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Mensagem
por Clermont » Qui Jan 18, 2007 12:34 pm
”O CABO ESTRATEGISTA": LIDERANÇA NA GUERRA EM TRÊS BLOCOS.
Pelo general Charles C. Krulak – Marines Magazine, janeiro de 1999.
Operação “Absolute Agility”.
0611: O sol africano acabou de subir acima das colinas rodeando a cidade e envia seus raios pelas vielas empoeiradas. O cabo Hernandez, cara ao sol, sabia que hoje irá, de novo, ser de derreter. Ele era um líder de GC no 2º Pelotão, Companhia “L” (Lima) e tinha, junto com seus homens, passado uma noite insone no perímetro. Na última semana, seu pelotão tinha providenciado segurança para os trabalhadores da Organização de Socorro Internacional (IRO, ou International Relief Organization) que guarneciam um dos três pontos de distribuição de comida no Setor Americano de Tugala – a capital de Orange, devastada pela guerra – uma nação centro-africana assolada pela desordem civil e a fome.
A situação em Orange tinha transfixado o mundo por quase dois anos. Sangrentas lutas tribais haviam levado, primeiro ao total colapso do governo e economia, e por fim, a fome disseminada. Esforços internacionais para debelar a violência e apoiar o hesitante governo tinham fracassado, e o país havia mergulhado no caos. Os Estados Unidos finalmente tinham sido compelidos a intervir. Uma Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais (Capacitada para Operações Especiais) (ou MEU-SOC, Marine Expeditionary Unit – Special Operations Capable) em desdobramento avançado, foi ordenada a apoiar os esforços da ineficiente Força Multinacional Regional (RMNF, ou Regional Multi-National Force). A chegada da MEU tinha estabilizado a situação e permitido que os preciosos suprimentos de socorro finalmente alcançassem o povo que mais precisava deles.
O Ponto de Distribuição de Comida (FDP, ou Food Distribution Point) guarnecido pelo 2º Pelotão servia mais de 5 mil pessoas diariamente. Os fuzileiros navais tinham, no começo, ficado chocados pela extensão do sofrimento, pelo fluxo constante de homens e mulheres desnutridos,e pelas barrigas distendidas e faces chupadas das crianças. O fluxo de comida e suprimentos médicos tinha, no entanto, um impacto dramático. O sombrio tributo diário de morte tinha, lentamente, começado a decair e a cidade tinha começado a recuperar algum senso de normalidade. Dentro de um mês as vidas dos fuzileiros navais tinham assumido uma espécie de rotina cega. O cabo Hernandez removera seu capacete e descansava a cabeça contra a parede enlameada da casa na qual seu GC estava aboletado e aguardando que suas MREs (Refeição Pronta para Consumo, ou Meals Ready to Eat) fossem aquecidas; satisfeito por e ele e seus camaradas navais estarem fazendo a diferença.
0633: A poeira e o estrondo de meia-dúzia de caminhões de 5 ton entrando na praça do mercado chamou a atenção do cabo Hernandez. Escoltado por fuzileiros navais, o comboio trazia comida e suprimentos médicos que significavam vida ou morte para os habitantes da devastada vizinhança. Com eles vieram, também, novas da vida além dos confins desse pequeno canto de Orange e informações úteis no que concernia a disposição das facções opostas que lutavam pelo seu controle. Hoje, o comandante do comboio tinha notícias perturbadoras para o comandante do pelotão, 2º tenente Franklin. Membros da facção OWETA, liderados pelo renegado senhor da guerra Nedeed, tinham sido observados concentrando-se próximo ao rio que dividia a capital ao meio e marcava a fronteira separando o território da OWETA daquele de seu principal rival. Nedeed criticava de há muito a presença da RMNF e, com freqüência, tinha alvejado seu pessoal. Embora ele tivesse, vigorosamente, denunciado a presença de forças dos EUA, ele tinha, até então, se refreado de alvejar pessoal americano. Como a fome se tornasse uma preocupação menor, no entanto, tensões tinham começado a subir e havia um temor crescente de que hostilidades abertas irrompessem novamente e que o ataque a pessoal da RMNF e da MEU fosse cada vez mais provável.
O tenente Franklin passou o relato a seu comandante de companhia e, então, concentrou seus líderes de GC para revisar a situação em desenvolvimento. O 1º GC recebeu ordens para se mover cerca de 400 m ao norte e guarnecer um bloqueio rodoviário no Ponto de Checagem Charlie (Checkpoint Charlie). Cabo Hernandez voltou à sua posição, relutantemente descartou sua MRE não consumida, e preparou seus navais para se movimentarem. O caminho até o cruzamento rodoviário em CP Charlie foi tranqüilo e levou menos de dez minutos. O GC já tinha guarnecido o posto antes e estava familiarizado com a rotina. Barricadas pré-montadas foram movidas com rapidez, para seus lugares assegurando a rua para tráfego veicular e uma rede de concertina tripla foi estendida de modo a controlar o movimento pedestre. O cabo Sley e sua esquadra de tiro (ou fire team, das quais, três formam o GC dos Fuzileiros Navais) se moveram uma centena de metros ao norte e estabeleceram um Posto de Observação (PO) no teto de um prédio de dois andares que fornecia excelente campo de visão. Por volta das 0700, o GC estava em posição. Nessa hora, a cidade ainda estava quieta, e excepto pelo relatório de inteligência concernente a atividade da OWETA, não havia evidência de que esse dia seria diferente de qualquer outro. Os fuzileiros navais do 1º Grupo de Combate posicionaram-se para mais outro longo dia quente de dever tedioso.
0903: Pela nove em ponto, a grande multidão normal, na maioria mulheres e crianças com cestos na mão, tinha se concentrado para aguardar passagem através do posto de checagem. As ordens dos fuzileiros navais eram claras: eles deviam negar acesso a qualquer um portando armas e estar alerta para quaisquer indicações de problemas em potencial. Suas Regras de Engajamento (ROE, ou Rules Of Engagement) eram sem ambigüidades: qualquer um observado com uma arma automática devia ser considerado hostil, como qualquer um que ameaçasse intencionalmente pessoal dos Fuzileiros Navais. O Comandante da MEU tinha deixado claro essa política em encontros com cada um dos senhores da guerra, nos primeiros dias do desdobramento. Suas diretivas tinham rendido dividendos e, até aquela data, nenhum elemento da MEU tinha sido ferido por fogo de armas leves. As facções tinham mantido um perfil baixo no setor americano e não tinham interferido com aqueles comboios acompanhados por fuzileiros navais. Tal não era o caso, no entanto, nos setores adjacentes, onde pessoal da RMNF, com freqüência, tinha sido visado por emboscadas e fogo de tocaieiros. Os Fuzileiros Navais tinham ficado em alerta.
0915: O cabo Sley reportou de sua posição no telhado que a multidão era especialmente grande e incluía uma incomumente alta proporção de homens jovens. Ele sentia uma agourenta mudança na atmosfera. Menos de um quilômetro distante, ele podia ver as viaturas da gangue de Nedeed se concentrando no lado mais distante da ponte sobre o rio que separava as facções OWETA e Mubasa. Ele repassou suas suspeitas ao seu líder de GC, “Algo grande está para acontecer.” O dia prometia ser uma ruptura com a rotina.
0921: O cabo Hernandez prontamente retransmitiu o relato e as preocupações de Sley ao seu comandante de pelotão e soube pelo tenente Franklin que o principal rival de Nedeed – Mubasa – estava se movendo para oeste rumo a CP Charlie. As intenções de Mubasa pareciam claras; sua rota iria trazê-lo diretamente a CP Charlie e para uma colisão final com Nedeed. A posição do 1º GC, à cavaleiro das duas MSRs (Main Supply Route, ou Rota de Suprimentos Principal) o colocava diretamente entre os clãs rivais. O tenente Franklin instruiu Hernandez a estender o bloqueio rodoviário para cobrir a estrada entrando no cruzamento pelo oeste e indicou que ele e o 2º GC do sargento Baker estavam à caminho para reforçá-lo. O cabo Hernandez podia sentir a tensão crescer. A multidão tinha ficado mais agitada, ciente de que os homens de Mubasa estavam próximos e preocupada que a vital distribuição de comida podesse ser desorganizada. Os jovens tinham começado a entoar slogans anti-americanos e atirar pedras nos aturdidos fuzileiros navais. O cabo Hernandez sentia que a situação estava escapando ao seu controle e decidiu fechar a estrada completamente. Com grande dificuldade, as barreiras foram transferidas e a concertina estendida por todo o estreito ponto de acesso. A multidão irrompeu em protestos e pressionou à frente.
0931: Acima, as lâminas giratórias de um helicóptero UH-1 da IRO foram ouvidas, mas fracassaram em distrair a multidão. Suas pragas e cânticos, no entanto, foram sufocados por um instante, pelo som e ondas de choque de uma explosão. O hlcp tinha, aparentemente, sido atingido por fogo terrestre, possivelmente um RPG, havia irrompido em chamas e caído em espiral rumo ao chão, vários quarteirões à leste do PO. O cabo Sley tinha observado a queda de seu ponto vantajoso no topo do edifício e viu, para seu alívio, que ao menos dois sobreviventes tinham saído dos destroços flamejantes. Seu alívio, no entanto, teve vida curta. À distância, ele pôde ver os homens de Nedeed correndo através da ponte. Sley, urgentemente, requisitou permissão para se mover de imediato para assistir a tripulação do hlcp abatido.
0935: Enquanto o cabo Hernandez considerava a possibilidade de uma tentativa de resgate, a situação assumia outra séria reviravolta; três viaturas carregadas com homens de Mubasa e seguida de perto por uma equipe de filmagen da INN, tinha chegado à cena. Brandindo armas automáticas e RPGs, eles forçaram suas viaturas através da multidão até que o pára-choque do caminhão da ponta, descansasse contra a barricada. Com a chegada deles, a já agitada turba abandonou todas as restrições. A ocasional pedra tinha, agora, se tornado uma constante chuva de projéteis bem-mirados. Uma atingiu o cabo-arvorado Johnson no rosto. O ferimento resultante, embora não sério, sangrava em profusão e acrescentava ao alarma crescente. De alguma forma, a visão do sangue escorrendo pelo rosto do jovem fuzileiro naval, alimentou a excitação da turba e aumentou o pânico que crescia dentro do grupo de combate. O que havia começado como outro dia de rotina da assistência humanitária estava, rapidamente, se tornando outra coisa, inteiramente diferente. Um coquetel-molotov chocou-se com a posição sem ferir ninguém, mas contribuiu mais para a confusão. Os navais do 1º GC olhavam uns para os outros e então para o cabo Hernandez. Ele, de modo tranqüilizador, devolvia o olhar para cada homem, sabendo melhor do que qualquer deles de que o destino do grupo, da tripulação ferida da IRO, e talvez, de toda a missão multinacional, estava na balança. Em pouco menos do que três horas, ele tinha visto uma missão de assistência humanitária dar terrivelmente errado e caminhar à passos largos para o desastre. O cabo Hernandez estava face à face com os graves desafios da guerra em três blocos e suas ações, nos próximos poucos minutos iriam determinar o resultado da missão e ter, potencialmente, implicações estratégicas.
A Guerra de Três Blocos
A missão fictícia acima – Operação “Absolute Agility” – é similar a muitas que tem sido conduzidas em volta do mundo em anos recentes e representa o provável campo de batalha do séc. XXI. Ela também representa, em detalhes gráficos, as enormes responsabilidades e pressões que serão depositadas sobre nossos jovens líderes fuzileiros navais. A rápida difusão de tecnologia, o crescimento de uma multitude de fatores transnacionais, e as conseqüências da crescente globalização e interdependência econômica, resultaram em criar desafios de segurança nacional notáveis por sua complexidade. Por volta de 2020, oitenta e cinco porcento dos habitantes do mundo estarão aglomerados em cidades costeiras – cidades geralmente carecendo da infraestrutura exigida para apoiar suas inchadas populações. Sob tais condições, tensões étnicas, nacionalistas e econômicas, há muito reprimidas, irão explodir e aumentar o potencial de crises exigindo intervenção dos EUA. Compondo os desafios apresentados por essa crescente instabilidade global estará a emergência de um campo de batalha cada vez mais complexo e letal. A difundida disponibilidade de armas e equipamento sofisticados irá “nivelar o campo de jogo” e negar nossa tradicional superioridade tecnológica. As linhas separando os níveis de guerra, e distinguindo combatente de “não-combatente”, irão se obscurecer, e os adversários, perturbados por nossa superioridade “convencional”, irão recorrer aos meios assimétricos para redefinir o equilíbrio. Complicando mais a situação estará a ubíqua mídia cuja presença irá significar que todos os futuros conflitos irão ser encenados diante de uma audiência internacional.
As respostas às crises modernas são empreendimentos excessivamente complexos. Na Bósnia, Haiti e Somália, os desafios únicos das operações militares que não sejam guerras (MOOTW, ou military operations other-than-war) foram combinados com os diversos desafios díspares de conflitos de média-intensidade. O Corpo de Fuzileiros Navais descreve tais conflitos amorfos como – A Guerra em Três Blocos – contingências nas quais os Fuzileiros Navais podem ser confrontados por todo o espectro de desafios táticos na extensão de umas poucas horas e dentro do espaço de três quarteirões de cidade contíguos. A trágica experiência das forças americanas na Somália durante a Operação “Restore Hope” ilustra bem a natureza volátil dessas operações contemporâneas. O soberbo relato do autor Mark Bowdens da “Batalha de Mogadíscio”, em “Blackhawk Down”, é uma história arrebatadora e que serve como prevenção e amargo lembrete da imprevisibilidade das assim chamadas operações que não sejam guerras. Ela é leitura essencial para todos os fuzileiros navais.
A inescapável lição da Somália e de outras operações recentes, sejam de assistência humanitária, manutenção da paz ou de guerra tradicional, é que seu resultado pode se apoiar nas decisões tomadas pelos líderes de frações, por ações tomadas ao nível mais básico. O Corpo de Fuzileiros Navais é, intencionalmente, uma força relativamente jovem. Sucesso ou fracasso irão repousar, cada vez mais, com o membro de GC e com sua habilidade para tomar a decisão certa na hora certa no ponto de contato. Semelhante ao cabo Hernandez em CP Charlie, os fuzileiros navais de hoje em dia, irão, com freqüência, operar bem longe “dos estandartes” sem a supervisão direta da liderança superior. E, como cabo Hernandez, eles serão solicitados a lidar com um espantoso conjunto de desafios e ameaças. De modo a ter sucesso sob tais condições exigentes, eles precisão ter maturidade, julgamento e força de caráter, resolutas. E mais importante, tais missões irão exigir deles que tomem decisões bem-fundamentadas e independentes sob tensão extrema – decisões que irão, provavelmente, estar sujeitas a áspero escrutínio de ambos, a mídia e o tribunal da opinião pública. Em muitos casos, o fuzileiro naval individual irá ser o mais conspícuo símbolo da política externa americana e irá, potencialmente, influenciar não somente a imediata situação tática, mas os níveis operacional e estratégico igualmente. Suas ações, portanto, irão impactar, diretamente, sobre o resultado da operação maior; e ele irá se tornar, como sugere o título do artigo – o Cabo Estrategista.
O Cabo Estrategista.
Lamentavelmente, o fim da Guerra Fria não anunciou a esperada era de paz, mas, antes, uma era de atribulações caracterizada pela desordem global, crise pervasiva, e a constante ameaça do caos. Desde 1990, o Corpo de Fuzileiros Navais tem respondido a crises num índice três vezes maior daquele da Guerra Fria – na média, uma vez a cada cinco semanas. Em qualquer dia determinado, até 29 mil navais estão pré-desdobrados em volta do mundo. Em lugares muito distantes como Quênia, Indonésia e Albânia, eles tem de ficar cara-a-cara com os desafios hostis e desorientadores do caótico mundo pós-Guerra Fria para os quais as “regras” ainda tem de ser escritas. A guerra em três blocos não é, simplesmente, uma metáfora fantasiosa para conflitos futuros – ela é uma realidade. Como o cabo Hernandez, os fuzileiros navais de hoje, já encontraram seus grandes desafios e eles tem sido instados a exercitar um excepcional grau de maturidade, contenção e julgamento.
Os fuzileiros navais, é claro, tem sempre brilhado mais intensamente quando a parada é mais alta. Os praças graduados que lideraram os sanguinolentos assaltos sobre posições de metralhadoras alemãs em Belleau Wood, intuitivamente compreendiam a importância de seu papel. Os navais do II Batalhão do 28º de Fuzileiros Navais, que escalaram as alturas varridas pelo fogo do Monte Suribachi não precisaram de ninguém que enfatizasse a necessidade de iniciativa. Os fuzileiros navais do Reservatório Chosin, da Cidade de Hue, e das incontáveis outras batalhas através dos anos não esperaram serem lembrados de suas responsabilidades individuais. Eles se comportaram como os fuzileiros navais sempre se comportaram, e como nós esperamos que os fuzileiros navais de hoje e de amanhã, se comportem... com coragem, com agressividade e com resolução. Os futuros campos de batalha nos quais os Fuzileiros Navais lutarão irão ser, cada vez mais, hostis, letais e caóticos. Nosso sucesso se apoiará, como sempre tem sido, na liderança de nossos fuzileiros navais subalternos. Nós precisamos nos assegurar que eles estejam preparados para liderar.
Como iremos preparar os fuzileiros navais para o campo de batalha assimétrico, complexo e de alto-risco da guerra em três blocos? Como vamos desenvolver líderes subalternos para lidar, decisivamente, com o tipo de desafio do mundo real confrontando o cabo Hernandez? O primeiro passo do processo não muda. Homens e mulheres de caráter, ousados, capazes e inteligentes são atraídos para o Corpo e remoldados no caldeirão do treinamento de recrutas, onde métodos honrados pelo tempo instilam bem fundo neles o permanente ethos do Corpo. Honra, coragem e empenho se tornam mais do que meras palavras. Essas virtudes preciosas, de fato, se tornam os aspectos definidores de cada fuzileiro naval. Essa ênfase sobre o caráter permanece o fundamento sobre o qual tudo o mais é construído. A ativa sustentação do caráter em cada fuzileiro naval é uma competência institucional fundamental – e com boa razão. Com mais freqüência do que nunca, as questões realmente duras a confrontar os fuzileiros navais irão ser dilemas morais, e eles precisam ter o instrumental com o qual lidar com elas de modo apropriado. Enquanto uma visceral apreciação por nossos valores-núcleo é essencial, eles, sozinhos, não vão assegurar o sucesso de um indivíduo em batalha ou numa miríade de contingências potenciais aquém do combate. Muito, muito mais é exigido para se preparar, totalmente, um fuzileiro naval para os rigores do campo de batalha do amanhã.
Um empenho com o desenvolvimento profissional por toda a vida é o segundo passo na estrada para a construção do Cabo Estrategista. O realinhamento dos programas de instrução de Treinamento de Recrutas e Treinamento de Combate de Fuzileiros Navais revela nosso revigorado foco sobre o treinamento individual. Esses programas permanecem os mais importantes degraus no processo metódico de desenvolvimento de fuzileiros navais capacitados. Nossas Escolas Formais, unidades de treinamento, programas de educação e os esforços individuais em educação profissional construídos sobre os sólidos fundamentos assentados no treinamento de recrutas, sustentam o crescimento da proficiência técnica e tática e da robustez mental e física. O traço comum unindo todas as atividades de treinamento está na ênfase no crescimento da integridade, coragem, iniciativa, decisão, agilidade mental e responsabilidade pessoal. Tais qualidades e atributos são fundamentais e precisam ser agressivamente cultivadas dentro de todos os fuzileiros navais, do primeiro dia de seu alistamento até o último.
A liderança, é claro, permanece a moeda de troca do Corpo, e seu desenvolvimento e sustentação é o terceiro e final degrau na criação do Cabo Estrategista. Por duzentos e vinte e três anos, em campos de batalha espalhados por todo o globo, os fuzileiros navais tem estabelecido os mais altos padrões de liderança de combate. Nós somos inspirados pelo exemplo deles e confiantes de que os fuzileiros navais de hoje e de amanhã, irão ascender as mesmas alturas elevadas. A lição clara de nosso passado é que o sucesso em combate, e nos quartéis quanto a isso, repousa com nosso líderes mais subalternos. Com o passar dos anos, entretanto, uma percepção tem crescido de que a autoridade de nossos praças graduados tem sido erodida. Alguns acreditam que nós, lentamente, os despimos de liberdade, do poder discricionário, e da autoridade necessária para fazerem o seu trabalho. Tal percepção precisa ser destruída. Os vestígios remanescentes da “mentalidade de defeito zero” precisam ser trocados por um ambiente no qual seja concedido a todos os fuzileiros navais a “liberdade de falhar” e com isso, a oportunidade de ter sucesso. Micro-administração precisa se tornar uma coisa do passado e a supervisão – essa espada de dois gumes – precisa ser complementada por um aconselhamento pró-ativo. E mais importante, nós precisamos, agressivamente, dar poderes aos nossos praças graduados, mantê-los estritamente responsáveis por suas ações, e permitir que o potencial para liderança, dentro deles, floresça. Essa filosofia, refletida numa recente entrevista da Navy Times como “Poder aos Debaixo”, é central para nossos esforços para sustentar a transformação que se inicia com o primeiro encontro com um fuzileiro naval recrutador. Cada oportunidade deve ser agarrada para contribuir para o crescimento do caráter e liderança dentro de cada fuzileiro naval. Nós precisamos lembrar desse simples fato, e também lembrar que os líderes são julgados, no fim de tudo, pela qualidade da sua liderança refletida em seus subordinados. Nós também precisamos lembrar que o Cabo Estrategista irá ser, acima de tudo mais... um líder de fuzileiros navais.
Conclusão.
E quanto ao cabo Hernandez? Embora sua difícil situação seja, com certeza, desafiadora, não é implausível. O que ele fez? Primeiro, ele, rapidamente, revisou o que sabia. Ele sabia que o local da queda estava localizado dentro do setor da unidade adjacente da RMNF e que ela guarnecia os postos de checagem ao longo da rota de Nedeed até o hlcp abatido. Ele sabia que qualquer troca de tiros com os pistoleiros de Mubasa iria, provavelmente, levar a baixas civis e arriscar os sucesso da missão humanitária. Segundo, ele considerou o que ele não sabia. Ele estava incerto ou das intenções de Nedeed ou de Mubasa, ou da possibilidade de uma tentativa de resgate. Baseado nessas considerações e na miríade de outras fatores tangíveis e intangíveis, ele completou uma rápida avaliação da situação – e agiu. O cabo Sley foi instruído a manter sua posição no topo do edifício e continuar a monitorar o progresso de Nedeed e a situação das baixas. Hernandez então, mudou as freqüências e contactou o elemento de ligação dos Fuzileiros Navais com a unidade adjacente da RMNF e descobriu que eles já tinham despachado pessoal médico para o local do acidente do hlcp, mas não estavam cientes dos movimentos de Nedeed e agora, graças ao aviso de Hernandez, iriam reforçar os postos de checagem apropriados. Pelo tempo da conclusão da transmissão, o tenente Franklin tinha chegado com o GC adicional. Com eles, veio um líder da vizinhança que havia, anteriormente, atuado como intérprete e mediador. Os homens de Mubasa, aparentemente, desconfortáveis com a mudança das circunstâncias, começaram, lentamente, a se retirar. O mediador, uma figura reconhecida e respeitável na comunidade, recebeu um megafone e se dirigiu a multidão. Em minutos, a situação era difusa: os homens de Mubasa partiam, a multidão se acalmava, e o pessoal da RMNF tinha alcançado o local da queda. Por uns poucos e tensos minutos, no entanto, o destino tanto do 1º Grupo de Combate e de toda a missão tinha repousado na balança e nas ações de um jovem líder fuzileiro naval. Como era esperado, nosso Cabo Estrategista – firmemente ancorado em nosso ethos, meticulosamente escolado e treinado, dotado com o melhor equipamento disponível, infinitamente ágil, e acima de tudo o mais, um líder na tradição dos Fuzileiros Navais de outrora... tomou a decisão correta.