Mercado de Caças no Mundo Globalizado
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Mercado de Caças no Mundo Globalizado
A encruzilhada pós-moderna do
mercado global de aviões de caça
Felipe Salles
Editor Base Militar
http://www.basemilitar.com.br
Após um longo período de quase perfeita previsibilidade entre 1945 e 1990
O mercado mundial de caças, aparenta ter entrado numa fase onde as velhas certezas não mais se aplicam.
Durante os anos da Guerra Fria, na hora de planejar seu re-equipamento, as diversas armas aéreas acabavam por encontrar-se limitadas a obter seus caças exclusivamente das potências com quem seus países eram politicamente alinhados. Países ocidentais, como o Brasil, compravam exclusivamente dos EUA, França ou do Reino Unido. Muitos países árabes (em óbvia retaliação ao apoio ocidental ao Estado de Israel), os países não-alinhados e os comunistas forçosamente compravam modelos russos. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA restringiram, por questões exclusivamente políticas, o acesso de seus aliados aos seus aviões de mais alta performance. Eram liberadas para venda apenas as aeronaves mais defasadas, ou então, aquelas mais simplificadas com desempenho mais limitado, como o F-5. Este avião embora produzido em grande quantidade nunca foi usado operacionalmente pelos EUA, sendo destinado exclusivamente para exportação. A indústria francesa, normalmente operando fora destas restrições políticas, obteve nos anos 60 e 70 um grande sucesso com seus caças Mirage originais. Por sua vez, os britânicos desperdiçaram sua liderança tecnológica neste mercado ao, voluntariamente, abandonarem o mercado de caças após a introdução do interceptador BAC Lightning. Em função de questões políticas internas eles só voltariam ao mercado cerca de dez anos mais tarde, já então como parte de programas pan-europeus, como o Panavia Tornado.
Este foi o período conhecido como a era a das "guerras por procuração", e assim gerou uma situação bastante peculiar sob a ótica dos compradores. Poucos eram os países que dispondo de orçamento, também tinham a independência política para poder escolher seu próximo vetor de combate segundo suas próprias prioridades particulares. Por isso, um grupo bastante grande de nações ficou condicionada a aceitar o proverbial cavalo dado sem poder olhar os dentes. Tanto a União Soviética como os Estados Unidos, forneceram centenas de caças a países que efetivamente não tinham meios para comprá-los, e nem mesmo para mantê-los adequadamente. Estas "vendas" muitas vezes não passaram de doações camufladas sob o guarda-chuva de programas de assistência militar como o MAP - Military Assistance Program, tão usados pelos americanos. Uma vez que o fato gerador desta venda desaparecesse por qualquer razão, quase que imediatamente a frota destes países se tornava inoperante ou até mesmo acabaria sendo sucateada sumariamente.
Esta "encruzilhada" metafórica na década de 90 é claramente percebida como um momento de ruptura. Este é o ponto, a partir de onde, as antigas tendências parecem não mais guiar os fatos para o seu resultado "tradicional", e novos elementos passam a empurrar os fatos vindouros para caminhos totalmente inusitados.
Com o fim da Guerra Fria as fronteiras ideológicas do velho mundo, um mundo perfeitamente segmentado, se desintegram da noite para o dia. Inimigos e rivais de ontem viram possíveis focos de oportunidades para o futuro. Por exemplo, era assumido universalmente que toda a produção aeroespacial dos países ex-soviéticos fosse interrompida, como ocorreu em vários outros segmentos da antiga URSS. Mas isso não ocorreu, pelo menos não na área de aeronaves militares. O projeto básico de alta qualidade, característica presente tanto nos Sukhoi Su-27 Flanker, quanto nos Mikoyan Gurevich MiG-29 Fulcrum, causou uma grande mudança neste quadro de tradicional previsibilidade. Mesmo após o colapso da URSS, ano após ano, novos clientes passaram a adquirir os caças russos. China e Índia foram o catalisador desta nova fase ao, em paralelo, selecionarem o Flanker e o Fulcrum em grandes números para compor suas forças aéreas. Estas escolhas iniciais não tiveram nada de errático ou de pontual. Ambos os países, posteriormente, reafirmaram sua opção pela tecnologia russa ao assinarem contratos de produção local, sob licença para mais de cem unidades cada um, dos caças da Sukhoi.
O sucesso internacional da família Flanker se apóia em três pilares básicos:
a) Uma célula robusta, muito competente aerodinamicamente, capaz de comportar o crescimento e a atualização continuada com novos aviônicos digitais e sensores mais modernos;
b) Um país capaz de produzi-los em largas quantidades e sem muitas restrições de natureza política; e
c) um preço de aquisição muito agressivo, chegando a ser menor do que o do F-16, o caça leve padrão dos EUA.
O Flanker se constitui hoje num verdadeiro "caça Lego", onde praticamente qualquer aviônico, seja ele de origem russa, européia ou de outra nacionalidade, pode ser integrado ao avião, de acordo com o desejo do cliente.
Esta flexibilidade de configuração é um fruto acidental da forma da produção característica dos tempos soviéticos e de sua falência desordenada. Naquela época todos os modelos eram criados e desenvolvidos, até a fase do protótipo, pelo "Bureau" (Escritório de Projeto). Posteriormente o programa era distribuído para várias fabricas espalhadas pelo país para sua produção seriada. Com o fim da economia planejada soviética, cada uma destas indústrias passou a desenvolver, em paralelo, seu próprio programa de atualização independentemente dos esforços do Bureau Sukhoi. Hoje com a produção devidamente alinhada sob um modelo centralizado gerido pela holding Sukhoi e da gestão comercial unificada para o exterior pela Rosoboronexport, a plataforma básica do Flanker oferece ao comprador um amplo leque de opções na hora de configurar armas, sensores e eletrônicos de bordo. Na contramão do que se esperava há apenas dez anos, as vendas no exterior dos caças Sukhoi não param de crescer: Vietnam, Indonésia, Malásia, Argélia e agora, a Venezuela, se somam à China e à Índia e a várias ex-republicas soviéticas na operação de expressivas frotas destes aviões.
Mais do que os ganhos comerciais, as vendas de caças americanos neste novo cenário pós-Guerra Fria se nortearam ainda mais pelo desejo do governo americano em seguir manejando a capacidade militar de seus aliados. Nos anos 80 e 90 o caça padrão de exportação foi o monomotor F-16 que obteve um bom sucesso entre países da OTAN, países asiáticos e do Oriente Médio. Curiosamente, foi justamente a introdução do Flanker na Ásia, um caça muito maior e mais perigoso, que gerou uma mudança de planos dos EUA. Agora toma forma uma nova e inesperada onda de vendas do caça bimotor F-15. Justo um modelo que, até então, tinha suas vendas restritas a alguns parceiros chave, apenas: Japão, Israel e Arábia Saudita. Recentemente Coréia do Sul e Cingapura optaram por comprar este caça americano, apesar de ele ser muito mais caro e capaz que o F-16. Ambos aviões são excelentes, mas, sua escolha acaba por implicar a aceitação de uma série condicionamentos geopolíticos do governo americano. Em vários casos, clientes dos aviões F-16 acabaram tendo vetado seu acesso ao armamento mais moderno como, por exemplo, os mísseis BVR (além do alcance visual) AIM-120 AMRAAM.
Neste mesmo período, na Europa, o mercado se acomodou ao redor de três modelos que chegaram ao mercado quase que simultaneamente: o francês Dassault Rafale, o sueco Saab Gripen e o anglo-ítalo-hispano-alemão Eurofighter EF-2000. Se este último já nasceu com uma encomenda inicial de mais de 600 unidades dos seus sócios industriais e tem um futuro mais do que garantido, o mesmo não se pode dizer dos demais. O êxito verificado com os Mirage III, V e F-1 não se repetiu com o Mirage 2000, que conquistou não mais de 7 clientes no exterior. Seu sucessor, o Rafale, mesmo mais de 10 anos após seu primeiro vôo enfrenta uma pedreira íngreme e vem colecionando apenas frustrações no mercado exterior. Derrotado na Coréia e em Cingapura pelo F-15 americano, o Rafale tropeçou também na mega-compra de 72 unidades para Arábia Saudita, onde o Eurofighter levou a melhor. A lista de encomendas do modelo francês, até agora, não vai além da Força Aérea e da Marinha francesas. Talvez por isso, a modesta lista de armamentos integrados ao Rafale sejam ainda essencialmente produtos de origem francesa, não necessariamente conhecidos por apresentar preços de compra agressivos ou experiência comprovada em combate. Aparentemente, a decisão unilateral da Dassault de seguir adiante com um avião 100% francês acabou por prejudicar severamente as chances do Rafale no mercado mundial.
O caça sueco JAS-39 Gripen é o mais recente herdeiro de uma longa e competente tradição de caças suecos. No entanto, ele padece de duas deficiências difíceis de serem superadas: a falta de pujança geopolítica da Suécia para "empurrar" seu caça nas concorrências contra iniciativas de concorrentes pesos-pesado, como os Estados Unidos e a Rússia, por exemplo. E a falta de "músculo econômico" sueco para produzir propostas economicamente imbatíveis. Semelhantemente com o Rafale, o Gripen sofre de uma crônica falta de clientes e de encomendas substanciais. Conseqüência direta disto, o ritmo de produção, tanto da linha industrial sueca quanto da francesa, são obrigatoriamente lentos. Apenas poucos aviões sendo produzidos a cada mês. Se não fosse assim, em poucos meses seria necessário fechar a linha de produção devido à falta de pedidos e clientes, decretando a morte prematura dos dois modelos.
O inesperado sucesso comercial dos russos com o Su-30 e com o MiG-29, indica que estes aviões podem ter uma sobrevida bem superior ao dos aviões da Saab e da Dassault, a não ser que alguma grande e significativa venda se materialize logo para eles, mudando totalmente o quadro.
Por seu lado, os americanos indubitavelmente puxam o trem da alta tecnologia neste segmento. Eles são os únicos com modelos de 5ª geração em produção e em desenvolvimento. O caça de supremacia aérea Lockheed F-22 Raptor, se apresenta como "virtualmente imbatível", mas, no entanto, exibe um custo unitário proporcionalmente espetacular, comprometendo até mesmo o vasto orçamento anual da Força Aérea americana. Ele será em breve acompanhado em serviço pelo Lockheed F-35 Lightning II, modelo mais leve e monomotor, mas também incluindo tecnologia stealth. O Raptor, na sua versão básica, é praticamente inexportável devido seu altíssimo custo unitário superior a 200 milhões de dólares a unidade. Adicionalmente, pelo fato do F-22 embarcar muita tecnologia avançada e secreta, assim como utilizar materiais avançados, o principal modelo para exportação dos americanos neste novo século deverá ser o F-35. O Lightning II vem sendo oferecido como um caça tão revolucionário sobre as atuais gerações que levou um grande número de paises aliados adiassem suas compras de caça até o período de disponibilidade do F-35, entre 2010 e 2015, Esta estratégia acertou em cheio alguns dos clientes contados como certos para os três caças europeus, obviamente punindo mais fortemente o Gripen e o Rafale. Notícias recentes sugerem que mesmo na época de entregas dos F-35 aos clientes estrangeiros o governo americano poderia vir a restringir a exportação dos aviões na configuração padrão da USAF e da US Navy. Ao preparar uma versão piorada para cliente no exterior, muito ruído e descontentamento foi gerado entre os países que já se comprometeram com o programa industrial deste avião: Holanda, Reino Unido, Austrália, Turquia, Noruega e Itália. Neste caso muita água ainda vai rolar debaixo da ponte antes que possamos afirmar que o F-35 será tão exitoso no mercado global quanto se esperava dele no inicio do seu planejamento.
O custo crescente e a consolidação da indústria aeroespacial mundial assim como dos mercados consumidores já fizeram que tanto Dassault Aviation quanto Saab, tenham indicado que o Rafale e o Gripen, tendem a ser os últimos caças tripulados 100% fabricados por estas empresas, o futuro na Europa parece apontar para aeronaves de combate não-tripuladas.
Os Russos, após uma forte e dolorosa arrumação interna que consolidou centenas de empresas baixo uma única holding do segmento aeroespacial, eliminaram sobreposições funcionais e redundâncias, e anunciaram o seu programa de caça de 5ª geração. Este novo programa deve contar com a participação significativa das industrias aeroespaciais chinesa e indiana. Capitaneado pela Sukhoi, o projeto ambiciona produzir uma opção não-ocidental, aos F-22 e F-35 americanos. Até este momento, o novo programa vem sendo chamado na imprensa pelo pouco revelador código "T-50", e nenhuma ilustração oficial descortinou até hoje as suas possíveis linhas aerodinâmicas.
Para a indústria aeroespacial brasileira, que, por diversas razões perdeu o trem no caso dos aviões de caça europeus, esta pode ser uma oportunidade rara e muito interessante. O T-50 ainda se encontra num estágio ainda bastante inicial, com muito trabalho restando ainda pela frente. A tecnologia desenvolvida para ele será no estado da arte, podendo servir como alavanca para nos capacitar nas próximas décadas para mantermos a liderança conquistada pelos eficientes EMB170/190 no mercado comercial civil.
A Embraer tem muitas habilidades técnicas que a distinguem e pavimentam seu caminho de sucesso até o ponto em que ela se encontra hoje. Uma destas, é justamente seu know-how de vendas e de suporte pós-vendas. Imaginem um caça de 5a geração nascendo com encomendas de várias centenas de unidades já garantidas, unindo a alta tecnologia dos russos, o baixo custo industrial dos chineses, o domínio de software indiano com a atenção a clientes alinhada com os melhores padrões de serviço da indústria ocidental, amplamente dominados pelos brasileiros. Esta seria uma combinação inédita das melhores características de um grupo notável de países chamados pelos analistas econômicos internacionais como BRICs (Brasil-Russia-Índia-China). Eis uma janela única se abrindo à nossa frente, será que teremos habilidade para aproveitar ela? O tempo dirá
mercado global de aviões de caça
Felipe Salles
Editor Base Militar
http://www.basemilitar.com.br
Após um longo período de quase perfeita previsibilidade entre 1945 e 1990
O mercado mundial de caças, aparenta ter entrado numa fase onde as velhas certezas não mais se aplicam.
Durante os anos da Guerra Fria, na hora de planejar seu re-equipamento, as diversas armas aéreas acabavam por encontrar-se limitadas a obter seus caças exclusivamente das potências com quem seus países eram politicamente alinhados. Países ocidentais, como o Brasil, compravam exclusivamente dos EUA, França ou do Reino Unido. Muitos países árabes (em óbvia retaliação ao apoio ocidental ao Estado de Israel), os países não-alinhados e os comunistas forçosamente compravam modelos russos. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA restringiram, por questões exclusivamente políticas, o acesso de seus aliados aos seus aviões de mais alta performance. Eram liberadas para venda apenas as aeronaves mais defasadas, ou então, aquelas mais simplificadas com desempenho mais limitado, como o F-5. Este avião embora produzido em grande quantidade nunca foi usado operacionalmente pelos EUA, sendo destinado exclusivamente para exportação. A indústria francesa, normalmente operando fora destas restrições políticas, obteve nos anos 60 e 70 um grande sucesso com seus caças Mirage originais. Por sua vez, os britânicos desperdiçaram sua liderança tecnológica neste mercado ao, voluntariamente, abandonarem o mercado de caças após a introdução do interceptador BAC Lightning. Em função de questões políticas internas eles só voltariam ao mercado cerca de dez anos mais tarde, já então como parte de programas pan-europeus, como o Panavia Tornado.
Este foi o período conhecido como a era a das "guerras por procuração", e assim gerou uma situação bastante peculiar sob a ótica dos compradores. Poucos eram os países que dispondo de orçamento, também tinham a independência política para poder escolher seu próximo vetor de combate segundo suas próprias prioridades particulares. Por isso, um grupo bastante grande de nações ficou condicionada a aceitar o proverbial cavalo dado sem poder olhar os dentes. Tanto a União Soviética como os Estados Unidos, forneceram centenas de caças a países que efetivamente não tinham meios para comprá-los, e nem mesmo para mantê-los adequadamente. Estas "vendas" muitas vezes não passaram de doações camufladas sob o guarda-chuva de programas de assistência militar como o MAP - Military Assistance Program, tão usados pelos americanos. Uma vez que o fato gerador desta venda desaparecesse por qualquer razão, quase que imediatamente a frota destes países se tornava inoperante ou até mesmo acabaria sendo sucateada sumariamente.
Esta "encruzilhada" metafórica na década de 90 é claramente percebida como um momento de ruptura. Este é o ponto, a partir de onde, as antigas tendências parecem não mais guiar os fatos para o seu resultado "tradicional", e novos elementos passam a empurrar os fatos vindouros para caminhos totalmente inusitados.
Com o fim da Guerra Fria as fronteiras ideológicas do velho mundo, um mundo perfeitamente segmentado, se desintegram da noite para o dia. Inimigos e rivais de ontem viram possíveis focos de oportunidades para o futuro. Por exemplo, era assumido universalmente que toda a produção aeroespacial dos países ex-soviéticos fosse interrompida, como ocorreu em vários outros segmentos da antiga URSS. Mas isso não ocorreu, pelo menos não na área de aeronaves militares. O projeto básico de alta qualidade, característica presente tanto nos Sukhoi Su-27 Flanker, quanto nos Mikoyan Gurevich MiG-29 Fulcrum, causou uma grande mudança neste quadro de tradicional previsibilidade. Mesmo após o colapso da URSS, ano após ano, novos clientes passaram a adquirir os caças russos. China e Índia foram o catalisador desta nova fase ao, em paralelo, selecionarem o Flanker e o Fulcrum em grandes números para compor suas forças aéreas. Estas escolhas iniciais não tiveram nada de errático ou de pontual. Ambos os países, posteriormente, reafirmaram sua opção pela tecnologia russa ao assinarem contratos de produção local, sob licença para mais de cem unidades cada um, dos caças da Sukhoi.
O sucesso internacional da família Flanker se apóia em três pilares básicos:
a) Uma célula robusta, muito competente aerodinamicamente, capaz de comportar o crescimento e a atualização continuada com novos aviônicos digitais e sensores mais modernos;
b) Um país capaz de produzi-los em largas quantidades e sem muitas restrições de natureza política; e
c) um preço de aquisição muito agressivo, chegando a ser menor do que o do F-16, o caça leve padrão dos EUA.
O Flanker se constitui hoje num verdadeiro "caça Lego", onde praticamente qualquer aviônico, seja ele de origem russa, européia ou de outra nacionalidade, pode ser integrado ao avião, de acordo com o desejo do cliente.
Esta flexibilidade de configuração é um fruto acidental da forma da produção característica dos tempos soviéticos e de sua falência desordenada. Naquela época todos os modelos eram criados e desenvolvidos, até a fase do protótipo, pelo "Bureau" (Escritório de Projeto). Posteriormente o programa era distribuído para várias fabricas espalhadas pelo país para sua produção seriada. Com o fim da economia planejada soviética, cada uma destas indústrias passou a desenvolver, em paralelo, seu próprio programa de atualização independentemente dos esforços do Bureau Sukhoi. Hoje com a produção devidamente alinhada sob um modelo centralizado gerido pela holding Sukhoi e da gestão comercial unificada para o exterior pela Rosoboronexport, a plataforma básica do Flanker oferece ao comprador um amplo leque de opções na hora de configurar armas, sensores e eletrônicos de bordo. Na contramão do que se esperava há apenas dez anos, as vendas no exterior dos caças Sukhoi não param de crescer: Vietnam, Indonésia, Malásia, Argélia e agora, a Venezuela, se somam à China e à Índia e a várias ex-republicas soviéticas na operação de expressivas frotas destes aviões.
Mais do que os ganhos comerciais, as vendas de caças americanos neste novo cenário pós-Guerra Fria se nortearam ainda mais pelo desejo do governo americano em seguir manejando a capacidade militar de seus aliados. Nos anos 80 e 90 o caça padrão de exportação foi o monomotor F-16 que obteve um bom sucesso entre países da OTAN, países asiáticos e do Oriente Médio. Curiosamente, foi justamente a introdução do Flanker na Ásia, um caça muito maior e mais perigoso, que gerou uma mudança de planos dos EUA. Agora toma forma uma nova e inesperada onda de vendas do caça bimotor F-15. Justo um modelo que, até então, tinha suas vendas restritas a alguns parceiros chave, apenas: Japão, Israel e Arábia Saudita. Recentemente Coréia do Sul e Cingapura optaram por comprar este caça americano, apesar de ele ser muito mais caro e capaz que o F-16. Ambos aviões são excelentes, mas, sua escolha acaba por implicar a aceitação de uma série condicionamentos geopolíticos do governo americano. Em vários casos, clientes dos aviões F-16 acabaram tendo vetado seu acesso ao armamento mais moderno como, por exemplo, os mísseis BVR (além do alcance visual) AIM-120 AMRAAM.
Neste mesmo período, na Europa, o mercado se acomodou ao redor de três modelos que chegaram ao mercado quase que simultaneamente: o francês Dassault Rafale, o sueco Saab Gripen e o anglo-ítalo-hispano-alemão Eurofighter EF-2000. Se este último já nasceu com uma encomenda inicial de mais de 600 unidades dos seus sócios industriais e tem um futuro mais do que garantido, o mesmo não se pode dizer dos demais. O êxito verificado com os Mirage III, V e F-1 não se repetiu com o Mirage 2000, que conquistou não mais de 7 clientes no exterior. Seu sucessor, o Rafale, mesmo mais de 10 anos após seu primeiro vôo enfrenta uma pedreira íngreme e vem colecionando apenas frustrações no mercado exterior. Derrotado na Coréia e em Cingapura pelo F-15 americano, o Rafale tropeçou também na mega-compra de 72 unidades para Arábia Saudita, onde o Eurofighter levou a melhor. A lista de encomendas do modelo francês, até agora, não vai além da Força Aérea e da Marinha francesas. Talvez por isso, a modesta lista de armamentos integrados ao Rafale sejam ainda essencialmente produtos de origem francesa, não necessariamente conhecidos por apresentar preços de compra agressivos ou experiência comprovada em combate. Aparentemente, a decisão unilateral da Dassault de seguir adiante com um avião 100% francês acabou por prejudicar severamente as chances do Rafale no mercado mundial.
O caça sueco JAS-39 Gripen é o mais recente herdeiro de uma longa e competente tradição de caças suecos. No entanto, ele padece de duas deficiências difíceis de serem superadas: a falta de pujança geopolítica da Suécia para "empurrar" seu caça nas concorrências contra iniciativas de concorrentes pesos-pesado, como os Estados Unidos e a Rússia, por exemplo. E a falta de "músculo econômico" sueco para produzir propostas economicamente imbatíveis. Semelhantemente com o Rafale, o Gripen sofre de uma crônica falta de clientes e de encomendas substanciais. Conseqüência direta disto, o ritmo de produção, tanto da linha industrial sueca quanto da francesa, são obrigatoriamente lentos. Apenas poucos aviões sendo produzidos a cada mês. Se não fosse assim, em poucos meses seria necessário fechar a linha de produção devido à falta de pedidos e clientes, decretando a morte prematura dos dois modelos.
O inesperado sucesso comercial dos russos com o Su-30 e com o MiG-29, indica que estes aviões podem ter uma sobrevida bem superior ao dos aviões da Saab e da Dassault, a não ser que alguma grande e significativa venda se materialize logo para eles, mudando totalmente o quadro.
Por seu lado, os americanos indubitavelmente puxam o trem da alta tecnologia neste segmento. Eles são os únicos com modelos de 5ª geração em produção e em desenvolvimento. O caça de supremacia aérea Lockheed F-22 Raptor, se apresenta como "virtualmente imbatível", mas, no entanto, exibe um custo unitário proporcionalmente espetacular, comprometendo até mesmo o vasto orçamento anual da Força Aérea americana. Ele será em breve acompanhado em serviço pelo Lockheed F-35 Lightning II, modelo mais leve e monomotor, mas também incluindo tecnologia stealth. O Raptor, na sua versão básica, é praticamente inexportável devido seu altíssimo custo unitário superior a 200 milhões de dólares a unidade. Adicionalmente, pelo fato do F-22 embarcar muita tecnologia avançada e secreta, assim como utilizar materiais avançados, o principal modelo para exportação dos americanos neste novo século deverá ser o F-35. O Lightning II vem sendo oferecido como um caça tão revolucionário sobre as atuais gerações que levou um grande número de paises aliados adiassem suas compras de caça até o período de disponibilidade do F-35, entre 2010 e 2015, Esta estratégia acertou em cheio alguns dos clientes contados como certos para os três caças europeus, obviamente punindo mais fortemente o Gripen e o Rafale. Notícias recentes sugerem que mesmo na época de entregas dos F-35 aos clientes estrangeiros o governo americano poderia vir a restringir a exportação dos aviões na configuração padrão da USAF e da US Navy. Ao preparar uma versão piorada para cliente no exterior, muito ruído e descontentamento foi gerado entre os países que já se comprometeram com o programa industrial deste avião: Holanda, Reino Unido, Austrália, Turquia, Noruega e Itália. Neste caso muita água ainda vai rolar debaixo da ponte antes que possamos afirmar que o F-35 será tão exitoso no mercado global quanto se esperava dele no inicio do seu planejamento.
O custo crescente e a consolidação da indústria aeroespacial mundial assim como dos mercados consumidores já fizeram que tanto Dassault Aviation quanto Saab, tenham indicado que o Rafale e o Gripen, tendem a ser os últimos caças tripulados 100% fabricados por estas empresas, o futuro na Europa parece apontar para aeronaves de combate não-tripuladas.
Os Russos, após uma forte e dolorosa arrumação interna que consolidou centenas de empresas baixo uma única holding do segmento aeroespacial, eliminaram sobreposições funcionais e redundâncias, e anunciaram o seu programa de caça de 5ª geração. Este novo programa deve contar com a participação significativa das industrias aeroespaciais chinesa e indiana. Capitaneado pela Sukhoi, o projeto ambiciona produzir uma opção não-ocidental, aos F-22 e F-35 americanos. Até este momento, o novo programa vem sendo chamado na imprensa pelo pouco revelador código "T-50", e nenhuma ilustração oficial descortinou até hoje as suas possíveis linhas aerodinâmicas.
Para a indústria aeroespacial brasileira, que, por diversas razões perdeu o trem no caso dos aviões de caça europeus, esta pode ser uma oportunidade rara e muito interessante. O T-50 ainda se encontra num estágio ainda bastante inicial, com muito trabalho restando ainda pela frente. A tecnologia desenvolvida para ele será no estado da arte, podendo servir como alavanca para nos capacitar nas próximas décadas para mantermos a liderança conquistada pelos eficientes EMB170/190 no mercado comercial civil.
A Embraer tem muitas habilidades técnicas que a distinguem e pavimentam seu caminho de sucesso até o ponto em que ela se encontra hoje. Uma destas, é justamente seu know-how de vendas e de suporte pós-vendas. Imaginem um caça de 5a geração nascendo com encomendas de várias centenas de unidades já garantidas, unindo a alta tecnologia dos russos, o baixo custo industrial dos chineses, o domínio de software indiano com a atenção a clientes alinhada com os melhores padrões de serviço da indústria ocidental, amplamente dominados pelos brasileiros. Esta seria uma combinação inédita das melhores características de um grupo notável de países chamados pelos analistas econômicos internacionais como BRICs (Brasil-Russia-Índia-China). Eis uma janela única se abrindo à nossa frente, será que teremos habilidade para aproveitar ela? O tempo dirá
O Flanker se constitui hoje num verdadeiro "caça Lego", onde praticamente qualquer aviônico, seja ele de origem russa, européia ou de outra nacionalidade, pode ser integrado ao avião, de acordo com o desejo do cliente.
Comunalidade com os A1-M e F-5M. Mas, com os sucatões isto é impossível. Então, qual teria sido a melhor escolha para o FX-sucata, vendo por este ângulo da aviônica???? Seria o SU-27SKM, óbvio.
- Bolovo
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Carlos Mathias escreveu:O Flanker se constitui hoje num verdadeiro "caça Lego", onde praticamente qualquer aviônico, seja ele de origem russa, européia ou de outra nacionalidade, pode ser integrado ao avião, de acordo com o desejo do cliente.
Comunalidade com os A1-M e F-5M. Mas, com os sucatões isto é impossível. Então, qual teria sido a melhor escolha para o FX-sucata, vendo por este ângulo da aviônica???? Seria o SU-27SKM, óbvio.
O cara escreveu o texto com a cabeça pró-Flanker, quem lê isso acha que o Flanker é a salvação do Brasil.
Vendo por esse angulo, um F-16ACE (300% israelense) seria melhor então, pois além de ter toda sua avionica compativel com os F-5M e A-1M, teria também o armamento (Derby, Phyton, Griffin, blá blá blá) e claro, seus parafusos giram no sentido horário, facilitando a vida dos mecanicos.
aeuhaeih
"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
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Porém, e sempre tem um porém, é um caça americano, sujeito aos humores daquele governo e todas as consequências que nossa FAB véia de guerra já conheçe. Isto posto, perde-se a vantagem da comunalidade aviônica. Porém, no outro caso, teria-se um caça pesado, superior a tudo em volta do Brasil e apoiado por um governo muito menos afeito a vetos e bloqueios.
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Carlos Mathias escreveu:Porém, e sempre tem um porém, é um caça americano, sujeito aos humores daquele governo e todas as consequências que nossa FAB véia de guerra já conheçe. Isto posto, perde-se a vantagem da comunalidade aviônica. Porém, no outro caso, teria-se um caça pesado, superior a tudo em volta do Brasil e apoiado por um governo muito menos afeito a vetos e bloqueios.
Apesar de diversos momentos de grande tensão e certa rivalidade entre Brasil e EUA, nunca tivemos problemas com os equipamentos americanos operados em nossas FFAA...
Não existe, par anós, nenhum exemplo empírico da "coleirinha"!
Atte.
André R. Finken Heinle
"If the battle for civilization comes down to the wimps versus the barbarians, the barbarians are going to win."
Thomas Sowell
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Carlos Mathias escreveu:Porém, e sempre tem um porém, é um caça americano, sujeito aos humores daquele governo e todas as consequências que nossa FAB véia de guerra já conheçe. Isto posto, perde-se a vantagem da comunalidade aviônica. Porém, no outro caso, teria-se um caça pesado, superior a tudo em volta do Brasil e apoiado por um governo muito menos afeito a vetos e bloqueios.
Mas aquela doutrina americana de vetar equipamentos modernos para nós já acabou. A Guerra Fria já se foi faz 15 anos.
A que outra Marinha do planeta, além da nossa, os EUA ofereceram o USS Saratoga??!
Eu não acredito nessa história de coleirinha de venda, de uso, blá blá blá.
"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
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MAs tem quinze anos que vetaram os AIM-120 dos F-16? Faz quinze anos que disseram que eles ficariam estocados lá nos EUA? Faz quinze anos que os MLu chilenos tiveram a capacidade de disparar MAR retirada antes da entrega? E os M-60, que só podem ser usados pelos inimigos que eles aprovarem?Tem uma coisa que diz assim: "Gato escaldado tem medo de água fria".
Sobre veto empírico ou sei lá o que, é ingenuidade achar que eles colocarão uma coisa destas explicitamente. Colocam é que nós não temos capacidade técnica para tal, que vai trazer desequlíbrio para a região, que qualquer outra coisa, menos veto. Agora, acredita quem quer, né?
Sobre veto empírico ou sei lá o que, é ingenuidade achar que eles colocarão uma coisa destas explicitamente. Colocam é que nós não temos capacidade técnica para tal, que vai trazer desequlíbrio para a região, que qualquer outra coisa, menos veto. Agora, acredita quem quer, né?
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FinkenHeinle escreveu:Carlos Mathias escreveu:Porém, e sempre tem um porém, é um caça americano, sujeito aos humores daquele governo e todas as consequências que nossa FAB véia de guerra já conheçe. Isto posto, perde-se a vantagem da comunalidade aviônica. Porém, no outro caso, teria-se um caça pesado, superior a tudo em volta do Brasil e apoiado por um governo muito menos afeito a vetos e bloqueios.
Apesar de diversos momentos de grande tensão e certa rivalidade entre Brasil e EUA, nunca tivemos problemas com os equipamentos americanos operados em nossas FFAA...
Não existe, par anós, nenhum exemplo empírico da "coleirinha"!
Esqueceste dos cruzadores na Guerra da Lagosta???
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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tulio escreveu:FinkenHeinle escreveu:Carlos Mathias escreveu:Porém, e sempre tem um porém, é um caça americano, sujeito aos humores daquele governo e todas as consequências que nossa FAB véia de guerra já conheçe. Isto posto, perde-se a vantagem da comunalidade aviônica. Porém, no outro caso, teria-se um caça pesado, superior a tudo em volta do Brasil e apoiado por um governo muito menos afeito a vetos e bloqueios.
Apesar de diversos momentos de grande tensão e certa rivalidade entre Brasil e EUA, nunca tivemos problemas com os equipamentos americanos operados em nossas FFAA...
Não existe, par anós, nenhum exemplo empírico da "coleirinha"!
Esqueceste dos cruzadores na Guerra da Lagosta???
Não eram Cruzadores, eram destróiers
Não pediram para o resto da esquadra(incluindo os cruzadores) voltar pois o Brasileiro deu um pito no embaixador americano e calou a boca dele.
Abraços
César
"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."
Antoine de Saint-Exupéry
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Re: Mercado de Caças no Mundo Globalizado
Helio Tadeu escreveu:
Imaginem um caça de 5a geração nascendo com encomendas de várias centenas de unidades já garantidas, unindo a alta tecnologia dos russos, o baixo custo industrial dos chineses, o domínio de software indiano com a atenção a clientes alinhada com os melhores padrões de serviço da indústria ocidental, amplamente dominados pelos brasileiros. Esta seria uma combinação inédita das melhores características de um grupo notável de países chamados pelos analistas econômicos internacionais como BRICs (Brasil-Russia-Índia-China). Eis uma janela única se abrindo à nossa frente, será que teremos habilidade para aproveitar ela? O tempo dirá
As coisas são reduzidas a níveis de simplicidades fantásticos, vejam o que é sugerido:
• Tecnologia Russa
• Manufatura Chinesa
• Software indiano
• Pós Venda Brasileiro
Veja o que isto quer dizer se for realmente considerado o que é o mercado de aviação militar.
Manufatura chinesa: A diminuição dos custos de manufatura em uma aeronave não tem o mesmo grau de importância que em um automóvel por exemplo.
Vocês já viram uma fabrica da Airbus sair da Alemanha ou da França para ir para a Polônia? Vocês já viram a Lockheed abrir uma fabrica no México para produzir o F-35 ou o foguete Atlas-5?
Alem do impacto econômico da manufatura em um avião de combate ter um peso diferente existem questões políticas também ligadas a manutenção dos empregos na industria aeronáutica naquele pais.
Porque a Embraer não monta TODOS os seus ERJ na China? Existem dúzias de razoes para isto.
Software indiano: Qual o software de bordo mais complexo já integrado pela Índia? Provavelmente aqueles presentes em projetos como o LCA ou navios de projeto russo licenciados.
Estes programas não são significativamente mais complexos do que projetos como o AMX , ALX, Modfrag ou SIVAM.
Isto comparando a capacidade de integração de software indiana com a brasileira.
Se formos comparar a capacidade indiana com a russa por exemplo, ai é covardia, os russos integram softwares militares em todas as gamas de aplicações possíveis. De carros de combate a satélites militares.
O fato da Índia ter uma afinidade com a industria de software não a credencia em absolutamente nada para aplicações militares, que são coisas completamente diferentes.
Pós Venda Brasileiro: Não tenho a menor duvida que o pós-venda da Embraer é ótimo para seus produtos.
Mas é completamente diferente fornecer serviços para jatos ERJ do que para um caça de quinta geração, como também é completamente fornecer serviços de pos venda de um Tucano em relação a um caça de quinta geração por exemplo.
Outra coisa importante é que serviços de venda e pos venda em aeronaves militares é sinônimo de determinação política e firmeza de propósitos.
Um pais como o Brasil seria o ULTIMO na lista para apoiar a manutenção de uma aeronave estratégica em qualquer pais do mundo, haja vista a indecisão política brasileira.
Vocês, comandantes de forças aéreas de um hipotético pais do mundo, dependeriam do Itamaraty para garantir apoio de fornecimento de itens e serviços para caças de quinta geração de seus respectivos paises?
Se a tese é: Rússia, Índia, China e Brasil precisam unir forças para ter um caça de quinta geração, esta tese esta errada.
-Primeiro que o “timming” das quatro nações no que tange a reequipamentos militares são completamente diferentes.
-Segundo que China e Índia são inimigas.
-Terceiro que, Índia, Brasil e China poderiam apenas colaborar com dinheiro e encomendas, porque nenhum deles acrescenta nada em termos de desenvolvimento de plataformas ao que a Rússia faria pelo projeto.
É só listar as plataformas mais sofisticadas que eles já desenvolveram: LCA, J-10, AMX. Todos projetos modestos em tecnologia em seu tempo, desenvolvidos com ajuda externa e com impactos operacionais limitados.
O caminho é outro.
Paises como Rússia e China, podem (e estão fazendo) alianças para desenvolvimentos estratégicos de tecnologia, é provável que projetos como o futuro caça russo de quinta geração tenha a China como cliente, mas isto é completamente diferente de um grande acordos estratégico global como propõe o artigo.
Paises como o Brasil teriam participações mínimas no projeto, possivelmente na forma de compensação comercial como a compra de jatos regionais da Embraer pela compra de caças russos ou acordos parecidos.
Para muitos aqui, é difícil por razoes ideológicas enxergar as coisas de forma pragmática, mas o fato é que o Brasil no cenário político mundial é irrelevante, até dentro do continente seu papel real é menor do que o imaginado, haja vista a incapacidade do Brasil de coordenar qualquer politica comum na região.
Uma força aérea como a FAB consegue no muito operar caças médios de segunda mão.
Poderiam ser os F-16? Poderiam sim, como são os F-5 hoje, americanos.
É complicado verificar a realidade de que o pais é um “café com leite” no poder militar global.
Se enxergarmos esta realidade e começarmos a traçar estratégicas menos fantasiosas sobre o tema, talvez tenhamos alguma chance de mudá-la um dia.
O FX mais uma vez é emblemático.
• Passaram 10 anos falando em tecnologia estratégica para a industria nacional dominar o mercado sul americano de caças
• Passaram 10 anos falando sobre a capacidade de integração de software e armamento Stand Off e BVR
• Passaram 10 anos falando em alianças estratégicas com Russos ou Europeus para o desenvolvimento aeroespacial brasileiro.
• Passaram 10 anos ensaiando aeronaves em vôo para escolher os melhores envelopes operacionais.
Resutados práticos para a FAB dos 10 anos de processo:
12 M-2000C + 30 Misseis AAM de segunda classe a serem entregues até 2008
Patamar este que Peru e Venezuela já estavam a quase 20 anos.
Resultados práticos para outros paises que também iniciaram processos de aquisição a 10 anos OU MENOS
Chile – Compra de F-16 novos e usados.
África do Sul – Compra do Gripen
Polônia – Compra do F-16
Coréia do Sul – Compra do F-15
Argélia – Compra do Mig-29
Venezuela – Compra do Flanker (provavel)
Algum destes paises que citei é uma potencia econômica? Absolutamente nenhum.
Infelizmente somos café com leite, e o primeiro passo para reverter isto é ter conciencia do fato, mesmo que seja dolorido para o ego, seja o ego institucional de nossas FA´s com seu efetivos suntuosos, seja para o ego apaixonado de simples entusiastas sobre aviação que acham que o caça X fabricado pelo país Y é a solução para todos os problemas do mundo.
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MAGISTRAL, Koslova.
SÓ ESSE TEU POST justifica toda a choradeira que vários de nós fizemos para que te juntasses a nós e, depois, para que não nos deixasses.
É de pessoas assim que todos precisamos, que SAIBAM e não se eximam de nos ensinar.
Congrats!
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Re: Mercado de Caças no Mundo Globalizado
Koslova escreveu:Infelizmente somos café com leite, e o primeiro passo para reverter isto é ter conciencia do fato, mesmo que seja dolorido para o ego, seja o ego institucional de nossas FA´s com seu efetivos suntuosos, seja para o ego apaixonado de simples entusiastas sobre aviação que acham que o caça X fabricado pelo país Y é a solução para todos os problemas do mundo.
Pela Madrugada!!!
Mas é isso que venho falando há tempos...
Macacos Me Mordam! Essa foi fenomenal...
Infelizmente, tem gente que acha que Caça X ou Y é a solução par anosso atraso tecnológico, que nem alguns pensavam o mesmo para o AMX.
Eu digo, repito, e reafirmo: a solução só poderá ser estrutural, e programas como esse seriam apenas contribuições à situação geral.
Atte.
André R. Finken Heinle
"If the battle for civilization comes down to the wimps versus the barbarians, the barbarians are going to win."
Thomas Sowell
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Como dizia minha bisavó, nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Rabaixar o Brasil a réles paiseco é tão inconsistente como elevá-lo a potêncai mundial. É fato que somos sim uma potêncvia regional, mesmo contra a fé de vira-lata do brasileiro e até mesmo apesar do brasileiro. Basta comparar PIBs e parque industrial. certamente não somos potência de primeiro mundo, mas temos sim importância estratégica como reserva de recursos humanos e minerais, sem contar a extensa fronteria agrícola, já esgotada na maioria das potências. Assim sendo, considero que seria interessante e muito viável sim que o Brasil associe-se/junte-se/case-se ou outra coisa qualquer, com outros países de semelhante desenvolvimento tecnológico(pelo menos em certas áreas) e econômico. Porque? Porque não existe nenhum interesse das potências mundiais atuais em ajudar a crescer um país com o potencial do Brasil. Quem quer criar um concorrente como nós? certamente a Lockheed Martin e a EADS não, prá ficar em duas apenas. Porém, e sempre tem um porém, se olharmos o mesmo exemplo da China e Rússia, veremos que quando tal integração/colaboração/ajuda e etc começou, a China estava muito longe de ser o que é hoje, idem idem para a Índia. Portanto, dizer que não dá porque somos duros ou burros e devemos sempre nos contentar em ser isso, não me parece ser uma boa via de desenvolvimento. Senão vejamos. O programa AMX deixou um legado à EMBRAER, que segundo ela mesma, permitiu um forte incremento na fabricação de seus RJ. O programa de submarinos da marinha troxe, segundo dizem por aí, avanços tecnológicos na área de metaluregia, e outros importantíssimos para o país, idem para o programa de propulsão nuclear. Isso significa dizer que, se não nos tornamos rapidamente potência mundial, por outro lado permitiu-nos avançar no setor de tecnologias militares e civis de maneira inconteste, fato apenas negado pelos que conhecem muito pouco do assunto. Por outro lado, os países que são, digamos assim, meros compradores de preteleira, certamente possuem material militar mais avançado tecnologicamente falando. Porém, sabe-se que apenas isso não ganha guerra e que uma coleção de armas não torna o colecionador apto a usá-las em seu pleno. Comprar da prateleira o brasil sempre pode, e muito mais até que os citados exemplos de bem proceder. Porém, existem maneiras e maneiras de se fazer estas compras. A China e a Índia estão aí como exemplo de que se pode ganhar muito nessas compras, porém, há que se saber de quem compar e extrair o melhor para o país. E, mais uma vez, uma EADS ou Lockheed Martin da vida certamente não serão a melhor escolha para essas aquisições com troca/tranferência tecnológica.
Carlos Mathias escreveu:Como dizia minha bisavó, nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Rabaixar o Brasil a réles paiseco é tão inconsistente como elevá-lo a potêncai mundial. É fato que somos sim uma potêncvia regional, mesmo contra a fé de vira-lata do brasileiro e até mesmo apesar do brasileiro. Basta comparar PIBs e parque industrial. certamente não somos potência de primeiro mundo, mas temos sim importância estratégica como reserva de recursos humanos e minerais, sem contar a extensa fronteria agrícola, já esgotada na maioria das potências. Assim sendo, considero que seria interessante e muito viável sim que o Brasil associe-se/junte-se/case-se ou outra coisa qualquer, com outros países de semelhante desenvolvimento tecnológico(pelo menos em certas áreas) e econômico. Porque? Porque não existe nenhum interesse das potências mundiais atuais em ajudar a crescer um país com o potencial do Brasil. Quem quer criar um concorrente como nós? certamente a Lockheed Martin e a EADS não, prá ficar em duas apenas. Porém, e sempre tem um porém, se olharmos o mesmo exemplo da China e Rússia, veremos que quando tal integração/colaboração/ajuda e etc começou, a China estava muito longe de ser o que é hoje, idem idem para a Índia. Portanto, dizer que não dá porque somos duros ou burros e devemos sempre nos contentar em ser isso, não me parece ser uma boa via de desenvolvimento. Senão vejamos. O programa AMX deixou um legado à EMBRAER, que segundo ela mesma, permitiu um forte incremento na fabricação de seus RJ. O programa de submarinos da marinha troxe, segundo dizem por aí, avanços tecnológicos na área de metaluregia, e outros importantíssimos para o país, idem para o programa de propulsão nuclear. Isso significa dizer que, se não nos tornamos rapidamente potência mundial, por outro lado permitiu-nos avançar no setor de tecnologias militares e civis de maneira inconteste, fato apenas negado pelos que conhecem muito pouco do assunto. Por outro lado, os países que são, digamos assim, meros compradores de preteleira, certamente possuem material militar mais avançado tecnologicamente falando. Porém, sabe-se que apenas isso não ganha guerra e que uma coleção de armas não torna o colecionador apto a usá-las em seu pleno. Comprar da prateleira o brasil sempre pode, e muito mais até que os citados exemplos de bem proceder. Porém, existem maneiras e maneiras de se fazer estas compras. A China e a Índia estão aí como exemplo de que se pode ganhar muito nessas compras, porém, há que se saber de quem compar e extrair o melhor para o país. E, mais uma vez, uma EADS ou Lockheed Martin da vida certamente não serão a melhor escolha para essas aquisições com troca/tranferência tecnológica.
Ola Mathias
Eu vou tentar responder, com poucas palavras por uma questão de tempo.
Mas o fato é que forças armadas NO QUE TANGE A DESENVOLVIMENTO DE POLITICAS INDUSTRIAS PARA MATERIAIS DE DEFESA obedecem a seguinte sequencia:
1- Formação da operacionalidade
Primeiro se constrõe uma força que seja operacional, isto é, que tenha recursos humanos corretamente treinados, equipamentos e instalações adequadas para o cumprimento de funçõe e doutrinas corretamente definidas.
2- Manutenção da operacionalidade
Depois se prioriza a manutenção da operacionalidade a médio longo prazo. Para isto se desenvolve fornecedores e politicas industriais que permitam a manutenção da operacionalidade.
Em paises com menores recursos se desenvolvem politicas de substituições compativeis com o nivel técnologico e economico local.
Em outros termos, um pais que importa munição para canhão, não pode por exemplo querer fabricar um carro de combate.
Um pais que tem dificuldades para manter o numero minimo de horas de vôo para seus pilotos, não pode por exemplo querer desenvolver um caça.
3- Expansão da operacionalidade
Uma vez que você tenha uma força armada operacional, e que consiga mante-la operando normalmente, dentro de uma estratégia industrial, você parte para um terceiro degrau que é o desenvolvimento de programas que forneça a sua FA hipotética a vantagens estratégicas nos cenários considerados por ela importante.
Por exemplo paises como a Suécia e Israel são exemplos de nações que com orçamentos pequenos (se comparados a EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) conseguem desenvolver sistemas de armas e doutrinas muito acima da média em suas forças aereas.
A Espanha tem obtido otimos resultados em expansão de operacionalidade na construção naval, haja vista o orçamento espanhol que é muito proximo ao brasileiro
Os paises da América do Sul, estão no primeiro degrau, isto é, precisam conseguir manter suas FA´s operacionais, se você olhar o estado das FA´s da região de uma maneira geral, paises como Brasil, Argentina, Peru, Venezuela estão em estados sofriveis no que tange a disponilibidade de aeronaves, navios, treinamentos etc...
O Chile parece que entendeu o recado e esta tentando pular do primeiro para o segundo degrau.
O Brasil incorreu em um erro no passado, que foi tentar fazer as coisas em ordem errada, sem foco, no oba-oba.
Com o argumento de que não haviam inimigos externos e que o Brasil seria uma potencia economica e militar na virada do século, tentou-se inverter a ordem básica.
Uma força area por exemplo tem que começar do básico, isto é, ter seus pilotos voando o necessario, suas bases corretamente defendidas, o seu "software" de pessoal, conhecimento e doutrinas constantemente atualizados. Depois se parte para os proximos degraus.
Foi cumprindo estes degraus básicos um a um, de forma consistente e deteminada que muitos paises detiveram seus inimigos, dos Finlandeses que derrotaram os russos na II GG, aos judeus que na criação do estado de israel a 60 anos atrás, partiram de uma força area formada por pilotos aventureiros para décadas depois terem a melhor força aerea e a melhor industria de defesa do mundo, que um pais que não seja uma superpotencia possa ter.
O pensamento militar brasileiro é sofrivel porque ignora tudo isto, é como a analogia do rabo que abana o cachorro e não o contrário.
Alias te dou uma dica.
Quando citar o AMX e o programa de submarninos da MB, não os cite no mesmo exemplo, porque são programas diedralmente opostos em filosofia e estratégia.
O AMX deveria ser comparado com programas como a classe Collins australiana ou TR-1700 argentina, projetos ou técnicamente mal escolhidos como o Collins, ou economicamente inexequiveis como o TR-1700.
Em comum o fato é que os ganhos operacionais destes dois submarninos foram fracos e seus ganhos industriais questionaveis.
O programa Classe Tupi ao contrário foi perfeito, na escolha e execussão, compare a classe Tupi com programas como o R-99, o T-27, que trouxeram ganhos industriais e operacionais, lançaram conceitos novos.
Alias, programas como a Classe Tupi na MB, os R-99 na FAB, a infantaria de selva do EB são hoje talvez as unicas coisas modernas que as FA´s operam no Brasil.
Ficar gerando frases e numeros de efeitos como "é melhor ter uma bomba burra de ferro fabricada pela Avibras do que uma bomba laser da Rafael", isto é reflexo de uma cultura de desculpas e incoerencias de um oficialato que nunca entendeu qual o caminho básico para ter FA´s modernas.
Reinventaram a roda e ela saiu quadrada, agora tratem de arrumar desculpas para explicar as razões do ocorrido.