OPERAÇÃO PAMPA 2006:
OPERACIONALlDADE E EFICIÊNCIA NO ADESTRAMENTO DAS FORÇAS DO TO SUL
1. ANTECEDENTES
O advento da criação do Ministério da Defesa, no ano de 1999, fez com que
as operações combinadas assumissem uma importância cada vez maior no contexto do adestramento das Forças Singulares, tendência já consolidada em países onde essa doutrina é uma realidade há mais tempo.
As Forças Armadas brasileiras vêm, desde então, participando de diversos exercícios de operações combinadas, contribuindo para o desenvolvimento de doutrina própria,
sob a orientação do Estado-Maior de Defesa.
No ano de 2004, o Comando Militar do Sul participou, pela primeira vez, de uma operação combinada empregando seus Grandes Comandos operacionais em um Teatro de Operações Terrestre: a Operação Rio Negro. Essa operação serviu de laboratório para uma operação ainda mais complexa e de grande magnitude a Operação PAMPA 2005 - que ocorreu no período de 10 a 20 de novembro de 2005, no Estado do Rio Grande do Sul.
No corrente ano, a Operação PAMPA 2006 será executada no período de 05 a 14 de novembro na área do CMS, envolvendo diretamente cerca de
sessenta estados-maiores das três Forças Armadas. Para tanto, o
Gen Ex Carlos Alberto PINTO SILVA, Comandante Militar do Sul, foi designado pelo Sr Ministro da Defesa para exercer a função de
Comandante do Teatro de Operações Sul, por intermédio da Port Nº 914/Gabinete/MD, de 04 Jul 06.
1. A CONCEPÇÃO GERAL
A operação foi concebida com o principal objetivo de possibilitar o adestramento de estados-maiores no planejamento e na condução de operações combinadas. Esse adestramento foi buscado por meio da
maximização da integração de todos os Sistemas Operacionais entre as Forças Componentes.
Para a obtenção deste objetivo, foi delineada uma operação terrestre de movimento, com característica eminentemente ofensiva, em um cenário
que contempla, simultaneamente, batalhas navais, terrestres e aéreas. Este cenário está inserido num contexto de crise externa - vocação prioritária do CMS.
A fim de que se obtenha o máximo aproveitamento dos recursos financeiros destinados à operação, a manobra terrestre idealizada prevê o emprego de uma divisão de exército Azul (3ª DE) com tropa no terreno, em uma Direção Tática de Atuação (DTA), enquanto outra DE Azul (5ª DE) realiza uma manobra utilizando o sistema de simulação de combate, em suas instalações em Curitiba. Isso faz com que a
Força Terrestre Azul tenha que coordenar, simultaneamente, a progressão da 3ª DE (no terreno) e da 5ª DE (em simulação de combate), no contexto da mesma manobra. Para se opor às forças azuis, foi constituída
uma força oponente com base em duas brigadas - uma de infantaria, outra de cavalaria.
A 3ª DE deslocará para o terreno os postos de comando (PC) da divisão, das brigadas e das OM subordinadas, as tropas de apoio logístico e de apoio ao combate, além das vanguardas das tropas de 1º escalão. Essas tropas, em número suficiente para produzir as reações entre as forças azuis e vermelhas nas linhas de contato, alimentarão com dados os sistemas operacionais, proporcionando o controle da ação planejada por parte dos estados-maiores, em tempo integral.
A marinha azul está nucleada na Força Combinada Rio Grande, que empregará meios navais do 5º Distrito Naval (Rio Grande) e da esquadra. Para se opor à essa força, a marinha vermelha contará com navios e mergulhadores de combate.
A FAB realizará um exercício de dupla ação, em que
as aviações azul e vermelha combaterão com total liberdade de ação a partir de vários aeroportos e aeródromos da região Sul.
A operação tem planejamento centralizado e execução descentralizada, sendo esta coordenada e controlada por meio de quatro Direções de Exercício (DIREX), cada uma responsável por um tipo de reação, e sob a supervisão da DIREX Geral.
2. A COMPLEXIDADE NA COORDENAÇÃO
A Operação Pampa reúne mais de 6.000 militares das três Forças. Trata-se de uma operação de conflito convencional, com grande complexidade e de difícil coordenação.
Para que se atinja os objetivos propostos em uma operação de tal magnitude, de modo organizado e coordenado, são necessárias diversas reuniões entre os integrantes das três Forças. Essas reuniões têm por objetivo a elaboração de documentos normativos, de documentos operacionais, a coordenação do espaço aéreo, o treinamento de operadores de sistemas de Comando e Controle (C2), o treinamento das DIREX, a utilização dos diversos meios de C2, a coordenação do apoio administrativo, o treinamento dos operadores da simulação de combate, dentre outras.
A resultante das diversas atividades de coordenação é um maior conhecimento do modo peculiar de atuação de cada Força, gerando um aperfeiçoamento do processo de elaboração e de condução de exercícios dessa monta.
3. O PLANEJAMENTO OPERACIONAL
As atividades de planejamento operacional tiveram início com a realização da lª Reunião do EM Combinado no mês de julho. A concentração, o deslocamento e a manobra estratégica foram concebidos pelo EM, de acordo com a doutrina de Operações Combinadas, e consubstanciados no Plano de Campanha do Teatro de Operações.
Esse plano, que é flexível e está permanentemente em atualização, está servindo de base para o planejamento tático das forças componentes e de seus G Cmdo subordinados - fase atual da Operação.
4. A EXECUÇÃO
A execução da operação inicia com o deslocamento estratégico das tropas de suas sedes em todo o país para a região de exercício. O apoio da Força Aérea para esse deslocamento é fundamental, particularmente para o deslocamento das tropas e meios de outras regiões do país, de elementos especializados da Marinha e de unidades aéreas da FAB.
Finda a concentração estratégica no Teatro de Operações, as forças iniciam sua preparação para entrarem em ação, tanto em terra, como no mar.
As ações iniciarão com a campanha pela conquista da superioridade aérea por parte da FAB, atacando alvos de interesse estratégico no interior do País Vermelho. Ao mesmo tempo, a Força Combinada Rio Grande executará ações de defesa do porto de mesmo nome e de controle de área marítima.
Em terra, sequencialmente, a 3ª DE realizará o deslocamento de suas tropas, de cerca de 150 Km, em direção ao Campo de Instrução Barão de São Borja (Município de Cacequi), ao mesmo tempo em que as ações de simulação de combate têm início em Curitiba, cumprindo a manobra concebida.
Em função das características da manobra terrestre - operação de movimento, missão dada pela finalidade, amplos espaços - as forças componentes enfrentarão problemas militares diferenciados, particularmente no tocante ao C2, em função das grandes distâncias de apoio, e ao apoio aerotático, com a ocorrência de um grande número de missões imediatas em detrimento das missões pré-planejadas.
5.
O COMANDO E CONTROLE: FATOR DE ÊXITO
O Comando e Controle constituiu-se em um dos principais fatores de êxito da Operação Pampa.
As características da operação, já mencionadas, impõem a necessidade de uma elevada gama de equipamentos e de sistemas à disposição para que se pudesse exercer efetivamente o C2.
Serão utilizados diversos sistemas de C2, tanto do MD quanto das Forças Singulares, totalmente integrados, além de recursos de videoconferência, sistemas de criptografia, entre outros meios.
Há, em conseqüência, um grande esforço de todos os órgãos de C2 envolvidos na operação no sentido de proporcionar enlaces seguros e confiáveis aos comandos operacionais.
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6. CONCLUSÃO
No corrente ano, a Operação Pampa constitui-se no grande exercício de adestramento do Ministério da Defesa em que as três Forças atuarão em um teatro de operações convencional, realizando o planejamento e a execução da concentração, do deslocamento e da manobra estratégica. Isso representa, mais uma vez, importante experiência no adestramento de estados-maiores e de tropas de diversas especificidades, todas interagindo, sob um comando único.
A interoperabilidade entre as Forças é uma realidade, assim como a interação da Doutrina de Operações Combinadas do Ministério da Defesa com as doutrinas de emprego das Forças Singulares, já consolidadas há mais tempo.
É possível constatar, desde a fase inicial de planejamento,
a sinergia durante o desenvolvimento dos trabalhos, possibilitando efetiva integração de experiências e de conhecimentos profissionais de oficiais e praças das três Forças, voltados todos para o cumprimento de sua missão precípua - a defesa da soberania e dos interesses nacionais.
Conclui-se com a certeza de que a Operação Pampa I produz inúmeros ensinamentos
e permite a integração entre as Forças, possibilitando o emprego combinado com operacionalidade e eficiência no contexto dos cenários visualizados para o TO Sul.
"A disciplina militar prestante não se aprende senhor, sonhando e na fantasia, mas labutando e pelejando." (CAMÕES)
Jauro.