religiosa já levou o povo de Israel à destruição da Segunda Comunidade, 2 mil anos atrás. Agora, a luta é pela Terceira Comunidade.

Também há uma óbvia luta pelo Iraque. Na última terça-feira, dois grandes eventos ocorreram no Iraque - mas somente um deles foi para as manchetes. Um foi o desfecho da horrível decapitação de Nicholas Berg. O outro foi a pacífica demonstração de 1 mil xiitas em Najaf, pedindo a Moktada al-Sadr para sair da cidade. Os homens de Sadr dispararam suas armas para o ar e gritaram contra os manifestantes, mas estes gritaram de volta. O futuro do Irque, e as chances da América de salvar qualquer resultado decente lá, depende de qual evento - o assassinato de Berg ou a marcha anti-Sadr - se tornará a tendência emergente.

Essa marcha anti-Sadr foi um, realmente raro, evento no moderno mundo árabe - uma grande manifestação pública por moderados muçulmanos contra extremistas armados muçulmanos. Ele só pôde ocorrer num Iraque pós-Saddam, onde, mesmo em tumulto, as pessoas tem bastante liberdade para fazer uma coisa assim. Mas ele só irá definir um Iraque pós-Saddam, se se tornar um movimento real entre a maioria silenciosa xiita e não apenas uma parada de um dia. "Nós precisamos que os moderados xiitas tomem as ruas e seu próprio futuro," um comandante americano me falou. "De outro modo, isso se tornará um problema para eles e para nós."

Eu sou um grande crente de que aquilo que uma cultura ou uma sociedade julga ser vergonhoso e ilegítimo é a mais importante contenção sobre como seu povo se comporta. Acontece assim numa vila. E também leva uma maioria silenciosa a agir. Estou confiante que irá acontece em Israel, que já é uma democracia. E o Iraque apenas se tornará uma democracia se o mesmo acontecer lá.




Avatar do usuário
Guilherme
Sênior
Sênior
Mensagens: 3156
Registrado em: Qua Set 03, 2003 5:06 pm
Localização: Florianópolis - Santa Catarina
Agradeceu: 66 vezes
Agradeceram: 59 vezes

#7 Mensagem por Guilherme » Seg Mai 17, 2004 9:24 pm

Clermont escreveu:O Sargento-Ajudante (2o Sargento) reformado, Liran Ron Furer não pode mais continuar com sua vida rotineira.


Furer... Furer... Führer!

Me deu uma pena dele, coitadinho...

É um babaca, que se aproveitava de um povo vivendo sob ocupação.

A consciência tá doendo agora, seu sacana?

"Não há castigo mais duro do que o da própria consciência."




Avatar do usuário
Balena
Intermediário
Intermediário
Mensagens: 346
Registrado em: Seg Mai 03, 2004 10:47 am
Agradeceram: 2 vezes

#8 Mensagem por Balena » Seg Mai 17, 2004 9:54 pm

Esse tópico vai dar o que falar,


Mas desde já adianto que não gostaria de ver aqui mensagens anti-semitas, pois é crime e antiético.

No mais, todos já sabem (é fato notório) que Israel é o 51o. Estado dos EUA, posto avançado do imperialismo norte-americano no oriente médio. Termômetro de todas as tensões que ebulem no Oriente Médio e também uma das suas causas, se não a principal.
Não sei de quem foi a idéia de criar este tal Estado de Israel, acho que foi da ONU e, se foi, foi a coisa mais infeliz que eles já fizeram; pois, escolheram o lugar "certo". E olha que tem um dedo do nosso Itamaraty nisso aí, se não fosse pelo voto do Brasil nas Nações Unidas, pelo menos em tese, jamais existiria Estado de Israel. E o que ganhamos com isso??? NDA. Eles transferiram alguma tecnologia pra cá??? Eles fizeram algum negócio interessante com agente sem levar ampla vantagem???

Ainda bem que no Brasil não temos essas guerras, se fossemos inteligentes poderíamos nos projetar como uma poderosa nação sem ter a necessidade de intervir nas demais.

Esse é meu recado.

O contraditório é bem vindo, assim como informações pertinentes.




Ser Guerreiro é viver para sempre!
Avatar do usuário
Guilherme
Sênior
Sênior
Mensagens: 3156
Registrado em: Qua Set 03, 2003 5:06 pm
Localização: Florianópolis - Santa Catarina
Agradeceu: 66 vezes
Agradeceram: 59 vezes

#9 Mensagem por Guilherme » Seg Mai 17, 2004 10:03 pm

Balena, a idéia de criar o Estado de Israel existe começou a tomar força no fim do século XIX, por influência dos textos de Herzl e do apoio financeiro dos Rothschilds.




Avatar do usuário
Balena
Intermediário
Intermediário
Mensagens: 346
Registrado em: Seg Mai 03, 2004 10:47 am
Agradeceram: 2 vezes

#10 Mensagem por Balena » Seg Mai 17, 2004 10:11 pm

Isto eu sei, o negócio é que essa idéia "brilhante" teve o apoio de alguém e a aceitação de outrem; sem os quais jamais existiria um Estado de Israel encravado na Palestina. Na verdade a Palestina foi meio que detonada por Israel e partilhada entre vizinhos sedentos por conquistas, faltou visão na época, eu acho.




Ser Guerreiro é viver para sempre!
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

#11 Mensagem por Clermont » Qui Ago 26, 2004 7:04 pm

SOU SIONISTA

Alberto Dines - Copyright Jornal do Brasil, 8/9/01

Também sou tibetista (pela libertação do Tibete do jugo chinês), curdista (pela criação de um Estado Curdo com pedaços da Turquia, Irã e Iraque), libanista (contra a ocupação militar síria no Líbano) e um convicto cubista (contra o cerco americano a Cuba).

Militei como timorista (pela libertação de Timor Leste do jugo indonésio) e como bengalista, pois cobri a guerra de libertação do Bangladesh (então Paquistão Oriental) torcendo a favor. Fui kuweitista: em 1991 indignei-me contra a anexação do Kuwait pelo Iraque. Agnóstico, porém falung-ista, revoltado com a odiosa perseguição que o governo chinês faz aos adeptos da seita Falung Gong.

Além de sionista sou também um palestinista – desde meados dos anos 40 defendo a criação de dois estados na antiga Palestina (então sob mandato britânico), um árabe e outro judeu, autônomos, laicos e democráticos. Em 1948, quem tentou destruir um e anexou o outro foi a Liga Árabe. A mesma que hoje, em Durban, África do Sul, está financiando a mais sórdida mistificação política desde os tempos do stalinismo quando todos aqueles que levantavam-se contra o sangrento Gulag eram acusados de "inimigos da paz".

Esta liga estranha e outras patranhas políticas estão armando um dos maiores factóides desta era da desinformação, rolo compressor para emascular todos aqueles que consideram legítimo o direito do povo judeu de estabelecer um Lar Nacional em Sion e estigmatizá-los com o selo de intolerantes.

A velhaca equação sionismo = racismo pretende apenas impedir que eu, como internacionalista, tenha medo de manifestar-me a favor da emancipação dos povos. Intimidação para que um sionista – de qualquer nacionalidade – não se assuma simultaneamente como pacifista, humanista e defensor dos direitos dos palestinos de criar o seu estado.

É o mesmo ardil rastaqüera que durante o regime militar confundia liberalismo político com subversão e, durante a Guerra Fria, acusava os sociais-democratas de lacaios do imperialismo ianque.

Defender o sionismo não significa apoiar incondicionalmente o Estado de Israel. Sobretudo porque naquele país, a partir de 1977, a aliança da direita com a ortodoxia religiosa iniciou a lenta degradação de um projeto sonhado, concebido e montado para ser exemplo de democracia, secularismo e igualdade social.

Quando em 1995 aquele fanático religioso atirou no primeiro-ministro Itzhak Rabin, matou um homem, feriu Deus e, o pior, atingiu fatalmente o projeto sionista de um Estado diferente com gente melhor.

No entanto, em Israel os movimentos progressistas conseguem reunir centenas de milhares de manifestantes em favor da paz. Poder-se-ia fazer o mesmo em Riadh, Damasco, Cairo ou Teerã? O escritor israelense Amos Oz está na linha de frente em favor do diálogo e da compreensão mas Salman Rushdie, condenado a morte por causa dos seus Versos satânicos, poderia fazer o mesmo? Quantos países da Liga Árabe podem garantir algum tipo de liberdade para as minorias étnicas, religiosas, políticas e para as mulheres quaisquer que sejam os seus credos? O Afeganistão dominado pelo Taliban e o Irã pelos aiatolás aproximam-se de algo que pode ser designado como tolerância?

Na avalanche diária de informações não ganhou muito destaque uma singular passeata ocorrida durante a Conferência Contra o Racismo onde, de mãos dadas, um grupo de ultra-ortodoxos judeus e fundamentalistas islâmicos deblateravam contra o inimigo comum – o sionismo. Os primeiros, porque não reconhecem a concretização do sonho bíblico da Terra Prometida sem a vinda do Messias. Os outros simplesmente porque não admitem o Outro. E, no entanto, os fanáticos religiosos dos dois lados são os atiçadores do ódio e da escalada da vingança entre Israel e os palestinos.

Nesta confraternização de ressentimentos, Durban acabou seguindo a lógica que imperou em Seattle, Nice, Washington ou Gênova, onde o politicamente correto acabou convertido na sua contrafação. Sem tumultos ou sobressaltos, o simplismo repetiu a mesma aliança com o irracionalismo. O que seria uma busca do ideal converteu-se no ritual fetichista do bode-expiatório. Simplesmente porque aqueles que deveriam estar trabalhando para um futuro melhor estão imersos no passado, frementes por um ajuste de contas.

Durban, na realidade, acabou ressuscitando o sionismo. Porque com a Declaração de Independência de Israel (1948) o sionismo como uma saudade nacional perdeu o sentido: bastava comprar uma passagem e estabelecer-se no país. O raciocínio foi exposto na ocasião pelo seu patriarca, o socialista David Ben Gurion. Mas quem não deixa o sionismo converter-se numa relação normal entre um Estado e aqueles que lá vivem são os surtos e os desvarios de lideranças que nada têm a oferecer aos liderados. A não ser a exaltação. E as jogadas políticas nestes desencontrados encontros mundiais cujas anfitriãs são a incompreensão e a incomunicabilidade.

Neste teatro do absurdo falado apenas através de palavras de ordem desperdiçam-se as melhores intenções, perdem-se preciosas oportunidades. E avultam os fantasmas. Sim, sou sionista. Só espero que em seguida não seja confinado a um gueto ou obrigado a usar a estrela amarela.




jif_jr
Júnior
Júnior
Mensagens: 43
Registrado em: Qui Mai 01, 2003 10:04 pm
Localização: Mogi das Cruzes - SP

#12 Mensagem por jif_jr » Dom Ago 29, 2004 7:27 pm

A Sociedade Palestina esta sendo desmantelada
O jornalista e poeta israelense Yitzhak Laor, colaborador do diário Haaretz, um dos mais importantes de seu país, oferece uma análise corajosa e dramática sobre a Palestina contemporânea.

"A sociedade Palestina está sendo desmantelada"

O artigo, escrito em 10 de maio de 2002, foi internacionalmente divulgado pelo Monde. Laor é vinculado ao movimento Gush Shalom (bloco da paz), liderado pelo escritor, político e ativista israelense Uri Avnery

Qual tem sido o motivo da guerra entre nós e os palestinos ?

A tentativa israelense de fatiar o que sobrou da Palestina em quatro cantões, através da construção de “estradas de separação”, novas colônias habitacionais e postos de controle. O resto é assassinato, terror, toque de recolher, demolição de casas e propaganda. As crianças palestinas sentem medo e desespero, e seus pais são humilhados na frente delas.
A sociedade palestina está sendo desmantelada e a opinião pública do Ocidente joga a culpa nas vítimas -sempre o caminho mais fácil de encarar o horror.
Eu sei: meu pai foi um judeu alemão. Desastrosamente, o Exército Israelense é a imago (imagem idealizada mentalmente) do país. Aos olhos da maioria dos israelenses, é uma imagem pura, sem manchas; pior, o exército é visto como estando acima de qualquer interesse político. Não obstante, como qualquer outro exército, precisa de guerras, pelo menos de vez em quando. Mas enquanto em outros países o poder militar é contrabalançado pelas instituições da sociedade civil ou por partes do próprio Estado (indústria, bancos, partidos políticos etc.), nós, em Israel, não dispomos desse contrapeso.

O Exército israelense não tem nenhum rival real dentro do Estado, nem mesmo quando a política desse Exército nos custa nossas próprias vidas (as vidas dos palestinos, para não mencionar seu bem-estar ou sua dignidade, está excluída do discurso político).
Não há dúvida de que a “política de assassinatos” de Israel - seu assassinato de lideranças políticas (dr. Thabet, de Tulkarem, ou Abu Ali Mustafá, de Ramalá) ou de “terroristas” (às vezes rotulados como tais somente depois de terem sido eliminados) - tem jogado lenha na fogueira. As pessoas falam disso, embora nenhum política da direita, do centro ou mesmo da decadente esquerda sionista tenha ousado se pronunciar contra isso. E apesar de críticas na imprensa, o Exército vem fazendo o que decidir fazer. Agora eles conseguiram aquilo que realmente desejavam: um ataque total contra a Cisjordânia.
Desde 11 de setembro as palavras “guerra contra o terrorismo” se tornaram populares, razão porque tudo o que Israel faz é uma guerra contra o terrorismo, incluindo o saque no Centro Cultural Khalil Sakakni em Ramalá. Também sou contra o terrorismo. Não quero morrer levando meu filho ao shopping. De fato, eu não o levo mais lá. Não tomo ônibus e temo que chegue a vez da minha família, mas sei que eles - isto é, os generais - aceitam ataques terroristas como “um preço razoável a pagar” para alcançar uma solução. Qual é a solução deles? Paz - de que tipo? Paz entre os israelenses vitoriosos e os palestinos derrotados.
A crueldade do Exército Israelense deve ser lida contra o pano de fundo de sua derrota no Líbano, quando foi expulso de lá depois de travar durante anos uma guerra suja. O sul do Líbano foi incendiado e destruído pela artilharia e a força aérea israelenses para que nenhuma organização terrorista pudesse resistir. Mesmo assim, 300 combatentes - devo chamá-los de “terroristas”? - expulsou-nos (isto é, nosso Exército) duas vezes. Primeiro, em 1985, de volta ao que nosso exército e imprensa costumavam chamar de nossa “Zona de Segurança” (a imprensa estrangeira denominava-a “zona de segurança” auto-proclamada por Israel); e depois, dois anos atrás, dessa mesma Zona de Segurança. Os generais que foram derrotados àquela época estão dirigindo a guerra atual. Eles têm vivido aquela derrota diariamente. E agora podem lhes ensinar - isto é, aos árabes - sua lição.
Nossos heróis, armados com aviões, helicópteros e tanques, podem deter centenas de pessoas, concentrá-las em campos cercados de arame farpado, sem cobertores nem abrigo, explorar a confusão para demolir mais casas, abater mais árvores, retirar mais meios de subsistência.
A escavadeira, antigamente um símbolo da construção de um novo país, tornou-se um monstro que acompanha os tanques, de modo que todo mundo possa ver como o lar de outra família, um outro futuro, desaparece. Os israelenses procuram punir qualquer pessoa que enfraqueça nossa imagem de nós mesmos como vítimas. Ninguém tem permissão de tirar de nós essa imagem, especialmente não no contexto da guerra com os palestinos, que estão travando uma guerra em “nosso lar” - isto é, seu “não-lar”.
Quando um ministro do gabinete de uma antiga república socialista comparou Iasser Arafat a Hitler, foi aplaudido. Por quê? Porque este é o modo como o mundo deveria olhar-nos, emergindo das cinzas. É por isso que amamos o filme Shoah, de Claude Lanzmann (e ainda mais seu repugnante filme sobre o Exército Israelense) e a Lista de Schindler.
Diga-nos mais sobre nós mesmos como vítimas e como devemos ser perdoados por toda a atrocidade que cometemos. Como escreveu minha amiga Tanya Reinhart: “Parece que o que nós interiorizamos da memória do holocausto é que qualquer mal de extensão menor é aceitável”. Mas esse “mal do passado” tem um jeito peculiar de entrar na nossa vida presente.
Em 25 de janeiro, três meses antes do Exército Israelense obter licença para invadir a Cisjordânia, Amir Oren, um comentarista militar veterano do Haaretz, citou um oficial superior: afim de se preparar adequadamente para a próxima campanha, um dos oficiais israelenses nos territórios ocupados disse há não muito tempo atrás que é justificado e, de fato, essencial, aprender com todas as fontes possíveis. Se a missão é tomar um campo de refugiados densamente povoado, ou assaltar a kasbah (centro comercial) em Nablus, e se o dever do comandante é tentar executar a missão sem baixas em ambos os lados, então ele deve primeiro analisar e interiorizar as lições de batalhas anteriores - mesmo, embora isso possa parecer chocante - mesmo como o Exército Alemão lutou no Gueto de Varsóvia. O oficial de fato obteve sucesso em chocar pessoas, não menos porque ele não está sozinho nesse procedimento. Muitos dos seus camaradas concordam que a fim de salvar israelenses agora é certo fazer uso do conhecimento que se originou nessa terrível guerra, cujas vítimas eram parentes deles.
Israel pode não ter um passado colonial, mas temos uma memória do mal. Isso explica por que soldados israelenses estamparam número de identificação nos braços dos palestinos? Ou por que o mais recente Dia do Holocausto produziu uma ridícula comparação entre aqueles dentro nós no Gueto de Varsóvia sitiado e aqueles de nós cercando o sitiado campo de refugiados de Jenin?
A satisfação pela “vitória” de Jenin foi parte dessa mentira permanente.
Uns vinte soldados israelenses (a maioria deles reservistas) morreram na que foi considerada uma campanha de baixa zero, mas os defensores do campo estavam equipados somente com rifles e explosivos. No lado israelense, como sempre, havia unidades especiais deslocando-se de um beco para outro, assistidos por uma aeronave de controle remoto que fornecia informações sofisticadas aos comandantes na retaguarda. Quando isso não funcionava, sobrevinha o bombardeio do campo, depois o emprego de helicópteros Apache fornecidos pelos Estados Unidos para destruir casas juntamente com dúzias (ou centenas) de habitantes. Isso foi um massacre? Como tudo mais na nossa corrompida vida, isso depende do número de mortos: dez israelenses mortos é um massacre, 50 palestinos mortos não vale a pena considerar.
A destruição do campo, se espontânea ou premeditada por Sharon & Cia., reflete a determinação dos oficiais superiores de terminar seu serviço militar com uma realização real: a eliminação do movimento nacional palestino, sob a máscara da guerra contra o terror. Mas o terror não será derrotado desse jeito. Pelo contrário. Escravizar uma nação, dobrando-a de joelhos, simplesmente não funciona. Nunca funcionou. O longo sítio da Igreja da Natividade em Belém é a prova de que as palavras “generais israelenses” não se referem mais a homens capazes de pensamento estratégico ou a algo que se lhe assemelhe. Os generais israelenses podem ter travado algumas batalhas complicadas em 1967, 1973 ou mesmo 1982, mas em Belém eles cercaram 200 jovens palestinos durante mais de três semanas e deixaram o mundo ver sua obstinação e crueldade sem sentido. Como, você pode perguntar, pode uma nação desobediente como Israel seguir de forma tão tola um alto comando?
Aqui situa-se o começo de uma resposta.
Enquanto os cadáveres apodreciam em Jenin e crianças pequenas corriam em torno procurando por alimento ou por seus pais desaparecidos, e os feridos ainda sangravam até à morte, com o Exército Israelense impedindo qualquer socorro ou funcionários da ONU de entrar no campo (o que eles tinham para esconder?), o Ministério da Educação de Israel baixou uma portaria para todas as escolas no sentido de que as crianças levassem encomendas para os soldados.
“A coisa mais importante”, disse o professor do meu filho de sete anos, “é uma carta para os soldados”. Centenas de milhares de crianças escreveram tais cartas quando a guerra contra uma população civil estava em seu grau máximo, sob o olhar crítico da mídia mundial. Imagine o comprometimento ideológico daquelas crianças no futuro.
Este é apenas um aspecto de nossa sociedade destituída de oposição. O imaginário israelense é constituído, antes de mais nada, pela crença na supremacia israelense.
Quando acontece um bombardeio suicida cruel num hotel em Netanya, nós respondemos numa escala maior, com um ataque terrorista contra eles, não importando se isso inflige morte e fome a dois milhões de pessoas que não têm conexão com aquele ato, não importando se isso criará mais mil mártires que explodirão a si próprios juntamente com suas vítimas.
A lógica militar por trás desse comportamento diz: “Temos o poder e temos de exercê-lo, de outro modo nossa existência ficará em perigo”. Mas o único perigo é o perigo enfrentado pelos palestinos. Câmaras de gás não são o único meio de destruir uma nação. Basta destruir seu tecido social, fazer perecer pela fome dúzias de aldeias, produzir altas taxas de mortalidade infantil.
A Cisjordânia está atravessando uma “Gaza-isação”. Por favor, não dê de ombros. A única coisa que pode ajudar a destruir o consenso em Israel é a pressão da Europa Ocidental, da qual a elite israelense é dependente de muitas maneiras.




... e se preciso for até mesmo com a perda da própria vida!!!!


COR UNUM ET ANIMA UNA PRO BRASILIA
jif_jr
Júnior
Júnior
Mensagens: 43
Registrado em: Qui Mai 01, 2003 10:04 pm
Localização: Mogi das Cruzes - SP

#13 Mensagem por jif_jr » Dom Ago 29, 2004 7:39 pm

No mais, todos já sabem (é fato notório) que Israel é o 51o. Estado dos EUA, posto avançado do imperialismo norte-americano no oriente médio. Termômetro de todas as tensões que ebulem no Oriente Médio e também uma das suas causas, se não a principal.


Será ? Creio que seja o contrário os EUA saum fantoches de Israel, este texto pode ajudar ...



EEUU: “SATÉLITE” DE ISRAEL?


Autor: * Cel Av RR Manuel Cambeses Júnior


Em 12 de abril de 1998, o conhecido jornalista norte-americano R.C. Longworth publicou um instigante artigo no jornal Chicago Tribune, que haveria de dar a volta ao mundo através de sucessivas reedições.

Seu trabalho, que significativamente leva como título “Os donos do mundo”, constitui uma glorificação do poder adquirido pelos Estados Unidos após o término da Guerra Fria. Nele, se reproduziram algumas frases citadas pela secretária de Estado, do governo Clinton, Madeleine Albright: “Por suas capacidades únicas e seu poder inigualável o Estados Unidos deve continuar exercendo influência tanto na Europa quanto na área do Pacífico; deve conduzir a Rússia à democracia e promover a paz no Oriente Médio; deve continuar forjando um sistema econômico global; deve lutar e ganhar a guerra contra o crime internacional e deter o terrorismo; lutar contra a fome, controlar as enfermidades, proteger aos refugiados; se necessitamos usar a força é porque somos Estados Unidos da América, a nação indispensável. Somos aqueles que tem a capacidade de ver muito além do futuro”.

Ultimamente, entretanto, observamos que o primeiro-ministro de Israel tem desafiado frontalmente o poderio de Washington. Ariel Sharon negou-se a aceitar a proposta norte-americana – referendada pela Organização das Nações Unidas - de retirada parcial da Cisjordânia, apesar de que a mesma foi aceita, sem restrições, pelo líder palestino Yasser Arafat; recusou-se a assistir à “Cúpula de Washington” convocada pelo presidente George W. Bush; solicitou a mediação do primeiro-ministro inglês Tony Blair, menosprezando a tradicional mediação estadunidense; referiu-se em termos inusualmente duros ao Secretário de Estado Donald Rumsfeld e ao delegado especial do presidente Bush, Dennis Ross. E, mais ainda, viajou recentemente a Washington com o firme propósito de dirigir-se às organizações judias/norte-americanas e aos congressistas desse país, para solicitar-lhes que pressionem o presidente Bush e o levem a modificar sua atual posição com relação à problemática árabe-israelense.

Como explicar esta contradição entre o ilimitado poderio dos Estados Unidos e o aberto desafio que lhe lança um aliado, como Israel, que recebe milhões de dólares anuais em ajuda econômica norte-americana?

Tradicionalmente a Casa Branca tem assumido o papel de defensora dos interesses dos países árabes moderados, cujo subsolo abriga a maior parte das reservas petrolíferas mundiais. Para contrapor-se a esta posição o governo de Israel tem-se dirigido e apelado à poderosa comunidade judia/norte-americana.

No entender de Robert H. Trice (American Jewish Ethnicity, Ethnicity in Contemporary America, Dubuque 1985): “O governo de Israel, tendo se encontrado em conflito aberto com as administrações de Johnson, Nixon, Ford, Carter e Clinton, tem recorrido tradicionalmente aos esforços em favor das organizações judias-americanas”. Estas organizações, por sua vez, tem exercido uma sistemática influência sobre o Congresso dos Estados Unidos que, sensível ao gigantesco poder do dinheiro de sua colônia judia, tem respondido, invariavelmente, a seus pontos-de-vista. Observa-se que tanto o Executivo quanto o Congresso estadunidenses têm sido permanentemente cobrados no que tange à política a ser adotada com relação ao Oriente Médio.

Faz muito tempo que as pressões exercidas pela Casa Branca sobre o governo de Israel não são correspondidas tanto por Jerusalém como por Washington. Vejamos o seguinte exemplo: o presidente Ford, insatisfeito com o comportamento israelense, fez uma declaração pública solicitando uma reavaliação da política dos Estados Unidos no Oriente Médio. O termo “reavaliação” significava a suspensão da ajuda dos EEUU a Israel até que esse país desse mostras de mudanças em seu comportamento. Isto constituiu-se numa proposta histórica pois, pela primeira vez, desde os tempos de Eisenhower, um presidente americano tornava pública a possibilidade de suspender a ajuda a Israel. A resposta dos israelenses não veio de sua própria capital como seria de se esperar, mas do próprio Senado estadunidense. Era impossível conceber uma resposta mais dramática e intimidatória: setenta e sete assinaturas de senadores fizeram o presidente Ford saber que ele estava incapacitado de levar adiante a sua proposta. Não foi em vão que, em 1973, o legendário Senador William Fulbright chegou a pronunciar as seguintes palavras: “A grande maioria do Senado dos EEUU, ao redor de 85% do mesmo, encontra-se a completa disposição de Israel, para cumprir qualquer coisa que ele queira”.

Esta estranha situação tem conformado uma curiosa equação política: o Congresso prevalecendo sobre a Casa Branca em relação à orientação da política norte-americana para o Oriente Médio; a comunidade judia-estadunidense determinando a posição do Congresso nesta matéria e o Estado de Israel definindo os contornos gerais da política a ser adotada com relação ao Oriente-Médio.

Dean Rusk, secretário de Estado no tempos de Kennedy e Johnson, certa vez pronunciou a seguinte frase: “Israel tem demonstrado freqüentemente que não é um satélite dos EEUU. É igualmente importante demonstrar que os Estados Unidos não é um satélite de Israel”.

Como é possível que apenas seis milhões de pessoas, que constituem a população judia dos Estados Unidos, possam ter alcançado uma influência tão descomunal? A resposta a encontramos em alguns fatores como os seguintes: primeiro, a comunidade judia constitui o segmento grupal mais bem sucedido dos Estados Unidos, com dezenas de prêmios Nobel e apresenta o mais alto nível de ingressos financeiros (pagamento de impostos) da sociedade norte-americana. Não existe uma só área de atividade em que seus membros não se sobressaiam ou ocupem posições de liderança; segundo, compõe uma comunidade extremamente próspera que conta com aproximadamente oitenta comitês de ação política, ou seja, organizações encarregadas de financiar campanhas eleitorais; terceiro, trata-se de uma comunidade coesa e que atua harmonicamente em bloco em função de um único objetivo: os interesses de Israel.

Entretanto, tão significativo como suas características grupais são seus métodos. Estes se caracterizam pelo uso alternativo da prodigalidade e do garrote. A primeira, traduzida em generosas contribuições eleitorais dirigidas a congressistas amigos e alinhados com as causas judias. O segundo é utilizado implacavelmente contra os legisladores que tenham obstaculizado os interesses de Israel. Senadores do tope de William Fulbright, Adlai Stevenson e Charles Percy se viram fora do Capitólio devido a poderosas campanhas encetadas contra eles pela comunidade judia.

A viagem que recentemente empreendeu o líder judeu Ariel Sharon a Washington constitui uma ocasião histórica. Os resultados que advirão deste encontro permitirão determinar se os Estados Unidos representam, efetivamente, o poder hegemônico mundial ou se, ao contrário, constitui o “satélite” a que se referiu Dean Rusk.




... e se preciso for até mesmo com a perda da própria vida!!!!


COR UNUM ET ANIMA UNA PRO BRASILIA
Avatar do usuário
Einsamkeit
Sênior
Sênior
Mensagens: 9040
Registrado em: Seg Mai 02, 2005 10:02 pm
Localização: Eu sou do Sul, é so olhar pra ver que eu sou do Sul, A minha terra tem um cel azul, é so olhar e ver

Merkava VI

#14 Mensagem por Einsamkeit » Sex Mai 06, 2005 7:38 pm

lançaram recentemente o Mbt Merkava VI com blindagem reativa e uma nova blindagem chamanda "Kinder Protektion", usa-se principalmente nos vidros de viaturas blindadas e mbts, vou procurar uma foto pra postar aqui.

bom se alguem nao sabe do que se trata trata-se do lamentavel episodio que os israelenses amarraram crianças no vidro de uma viatura blindada para proteger-se de tiros dos palestinos.

e olha o muro, alguem ja fez isso, mais logo os judeus, os tao sofridos
contruindo um muro pra cercar alguem, é no minimo hilario isso




Somos memórias de lobos que rasgam a pele
Lobos que foram homens e o tornarão a ser
ou talvez memórias de homens.
que insistem em não rasgar a pele
Homens que procuram ser lobos
mas que jamais o tornarão a ser...
Moonspell - Full Moon Madness

Imagem
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

#15 Mensagem por Clermont » Sáb Set 15, 2007 10:00 pm

ESTARÁ A GLASNOST JUDAICA CHEGANDO NA AMÉRICA? – Apesar da Reação, Muitos Judeus Estão Questionando Israel.

Por Tony Karon – 2007 - http://www.tonykaron.com/

Primeiramente, uma confissão: eu me odeio por isso, mas não posso deixar de amar Masada2000, o website mantido pelos militantes sionistas de direita, seguidores do Rabbi Meir Kahane. A razão porque eu o adoro é que sua lista D.I.R.T. – que significa “Dense anti-Israel-Repugnant Traitors” ou “Estúpidos Traidores Repugnantes Anti-Israel (também publicada como lista S.H.I.T. de “Self-Hating and Israel-Threatening jews” ou “Judeus Que se Auto-Odeiam Ameaçadores de Israel”). E isso não é porque eu ganhei uma entrada maior do que – ficando no “K” – Henry Kissinger, Michael Kinsley, Naomi Klein ou Ted Koppel. Os kahanistas são um bocado excêntricos, contando todo mundo de Woody Allen até o atual primeiro-ministro Ehud Olmert em sua lista de traidores judeus. Mas o hábito de marcar dissidentes judeus – aqueles de nós que rejeitam a noção nacionalista de que, como judeus, nosso destino está amarrado aquele de Israel, ou a idéia de que o sofrimento histórico de nosso povo, de algum modo isenta Israel de reprovação moral por seus abusos contra outros – como “auto-odiadores” não é estranha para mim.

Em 1981, meu pai foi, como um delegado da organização de serviço judaica B’nai B’rith, para um encontro no capítulo da Cidade do Cabo do Comitê Judaico de Representantes, o corpo governante das instituições comunais judaicas da África do Sul. O tópico do encontro era “Anti-semitismo no Campus”. Meu pai ficou muito chocado e profundamente embaraçado quando a Exibição “A” desse fenômeno se mostrou ser alguma coisa que eu havia publicado num jornal de estudantes condenando uma incursão israelense no Líbano.

Então, eu era um ativista no movimento anti-apartheid na África do Sul, o que consumia a maioria das minhas energias. Tendo sido um ativo sionista de esquerda em meus anos de adolescência, eu tinha, no entanto, mantido um interesse no Oriente Médio – e, é claro, todos nós sabíamos que Israel era o mais importante aliado do regime branco de apartheid sul-africano, armando suas forças de segurança em desafio de um embargo de armas da ONU. Mesmo então, a conexão entre as circunstâncias do povo negro sob apartheid, e aquelas dos palestinos sob ocupação na Margem Ocidental e Gaza, pareciam óbvias o bastante para mim e para muitos outros judeus no movimento de libertação sul-africano: ambos eram povos asperamente governados por um estado que lhes negava os direitos da cidadania.

Ainda assim, isso foi novidade. Eu posso recitar o kiddush de memória, cantar velhos hinos kibbutznik e amaldiçoar em iídiche. Eu já fui chamado de “judeu sanguinário” muitas vezes, mas nunca de anti-semita ou judeu que se auto-odeia. O que, rapidamente ficou claro para mim, no entanto, foi o propósito dessa pichação “auto-odiosa” – marginalizar judeus que discordam do sionismo, a ideologia nacionalista do estado judeu, de modo a impedir outros de expressarem visões similares.

O que eu gosto sobre o enfoque da lista S.H.I.T. para o trabalho – outro que a música-tema de “Dangerous Mind” que toca enquanto você lê – é o modo como ela abarca, literalmente milhares de nomes, incluindo muitos dos meus judeus favoritos. Dica para os sábios em Masada2000: se vocês querem tentar retratar os dissidentes como traidores dementes, realmente mantenham os números baixos. Ao invés disso, Masada2000 inadvertidamente, dá a mensagem de que “Pense criticamente sobre Israel e você se juntará a Woody Allen e a um elenco de milhares...”

Uma Nova Paisagem da Dissenção Judaica.

Os kahanistas são um movimento superficial, mas sua lista auto-derrotadora, no entanto, pode ser uma metáfora para a crise vindoura em mais esforços da corrente principal nacionalista para policiar a identidade judaica. Os estabelecimento sionista tem tido notável sucesso no meio-século passado em convencer os outros de que Israel e seus apoiadores falam por, e representam, “os judeus”. O valor para sua causa de tornar Israel indistinguível dos judeus em sua maioria é que isso torna um bocado mais fácil escudar Israel de reprovação. Isso sugere, nos termos mais enfáticos, de que sérias críticas à Israel equivale a crítica aos judeus. Mais de um milênio de violenta perseguição cristã aos judeus, culminando no Holocausto, tem feito muitos no Ocidente, justamente sensíveis a qualquer afirmação de anti-semitismo, uma sensitividade que muitos sionistas gostam de explorar para ganhar carta branca de isenção de críticas para um estado que eles afirmam ser a própria personificação do judaísmo.

Portanto, apesar da contínua opressão e desapropriação dos palestinos nos territórios ocupados, o então presidente de Harvard Larry Summers, evidentemente não teve nenhum problema ao dizer, em 2002, que críticas ásperas à Israel são “anti-semitas em seus efeitos, se não em suas intenções.”

Robin Shepherd do usualmente sensível centro de pensamento britânico Chatham House foi ainda além, argumentando que comparar Israel com o a África do Sul do apartheid é “objetivamente anti-semitismo”. Disse Shepherd: “naturalmente, alguém pode criticar Israel, mas há um teste definitivo, e é quando os críticos começam a utilizar constantes chavões de referência à África do Sul e aos nazistas, utilizando termos como ‘bantustões’. Nenhuma dessas pessoas, naturalmente, irá admitir estar sendo racista, mas esse tipo de anti-semitismo é uma forma muito mais sofisticada de racismo, e essa espécie de retórica e imaginário cheios de ódio estão no mesmo nível moral como racismo, tão grosseiro e distorcido que estão difamando um povo inteiro, já que Israel é projeto essencialmente judeu.”

Eu concordo que a analogia nazista é capciosa – não apenas errônea mas ofensiva em sua intenção, embora não “racista”. Mas a lógica de sugerir que é “racista” comparar Israel à África do Sul do apartheid é simplesmente bizarra. E se Israel, objetivamente se comporta como a África do Sul do apartheid? E então?

Realmente, senhor Shepherd, eu estaria mais inclinado a pregar o rótulo racista em qualquer um que confunda os 13 milhões de judeus do mundo, com um país no qual 8,2 milhões deles – quase dois-terços – escolheram não viver.

Embora você não deva saber disso – não se você acompanha a vida judaica, simplesmente através dos maiores corpos comunitários judaicos tais como a Conferência dos Presidente das Organizações Judaicas e a Liga Anti-Difamação – a extensão na qual os oito milhões de judeus da Diáspora se identificam com Israel é, crescentemente aberta a questionamento (muito para o horror do estabelecimento judaico de orientação sionista). Em um recente estudo fundado pela Andrea and Charles Bronfman Philantropies (uma importante doadora para organizações comunitárias judaicas), os Professores Steven M. Cohen e Ari Y. Kelman, revelaram que os dados de sua pesquisa fornecem alguns achados extraordinários: de modo a medir a profundidade da ligação dos judeus americanos à Israel, os pesquisadores perguntaram se os entrevistados iriam considerar a destruição do Estado de Israel uma “tragédia pessoal”. Menos da metade destes com idade inferior a 35 anos responderam “sim” e apenas 54 % destes com idade entre 35-50 anos concordam (comparados com 78 % destes com mais de 65 anos). O estudo descobriu que apenas 54 % destes abaixo de 35 anos sentem-se confortáveis com a própria idéia de um estado judaico.

Enquanto grupos como a Agência Judaica em Israel (que busca promover a imigração judaica) e o comitê judaico-americano expressam desalento com os achados, Cohen e Kelman tem outra más novas: eles acreditam que estão presenciando uma tendência de longo prazo que é improvável de ser revertida, já que cada geração de judeus americanos é ainda mais integrada na corrente principal americana do que seus pais e avós foram. O estudo, disse Cohen, reflete “alterações muito significativas que estão ocorrendo no que significa ser judeu.”

Os números impressionantes de Cohen e Kelman somente, sublinham o absurdo da sugestão de Shepherd de que desafiar Israel é “difamar um povo inteiro.” Eles também auxiliam a colocar em contexto o que eu chamaria uma emergente glasnost judaica na qual judeus críticos de Israel estão, cada vez mais desejosos de se fazerem conhecidos. Quando eu cheguei aos Estados Unidos, 13 anos atrás, fui, com freqüência surpreendido ao descobrir que as pessoas com as quais eu parecia compartilhar uma visão de mundo progressista e cosmopolita, iriam, de repente se metamorfosear em iracundos ultranacionalistas, quando a conversação se voltava para Israel. Então, teria sido impensável para o historiador Tony Judt advogar um estado binacional para israelenses e palestinos ou para o colunista do Washington Post Richard Cohen escrever que “Israel, em si é um erro. Ele é um erro honesto, um erro bem-intencionado, um erro pelo qual ninguém é culpado, mas a idéia de criar uma nação de judeus europeus numa área de muçulmanos árabes (e alguns cristãos) produziu um século de guerra e terrorismo do tipo que estamos vendo agora.” Impensável, também, foi a furiosa renúncia ao sionismo por Avrum Burg, antigo porta-voz do Knesset de Israel.

E, naqueles dias, com a Internet ainda na sua infância, a paisagem online judaica dissidente que, hoje em dia vai de grupos no campo da paz sionista como Tikkun, Americans For Peace Now, e o Israel Policy Forum, entre outros, aos judeus anti-sionistas da esquerda, tais como Not In My Name e Jewish Voices For Peace, ainda não tinham tomado forma. Na verdade, não havia nenhum Haaretz Online English Edition na qual, a realidade de Israel é, francamente relatada e debatida em termos que ainda são considerados heréticos em muito da mídia dos Estados Unidos.

Treze anos atrás, não havia, com certeza, nenhuma organização por aí como ”Birthright Unplugged”, que objetiva subverter o “Programa Taglit-Birtiright, fundado pelos grupos sionistas e o governo de Israel, que fornece viagens gratuitas à Israel para jovens judeus americanos, de modo a encorajá-los a se identificaram com o Estado. (A versão “Desplugada” encoraja os jovens judeus dos EUA a pegarem a temporada Birtright e sua viagem aérea grátis, e então, ficarem para um programa de duas semanas de visita à Margem Ocidental às organizações de direitos humanos israelenses, e aos grupos de paz. O objetivo é ver o outro lado de Israel, o lado experimentado por suas vítimas – e pelos israelenses que se opõem a ocupação da Margem Ocidental.)

Claramente, muita coisa tem mudado, e a habilidade do estabelecimento sionista – o Comitê de Ação Política América-Israel (AIPAC), o Comitê Judaico Americano, A Liga Anti-Difamação, e outros – para impor fronteiras nacionalistas sobre a identidade judaica está sendo erodida. Vale a pena relembrar em seu contexto que o anti-sionismo foi, originariamente, um movimento judeu – a maioria dos judeus europeus antes da Segunda Guerra Mundial rejeitava o movimento sionista e seus apelos para uma migração em massa da Europa para construir um nação-estado judaica na Palestina. A mais popular organização política judaica na Europa tinha sido o Yiddische Arbeiter Bund, um partido socialista judaico que era, militantemente anti-sionista. Mesmo entre os rabbis da Europa, havia considerável oposição à idéia de judeus tomando o controle de Sion antes da chegada do Messias (e ainda há, é claro, de uma considerável minoria de ultra-ortodoxos).

Naturalmente, o Holocausto mudou tudo isso. Para centenas de milhares de sobreviventes, um abrigo seguro na Palestina se tornou uma necessidade histórica.

Mas o mundo mudou desde então, e como a pesquisa acima citada sugere, a tendência, claramente não favorece os sionistas. Eu fui educado na idéia de que uma nação-estado judaica no Oriente Médio era o “destino manifesto” dos judeus. Eu aprendi no movimento sionista que a vida judaica na Diáspora era inevitavelmente atrofiada e, ultimamente condenada. Mas a história pode ter decidido de outra forma. A maioria de nós escolheu viver em qualquer outro lugar, portando votando com nossos pés. Na verdade, de acordo com números do governo israelense, cerca de 750 mil judeus israelenses (15 % da população judaica de Israel) está, agora, vivendo no estrangeiro, minando ainda mais a premissa sionista de que a Diáspora é um lugar, por natureza hostil e anti-semita.

A Ferocidade do Nacionalismo, A Universalidade da Justiça.

Cada vez mais inquietos por a maioria de nós não ter intenção de ir para Israel reforçar os números judaicos, a Agência Judaica baseada em Israel – aparentemente sem considerar a ironia de suas próprias ações – tem reclamado com a Alemanha por suas políticas oficiais que tornam a vida lá tão atraente para os imigrantes judeus dos antigos territórios soviéticos, que os desencorajam de irem para Israel. Mais imediatamente ameaçadora para o estabelecimento sionista, no entanto, é outra realidade: muitos judeus estão começando a fazer, antes impensáveis críticas do comportamento de Israel. Se você quer martelar os críticos judeus com a acusação de “anti-semtismo”, quando eles desafiam as ações de Israel, então dificilmente ajuda ter outros judeus se levantando e expressando os mesmos pensamentos. Isso solapa o senso, acalentado pelos mais ardentes advogados de Israel, de que eles representam um consenso forjado em ferro entre os judeus americanos em particular.

Isso ficou muito claro na resposta à publicação do controverso novo livro de John Mearsheimer e Steven Walt, The Israeli Lobby and U.S. Foreign Policy, que desafia a sabedoria e a moralidade da desavergonhada e absoluta inclinação da política externa dos EUA para com Israel. Em uma discussão no show da NPR Fresh Air, Walt teve de penar para salientar, como no seu livro, que o Lobby de Israel, como ele o enxerga, não é um lobby judeu, mas antes uma associação de grupamentos com uma agenda política de direita, freqüentemente em desavença com a opinião majoritária judaico-americana.

Abe Foxman, da Liga Anti-Difamação, argumentou exatamente o oposto: Walt and Mearsheimer, ele afirmou, estavam, com efeito, promovendo o anti-semitismo, porque o lobby de Israel não é nada mais (ou menos) do que a vontade coletiva da comunidade judaica americana. O que, naturalmente, não é. De fato, na comunidade judaica americana você pode, cada vez mais ouvir ecos abertos do ceticismo de Mearsheimer e Walt sobre se os esforços do lobby são bons para Israel.

Mas o caso de Foxman é solapado por alguma coisa mais abrangente – a aparição de uma glasnost judaica. Naturalmente, como qualquer ruptura com um consenso há muito estabelecido, a eclosão de uma dissenção tem provocado uma reação. Norman Finkelstein – o notado acadêmico do Holocausto e feroz crítico do sionismo recentemente escorraçado da Universidade De Paul numa campanha de vilificação baseada, precisamente sobre a idéia de que feroz criticismo de Israel é equivalente ao “discurso de ódio” – pode ser perdoado por ser cético da idéia de que o domínio dos ultranacionalistas está enfraquecendo.

E também pode, Joel Kovel. Apesar de tudo, ele teve seu importante livro Overcoming Zionism, retirado de seu distribuidor americano, a Editora da Universidade de Michigan, também sob a acusação de “discurso de ódio”. (Esta decisão foi, mais tarde revogada, mas pode ter conseqüências de longo prazo para o relacionamento da distribuidora com a editora de Kovel, a Pluto Impressões britânica.)

Jimmy Carter – que foi chamado de “negador do Holocausto” (sim, um negador do Holocausto!) por utilizar a analogia do apartheid em seu livro sobre Israel – e Mearsheimer e Walt podem ter razão para ceticismo também. Mas eu argumento que a renovada ferocidade dos recentes ataques sobre estes que se desviaram do caminho reto e estreito dos nacionalistas é produto do pânico do estabelecimento judaico – um pânico nascido do fato de que está perdendo seu controle. Como na antiga União Soviética, com a glasnost real, esse é um processo, que uma vez iniciado, apenas tende a ser acelerado por uma tal caça às bruxas.

No ano passado, um acadêmico muito excêntrico, de nome Alvin Rosenfeld, representando o mais antigo grupo defensor da causa judaica nos EUA, o Comitê Judaico Americano, conseguiu uma onda de atenção ao prevenir de que judeus liberais, tais como o dramaturgo Tony Kushner, Tony Judt e Richard Cohen, todos os quais tem, recentemente desferido críticas fundamentais de Israel, estavam dando conforto a um “novo anti-semitismo”.

“Eles estão ajudando a tornar os pontos de vista [anti-semitas] sobre o estado judaico, respeitáveis – por exemplo, de que é um estado do tipo nazista, comparável ao apartheid sul-africano; que ele se engaja em limpeza étnica e genocídio. Essas acusações não são verdadeiras e podem ter o efeito de deslegitimar Israel.”

Na realidade, entretanto, concorde-se ou não com as visões desses críticos, eles, simplesmente não podem ser, legitimamente chamados de anti-semitas. Realmente, eu duvido que qualquer um destes que ele citou tenha acusado Israel de genocídio ou o comparado de qualquer modo com o estado nazista. (O antigo Porta-Voz do Knesset israelense Avram Burg, no entanto, recentemente escreveu, em referência ao militarismo israelense e a hostilidade aos árabes, “Algumas vezes, é difícil para mim, distinguir entre o primitivo nacional-socialismo e algumas doutrinas culturais nacionais de aqui e agora.” ). Mas a limpeza étnica na qual os israelenses expeliram 750 mil palestinos em 1948 e o caráter de apartheid da presente ocupação da Margem Ocidental por Israel são realidades objetivas. Rosenfeld está sugerindo que, dar uma olhada honesta seja na ocupação ou nos eventos de 1948, como muitos escritores, jornalistas e políticos israelenses tem feito, é “deslegitimar” Israel e promover o anti-semitismo.

Justo na semana passada, Danny Rubinstein, correspondente sênior cobrindo assuntos palestinos para o jornal israelense Haaretz, estava escalado para discursar na Federação Sionista Britânica – e então, no último minuto, seu discurso foi cancelado. A razão? Rubinstein tinha apontado que “o Israel de hoje em dia, é um estado de apartheid com diferentes status para diferentes comunidades.” (Enquanto muitos judeus americanos liberais não podem se permitir aceitar a comparação com o apartheid, isso não é verdadeiro para suas contrapartes israelenses que, realmente sabem o que está se passando na Margem Ocidental. O antigo ministro da educação Shulamit Aloni, por exemplo, ou o jornalista Amira Hass usam a comparação. (A comparação primeiramente me ocorreu numa visita ao Kibbutz Yizreel em 1978, quando os mais velhos do meu movimento de jovens sionistas, o Habonim, que tinham emigrado da África do Sul para Israel, me preveniram de que a política de assentamentos do então novo governo do Likud era designada para impedir Israel de sair da Margem Ocidental. A população lá, eles nos contaram, nunca iria receber o direito ao voto em Israel, e portanto o resultado iria ser, como eles pressagiaram, “de uma situação de apartheid.”)

Usar o termo “apartheid” em referência a ocupação atrai a atenção destes que preferem desviar o olhar do fato de que Israel está, rotineiramente engajado em um comportamento que sociedades democráticas tem considerado como moralmente odioso e inaceitável quando ele ocorree em outros contextos. É precisamente porque esse fato os torna desconfortáveis, eu suspeito, que eles reagem tão emocionalmente a palavra “Apartheid”. Leve negros sul-africanos que sofreram sob o apartheid, em visita à Margem Ocidental – um moderado de maneiras suaves ganhador do Prêmio Nobel da Paz, como o Bispo Desmond Tutu, por exemplo – pergunte a eles sobre a validade da comparação, e você sabe a resposta que vai obter.

Além do mais, esta é uma resposta com a qual um crescente número de judeus, que colocam as tradições de justiça social, ética e universal de sua fé acima do tribalismo estreito, estão ansiosos para lidar.

Em um anterior comentário, talvez pressagiando sua ruptura com os sionismo, Burg observou em 2002:


Sim, nós israelenses revivemos a linguagem hebréia, criamos um maravilhoso teatro e uma moeda nacional forte. Nossas mentes judaicas são tão aguçadas como sempre. Nós comerciamos no Nasdaq. Mas foi para isso que criamos um estado? O povo judeu não sobreviveu por dois milênios de modo a ser pioneiro em novos armamentos, programas de segurança de computador ou mísseis anti-mísseis. Se esperava que fôssemos uma luz sobre as nações. Nisto nós falhamos. Mostrou-se que 2 mil anos de luta para a sobrevivência judaica terminaram em um estado de assentamentos, governados por uma claque amoral de violadores da lei que são surdos, tanto para seus cidadãos como para seus inimigos. Um estado carente de justiça não pode sobreviver. Mais e mais israelenses estão chegando à compreensão disso quando perguntam aos seus filhos onde eles esperam viver em 25 anos. Crianças que são honestas em admitir, para o choque de seus pais, que elas não sabem.”


Embora eu não seja religioso, compartilho a visão de Burg de que a justiça universal está no coração da tradição judaica. Crescendo na África do Sul do apartheid foi uma lição objetiva em ética judaica. Sim, havia abundância de anti-semitismo na sociedade colonial branca da minha infância, mas o manto da vitimização pertencia a outros. E se você respondesse de um modo muito judaico, mas de modo nenhum exclusivo, de buscar a justiça, você se acharia trabalhando, lado-a-lado não só com um extraordinário número de judeus que ocupavam funções de liderança no movimento de libertação, mas também com cristãos, muçulmanos, hindus e outros.

O chamado ético e universal do judaísmo não pode ser respondido se vivermos, apenas entre nós mesmos – e a própria experiência de Israel sugere que é, essencialmente impossível fazer isso sem cometer injustiça para com outros. Israel tem apenas 59 anos de idade, um breve momento na ampla extensão da história judaica, e eu sustento que a sobrevivência do judaísmo depende, ao invés sobre sua habilidade em oferecer uma âncora de sustentação moral e ética em um mundo onde os conceitos de nação e nacionalidade estão em declínio (mas a ferocidade do nacionalismo pode não estar). A relevância de Israel para o a sobrevivência do judaísmo depende, primeira e mais fundamentalmente em sua habilidade, como Burg aponta, para promover justiça, não apenas para seus cidadãos, mas para esses que ele tem ferido.


_______________________________

Tony Karon é um editor senior na TIME e também mantém sue próprio website “Rootless Cosmopolitan”, onde ele comenta sobre tudo, de conflito geopolítico à questões de identidade judaica. “Rootless Cosmopolitan (cosmopolitas sem-raízes) era o eufemismo pejorativo para “judeu” de Stalin durante seu expurgos anti-semitas dos finais dos anos 1940, mas Karon, que cresceu na África do Sul e cujas raízes familiares repousam na Europa Oriental, e antes disso, na França, assumiu o termo como distintivo de honra. Karon foi um ativista adolescente no movimento sionista de esquerda Habonim antes de encontrar seu caminho na grande tenda da luta de libertação anti-apartheid, uma experiência que o levou a re-imaginar o que significa ser um judeu no mundo.




Responder