Força Aérea Brasileira
Defesanet 17 Agosto 2006
Aerovisão 216 - Maio - Ago 2006
Aerovisão
Guerra Aérea acontece no coração do Brasil
A partir do dia 07 de agosto, o internauta poderá acompanhar o treinamento e participar da guerra simulada da , Cruzex III, pela página exclusiva na internet (
http://www.cruzex.aer.mil.br), que apresentará uma cobertura completa de todas as atividades a serem desenvolvidas na Operação.
Por Tenente Claudio Cinello
"E o mundo reagiu com indignação... quando ninguém esperava, a população do pacífico país Amarelo se viu sob o controle do país Vermelho. Foi uma invasão relâmpago. Inicialmente foram tentadas negociações diplomáticas com o país Vermelho, porém fracassaram. Sob esse clima, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a formação de uma Força de Coalizão para restabelecer a paz e devolver a região invadida ao seu legítimo povo. Então, as nações amigas, lideradas pelo país Azul, planejaram uma estratégia para interferir no conflito".
Todo esse enredo é pura ficção, mas poderia ser verdade. Essa guerra simulada tem data para começar: 20 de agosto. O local: a Região Centro-Oeste e parte do Sudeste do Brasil.
Trata-se da Operação Cruzeiro do Sul (CRUZEX III), A partir do dia 07 de agosto, o internauta poderá acompanhar o treinamento e participar da guerra simulada da, Cruzex III, pela página exclusiva na internet (
http://www.cruzex.aer.mil.br), que apresentará uma cobertura completa de todas as atividades a serem desenvolvidas na Operação.
Trata-se da Operação Cruzeiro do Sul (CRUZEX III), maior exercício combinado a ser realizado pela Força Aérea Brasileira (FAB), que contará com as participações das forças aéreas da Argentina, Chile, França, Peru, Uruguai e Venezuela. Muitas nações e um objetivo em comum: organizar e unir forças para aperfeiçoar procedimentos aplicáveis, de forma coordenada, em um conflito real.
Um exercício militar como este serve, dentre outros objetivos, para treinar as Forças Aéreas no planejamento de operações combinadas com países amigos, assim como treinar militares da FAB para operar dentro da mais moderna estrutura de comando e controle unificado do poder aéreo, nos mesmos moldes utilizados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em conflitos internacionais. Em complementação, incrementa o intercâmbio de experiências e o clima de confiança mútua entre os integrantes de países amigos.
E por que se adota a estrutura de comando e controle empregada pela OTAN? Porque se trata de um organismo internacional, criado em 1949, com muita experiência em conflitos que envolvem várias nações.
Essa estrutura, testada e aprovada m exercícios militares por todo o mundo, mostrou-se eficaz no gerenciamento de recursos empregados em combate. Os países membros da OTAN são comprometidos em manter e desenvolver suas capacidades de defesa, individual e conjunta, o que proporciona uma base de atuação em conjunto, assim como se treinará na CRUZEX III. Assim, com o intuito de modernizar seu modelo de condução das operações aéreas, por meio do Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR), a FAB vem implementando uma estrutura semelhante.
Vários países trabalharão juntos nessa operação. Serão 850 brasileiros e 920 militares estrangeiros. Para garantir uma boa alimentação para todos os guerreiros, além do apoio normal do refeitório da Base Aérea de Anápolis (BAAN), será utilizado um sistema inovador, que pode ser empregado quando se necessita operar em localidades distantes e desprovidas de qualquer apoio logístico. Estamos falando do Módulo de Alimentação a Pontos Remotos (MAPRE), que foi idealizado no ano de 2000 pelo Comando Geral de Pessoal (COMGEP) e já foi utilizado e aprovado em outras operações. Dessa forma, será possível fornecer as refeições diárias de alta qualidade, durante os dias da operação, sem a necessidade de resuprimento.
E se ocorrer a necessidade de atendimento médico a algum combatente? Para esses casos, em acréscimo aos recursos hospitalares já existentes na BAAN, o COMGEP também montará um Hospital de Campanha Tático (HCAMP) com uma estrutura capaz de realizar atendimento médico emergencial.
Esse hospital tem sua aplicação prioritária no socorro a tropas em situação de risco, sendo que, após os primeiros-socorros, o paciente é encaminhado para um local adequado. O HCAMP está capacitado para realizar qualquer cirurgia de caráter paliativo independente do grau de complexidade.
Durante doze dias, está programado o emprego de meios aéreos com mais de 50 aeronaves brasileiras e mais de 40 estrangeiras, distribuídas pelas cidades de Anápolis (GO), Campo Grande (MS), Goiânia (GO), Uberlândia (MG) e Brasília (DF).
Grande parte desses aviões estará no "país Azul", operando a partir de Anápolis (GO). Já o seu oponente, o "país Vermelho", atuará somente a partir de Campo Grande (MS) e com aeronaves da FAB.
Com esse grande número de aviões, certamente o tráfego aéreo esperado, durante os dias desse exercício, será bastante intenso. A fim de garantir um vôo seguro para os participantes da operação, bem como dos usuários da malha aeroviária da região, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) disponibilizará profissionais especializados e uma estrutura de radares e de comunicações, de maneira que esse importante treinamento da Força Aérea seja possível sem a interferência no dia-a-dia da aviação civil.
Uma operação do porte da CRUZEX III exige grandes esforços de tecnologia da informação. Para tanto, o DECEA também arquitetou uma complexa rede de computadores e de comunicação capazes de permitir que a ordem planejada no mais alto nível de comando da operação seja corretamente recebida, por exemplo, pelo piloto que executará uma missão de ataque. Tudo isso dentro das mais rígidas regras de segurança da informação, exigência presente nos conflitos inseridos na era digital.
Para que as aeronaves engajadas, brasileiras e estrangeiras, possam cumprir as missões previstas, o Comando-Geral de Apoio (COMGAP) disponibilizou uma grande estrutura de suporte logístico. Hangares de manutenção, por exemplo , com toda a infra-estrutura necessária, foram colocados à disposição dos países visitantes. Para manter o abastecimento eficaz das aeronaves durante toda a operação, um acréscimo de caminhões-tanque foi conseguido em parceira com a Petrobrás. Como mais aeronaves exigem maior segurança, equipes reforçadas de profissionais e veículos contra-incêndio estarão a postos e preparadas para qualquer emergência nas localidades da operação.
Além disso, um minucioso planejamento de suprimento e manutenção foi desenvolvido para que a FAB possa dispor do quantitativo ideal de meios aéreos para cumprir suas missões na CRUZEX III.
A CRUZEX III funcionará do seguinte modo: a Direção Geral do Exercício (DIREX) é unificada sob a responsabilidade de um Tenente-Brigadeiro-do-Ar da FAB, que determina toda a linha de ação a ser desenvolvida. Ele é assessorado por Co-Diretores (CO-DIREX), que são Oficiais-Generais dos outros países participantes. Uma outra célula da estrutura faz o controle da guerra simulada, e é responsável por criar situações, alinhadas com a história da guerra fictícia, as quais exigem uma pronta resposta, tanto do país Vermelho, como do Azul. Em uma guerra aérea, responder rapidamente, significa definir alvos, escolher a melhor aeronave para cumprir a missão e, finalmente, decolar para atingir o objetivo.
Paralelamente à guerra aérea, estará acontecendo uma outra guerra simulada: a de informações. Ao tentar justificar a invasão, o país Vermelho buscará conquistar o apoio da sua população e da comunidade internacional, utilizando a força da mídia contra a Força de Coalizão, que, por sua vez, terá que interpor respostas rápidas e precisas. Para desenvolver esse trabalho, uma equipe de Comunicação Social multinacional atuará com profissionais das áreas de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade. A FAB, em parceria com Instituições de Ensino Superior da Região Centro-Oeste, contará com a colaboração ativa de universitários e professores nessa estrutura proposta para o exercício.
Para o Major-Brigadeiro-do-Ar Antonio Guilherme Telles Ribeiro, Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, "o trabalho da FAB com universitários, que realizam estágio durante as operações militares desde 2002, tem sido muito proveitoso, pois além de os estudantes aplicarem seus conhecimentos acadêmicos, atuam como correspondentes de guerra e conhecem o nosso dia-a-dia.
Poderão ainda contribuir, futuramente, para mostrar à nossa sociedade uma real imagem, e o trabalho dos integrantes da nossa Força Aérea".
Um evento especial, na BAAN, chamado "Dia dos Portões Abertos", proporcionará para a população da região a possibilidade de ver aeronaves, brasileiras e estrangeiras, engajadas na CRUZEX III. Aviões de caça, como o Mirage-2000 (da França), semelhantes aos adquiridos em 2005 pela FAB; os F-16 venezuelanos; os A-4 argentinos e os brasileiros F-5M, que passaram por um recente processo de modernização, e também aeronaves-radar, como o E-3F francês e os R-99 brasileiros.
Poderão ainda ser vistos aviões de transporte, reabastecedores e de busca e salvamento, além dos helicópteros, que serão disponibilizadas para a exposição. Ao final desse dia, o público presente será brindado com uma apresentação da Esquadrilha da Fumaça, que demonstrará suas admiráveis e inesquecíveis acrobacias.
O Tenente-Brigadeiro-do-Ar William de Oliveira Barros, Comandante-Geral de Operações Aéreas e Diretor Geral do Exercício, disse que "muito já se aprendeu nas duas outras edições da CRUZEX, em 2002 e 2004, respectivamente nas regiões Sul e Nordeste do Brasil,.
Essas experiências nos capacitaram a participar de outras operações multinacionais, com semelhante concepção, como a Operação SALITRE, em 2004 no Chile e a Operação CEIBO, em 2005 na Argentina.
"Com a realização da CRUZEX III, é esperado um ganho de treinamento ainda maior, pois a Força Aérea Brasileira precisa continuar aperfeiçoando a sua capacidade operacional e modernizando seus procedimentos, a fim de se colocar entre as principais Forças Aéreas do mundo", ressaltou.
Legenda:
DIREX: Direção do Exercício;
CO-DIREX: Co-Direção do Exercício;
DICONSTAFF: Equipe de Direção e Controle do Exercício;
CMV: (Communications, Media and Visitors): Comunicação Social do Exercício;
JFAC: (Joint Force Air Component): Componente Aéreo de Força Combinada; e
DCAOC: (Deployable Combined Air Operations Center): Centro de Operações Aéreas Combinadas Desdobrável.
OBJETIVOS DO EXERCÍCIO
( Apresentada na página da CRUZEX III)
- Adestrar os Estados-Maiores e as Forças Aéreas no planejamento de Operações Combinadas com Forças Aéreas de países amigos.
- Proporcionar ao Estado-Maior da Aeronáutica, aos Comandos Operacionais, às Forças Aéreas e às Unidades Aéreas conhecimento de estrutura de Comando e Controle e de emprego do Poder Aéreo, nos moldes utilizados pela OTAN.
- Adestrar as equipagens de combate dos diversos esquadrões envolvidos, mediante o intercâmbio de conhecimentos operacionais com esquadrões similares de outras Forças Aéreas, em táticas de emprego.
- Treinar as defesas aéreas da Força de Coalizão contra ataques aéreos de saturação a baixa e média altitude.
- Treinar os tripulantes em operações CSAR e de resgate de nacionais.
- Adestrar o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB) no gerenciamento do espaço aéreo em situação de conflito.
- Incrementar o intercâmbio de experiências e o clima de confiança mútua entre os integrantes das Forças Aéreas amigas.
- Treinar as cadeias de Inteligência de acordo com doutrinas atuais e aperfeiçoar procedimentos de análises de objetivos/alvos.
- Utilizar a Comunicação Social como fator multiplicador de poder de combate e de projeção de força.